Por Amanda Sales e Israel de Carvalho *, g1 DF


Roupas expostas em brechó de Brasília — Foto: Foto: Digulgação

Os movimentos Slow Fashion e Eco Fashion (saiba mais abaixo) fazem, cada vez mais, parte do dia a dia dos brasilienses. Eles pregam uma mudança de cultura que pretende incentivar o pensamento sustentável e ajudar na preservação do meio ambiente, em todas as etapas de produção, levando em conta a importância do reuso e da reciclagem das roupas.

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Os brechós e bazares fazem parte dessa "tendência" porque trabalham com a reutilização e a rotatividade das peças do vestuário. Em Brasília, as amigas, Carol Rosignoli e Ana Paula Gonçalves, sócias do brechó ''Desapaguei Bonito'', contam que entraram no ramo "para dar uma nova história para as peças paradas dentro do armário".

Inaugurado há 7 anos, Carol diz que nos últimos dois anos de pandemia de Covid-19 a procura pelas peças do brechó aumentou. Ela cita alguns motivos para isso:

"São uma alternativa à compra de peças novas, pela ideia da sustentabilidade estar cada vez mais popular, principalmente na geração mais jovem, mas também como reflexo econômico da pandemia", diz Carol.

Para Mayton do Nascimento, dono do "Brechó do Óculos", a ideia do garimpo surgiu quando, na ótica da família dele, diversas armações ficavam ''encalhadas''. O jovem acredita que a maior vantagem dos brechós é a grande opção de produtos, alguns exclusivos, com qualidade e preços acessíveis.

Mayton do Nascimento, criou o Brechó do Óculos — Foto: Foto: Arquivo pessoal

O arte educador, "garimpeiro" e dono do "Berbório Brechó", Marcelo Almeida, acredita que esse tipo de comércio permite "uma liberação artística dos curadores e clientes, por não estarem presos a um editorial de moda".

"A reutilização de roupas está diretamente ligada ao usufruto da expressão social como forma não apenas de liberdade artística, como também de união", diz Marcelo.

Quem compra?

Sapatos em prateleiras de brechó, em Brasília — Foto: Divulgação

A bióloga Renata Alves, consumidora declarada de roupas e acessórios "recicladas" conta que a curadoria dos brechós é o que mais a chama atenção e o que faz mais diferença na hora de comprar.

''Eu imaginava que as roupas dos brechós eram velhas e que fediam a mofo. Depois que comecei a frequentar, percebi que é totalmente o contrário, algumas parecem lojas de departamento e com curadorias excelentes", diz Renata.

Para o artista visual Rafael Mota, comprar em brechó é uma alternativa econômica, além de ser uma compra sustentável.

"Estas mesmas roupas, caso não fossem comercializadas, seriam tratadas como lixo ou em um processo que contribui para poluição, como, por exemplo, a incineração", diz Rafael.

Rafael utilizando roupas compradas em Brechó, em evento do Brechó Mangata — Foto: Foto: Rafael Mota

O artista visual acredita que um bom brechó precisa ter uma grande diversidade de roupas, tecidos, estilos e tamanhos. "Brechós se tornaram populares, principalmente entre jovens, por conta de estarem em destaque nas redes sociais. O que é natural em um país com altíssimas taxas de imposto para produtos novos e, principalmente, para marcas famosas", diz ele.

"O brechó não é só uma opção barata, mas também um novo mercado para micro empreendedores", diz Rafael.

O que são os movimentos Slow e Eco Fashion ?

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Os movimentos Slow Fashion e Eco Fashion vieram para contrariar o Fast Fashion, que é o desejo das marcas de estar em constante produção e até de mudar coleções inteiras, em 15 dias, por exemplo.

O grande objetivo do movimento é diminuir o consumo de roupas que poluem e diminuir a quantidade de marcas que utilizam uma produção exaustiva, muitas com um trabalho mal remunerado.

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A coordenadora do Slow Fashion Movement Brazil e do time de pesquisa da ONG Slow Fashion Movement, Paula Martin, diz que que o eco fashion é importanate para o planeta, como um todo. "É muito além do que só um modismo", aponta.

"A indústria têxtil que conhecemos hoje é baseada em um modelo linear de extrair-produzir-descartar, o que é extremamente poluente e gera desperdícios absurdos de matérias-primas, recursos naturais e lucros financeiros, ou seja, tudo o que é produzido acaba indo para o lixo", diz Paula.

Para ela, os brechós são uma forma de fazer as roupas circularem, já que muitas delas iriam acabar indo para aterros sanitários. "Essa rede de reutilização dá uma nova vida para essas peças, além da importância dos brechós nos tempos de crise", conta a pesquisadora do movimento Slow Fashion.

Brechós citados na reportagem

Desapeguei Bonito
Local:
Asa Norte
Endereço:
SCRN 702/703, bloco C, loja 50
Horário: de segunda a sexta, das 12h às 20h

Brechó dos Óculos
Local:
Asa Norte
Endereço:
SCRN 706/707 bloco C, sala 207
Loja virtual

Berbório Brechó
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