Mães de vítimas de ações policiais relatam consequências do luto na saúde. — Foto: Reprodução
Uma pesquisa do grupo Mães da Periferia, com apoio de faculdades de Havard e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que mães de vítimas de violência policial sofrem transtornos mentais e doenças físicas após as perdas.
O estudo também aponta que oito em cada 10 vítimas no Ceará são pessoas pretas. Nos últimos 10 anos, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, são 1.215 mortes no estado decorrentes de intervenções policiais - um aumento na letalidade policial de quase 300%.
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"O que ficou mais evidente é que os casos que são periféricos se tornam muito parecidos. O maior resultado da pesquisa foi a resposta das mães, que se sentiram à vontade para falar. Os resultados ficaram muito mais claro de uma forma que se possa trabalhar polícias públicas que atendam a demanda dessas mulheres", explicou Débora Maia, pesquisadora social.
📌 Entenda as consequência na saúde das mães de vítimas de violência:
- Transtornos mentais
- Doenças físicas ao longo dos anos
- Foram pesquisados 60 crimes. Desse total, mais de dez mães de vítimas morreram
- Depressão e câncer são os principais fatores.
Estudo analisa saúde de mães de vítimas de ações policiais
"O câncer é uma doença oportunista que vem desse luto, vem da tristeza. Ela vem de falta de investigação, vem de tudo", acrescentou Débora.
A mãe de Pedro Kauã, adolescente de 15 anos baleado no quintal de casa por um policial militar, luta contra a depressão há oito meses, data em que o filho foi morto na cidade de São Gonçalo do Amarante, Grande Fortaleza.
"A gente amanhece e anoitece e a saudade é grande. Eu mesma estou sendo acompanhada por um psicólogo. A gente não dorme direito", desabafou Elzanira Moreira.
Vídeo mostra policiais negando socorro a adolescente que morreu ao ser baleado por engano
Pedro não é um caso isolado. O adolescente Mizael Fernandes Lima, de 13 anos, por exemplo, também tornou-se símbolo das estatísticas. Ele foi morto dentro de casa enquanto dormia na cidade de Chorozinho, Grande Fortaleza. Na época, os policiais militares rebateram afirmando que o jovem estava armado.
Já Marciana convive com o luto há quase sete anos. O filho, Weverton Mesquita, morreu durante uma abordagem da polícia na cidade de Redenção.
"Meu filho está lá enterrado. E quem matou ele está aí cuidando da sua família, trabalhando. É conviver com uma dor, uma ferida que nunca foi cicatrizada", comentou Marciana Oliveira, mãe da vítima.
O filho, Weverton Mesquita, morreu durante uma abordagem da polícia na cidade de Redenção. — Foto: Reprodução
A Defensoria Pública do Ceará atua nesses casos. O órgão disse que já inicou diálogos com as secretarias responsáveis para reduzir a taxa de letalidade policial.
"Esses meninos têm mães e nós vamos continuar lutando pelos nossos filhos", apontou Edna Carla Souza, mãe de uma das vítimas da Chacina do Curió.
Desde a fundação do Grupo Mães da Periferia, ela se tornou uma das principais vozes do estado na defesa por justiça e tem se unido a articuladores de outros estados do Brasil:
"É no acolhimento que a gente consegue. A gente consegue psicólogos para as mães, uma ajuda também jurídica", concluiu.
O estudo é do movimento Mães da Periferia de vítimas por violência policial do Ceará. — Foto: Reprodução