O crescimento do mercado de leite materno através de um site especializado nisso nos Estados Unidos expõe a diferença com que a amamentação é tratada em diferentes países.
Para a pediatra Ana Maria Escobar, do Instituto da Criança (em SP), “é esquisito” que o leite materno seja comprado e vendido, por mais que isso seja visto com naturalidade nos Estados Unidos. Segundo a brasileira Mônica Mello, que vive em Nova York e tem um blog sobre a experiência de uma mãe brasileira nos EUA (mozinha.com), isso é uma evidência de que os americanos tratam a amamentação de forma diferente. Ela diz que alguns pediatras defendem até que a amamentação só é mesmo necessária em países subdesenvolvidos.
“A cultura da amamentação aqui não é como no Brasil. É mais fraca. Aqui é mais aceito as pessoas não amamentarem. Amamentar não é pratico, e mesmo os pediatras falam que amamentação é mais indicada para países pobres, porque se as pessoas não amamentam e não têm condições de comprar o leite certo, ou a fórmula, é pior para o bebê. Aqui em Nova York é possível alimentar bem o bebê sem que a mãe precise se sacrificar para amamentar”, disse, em entrevista ao G1.
Essa forma como os americanos lidam com a amamentação soa absurda para a pediatra brasileira ouvida pelo G1. O leite materno, ela diz, é “mil vezes” mais apropriado de que qualquer "fórmula", como são chamadas as misturas usadas para alimentar os bebês em substituição. “Dizer que amamentar não é necessário é uma bobagem. O leite materno é a melhor composição química para crianças. As fórmulas tentam copiar a composição do leite materno. O leite materno tem imunoglobulinas, anticorpos, defesa que a mãe transmite à criança contra várias doenças. Isso nenhuma fórmula consegue ter”, disse.
Mônica contou que sua primeira filha, Luna, foi alimentada apenas com fórmula, cresceu bem e adoeceu pela primeira vez quando já tinha 4 anos (apesar de ter tido uma febre pela primeira vez com um ano). Já seu filho mais novo, Lorenzo, é alimentado com leite materno e adoeceu pela primeira vez aos 4 meses. “Desde minha primeira filha eu tentei amamentar, me frustrei, chorei, mas não conseguia por dor. Comecei a tirar, agora, com uma bomba elétrica, então estou conseguindo alimentar meu segundo filho com leite”, disse.
Doação, compra e venda
Depois que passou a conseguir tirar o leite que produzia, Mônica passou a buscar centros de doação do que sobrava. Ela chegou a entrar em contato com um deles, na Califórnia, mas não conseguiu por questões burocráticas. Segundo ela, é feito um forte controle sobre a qualidade do leite materno das doadoras.
Esta é a principal preocupação da pediatra brasileira quando se fala em compra e venda de leite materno. “Quando se compra leite materno, é preciso saber a procedência dele, saber se a mãe teve os cuidados de saúde e higiene corretos, senão submete-se a criança a um risco à toa, pois o leite materno também pode transmitir algumas doenças”, explicou.
“O leite materno é de longe o melhor alimento para o bebê”, disse a pediatra. “A amamentação ideal é da propria mae para a propria criança. Em situações especificas em que não é possível, pode-se recorrer a bancos de leite, onde o leite é tirado e armazenado da forma apropriada, com cuidados de higiene e de saúde apropriados”, disse a doutora Escobar.