Agro: A indústria-riqueza do Brasil

Por Rikardy Tooge, G1


Pipoca é um dos petiscos mais populares do Brasil — Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Simples de se fazer, parceira ideal dos filmes e a ponta de uma atividade que gera bilhões para o país. A pipoca é praticamente um patrimônio do brasileiro. Não por acaso, o país é o segundo maior consumidor mundial do petisco, atrás apenas dos Estados Unidos. E a procura cresceu na quarentena.

Na última década, o país teve um salto de cerca de 40% na produção de milho. Um dos motivos é o “casamento” vitorioso com a soja, que é o grão mais cultivado e mais exportado do país.

Os agricultores mudaram o calendário de plantio do milho. Se antes, ele concorria com a soja pelo plantio no verão, agora ele é cultivado na sequência. Isso criou uma dupla imbatível tanto em produtividade quanto em renda.

O milho é o terceiro produto do campo que mais traz renda ao agronegócio, com a expectativa de movimentar R$ 75 bilhões neste ano, ficando atrás da soja (R$ 167 bilhões) e do boi gordo (R$ 101 bilhões), segundo o Ministério da Agricultura.

O Brasil foi o líder mundial em exportação de milho no ano passado, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). Em 2019, o setor registrou vendas recordes ao exterior, de cerca de 44,9 milhões de toneladas, e faturou mais de US$ 7,2 bilhões com o grão.

A pipoca perfeita em seis passos — Foto: Arte G1

O milho pipoca

O milho pipoca passou a ser produzido em maior escala no Brasil há cerca de 20 anos, segundo Israel Pereira Filho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Antes, o grão precisava ser importado de outros países, como Argentina e Estados Unidos. Graças à pesquisa, as sementes foram adaptadas ao país e o cultivo começou a crescer.

Agrônomo compara o milho comum com o grão usado para fazer pipoca

Agrônomo compara o milho comum com o grão usado para fazer pipoca

Por ser um mercado agrícola segmentado, não existem levantamentos precisos sobre a produção de milho pipoca no país. Estima-se que o Brasil produza atualmente cerca de 300 mil toneladas por ano, sendo o segundo maior produtor mundial do grão, atrás apenas dos americanos.

Normalmente, empresas de alimentos fazem parcerias com os agricultores para o cultivo, onde fica garantida a compra dos grãos, mas os produtores devem seguir alguns padrões.

“A pipoca precisa ter parceria para plantio, o agricultor não vai plantar se não tiver quem vai comprar”, explica Franciele Caixeta, da Yoki.

As principais regiões produtoras estão no Centro-Oeste, com destaque para o norte de Mato Grosso.

A rede Cinemark afirma que compra cerca de 2 mil toneladas de milho pipoca por ano de uma empresa agrícola localizada em Itumbiara, Goiás, que adquire o grão com agricultores locais.

“Essa compra de milho acontece de forma centralizada. A negociação é realizada pela Cinemark com o fornecedor, e o milho é distribuído pelo nosso operador logístico mediante as solicitações individualizadas (pedidos) realizadas pelo gerente por cinema”, afirma Bruno Oliveira.

No caso da Yoki, empresa que tem tem 80% de participação nas vendas de pipoca de microondas, as sementes chegam dos Estados Unidos e são cultivadas em duas regiões: Campo Novo do Parecis, em Mato Grosso, e Nova Prata, no Rio Grande do Sul.

“Nós temos um trabalho de parceria com uma empresa americana para o melhoramento natural dos grãos, que são livres de transgenia (modificação genética). São mais de 20 anos de pesquisa para adaptar os materiais ao país”, diz Franciele, que estima que a empresa tenha parceria com cerca de 80 agricultores.

Procura subiu na quarentena

Pesquisas mostraram um aumento nas compras de alimentos para a casa durante a pandemia e um deles foi a pipoca, segundo a diretora de marketing da General Mills Brasil, Priscila Pizano.

“66% disseram estar comendo mais em casa, isso tem impacto (no consumo de pipoca). Houve aumento no consumo do streaming e da TV, e você vê uma relação muito forte da pipoca com a TV. A pipoca tá no dia-a-dia do brasileiro, mas tem espaço para se consumir mais”, explica.

Bruno Oliveira, diretor de alimentos da rede Cinemark, que representa 30% do mercado brasileiro com 88 unidades no país, diz que a preferência do consumidor é pela pipoca de tamanho grande.

Com o fechamento das salas em função das medidas de isolamento social, a empresa decidiu investir no delivery como opção para manter as lanchonetes de algumas unidades e, também, trazer o gostinho dessa pipoca para a casa dos consumidores.

“Recentemente começamos a operar em parceria com um aplicativo em São Paulo, mas a ideia é ampliar rapidamente a operação”, explica. Agora, as unidades se preparam para a reabertura em algumas regiões, a cidade mais adiantada é a capital paulista.

Pipoca e cinema é a combinação perfeita — Foto: Pexels

E quais são os segredos da pipoca em casa? “O milho pipoca bom tem que ter uma capacidade de expansão de 35 a 40 vezes. Ou seja, a cada copo de grãos que você colocar na panela, ele tem que dar de 35 a 40 copos de pipoca. Essa é a média”, explica Israel Pereira Filho, pesquisador da Embrapa.

Buscando ter mais explosões, empresas comercializam até mais de um rótulo de pipoca de panela, que vão dos mais simples até os "premiums". A diferença está no tamanho dos grãos e no potencial de estouro dos grãos.

Se a pipoca não estoura direito, pode ser por falta de qualidade do grão, mas também pode ter relação de que jeito o produto foi armazenado.

“O grão precisa estar com cerca de 12% de umidade, sem isso ele não vai estourar”, diz Pereira Filho, que indica que a temperatura ideal de explosão é de 180ºC.

Comida dos tempos de infância, pipoca doce é sucesso garantido em cavalgada de MG

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Milhos, milhões e bilhões

Além do milho pipoca, a Embrapa afirma que possui mais de quatro mil tipos de milho preservados em seu banco de sementes. O grão é um dos alimentos mais antigos da humanidade e muito popular nas Américas.

No Brasil, 5 tipos são mais populares e merecem destaque:

  1. o já falado milho pipoca;
  2. o milho doce, que é vendido enlatado;
  3. o milho verde, usado para a fabricação de pamonhas,
  4. o milho branco, que é o usado na canjica;
  5. e o minimilho, ou baby corn, que é usado em saladas.

Porém, todas essas variedades representam menos de 5% do mercado brasileiro de milho, onde o foco é a produção do grão como commodity, ou seja, utilizado como matéria-prima por indústrias para a fabricação de óleo ou processamento para ração animal.

Outra grande parte vai para exportação para que outros países realizem essas duas atividades.

Considerando este tipo de milho, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, atrás de Estados Unidos e China. A previsão é que o país colha o recorde de 100,99 milhões de toneladas do grão na safra 2019/2020. Mato Grosso, Paraná e Goiás são os líderes na produção.

Produtores começam a colheita do milho de segunda safra em Goiás

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“Conforme a soja foi ganhando mais terreno e espaço na primeira safra, a de verão,, o milho foi perdendo espaço e foi para a chamada ‘safrinha’, que é a segunda safra", explica Renato Rasmussen, diretor da consultoria StoneX.

"Hoje, esse ‘milho safrinha’, que era uma coisa pequena, ganhou uma proporção muito importante, sendo mais de 50% da produção anual", acrescenta Rasmussen.

No primeiro semestre de 2020, as vendas foram fracas e o país vendeu mais de 3 milhões de toneladas e faturou cerca de US$ 575 milhões, mas a expectativa é que as negociações ganhem fôlego até o fim do ano.

Milho é um dos principais produtos da agricultura brasileira

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