Bombeiros combatem fogo no Distrito Federal — Foto: Divulgação/CBMDF
Às 7h começa o monitoramento e o combate aos incêndios florestais no Distrito Federal e o trabalho só termina no outro dia, também às 7h – essa é a rotina de um bombeiro militar nesta época do ano, em Brasília. Nesta terça-feira (17), a capital federal completa 147 dias sem chuva e com queimadas diárias.
Na segunda (16), o governador Ibaneis Rocha (MDB) suspendeu as férias dos bombeiros no DF. A medida inclui os militares que estão cedidos para a Força Nacional.
Com uma jornada de trabalho de 24h, intercalada por três dias de folga, o tenente Anderson Ventura, do Grupamento de Proteção Ambiental, conta ao g1 que nesta época do ano não tem "tempo livre".
"Fico de prontidão, tudo pronto e conferido, pra quando tiver a primeira ocorrência. Trabalho um dia e folgo três, mas nessa época do ano quem está na folga pode ir também", diz o tenente.
Bombeiros combatem incêndio no Parque Nacional no DF.
Ao chegar no quartel, às 7h, há o monitoramento das queimadas feito com imagens de satélite e de câmeras de vigilância da Torre de TV Digital, por meio do aplicativo de inteligência artificial Sem Fogo-DF. Além disso, todos os equipamentos e materiais são verificados, limpos e organizados.
Assim que escutam a ordem pelo alto-falante, as equipes saem para combater o fogo. "Em média, as ocorrências diárias são próximas de 100", conta Anderson.
O Grupamento de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) tem dois quarteis: um na Asa Norte e outro em Samambaia. Segundo o tenente Anderson Ventura, há 180 combatentes florestais – bombeiros com especialização em prevenção e combate às queimadas.
Tecnologia e equipamentos
Militar usa a bomba costal, um dos equipamentos utilizados no combate aos incêndios florestais — Foto: Divulgação/CBMDF
Os equipamentos utilizados para monitorar as queimadas são:
- Sem Fogo-DF: inteligência artificial treinada para analisar as imagens de câmeras de vigilância da Torre de TV Digital identifica – por meio da cor, textura e forma da fumaça – os incêndios no DF.
- Site da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos): pontos de temperatura elevada são monitorados por imagens de satélite atualizadas a cada 20 minutos.
Os equipamentos de proteção individual são:
- Roupa que protege contra as chamas, radiação e abrasão
- Balaclava
- Óculos
- Luvas de proteção
Os equipamentos utilizados no combate ao fogo são:
- Sopradores
- Abafadores
- Bombas costais
- Bombas de alta vazão
- Viaturas terrestres
- Carro d'água
- Aeronaves que lançam água
- Drones que fazem a leitura do cenário
- Câmeras infravermelhas manuais para captar o calor do solo, em caso de incêndio subterrâneo
Mas mesmo com o uso de todos os equipamentos, os bombeiros ainda podem se ferir.
"Já saí com uma bolha de queimadura de segundo grau por tempo de exposição com soprador na mão. Também queimei a ponta do nariz, não é só porque eu sou narigudo, é uma superfície de contato maior, por mais que a balaclava tampe, tudo vai depender do tempo exposição", diz o tenente Ventura.
Ele faz parte da equipe que começou o combate ao incêndio no Parque Nacional de Brasília, no domingo (15), e conta que dois colegas foram encurralados pelo fogo e precisaram ser levados para o Hospital da Asa Norte (Hran). Um deles foi cercado pelo fogo.
Os militares já estão em casa e passam bem. Mas o susto para todos foi grande, principalmente para um dos bombeiros que ficou cercado pelas labaredas.
"Os ventos mudaram bruscamente e voltaram as chamas pra cima dele. Ele conseguiu escapar das chamas e se protegeu. Ficamos um tempo sem contato, mas depois o encontramos", diz.
'O apito me salvou'
Bombeiros do CBMDF atuam no combate ao fogo — Foto: Divulgação/CBMDF
Apaixonado pela profissão, Anderson conta que certa vez, após o combate noturno às chamas em uma área de Cerrado no DF, ele caiu em um buraco. Sem a luminosidade do fogo, os colegas demoraram para encontrá-lo. O que salvou o militar foi um item do uniforme: o apito.
"De lá de dentro de fiquei apitando e eles conseguiram me encontrar. Imagina se eu caio e me machuco e não consigo sair, passaria a noite lá", diz Anderson.
'O maior desafio é a prevenção'
Bombeiro utiliza mangueira para combater o fogo no DF — Foto: Divulgação/CBMDF
De acordo com o bombeiro Anderson Ventura, o grande desafio do combate ao fogo é a prevenção. Os incêndios, nesta época do ano, não ocorrem "de forma natural", aponta o militar.
"Só existem duas formas de incêndio natural: vulcão e raio. Vulcão não tem no Brasil e raio não tem nessa época do ano. Os incêndios que temos enfrentado não são de causa natural", afirma o tenente.
Para Ventura, a população não deve usar o fogo neste período do ano, pois ele pode ficar incontrolável. "Esse é o meu maior desafio hoje: a prevenção", diz o bombeiro.
Recomendações para a população
Bombeiros combatem incêndio no DF — Foto: Divulgação/CBMDF
- Se for morador de área rural: fazer a capina ao redor da casa, o aceiro, para evitar que o fogo se aproxime da residência.
- Nunca combater o incêndio sozinho: ao ver um incêndio, ligar para o Corpo de Bombeiros, no telefone 193.
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