Desejando a todos a consciência da morte
E lá se vai 2015.
Estive pensando no que poderia desejar a vocês, qual seria meu maior presente para aqueles que acompanham o Espiral. Depois de muito refletir, chego à conclusão que meu maior desejo é que você adquira o conceito da inevitabilidade da morte o quanto antes. Isso mesmo. Por mais que você consiga ler e entender, é pouco provável que você realmente acredite nisso: você vai morrer.
Um dos maiores enigmas de nossa espécie é nossa incapacidade de aceitar a própria morte. Esse fenômeno foi possivelmente selecionado evolutivamente em algum momento de nossa historia. Negar a morte permitiu que atingíssemos nosso maior nível de desenvolvimento humano. Tudo que somos hoje devemos à negação da nossa morte. Escrevi sobre isso anteriormente aqui.
A morte é um fato que sabemos ser verdade, mas que poucos conseguem aceitar e incorporar esse conceito por completo. É surpreendentemente difícil de imaginar: tente pensar o que é não existir. Você falhou. Imaginou algo como uma escuridão, tudo preto ou branco. Mas não haverá preto ou branco, não haverá cor porque não haverá você para perceber cores. E sua mente ressente essa idéia no que é hoje a maior limitação do cérebro humano. É simplesmente inconcebível imaginar nossa própria não-existência. Resta concluir que isso é impossível e que viveremos para sempre, mas não.
Tudo acaba. Toda locomoção desacelera, todo calor se torna frio. A vida é redemoinho numa correnteza de entropia, uma breve reação química que ilumina o que é escuro enquanto existe energia e depois se dissipa novamente no nada. Exatamente como a sua existência caro leitor.
O seu corpo é uma intricada e maravilhosa máquina orgânica, construída pela evolução juntando milhões de sistemas frágeis que se interconectam entre si. Conforme você envelhece, cada sistema começa a desacelerar, apresentar pequenas defeitos aqui e ali. Sem dúvidas, essa máquina se deteriora com o tempo e eventualmente se quebra. Quando um desses sistemas falha, a medicina e a ciência são capazes de consertá-lo, mas em um determinado momento, haverá diversos desses pequenos sistemas falhando. E como numa cascata de dominós, seus olhos, coração, pulmão, sua memória e seu corpo inteiro iram falhar. Você irá, inevitavelmente, morrer.
Embora seja difícil de assimilar essa verdade, é essencial que você aceite o quanto antes. Isso porque a cada segundo que se passa em que você nega sua mortalidade, corre o risco de desperdiçar momentos da sua preciosa e finita vida. Então, tente aceitar mais uma vez: você irá morrer e não há nada que se possa fazer para impedir isso.
Feliz e próspero ano novo leitor.