Emprego cresceu no campo, mas informalidade cresce e renda dos trabalhadores recua. — Foto: Fernando Teixeira – PMBV
O emprego voltou a crescer no campo este ano, após ter sofrido uma queda em 2020, em função da chegada da pandemia do coronavírus no país.
No terceiro trimestre de 2021, 8,818 milhões de pessoas estavam ocupadas em atividades rurais, uma alta de 9,5% em relação a igual período de 2020, puxada pelo bom desempenho das lavouras de grãos.
Todos os tipos de contrato de trabalho tiveram alta, mas o maior percentual ocorreu no emprego sem carteira assinada e por conta própria, indicando um aumento da informalidade, uma característica antiga do trabalho no campo.
Assim como tem ocorrido com a renda média nacional, os ganhos do trabalhador rural também caíram no período, cerca de 3%, em função do aumento do desemprego e da inflação.
Atualmente, os trabalhadores do campo representam 11,7% de toda a mão de obra do país, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.
Do total de ocupados, a maioria trabalha na agricultura, principalmente nas lavouras de grãos e cereais. Em seguida, está a pecuária, com destaque para a criação de gado (veja no infográfico abaixo).
Veja nesta reportagem:
- A variação do emprego em cada setor do agro;
- Por que a renda no campo caiu;
- Assalariados sem carteira têm o pior rendimento;
- A informalidade no campo.
Mercado de trabalho no campo vem sendo puxado por informalidade — Foto: Arte/g1
Recuperação por setor
O crescimento do número de pessoas empregadas no campo reflete, de um lado, uma recuperação dos postos que foram perdidos em 2020 e, de outro, os preços elevados dos grãos, que têm favorecido os resultados da agricultura, diz Nicole Rennó, pesquisadora de macroeconomia do Cepea.
Em relação ao 3º trimestre de 2020, ela detalha que houve alta na ocupação de todos os setores do agro no 3º trimestre deste ano:
- Agricultura (+9,8%): no grupo de cereais (arroz, milho, trigo), houve um aumento de 34% na ocupação. Na produção de soja, o avanço foi de 22%. Nesses dois, a queda do emprego na pandemia não foi relevante e, por isso, a alta se explica pela boa conjuntura no mercado de grãos.
- Pecuária (+8,8%): o crescimento foi puxado, principalmente, pela bovinocultura, seja de corte (produção de carne) ou leite. Boa parte do avanço é apenas recuperação, pois o número de ocupados no terceiro trimestre (cerca de 2 milhões de pessoas) é bem próximo à média dos trimestres anteriores à pandemia.
- Produção florestal (+40%) e outras lavouras (+11,1%): nesses ramos, também houve apenas uma recuperação dos empregos perdidos durante a pandemia, diz Nicole.
Desempenho das lavouras de soja impulsionou emprego no campo em 2021. — Foto: Divulgação/Confederação Nacional da Agropecuária
Emprego sem carteira lidera alta
Já os dados por tipo de contrato de trabalho mostram que o aumento do emprego no campo foi puxado, principalmente, pelos trabalhadores sem carteira assinada e pelos que atuam por conta própria.
A variação entre o 3º trimestre de 2020 e o 3º trimestre de 2021 foi a seguinte:
- Empregado sem carteira assinada: +14%, para 2 milhões de pessoas;
- Conta própria: +12%, para 3,9 milhões de pessoas;
- Empregado com carteira assinada: +6%, para 1,5 milhão de pessoas;
- Empregador: +3,7%, para 276 mil pessoas;
- Trabalhadores familiares auxiliares, militares e servidores: +0,26%, para 1,1 milhão de pessoas.
Segundo o IBGE , os trabalhadores por conta própria são os que trabalham em sua própria propriedade, sozinhos ou com outras pessoas, sem ter um empregado, podendo ou não contar com a ajuda de um trabalhador familiar auxiliar. Eles não são, necessariamente, agricultores familiares.
"Os agricultores familiares podem entrar como conta própria, como empregadores ou, ainda, como trabalhador familiar auxiliar", ressaltou o órgão ao g1.
Agricultores familiares são contabilizados em diferentes categorias do IBGE: podem entrar como conta própria, empregadores ou trabalhador familiar auxiliar. — Foto: Divulgação/Ccom
Rendimento teve queda
Os ganhos do trabalhador rural também têm diminuído, assim como a renda média nacional. No terceiro trimestre de 2021, o rendimento médio por mês dessa população recuou 3,3% em termos reais (descontada a inflação), para R$ 1.517 mil.
"Os dados não permitem uma conclusão exata sobre isso, mas há indicativos de que a queda no rendimento reflete uma volta ao mercado de trabalho de trabalhadores com rendimentos menores (sem carteira e conta própria) – que foram aqueles que perderam os empregos no segundo trimestre de 2020 e voltaram aos poucos", diz Nicole.
Além da informalidade, o desemprego e a disparada da inflação também têm sido determinantes na queda da renda do campo, segundo o assessor da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar) Carlos Eduardo Chaves Silva.
"A agricultura não sofreu impacto da pandemia, mas temos um exército de desempregados no país. O setor produtivo sabe disso e começa a pagar mais barato para o trabalhador, a contratar em condições precárias", diz Silva.
"Por outro lado, as pessoas acabam se submetendo a esses trabalhos precários porque houve uma diminuição da condição socioeconômica no país... Aumentou o número de pessoas abaixo da linha pobreza", acrescenta.
Outro problema, segundo o assessor da Contar, é que os salários não estão conseguindo acompanhar a inflação, que chegou a acumular alta de 10,74% em 12 meses até novembro.
A situação da renda é pior para os que estão na informalidade, segundo um levantamento feito pelo professor da Universidade de Brasília (UNB) Mauro DelGrossi.
"Entre os ocupados na agricultura, os piores em termos de remuneração continuam sendo os assalariados sem registro em carteira, que recebem, em média, de 70% a 80% de um salário-mínimo", afirma.
Informalidade histórica no campo
Atualmente, os trabalhadores sem carteira assinada representam 56,7% dos assalariados rurais.
O alto índice de informalidade não é uma novidade nas relações de trabalho do campo, que sempre se caracterizaram por contratações temporárias, seguindo a sazonalidade de safras agrícolas.
"Essa característica, porém, não deveria desobrigar o empregador de assinar a carteira. Mesmo que um trabalhador fique por um mês, três meses, ele deveria ser formalizado. Isso garante que, pelo menos, ele ganhe um salário mínimo", diz Souza, da Contar.
O assessor conta que o índice de informalidade já foi um pouco maior no campo há 20 anos, em torno de 65%, e que esse percentual foi recuando ao longo dos anos por causa de uma mecanização de lavouras, como as de cana-de-açúcar e de soja.
"Então, houve uma queda da informalidade por causa de um desaquecimento de postos de trabalhos no campo", afirma.
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Mecanização do campo, principalmente do Centro-Sul, fez a informalidade recuar um pouco nos últimos anos. — Foto: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
Os dados por região mostram que o Centro-Sul do país tem uma maior formalização dos seus trabalhadores, o que tem relação com um uso maior de máquinas e novas tecnologias nas propriedades.
Os índices de informalidade por região são:
- Centro-Oeste (26,4%);
- Sul (40,6%);
- Sudeste (46,5%);
- Norte (75,6%);
- Nordeste (79,4%).
As informações acima foram organizadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, com dados do IBGE.
Perspectivas
Para o próximo ano, Nicole Rennó, do Cepea, prevê que as ocupações devem continuar crescendo no campo devido às boas perspectivas para a colheita de grãos no país e aos preços favoráveis das principais commodities que o Brasil produz e comercializa.
A safra de grãos 2021/22 deve aumentar 15,1% em relação ao ciclo anterior, para 291 milhões de toneladas, com destaque para a soja e milho, mostram dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
O faturamento das lavouras também deve ter alta de 4,5%, para 1,164 trilhão, segundo dados do Ministério da Agricultura.
Por outro lado, o elevado nível de desemprego e atividade econômica fraca ainda devem continuar reduzindo os ganhos dos assalariados rurais, ressalta Souza, da Contar.
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