Urbanista Lucio Costa ao lado do presidente JK — Foto: Arquivo Público-DF/Divulgação
Entre os documentos, estão croquis de projetos, fotografias, mapas, plantas, desenhos, filmes de 16 milímetros e até correspondências que Lúcio Costa mantinha com outros grandes nomes da arquitetura, como Oscar Niemeyer e Le Corbusier. Os primeiros desenhos do projeto do Plano Piloto também estão incluídos.
O material estava armazenado, há 20 anos, no Instituto Tom Jobim, no Rio de Janeiro. No entanto, de acordo com a família de Lucio Costa, em 2019, o instituto comunicou que passaria por uma reestruturação e que o seguro do material ficaria muito caro.
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Segundo a neta de Lucio Costa, Julieta Sobral, outra razão para a mudança do acervo para Portugal foi pela capacidade técnica e especializada que a Casa de Arquitectura possui. "A reserva técnica é o espaço onde os documentos ficam acondicionados. Uma das grandes dificuldades é manter documentos grandes na horizontal, por exemplo", diz ela.
"Eles tem espaço, tem condições de temperatura e de umidade perfeitos. Tem equipamentos de digitalização extraordinários e tem verba e interesse para promover o pensamento do Lucio. Então, assim, tudo vai ser muito difundido e não vai ficar fora de acesso nenhum dia", conta Julieta Sobral.
Transferência para Portugal gera polêmica
Acervo do arquiteto e urbanista Lúcio Costa é transferido para Portugal
No Instituto Tom Jobim, o acervo de Lucio Costa e não era liberado para visitação, "porque a estrutura não permitia", aponta a neta de Lucio Costa. Esse seria mais um motivo para a transferência dos documentos para Portugal.
Por outro lado, o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues, diz que recebeu a notícia "com surpresa e decepção", pois a pasta não foi informada. Segundo ele, se a preocupação é manter o acervo preservado, e disponível ao público, inclusive com ferramentas digitais, "o DF tem condições de abrigá-lo".
Para a presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Heloísa Moura, a transferência do acervo de Lúcio Costa é "uma perda para o Brasil".
"De fato é perda sim. A gente deveria ter condições de cuidar desse material. Essa questão das fronteiras, é um tema bem controverso", diz a presidente do IAB.
Julieta Sobral, no entanto, aponta que a mudança vai garantir mais acesso e ajudar a difundir ainda mais o legado do avô. "Essa discussão num mundo totalmente globalizado, onde a informação está globalizada, me parece meio acrônica. Acho que ela não cabe no processo que estamos vivendo. Embora eu lamente. Claro que seria melhor se o acervo estivesse no Brasil, mas não vejo perda nenhuma. Pelo contrário, vejo ganhos", diz a neta de Lucio Costa
De acordo com o diretor da Casa de Arquitectura, Nuno Sampaio, o material é de importância para a arquitetura "quer no Brasil, ou em qualquer parte do mundo" e o objetivo da Casa de Arquitectura não é ficar com o acervo e sim "disponibilizar para que toda gente, portuguesa, brasileira e gente de outros países, conheça e entenda a influência da arquitetura e do pensamento de Lucio Costa".
"Trata-se de uma figura ímpar da arquitetura mundial. Um pioneiro humanista e universalista. Para a Casa de Arquitectura é a oportunidade de fazer um trabalho de conservação desse material, e divulgação pública do trabalho de Lucio Costa", diz o gestor de Portugal.
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