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Por João Borges

Comentarista da GloboNews. Trabalhou em 'O Estado de S. Paulo', 'O Globo' e Banco Central


A projeção do Banco Central, que consta da ata do comitê de política monetária divulgada nesta terça-feira (24), de que a economia brasileira deve apresentar ligeiro crescimento no terceiro trimestre, representa um alívio para equipe econômica.

Isso porque o monitoramento das atividades econômicas indicavam, pelo menos até agosto, que o terceiro trimestre poderia ficar no zero a zero ou até mesmo registrar ligeira queda.

O cenário para a retomada da economia, que será gradual, como reconhece o Banco Central no documento, fica no entanto mais seguro. Por vários fatores. O crédito está em franca expansão. Até julho, alta de 12,1% no crédito livre, aquele que não é direcionado por determinação do governo, como o financiamento habitacional e crescimento de 5,1% no volume global ofertado pelos bancos.

Mais crédito a juros mais baixos certamente vai ajudar a empurrar a economia nos próximos meses. Os sinais de retomada da construção civil, com aumento das vendas e de novos lançamentos habitacionais, já refletem essa nova realidade.

A combinação de juro baixo com inflação acomodada em níveis muito baixos configura um situação nova na economia brasileira. A inflação foi de 2,95% em 2017 e de 3,75% no ano passado.

A ata da última reunião do copom registra que a expectativa dos agentes financeiros é de que a inflação deste ano fique em 3,3% e 3,6% no ano que vem, de acordo com a pesquisa focus realizada pelo Banco Central junto a cerca de 100 instituições financeiras. Para 2021 e 2022, a mesma pesquisa projeta inflação de 3,75% e de 3,5% respectivamente.

As projeções não são garantia de que a inflação vá se comportar dessa maneira. O ambiente político e econômico está sempre sujeito a surpresas negativas.

E o próprio Banco Central reconhece na ata que a consolidação desse cenário benigno para a inflação depende muito do sucesso das reformas para garantir efetivo controle dos gastos público para evitar a expansão do endividamento, de reformas que aumentem a produtividade da economia e, finalmente, do cenário externo, sobre o qual não temos influência.

Dentre essas variáveis todas, a que representa maior risco à nossa economia é o déficit das contas públicas, que, mesmo com a aprovação da reforma da previdência, continuará como um desafio, dependente de medidas adicionais de controle dos gastos.

Mas de qualquer forma, a se confirmar o cenário projetado pelo Banco Central e pelo mercado financeiro, teremos pelo menos seis anos, de 2017 a 2022, com inflação abaixo de 4%.

Se o ajuste fiscal em andamento for capaz de consolidar um horizonte seguro de controle do endividamento do país, a taxa de juros, que no Brasil sempre foi muito acima da maioria dos países, pode também ser mantida em níveis historicamente baixos.

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