Você com certeza já viu algum deles por ai. Estão em toda parte, nos pés das celebridades, na estátua da liberdade, ou exaltado em famosas esculturas gregas.

Pé de MortonSim, estou falando daquele dedo do pé (artelho) que cisma em sair pra fora da sandália. Na verdade, essa é uma condição genética conhecida como Síndrome do Pé de Morton, que é simplesmente um tipo de anatomia, na qual o hálux (vulgo “dedão”) é menor que o segundo dedo, deixando este último com o aspecto muito alongado. Mas não necessariamente é o segundo pododáctilo que é longo, mas o dedão que fica relativamente pequeno naquele contexto devido a um encurtamento do primeiro osso metatarso, que conecta o dedão com o resto do pé.

Descrita pela primeira vez como condição médica pelo cirurgião-ortopedista Dudley Joy Morton em 1927, essa característica é relativamente comum nos humanos, com prevalência variando entre 3% a mais de 90% em determinadas populações isoladas. No Brasil, estima-se uma frequência de 32.8%. Por isso, acredita tratar-se de um caráter hereditário, mas que não segue necessariamente as regras simples de um recessivo dominante.

Talvez a grande maioria dos que possuem o pé de Morton não se incomodem com isso. Mas o uso intenso da pisada, tirando o estresse do dedão como principal fonte de impacto da pisada, pode causar problemas. Em alguns casos, a condição pode induzir uma sobrecarga na região do antepé, afetando a área da cabeça do segundo metatarso, causando dor intensa, formação de calo, neuroma, fratura óssea ou problemas com músculos naquela região. Como não existe prevenção para a Síndrome do Pé de Morton, aconselha-se primeiramente um tratamento conservativo, com suporte ortopédico para aliviar a dor ao distribuir melhor a carga ao andar, reeducação postural ou, em casos extremos, cirurgia corretiva.

Do ponto de vista evolutivo, essa é uma das regiões anatômicas mais importantes para o estabelecimento de nossa postura bipedal, em contraste com outros primatas. A posição e formato do dedão foi crucial para a propulsão da caminhada e corrida humana, facilitando nosso deslocamento em longas distancias, liberando nossas mãos para outras atividades e consequentemente contribuindo para a sobrevivência da espécie. A variação da anatomia de pés dos humanos modernos, nada mais é do que a evolução que continua brincando com a flexibilidade genética de nossa espécie.