Cartazes espalhados pelo campus Darcy Ribeiro contra a demissão de terceirizados — Foto: Arquivo pessoal
A empresa que atua na limpeza da Universidade de Brasília (UnB), RCA Serviços, anunciou a demissão de 118 funcionários nesta quarta-feira (9). Com o fim do aviso prévio, a partir desta quinta (10), os trabalhadores não estarão mais na instituição. A redução do quadro de funcionários é consequência da revisão de contratos para adaptar o orçamento da universidade ao corte de verbas anunciado pelo governo.
Outros dez funcionários serão demitidos no dia 25 de agosto, informou a empresa ao G1. Representantes da RCA em Brasília disseram que, a partir do mês que vem, o contrato com a universidade será reduzido em R$ 700 mil e, por isso, fica necessário suprimir o quadro de funcionários em 128 pessoas. Também afirmaram que os setores foram redistribuídos de forma a “não sobrecarregar ninguém”.
No entanto, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Mauro Mendes, diz que a redução vai sobrecarregar os funcionários. Ele estima que, levando em conta todas as áreas, 250 terceirizados serão demitidos.
Cartazes em salas de aula da UnB protestam contra o corte de terceirizados. — Foto: Arquivo Pessoal
“Considerando que o contrato da limpeza da UnB é por m², a UnB precisaria de mais de 800 trabalhadores na limpeza hoje e a UnB só tem 600. Com mais esse corte de 130, o pessoal vai trabalhar de forma que sacrifique”, diz Mendes.
Maria Luiza Vieira da Rocha, de 54 anos, trabalhou na limpeza da UnB durante 23 anos. Ela diz que foi avisada da demissão no dia 17 de julho e desde esse dia foi dispensada, sem cumprir aviso prévio. O filho dela também é terceirizado da limpeza na universidade e o aviso prévio dele termina nesta quarta.
“Falta apenas um ano para eu me aposentar e me mandaram embora. Só falaram para mim e para outros três encarregados: 'Entrega a chave', assim, como se nós fôssemos cachorros. Não falaram nenhum critério para escolha de quem seria demitido, tive que tirar minhas coisas correndo. Agora eu e meu filho estamos desempregados.”
Em nota divulgada em redes sociais, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB disse repudiar as demissões. Segundo os alunos, a decisão foi tomada "sem nenhum debate democrático com os segmentos da universidade".
"Entendemos que é preciso que a reitoria pense em saídas alternativas para os cortes orçamentários da UnB, onde a conta da crise não seja passada aos trabalhadores terceirizados, setor mais fragilizado da universidade", diz o comunicado, que também pede a reintegração dos demitidos.
Posição da universidade
Até a última semana, a assessoria de imprensa da universidade confirmava a redução de apenas 20 postos de trabalho. Na ocasião, o coordenador da diretoria de Terceirização da UnB, Fabrício Carlos Araújo, já havia confirmado que cerca 130 funcionários estavam de aviso prévio.
Nesta segunda, a UnB divulgou nota na qual afirma ter sido informada da redução de 135 postos de trabalho na limpeza. Na nota, a universidade afirma que “lamenta esse fato, decorrente das restrições orçamentárias que está enfrentando” (confira a íntegra no final da reportagem).
Em entrevista ao G1 na manhã desta quarta, a reitora da UnB, Márcia Abrahão, reafirmou que não pode gerir o quadro de funcionários das empresas, mas acredita que a revisão de contratos não justifica a demissão.
Ala norte do Instituto Central de Ciências da UnB — Foto: Mariana Costa/Secom UnB
“Me surpreende muito essas empresas saírem demitindo porque, por exemplo, no caso do contrato de limpeza estamos conseguindo reduzir 28% do contrato mexendo na frequência da limpeza de esquadrias, limpeza de galpões e almoxarifados e frequência de varrição de estacionamentos. Isso não justifica a demissão de mais de cem trabalhadores.”
Questionada pela reportagem sobre as medidas tomadas pela universidade para frear os cortes de funcionários, a reitora afirmou que o contrato foi assinado na gestão passada e que a reitoria está sempre em diálogo com os sindicatos e as empresas.
O Sintfub, no entanto, defende que a UnB pode interferir no processo. “Nós acreditamos que a UnB pode interferir porque é ela quem contrata. A UnB não pode dizer que não é ela quem dispensa. A universidade contrata serviços, mas são pessoas que executam os serviços. Então, não faz sentido dizer que não pode interferir em quantos trabalhadores atuam aqui”, afirma Mendes, coordenador do Sintfub.
A presidente do sindicato que representa trabalhadores da limpeza, Sindserviços, Maria Isabel Caetano, defende que há outras formas de resolver o déficit da instituição de forma a não prejudicar o trabalhador. “Enfraquecer a universidade e seus serviços prestados é deixar os brasileiros carentes de informação e formação como era no passado”, avaliou.
Alunos da UnB conversando no Instituto de Central de Ciências do Campus Darcy Ribeiro — Foto: Emília Silberstein/Agência UnB
Confira a íntera da nota da UnB
“Apesar dos esforços da Universidade de Brasília - UnB no sentido de impactar o mínimo possível os postos de trabalho, a empresa contratada informou que precisará realizar a dispensa de 135 trabalhadores. A UnB lamenta esse fato, decorrente das restrições orçamentárias que está enfrentando. O aditivo está em conformidade com os critérios de qualidade estabelecidos pelo Ministério do Planejamento e pautou-se por estabelecer um cronograma que otimiza a frequência e a metragem das áreas que necessitam de limpeza para evitar qualquer sobrecarga de serviço para os trabalhadores e, ao mesmo tempo, assegurar o bem-estar de alunos, professores, técnicos e das pessoas que circulam nos espaços da Universidade.”
* Sob supervisão de Maria Helena Martinho