Por Guilherme Chaves, g1 DF


  • A revista Traços é uma "publicação de rua", sem fins lucrativos, vendida por pessoas em situação de rua ou extremamente vulneráveis no Rio de Janeiro e no Distrito Federal.

  • Em nove anos, a publicação já ajudou mais de mil pessoas. Um terço delas conseguiu ser reinserido no mercado de trabalho.

  • O projeto nasceu em 2015, em Brasília. Neste domingo (1°), a Traços comemora nove anos com o lançamento da edição de novembro no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Davi é porta-voz da cultura desde o início do projeto e segura a revista aberta em uma reportagem da qual fez parte. — Foto: Guilherme Chaves/g1

A revista Traços é uma "publicação de rua", sem fins lucrativos, e vendida por pessoas em situação de rua ou extremamente vulneráveis no Rio de Janeiro e no Distrito Federal. Em nove anos, a revista já ajudou mais de mil pessoas, e um terço delas conseguiu ser reinserido no mercado de trabalho (saiba mais abaixo).

"Hoje tenho meu apartamento", diz Davi Silva dos Santos, vendedor da revista que antes era morador de rua.

O projeto nasceu em 2015 e, neste domingo (1), comemora nove anos com o lançamento da edição de novembro no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Vendedor não: porta-voz da cultura 📢

Samuel, porta-voz da cultura da revista Traços há três anos. mostra exemplares da publicação que é vendida nas ruas — Foto: Guilherme Chaves/g1

Cada edição da Traços reúne arte de diferentes gêneros: crônicas, contos, poesias, desenhos, fotografias e um artista convidado para a matéria da capa. Por conta do conteúdo, os vendedores da revista são chamados de porta-vozes da cultura.

Juliana Valentim, diretora-geral da Traços conta que o projeto visa dar renda e dignidade para as pessoas. No Distrito Federal, atualmente, são 30 porta-vozes em atividade, "mas há uma rotatividade", diz Juliana.

Os porta-vozes recebem treinamento, colete de identificação e um kit com 20 revistas. Cada unidade é vendida por R$ 10: R$ 7 ficam com o porta-voz e R$ 3 são para que ele pegue novos exemplares.

Samuel da Silva Bezerra é porta-voz há três anos. Ele conta que estava em situação vulnerável e chegou perto de morar na rua quando conheceu a Traços.

"Até então, eu não conseguia trabalhar por causa da minha vulnerabilidade. Quando eu ia nos lugares pra pedir emprego, eu tinha cara de alcoólatra ou de dependente químico", diz o porta-voz.

Davi Silva dos Santos também é porta-voz da cultura. Ele conheceu a Traços assim que foi criada, em 2015. O contato se deu em um centro de atividades para pessoas em situação de rua, em Brasília.

Com o trabalho, Davi saiu das ruas, conseguiu um apartamento para morar e voltou a sentir-se "parte da sociedade".

"Eu era a pessoa invisível que vigiava seu carro. Ia para alguns shows e, muitas vezes, nem conseguia entrar. Hoje a gente tem entrada VIP", diz.

Os porta-vozes recebem suporte contínuo de psicólogos e assistentes sociais que os auxiliam nas jornadas pessoais e profissionais. A Traços tem parceria com a rede psicossocial por meio do SUS, do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), de albergues e programas que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade.

Durante a "jornada" – como é chamado o acompanhamento – o porta-voz ainda recebe auxílio para fazer documentos pessoais e abrir conta no banco para poder realizar as vendas também por PIX. Segundo Juliana Valentim, cerca que um terço das pessoas em extrema vulnerabilidade que passam pelo projeto são reinseridas no mercado de trabalho.

No Distrito Federal, a Traços fez uma parceria com a Secretaria do Turismo e alguns porta-vozes da cultura são treinados para, além da cultura, também serem porta-vozes do turismo.

História da Traços 🖍️

Juliana conta que a revista nasceu com inspiração na revista argentina "Hecho". A metodologia de dar oportunidade às pessoas em situação de rua para que consigam renda e dar suporte para que possam ter dignidade e cidadania veio de Buenos Aires.

A ideia da publicação é produzir um produto jornalístico com objetivo principal de ajudar no combate à pobreza. Outros exemplos de publicações de rua no Brasil são:

Como o conteúdo da Traços é arte e cultura , o projeto tem apoio da Lei de Incentivo à Cultura e parcerias com a Organização das Nações Unidas (ONU), com a Universidade de Brasília (UnB) e com Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre outras.

Em 2021, a Traços, que antes atuava apenas no Distrito Federal, expandiu suas operações para o Rio de Janeiro, onde o projeto também sobrevive com a Lei de Incentivo à Cultura e parcerias. No RJ são em torno de 30 porta-vozes da cultura em atividade.

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