Por g1 DF


  • Importância do espaço para a cultura e história de Brasília fez com que o teatro fosse tombado pelo Governo do Distrito Federal como patrimônio cultural do DF.

  • Inúmeras formações acadêmicas e espetáculos fizeram com que a fama do teatro crescesse no cenário cultural brasiliense.

  • Nesta terça-feira (12), leilão que venderia prédio — que acumula dívidas de cerca de R$ 27 milhões — foi cancelado após Justiça entender que processo não seguiu ritos necessários.

  • Além disso, espaço enfrenta 57 processos trabalhistas e de execuções fiscais.

Teatro Dulcina, em Brasília, passa por reforma da pintura — Foto: Karol Kanashiro/Divulgação

📅 21 de abril de 1980: nessa data, o Teatro Dulcina de Moraes era inaugurado no coração de Brasília. Projetado por Oscar Niemeyer, o local, que também foi uma faculdade de artes, fica no Setor de Diversões Sul, popularmente conhecido como Conic.

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Durante os últimos 43 anos, a importância do espaço para a cultura e a história da capital fez com que o teatro fosse tombado pelo Governo do Distrito Federal como patrimônio cultural do DF. O prédio, que atualmente está fechado, foi de extrema importância na carreira de inúmeros profissionais do ramo teatral.

Na última quinta-feira (14), um leilão que venderia o prédio — que acumula dívidas de cerca de R$ 27 milhões — foi cancelado após a Justiça entender que o processo não seguiu os ritos necessários (veja detalhes abaixo).

Junior Ribeiro, artista e ex-aluno do Dulcina, conta que — além do teatro, da faculdade, da galeria de artes e da Fundação Brasileira de Teatro (FBT) —, o local "abriga a história do teatro brasileiro".

O teatrólogo e professor da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes Túllio Guimarães lembra o esforço que a atriz, que dá nome ao espaço, fez para trazer cultura para a capital (saiba mais sobre Dulcina de Moraes ao final da reportagem).

"Ela [Dulcina de Moraes] veio construir isso aqui, tudo com esforço dela, com dinheiro dela, e agora tudo que ela construiu a gente não sabe o que fazer", lamenta.

As inúmeras formações acadêmicas e espetáculos fizeram com que a fama do teatro crescesse no cenário cultural. Em 1983, por exemplo, o teatro recebeu o espetáculo "Bodas de Sangue", dirigido por Dulcina de Moraes, que também atuou com outros alunos da faculdade. No elenco, André Amahro, Fernando Guimarães e Marcelo Saback , entre outros.

A mantenedora do espaço é a Fundação Brasileira de Teatro, uma das mais antigas fundações da área artística, instituída em 1955, no Rio de Janeiro. Em 1972, a instituição foi transferida para Brasília e passou a ser responsável por manter os espaços do teatro e a faculdade de Dulcina de Moraes.

Situação atual

Teatro Dulcina de Moraes, no Conic, centro de Brasília — Foto: Luiza Garonce/G1

As tragédias vão além do palco e se misturam com a história do espaço cultural. Desde o início da pandemia de Covid-19 a energia do local foi cortada. Só as contas de água e de luz somam débitos de R$ 600 mil.

As dívidas são visíveis no prédio. De acordo com um relatório, o local tem elevadores quebrados e disjuntores sem manutenção.

Além disso, o espaço enfrenta 57 processos trabalhistas e de execuções fiscais — muitos deles, inclusive, sem apresentar defesa, já que o teatro não tinha advogados para representá-lo à época.

O valor exorbitante das dívidas chegou a movimentar um edital para leiloar o prédio, que aconteceria na última quinta-feira (14), mas foi cancelado pelo juiz federal Alexandre Machado Vasconcelos.

De acordo com a decisão, não houve o prazo previsto em lei entre a publicação do edital e o dia marcado para o leilão. Dessa forma, para evitar a nulidade do processo, o juiz decidiu cancelar o evento.

A atual gestão afirma que não há um levantamento completo do acervo histórico e cultural de Dulcina de Moraes e que itens do acervo foram extraviados ao longo do tempo, desde fotografias e vestidos a documentos e mobiliários.

Atualmente, uma equipe trabalha gratuitamente para mapear e catalogar o conteúdo ainda disposto no local a fim de preservar o espaço.

Quem é Dulcina de Moraes

Crônica de Sexta: Dulcina de Moraes, a grande dama do teatro brasileiro

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Dulcina de Moraes, que dá nome ao teatro, era atriz, diretora, produtora, professora e foi quem criou a Fundação Brasileira de Teatro. Ela morreu em 28 de agosto de 1996.

Filha e neta de atores, Dulcina nasceu em 1908, em uma casa que foi emprestada aos pais dela, quando a mãe da atriz estava prestes a dar à luz. A cidade de Valença, no estado do Rio de Janeiro, ficou registrada como local de nascença, mas era nos palcos que a fluminense encontrava a sua casa.

A estreia como atriz foi aos três meses de idade. Na época, ela fez parte de uma apresentação dos pais. Ao 17 anos, ingressou na companhia de teatro de Leopoldo Fróes e foi considerada uma "grande promessa".

Em 1934, Dulcina alcançou reconhecimento com a peça "Amor", de Oduvaldo Viana. No ano seguinte, criou sua própria companhia ao lado do marido, o também ator e empresário Odilon Azevedo. Em 1945, chegou ao auge do sucesso, com o espetáculo "Chuva".

Convencida da necessidade de investir na profissão no Brasil, Dulcina criou, junto com Odilon Azevedo, a Fundação Brasileira de Teatro (FBT), em 1955, na cidade do Rio de Janeiro. Cerca de 20 anos depois, a instituição foi transferida para Brasília, com sede no Conic, ao lado da Rodoviária do Plano Piloto, mesmo local do Teatro Dulcina.

O teatro foi inaugurado em 1980, e a Faculdade de Artes começou a operar em 1982. Ela é considerada uma das primeiras instituições de ensino no país dedicada às artes.

Enquanto estava viva, Dulcina ajudava a administrar e era professora do espaço. No entanto, com a morte dela, a instituição passou a enfrentar dificuldades.

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