em manifestantes (Foto: Facebook/Reprodução)
O comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Jooziel de Melo Freire, defendeu neste domingo (8) a ação de um capitão da tropa de choque que jogou gás lacrimogêneo em manifestantes que pretendiam chegar ao Congresso Nacional com uma bandeira após o desfile de 7 de Setembro. A ação foi gravada (veja aqui o vídeo). As imagens não identificam a que grupo pertenciam os jovens. A bandeira tinha dizeres em inglês relacionados à Copa do Mundo.
O vídeo mostra policiais militares impedindo o grupo de seguir com a bandeira. Identificado como Bruno, o capitão do Batalhão de Choque da PM diz que os manifestantes não devem passar de um determinado ponto. Outro oficial aparece na gravação dizendo que se alguém passasse, os policiais estariam liberados para usar o gás.
Com a bandeira no chão e com muitos jovens sentados no gramado próximo à rodoviária, o capitão passa e dispara o spray contra alguns dos manifestantes, que não reagem. Um deles então questiona o policial. “Capitão Bruno, a gente não ultrapassou o limite que o senhor impôs e mesmo assim o senhor agrediu a gente com gás”, diz. “Sim”, responde o capitão. O manifestante insiste: “Por quê? “Porque eu quis. Pode ir lá denunciar”, responde o capitão, sorrindo.
Indignados, os jovens criaram uma página no Facebook para divulgar o caso e convidar o maior número de pessoas a denunciar a agressão à Corregedoria da Polícia Militar a partir desta segunda.
Para o comandante da PM, a ação do policial foi “corretíssima”. “Ele não fez nada demais. Ele foi perguntado e respondeu que fez porque quis. Que crime é esse?”, indagou o comandante da PM. “Vamos apurar todas as denúncias, inclusive a do Bruno.”
Apesar disso, Freire defendeu o policial. “O rapaz que estava filmando ficou o tempo inteiro instigando o Bruno, que é um dos policiais mais cordatos da corporação, só falta asa para chamar aquele cara de anjo. O Bruno já estava de saco cheio. E ele só cumpriu a ordem do comandante, que disse que era para usar gás lacrimogêneo se o grupo ultrapassasse a linha.”
O comandante afirmou ainda que a PM vai processar o jovem que fez a gravação. “Vamos denunciar o rapaz que estava filmando por denúncia caluniosa.” De acordo com ele, o vídeo não mostra tudo o que ocorreu. “Editaram e só deixaram no vídeo o que interessava.”
Jooziel Freire disse ainda ter conhecimento de que gravações de protestos anteriores estavam sendo veiculadas como se tivessem ocorrido neste sábado. “Já sabemos que usaram imagem de evento anterior, de uma pessoa sendo atingida com bala de borracha, falando que era de ontem [sábado].”
Agressões policiais
O estudante de computação Rafael Cangussu, que costuma frequentar as manifestações por passe livre, disse que na abertura da Copa das Confederações teve uma amiga agredida por um policial, enquanto conversava com outro. "O próprio companheiro dele não entendeu tal agressão. O que está acontecendo com a polícia hoje é que a violência está simplesmente se tornando atitude padrão."
Para o também estudante Pedro Chades, a atuação da PM de Brasília é semelhante à adotada pela corporação em outros estados. "Salvo que ela evita o confronto direto, preferindo sempre atacar de longe, garantindo a própria segurança primeiro", diz.
Chades conta que não esteve presente nas manifestações deste 7 de Setembro, mas que vai ajudar a divulgar o caso para evitar que novas situações do tipo aconteçam. Ele diz que um amigo levou um soco de um policial e uma amiga foi atingida com um tiro de borracha mesmo sem demonstrar intenção de agressão em protestos recentes.
Prisões
Os protestos em Brasília neste sábado terminaram com 50 pessoas detidas – 15 delas adolescentes. Todos os detidos já forma liberados. Freire disse que a polícia agiu corretamente na contenção aos manifestantes. “De maneira geral, não houve excesso. Não tem excesso comprovado da corporação”, afirmou.
Após o desfile de 7 de Setembro na Esplanada, manifestantes entraram em confronto com a PM na região central de Brasília. Policiais chegaram a disparar bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo nos manifestantes na W3 Norte, nas proximidades do Estádio Nacional, na Esplanada dos Ministérios e na rodoviária do Plano Piloto.
Os manifestantes depredaram alguns prédios privados – uma concessionária de veículos e um restaurante tiveram os vidros quebrados.
No Eixo Monumental, principal avenida da capital federal, policiais militares se perfilaram para impedir a passagem dos manifestantes que tentavam chegar ao estádio, onde Brasil e Austrália se enfrentaram em um jogo amistoso. Houve conflito. Foram lançadas bombas de gás e spray de pimenta contra os manifestantes. Dois repórteres fotográficos ficaram feridos.
De acordo com a secretaria de Segurança Pública do DF, o desfile em Brasília reuniu cerca de 15 mil pessoas. As manifestações, de acordo com a secretaria, tiveram mil participantes no início dos protestos, número que foi reduzido para cerca de 400 ao longo do dia.
Em nota lançada após as manifestações durante o dia em que se comemora a independência do Brasil, o comandante Jooziel Freire disse que a PM mostrou à população do Distrito Federal toda a “importância e competência, garantindo assim que todos desfrutassem de um dia de festa e lazer".