Mala de bebê que morreu em hospital particular do DF após demora no parto — Foto: Reprodução/TV Globo
Os pais de um bebê denunciaram o Hospital Maternidade Brasília, que fica na região do Sudoeste, no Distrito Federal, por negligência médica após a criança nascer morta, nesta terça-feira (3). O casal alega que houve demora na realização do parto.
O pai de João Lucas, o servidor público Clevis Rodrigues conta que chegou ao hospital com a esposa às 3h30. Segundo ele, a bolsa já tinha rompido e, por isso, a gestante — de 38 semanas — precisava de atendimento médico imediato.
A equipe médica, no entanto, só decidiu fazer uma cesárea de emergência 10 horas depois da chegada do casal ao hospital, quando a professora Enia Maísa Rodrigues apresentou um sangramento (saiba mais abaixo). Em nota, o Hospital Maternidade Brasília disse que "lamenta profundamente" e que "se solidariza com momento vivido pela família" (veja nota nota ao final da reportagem).
Demora no parto
Maternidade Brasília, no Sudoeste — Foto: TV Globo/Reprodução
Clevis Rodrigues conta que assim que chegou no hospital com a esposa, a enfermeira informou que a unidade estava superlotada. Ele disse que mesmo após passar por avaliação médica, Maísa ficou em uma maca na enfermaria por falta de leito.
"Ela [a enfermeira] até brincou. Disse: 'Ah, parece que todas as mães que resolveram ganhar filhos no dia de hoje, vieram para cá' (...) Na enfermaria, minha esposa deitou na cama e tinha uma cadeira ao lado. Fiquei lá com ela e foi só isso. Não teve nenhum outro tipo de suporte até o dia amanhecer", conta o pai do bebê.
Segundo Clevis, por volta de 8h30, a médica fez um exame ultrassom e disse para Maísa que ela poderia fazer o parto normal. Para começar o processo, a médica deu uma medicação e deixou Maísa no quarto com o marido.
Clevis conta que a esposa sentiu muitas contrações e que chegou a pedir ajuda para a médica "em três oportunidades", mas a profissional estava no centro cirúrgico "e não compareceu". Após Maísa apresentar um sangramento, a equipe decidiu fazer uma cesárea de emergência.
Segundo a família, 13h30 Maísa foi levada para a sala de cirurgia — 10 horas depois da chegada à maternidade com a bolsa rompida. A cesárea foi feita, mas João Lucas já estava morto.
"Infelizmente, a gente saiu do hospital com uma caixinha de lembrança do João. Era para ser nosso filho, num carrinho de bebê. Não conseguimos ir para casa com nosso filho. Viemos pra casa com a caixinha de recordação, a imagem dos pezinhos dele, alguns fios de cabelo e o coração dilacerado", diz Maísa.
Negligência médica
Mãe de bebê que nasceu morto fala sobre volta para casa sem o filho no DF
A família registrou um boletim de ocorrência na 3ª Delegacia de Polícia, no Cruzeiro. O caso é investigado como suposta negligência médica.
O corpo de bebê passou por perícia no Instituto de Medicina Legal (IML) e o resultado é aguardado pela família. A equipe da TV Globo esteve no Hospital Maternidade Brasília, mas ninguém quis gravar entrevista. Mais tarde, a unidade de saúde enviou uma nota (leia ao final da reportagem).
Mortes em hospitais públicos do DF
Crianças que morreram nos últimos meses na rede pública de saúde do DF.
Entre abril e junho, pelo menos seis crianças morreram na rede pública de Saúde do Distrito Federal:
- ENZO GABRIEL: Menino de 1 ano morreu em 14 de maio, na Upa do Recanto das Emas, após esperar mais de 12 horas por uma ambulância;
- JASMINY: Bebê de 1 mês morreu por falta de atendimento apropriado na UPA do Recanto das Emas, em 14 de abril;
- ANNA JÚLIA: Menina de 8 anos morreu no dia 17 de maio após peregrinar por quatro unidades de Saúde;
- AURORA: Recém-nascida que morreu por complicações causadas durante o trabalho de parto;
- INGRID: Bebê morreu antes mesmo do parto após mãe ser liberada de hospital.
- AYLA: Recém-nascida de 11 dias morreu após o parto no Hospital de Ceilândia, no Distrito Federal, no dia 7 de julho. A menina nasceu prematura de 35 semanas e precisou receber oxigênio. Ela tinha apenas dois dias de vida quando recebeu alta da equipe médica.
O que diz o Hospital Maternidade Brasília
"Lamentamos profundamente e nos solidarizamos com o momento vivido pela família. Reforçamos que, como instituição acreditada e referência na área, nos mantemos disponíveis para apoiar a família, colaborando com quaisquer informações que venham a ser solicitadas".
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