Por Brenda Ortiz, g1 DF


Urbanista Lucio Costa ao lado do presidente JK — Foto: Arquivo Público-DF/Divulgação

Cerca de 11 mil documentos, produzidos entre 1910 e 1998, pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa, que projetou o Plano Piloto de Brasília, foram doados para a Casa da Arquitectura do Centro Português de Arquitectura, com sede na cidade de Matosinhos, em Portugal.

Entre os documentos, estão croquis de projetos, fotografias, mapas, plantas, desenhos, filmes de 16 milímetros e até correspondências que Lúcio Costa mantinha com outros grandes nomes da arquitetura, como Oscar Niemeyer e Le Corbusier. Os primeiros desenhos do projeto do Plano Piloto também estão incluídos.

O material estava armazenado, há 20 anos, no Instituto Tom Jobim, no Rio de Janeiro. No entanto, de acordo com a família de Lucio Costa, em 2019, o instituto comunicou que passaria por uma reestruturação e que o seguro do material ficaria muito caro.

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Segundo a neta de Lucio Costa, Julieta Sobral, outra razão para a mudança do acervo para Portugal foi pela capacidade técnica e especializada que a Casa de Arquitectura possui. "A reserva técnica é o espaço onde os documentos ficam acondicionados. Uma das grandes dificuldades é manter documentos grandes na horizontal, por exemplo", diz ela.

"Eles tem espaço, tem condições de temperatura e de umidade perfeitos. Tem equipamentos de digitalização extraordinários e tem verba e interesse para promover o pensamento do Lucio. Então, assim, tudo vai ser muito difundido e não vai ficar fora de acesso nenhum dia", conta Julieta Sobral.

Transferência para Portugal gera polêmica

Acervo do arquiteto e urbanista Lúcio Costa é transferido para Portugal

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No Instituto Tom Jobim, o acervo de Lucio Costa e não era liberado para visitação, "porque a estrutura não permitia", aponta a neta de Lucio Costa. Esse seria mais um motivo para a transferência dos documentos para Portugal.

Por outro lado, o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues, diz que recebeu a notícia "com surpresa e decepção", pois a pasta não foi informada. Segundo ele, se a preocupação é manter o acervo preservado, e disponível ao público, inclusive com ferramentas digitais, "o DF tem condições de abrigá-lo".

Para a presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Heloísa Moura, a transferência do acervo de Lúcio Costa é "uma perda para o Brasil".

"De fato é perda sim. A gente deveria ter condições de cuidar desse material. Essa questão das fronteiras, é um tema bem controverso", diz a presidente do IAB.

Julieta Sobral, no entanto, aponta que a mudança vai garantir mais acesso e ajudar a difundir ainda mais o legado do avô. "Essa discussão num mundo totalmente globalizado, onde a informação está globalizada, me parece meio acrônica. Acho que ela não cabe no processo que estamos vivendo. Embora eu lamente. Claro que seria melhor se o acervo estivesse no Brasil, mas não vejo perda nenhuma. Pelo contrário, vejo ganhos", diz a neta de Lucio Costa

De acordo com o diretor da Casa de Arquitectura, Nuno Sampaio, o material é de importância para a arquitetura "quer no Brasil, ou em qualquer parte do mundo" e o objetivo da Casa de Arquitectura não é ficar com o acervo e sim "disponibilizar para que toda gente, portuguesa, brasileira e gente de outros países, conheça e entenda a influência da arquitetura e do pensamento de Lucio Costa".

"Trata-se de uma figura ímpar da arquitetura mundial. Um pioneiro humanista e universalista. Para a Casa de Arquitectura é a oportunidade de fazer um trabalho de conservação desse material, e divulgação pública do trabalho de Lucio Costa", diz o gestor de Portugal.

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