Ceará investiga se criança morreu no Ceará por contato com ameba super-rara — Foto: Arquivo pessoal
A morte de uma criança de 1 ano e 3 meses no Ceará pode virar o segundo caso de infecção por uma ameba super-rara que se tem registro no Brasil. A informação foi repassada pelo Ministério da Saúde, nesta segunda-feira (9). A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) investiga a morte da menina, e a suspeita é que ela tenha sido infectada por uma ameba “Naegleria fowleri”, que causou uma doença chamada de “meningoencefalite”.
O Ministério da Saúde disse que acompanha as investigações junto à Sesa. A hipótese é que a contaminação teria ocorrido por meio de contato de água não tratada com as narinas da criança durante o banho ou lavagem do rosto.
Secretário executivo de Vigilância em Saúde do CE comenta caso suspeito de ameba rara.
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A morte ocorreu no dia 19 de setembro de 2024, oito dias após o início dos sintomas, que foram: febre, sonolência, irritabilidade e vômito.
- 🦠 A Naegleria fowleri é uma ameba de vida livre, um organismo unicelular que pode ser encontrado em água doce quente, como lagoas, açudes, rios e fontes termais.
- 🧫 A infecção ocorre por via nasal, através da inspiração, inalação e aspiração de água pelo nariz, com maior frequência durante mergulho.
- 👃 A partir das narinas, a ameba migra pelo nervo olfatório até o cérebro, onde causa destruição do tecido cerebral e inflamação, resultando na meningoencefalite amebiana primária (PAM).
- 💦 A Naegleria fowleri não é transmitida pela ingestão de água contaminada. Além disso, não pode ser transmitida de pessoa para pessoa.
Suspeita de caso no Ceará
A TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo no Ceará, conversou com o secretário executivo de Vigilância em Saúde, Antonio Silva Lima Neto (Tanta), neste domingo (8). Ele explicou que, normalmente, a ameba entra pela narina do paciente.
“E provoca essa sintomatologia neurológica, às vezes muito rápido. E como é extremamente rara, normalmente os profissionais de saúde têm dificuldade de suspeitar de que se trata de um caso produzido por um germe tão raro”, reforçou Tanta.
No mundo, os casos são de pacientes infectados após banhos em lagos, lagoas e outros corpos d’água. No caso de Caucaia, a suspeita é que a criança foi infectada durante um banho em casa.
“No nosso caso aqui, o que a gente está investigando? É como se fosse uma água que passou por um reservatório e aqueceu naturalmente pelo sol mesmo. Isso pode ter favorecido essa reprodução”, explicou o secretário, que é doutor em saúde coletiva.
Os sintomas da doença são comuns a outras enfermidades, como febre alta, faringite, dor de garganta, etc. A raridade dos casos dificulta, inclusive, a identificação por parte da equipe médica. Com isso, a suspeita da infecção pela ameba surgiu apenas após o óbito da criança.
Ameba Naegleria fowleri, conhecida como 'comedora de cérebros' — Foto: CDC/Divulgação
“O nosso serviço de verificação de óbitos, nesse caso, foi capaz, através de seus profissionais, de identificar uma lâmina, suspeitar, coletar água, coletar fragmentos biológicos para enviar para confirmar aquele evento”, disse. O órgão estadual aguarda um laudo oficial confirmando a causa da morte da menina.
Ele explicou que a ameba é, inclusive, difícil de ser rastreada, especialmente em grandes corpos d'água, como lagos, lagoas, açudes, etc. “Nesse caso, provavelmente, a gente foi capaz de identificar porque era uma coleção que estava num reservatório que foi aquecido”, complementou.
No entanto, o secretário disse que análises feitas já haviam resultado positivamente para a presença da ameba na água que abastecia a casa onde a criança morava.
Após identificar a ameba, a Sesa, junto à Prefeitura de Caucaia, adotou medidas para evitar novos casos. “Rapidamente a Sesa visitou o local junto com a secretaria municipal. Foram feitas diversas reuniões. Foi modificada a forma de abastecimento da água, foi aperfeiçoada a cloração, a filtragem”, destacou o secretário.