A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (11) pelo Banco Central, revela dúvidas sobre a real intensidade do processo de retomada da economia. Parece menos otimista em relação à ata da reunião realizada em dezembro.
Nesta última, o comitê afirma que os dados sobre a atividade econômica indicavam que "o processo de recuperação da economia ganhou tração". Ou seja, indicava intensificação do ritmo de crescimento da economia.
Na ata divulgada nesta terça, o tom é bem mais cauteloso. O texto afirma: "Dados de atividade econômica divulgados desde o último Copom indicam a continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira".
O Copom mostrou-se dividido em relação a outro ponto importante sobre a capacidade de reação da economia neste momento, com uma preocupação nova.
O texto informa que há uma "dicotomia entre a evolução do mercado de trabalho e o crescimento da produção de bens e serviços". Essa dicotomia, segundo o Copom, estaria no fato de que, enquanto o mercado de trabalho segue em recuperação, com redução do desemprego, a produção industrial e os investimentos "tiveram desempenho abaixo do esperado".
A partir dessa constatação, os integrantes do comitê se dividiram em relação à causa desse fenômeno.
Alguns, segundo a ata, avaliaram que "o esgotamento do modelo de alocação centralizada de capital e a longa duração da recessão podem ter produzido restrições de oferta". O modelo centralizado de alocação de capital a que se refere o texto foi o direcionamento dos empréstimos dos bancos públicos, agora sendo substituído pelo crédito privado.
"Produzir restrição de oferta" é um modo oblíquo de dizer que talvez a economia brasileira, mesmo estando em ritmo lento, não tenha tanta ociosidade como se imaginava.
Ou seja, os anos de recessão levaram a uma encolha real da capacidade produtiva, que não será reativada pela simples retomada do consumo. Nesse caso, as pressões inflacionárias poderiam surgir mais cedo que se imagina.
Pelo menos é o que está implícito no texto do Copom. Mais preocupante ainda porque o investimento, que poderia levar a um aumento da capacidade produtiva, também está abaixo do esperado.
Os demais membros do comitê, segundo a ata, avaliaram que "a dinâmica dos núcleos de inflação sinaliza que a ociosidade dos fatores de produção ainda é elevada". Ou seja, por essa análise, a economia ainda trabalha com folga suficiente para suportar um aumento do consumo sem que isso se traduza em pressão inflacionária no curto prazo.