“Mais brasileira das histórias em quadrinhos”, a Turma do Pererê é tema de exposição na Caixa Cultural de Brasília de 21 de setembro a 27 de novembro. Para o criador, Ziraldo, a obra é mais do que uma diversão para crianças. “A gente queria passar o recado, com um personagem nacionalista, com muita história, nossa resposta ao capitalista, contra o imperialismo”, diz o cartunista.
A mostra “Pererê do Brasil” pode ser vista gratuitamente de terça a domingo, das 9h às 21h. São 43 capas da revista Pererê, publicada em “O Cruzeiro”, entre 1960 e 1964, e as 10 capas da revista “A Turma do Pererê”, em circulação entre 1975 e1976.
Para Ziraldo, o Pererê foi um personagem que refletiu um pouco do espírito dos anos 1960, um período rico para a cultura no Brasil e no mundo. “Os anos 1960 foram fantásticos, foi o começo do meio do século”, declara.
“Comecei a fazer em 1960 e terminou justamente em abril de 1964 (logo após o golpe militar). O Pererê era muito nacionalista, tinha a coisa do socialismo, era contra o imperialismo. Quer dizer, essas eram as palavras de ordem da época, a gente estava procurando um caminho novo para o país, queria ver o Brasil andar com os próprios pés”, diz.
O artista destaca o surgimento de movimentos importantes, como a bossa nova, o cinema novo e as mudanças no teatro da época. “Tinha tudo isso e tinha os novos rumos da política, a ditadura ameaçando. O nosso trabalho dava esperança, a gente pensava em coisas como a reforma agrária, por exemplo.”
Um dos destaques da exposição na Caixa é a capa da edição de maio de 1964, que seria lançada caso a publicação fosse adiante. “Nessa exposição tem a capa de maio pronta. Só não tem a história. As capas eram feitas com mais antecedência. Eu me lembro disso como uma coisa muito boa. Era divertido, toda essa nossa utopia. Depois a gente foi preso, mas aí já era o Pasquim”, diz Ziraldo aos risos.
Todas as obras da mostra foram restauradas e ampliadas. O público também pode ver revistas originais em vitrines protegidas por vidros. Outras peças, como pranchas com desenhos, também originais, livros, cartilhas e outros produtos e mídias com a Turma do Pererê também estão no evento.
“É a exposição de um produtor de 60 e poucos anos, que desde a adolescência é apaixonado pela Turma do Pererê. Ele fez no cinema dois filmes, com o Menino Maluquinho, mas o sonho dele era fazer o Pererê. Eu não tenho as revistas, as publicações, ele tem um monte de originais”, afirma Ziraldo sobre Tarcísio Vidigal, produtor da mostra.
Vidigal é o curador da mostra ao lado de Adriana Lins. O produtor de cinema também é responsável pela pesquisa que culminou na exposição. Ele atuou nos filmes “O Menino Maluquinho”, de 1995, e “O Menino Maluquinho 2 – A aventura”, três anos depois.
“É uma instalação, não é uma exposição. São 60 capas, todas as capas do Pererê, é um trabalho formidável. A exposição passou primeiro por Salvador, depois foi para o Recife, depois deve ir para as outras capitais. Nos dois lugares, a maioria das escolas públicas foi, foi uma coisa espantosa. Teve visita guiada, tem um enredo, que é muito interessante”, diz Ziraldo.
A obra do artista permanece atual, mesmo após mais de 50 anos – e apesar de as últimas publicações terem data da década de 1970. Até hoje usam em livro didático. O Pererê não para de ser publicado, mas não fizemos mais porque era preciso um grupo de desenhistas, de roteiristas. Ficou muito difícil manter a coisa de autor.”
A mostra foi inaugurada em Salvador, em 2015. A identidade visual é baseada na linguagem das histórias em quadrinhos, explora o surgimento, o desenvolvimento e os desdobramentos dos personagens. A exposição usa da alegria e do humor como “fios condutores” na busca pela valorização dos aspectos regionais da cultura brasileira.
Quem for às galerias Piccolo 1 e 2 da Caixa tem a impressão que está na “Mata do Fundão”, habitat da Turma do Pererê. Uma linha do tempo conta a trajetória do personagem em diversas mídias, como TV, teatro, desenhos animados, quadrinhos animados em formato digital, material gráfico de produtos licenciados, publicações de revistas e livros de várias editoras, campanhas publicitárias e cartilhas educativas.
Os personagens são apresentados em tamanho ampliado. Um painel tem um mosaico de fotos de Ziraldo, personalidades e amigos. Outra instalação reproduz a turma para servir de “cenário de fundo para fotos dos visitantes”.
Outro destaque são as exibições em “Motion Comics”, quadrinhos animados com 17 histórias da Turma do Pererê e o documentário “Ziraldo”. Um catálogo em formato de gibi, com 32 páginas, mostra ao público apresentação, ficha técnica da exposição, tiras inéditas, cruzadinhas, caça-palavras, liga-pontos e jogo dos sete erros.
A Turma do Pererê
Ao contrário do saci, entidade folclórica que adora pregar peças nas matas brasileiras, o Pererê é um personagem “tranquilo”. As histórias buscam valorizar a preservação do meio ambiente e a inclusão social, sempre com a leveza do humor e da ingenuidade à postura crítica diante da realidade social e política brasileira, traços característicos de Ziraldo.
Pererê tem uma turma cheia de personagens distintos, como o indiozinho Tininim e alguns animais típicos da fauna brasileira: o macaco Alan, o jabuti Moacir, o tatu Pedro Vieira, o coelho Geraldinho e a onça Galileu. As histórias, está sempre presente a coruja Professor Nogueira, esclarecendo dúvidas.
O projeto tem o objetivo de revisitar, compreender e reconstruir, de forma lúdica, a trajetória do Pererê e da turma, nas diversas fases, em diferentes e importantes veículos e editoras do país ao longo de 55 anos, completados em 2015.
Exposição: “Pererê do Brasil” – Ziraldo
Período: de 21 de setembro a 27 de novembro
Horário: terça-feira a domingo, das 9h às 21h
Local: Caixa Cultural Brasília – Galerias Piccola I e II
Endereço: SBS quadra 4, lotes 3/4 – edifício anexo da matriz)
Entrada franca
Informações: (61) 3206-9448 / 3206-9449
Classificação indicativa: livre