Blog do João Borges

Por João Borges

Comentarista da GloboNews. Trabalhou em 'O Estado de S. Paulo', 'O Globo' e Banco Central


A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (11) pelo Banco Central, revela dúvidas sobre a real intensidade do processo de retomada da economia. Parece menos otimista em relação à ata da reunião realizada em dezembro.

Nesta última, o comitê afirma que os dados sobre a atividade econômica indicavam que "o processo de recuperação da economia ganhou tração". Ou seja, indicava intensificação do ritmo de crescimento da economia.

Na ata divulgada nesta terça, o tom é bem mais cauteloso. O texto afirma: "Dados de atividade econômica divulgados desde o último Copom indicam a continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira".

O Copom mostrou-se dividido em relação a outro ponto importante sobre a capacidade de reação da economia neste momento, com uma preocupação nova.

O texto informa que há uma "dicotomia entre a evolução do mercado de trabalho e o crescimento da produção de bens e serviços". Essa dicotomia, segundo o Copom, estaria no fato de que, enquanto o mercado de trabalho segue em recuperação, com redução do desemprego, a produção industrial e os investimentos "tiveram desempenho abaixo do esperado".

A partir dessa constatação, os integrantes do comitê se dividiram em relação à causa desse fenômeno.

Alguns, segundo a ata, avaliaram que "o esgotamento do modelo de alocação centralizada de capital e a longa duração da recessão podem ter produzido restrições de oferta". O modelo centralizado de alocação de capital a que se refere o texto foi o direcionamento dos empréstimos dos bancos públicos, agora sendo substituído pelo crédito privado.

"Produzir restrição de oferta" é um modo oblíquo de dizer que talvez a economia brasileira, mesmo estando em ritmo lento, não tenha tanta ociosidade como se imaginava.

Ou seja, os anos de recessão levaram a uma encolha real da capacidade produtiva, que não será reativada pela simples retomada do consumo. Nesse caso, as pressões inflacionárias poderiam surgir mais cedo que se imagina.

Pelo menos é o que está implícito no texto do Copom. Mais preocupante ainda porque o investimento, que poderia levar a um aumento da capacidade produtiva, também está abaixo do esperado.

Os demais membros do comitê, segundo a ata, avaliaram que "a dinâmica dos núcleos de inflação sinaliza que a ociosidade dos fatores de produção ainda é elevada". Ou seja, por essa análise, a economia ainda trabalha com folga suficiente para suportar um aumento do consumo sem que isso se traduza em pressão inflacionária no curto prazo.

Veja também

Fique por dentro

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!