O Prêmio Nobel de Química de 2012 foi oferecido nesta quarta-feira (10) aos pesquisadores Brian K. Kobilka, da Universidade Stanford, e Robert J. Lefkowitz, da Universidade Duke, ambos dos EUA, conforme anúncio da Real Academia de Ciências da Suécia, em Estocolmo.
O prêmio é um reconhecimento a seus estudos sobre receptores acoplados à proteína G (GPCRs, na sigla em inglês) - uma família de receptores situados nas membranas celulares que se ligam a moléculas no exterior e enviam "sinais" para dentro, possibilitando que a célula responda de maneira específica. As proteínas G são uma classe envolvida nesse tipo de processo dentro das células.
Um exemplo desse tipo de interação, citado na apresentação em Estocolmo, é o do contato da adrenalina com as células. O hormônio não entra na célula para surtir seu efeito - ele age sobre os receptores que são alvo das pesquisas de Kobilka e Lefkowitz, que então desencadeiam uma reação no metabolismo celular.
Além da adrenalina, a família dos GPCRs inclui receptores para dopamina, serotonina, luz, paladar e odor. A maioria dos processos fisiológicos depende dos GPCRs, destaca a entidade que concede o Nobel.
A academia sueca argumenta que o trabalho dos dois pesquisadores tem importância porque ajudou a conhecer o funcionamento desses receptores em nível atômico. Entender os mecanismos associados aos receptores acoplados à proteína G permite o desenvolvimento de remédios que atuem de forma similar às moléculas encontradas na natureza.
"Cerca de metade de todos os medicamentes age através desses receptores, entre eles os beta bloqueadores, anti-histamínicos e vários tipos de medicamentos psiquiátricos", disse o comitê.
Surpresa
"Se eu esperava receber esta ligação? Não", disse surpreso o professor Lefkowitz, desde os EUA, ao ser chamado pela Real Academia. Ele admitiu que estava dormindo e só atendeu porque sua mulher o cutucou com o cotovelo. "Uso tampões para dormir".
Lefkowitz nasceu em 1943, em Nova York. Em 1970, ele consegue publicar nas prestigiosas revistas "Proceedings", da Academia de Ciências dos EUA, e "Science", artigos sobre a descoberta de um desses receptores, de cuja existência, até então, se suspeitava, mas sem comprovação. Encontrar os receptores foi um grande desafio para a ciência porque eles são poucos e ficam encapsulados na membrana da célula.
O sucesso da pesquisa de Lefkowitz faz com que seja convidado a trabalhar nos laboratórios da Universidade Duke, na Carolina do Norte. Ali, na década de 1980, ele se concentraria em descobrir o código genético do receptor beta, que interage com os hormônios adrenalina e noradrenalina, para entender como ele funciona. Na mesma época, contrata o jovem médico Brian Kobilka, de Little Falls (Minnesota), que consegue isolar esse gene.
A análise do código genético do receptor beta mostra que ele consiste em sete partes que atravessam a membrana celular. É o mesmo número do receptor de luz rodopsina, que fica na retina.
Esse foi o momento em que os pesquisadores tiveram um estalo: se receptores com funções tão diferentes funcionam de modo similar, e sabendo que havia pelos menos outros 30 tipos de receptores que, dentro das células, se ligavam a proteínas G, elas só poderiam formar uma família.
Essa conclusão pemitiu que os cientistas entendessem melhor o funcionamento dos GPCRs.
Após transferir-se para a Universidade Stanford, na Califórnia, Kobilka iniciou uma jornada de 20 anos até conseguir, em 2011, atingir seu novo objetivo, que coroaria os trabalhos reconhecidos pelo Nobel deste ano: ele e sua equipe conseguiram registrar o exato momento em que um receptor beta transfere a uma proteína G um sinal recebido de um hormônio.
Para a professora Rosely Godinho, da Unifesp, que também pesquisa receptores celulares, as descobertas de Lefkowitz e Kobilka tiveram "impacto muito grande". "Ainda quando era estudante, foram trabalhos que me despertaram a atenção, então acabei acompanhando-os desde então", conta.
"Esses receptores são capazes de modular a fiosologia de todos os tecidos. Estão envolvidos em tato, visão, paladar. Quando a gente tem um estresse, substâncias são liberadas no corpo e as células interagem por meio desses receptores", exemplifica, lembrando que muitos medicamentos atuam por meio da interação direta com eles, ativando ou bloqueando-os e, assim, influenciando o funcionamento das células.
Confira abaixo os vencedores do Nobel de Química dos últimos 10 anos:
2012: Robert Lefkowitz e Brian Kobilka (EUA)
2011: Daniel Schechtman (Israel)
2010: Richard Heck (EUA), Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki (Japão)
2009: Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz (EUA), Ada Yonath (Israel)
2008: Osamu Shimomura (Japão), Martin Chalfie e Roger Tsien (EUA)
2007: Gerhard Ertl (Alemanha)
2006: Roger Kornberg (EUA)
2005: Yves Chauvin (França), Robert H. Grubbs e Richard R. Schrock (EUA)
2004: Aaron Ciechanover e Avram Hershko (Israel) e Irwin Rose (EUA)
2003: Peter Agre e Roderick MacKinnon (EUA)
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*Com informações da Reuters e da AFP