A banda surgiu durante a pandemia e fez seu primeiro show em 2021. — Foto: Divulgação
O som pesado, os vocais guturais graves e as letras sobre terror e horror indicam: aterrissamos no death metal.
Uma das representantes do gênero no Ceará, a banda Visceral Suffering, vai abrir os shows de Angra e Sepultura que acontecem no dia 6 de julho em Fortaleza.
Esta é a única apresentação no Brasil em que os dois grupos aparecem juntos na mesma noite, com shows de duas horas de duração cada e setlist especial - já que esta é a turnê de despedida de Sepultura.
Apesar de nova, a Visceral Suffering vem ganhando espaço e destaque no estado. A banda surgiu durante a pandemia e fez seu primeiro show em 2021, quando algumas medidas de controle da Covid-19 estavam menos rigorosas.
"Somos basicamente amigos que nos conhecemos e montamos a banda para expor nossas músicas", resumiu Satoshi Alisson, o vocalista.
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Os cinco componentes (conheça os nomes abaixo) já tinham ligação com o rock desde a adolescência. Parte deles já tocava em outras bandas ou sonhava em se dedicar ao metal.
No entanto, eles ainda conciliam a arte com outras profissões. Satoshi, por exemplo, é também engenheiro civil e trabalha em uma construtora.
"Já tive vários outros projetos de música, mas nenhum tão duradouro e longínquo como a Visceral, embora nova. Todos nós dividimos o tempo. Viver de música é um sonho. O nosso baixista atual é engenheiro de dados, os guitarristas são da parte de redes. O baterista, sim, poderia dizer que vive de música. Inclusive, ele está em turnê com uma banda mexicana", contou ao g1.
A banda tem um EP e um álbum lançado em 2023. 'Sons of Evil' está disponível em diversas plataformas digitais e foi recebido de forma positiva pelo público, segundo Alisson.
"Não sei explicar porque, mas acho que é a questão de ser uma banda nova com uma proposta de som mais cru, old school e o fato de não sermos músicos que temos vários outros projetos. Talvez isso ajudou a gente a se concentrar mais no nosso e conseguir, consequentemente, entregar mais", comentou Alisson.
🎧 Veja a composição da banda:
- Satoshi Alisson - Vocalista
- Mateus Martinez - Guitarrista
- Anderson Menezes - Guitarrista
- Fabrício Machado - Baixista
- Jhoni Rodrigues - Baterista
A 'agressividade' do Death Metal
O death metal é caracterizado por som pesado, ousado e pode ter estilo Corpse Paint. — Foto: Victor Rasga/ Divulgação
A Visceral Suffering é uma banda de death metal, que é uma vertente do heavy metal. O heavy metal surgiu no final da década de 60 e criou uma série de modismos seguidos por jovens entre 13 e 25 anos - de acordo com a pesquisa 'Heavy Metal no Brasil', de João Paulo Araújo.
"Heavy metal", estilo musical inserido na categoria do rock, é conhecido pelo tom agressivo dos instrumentos, letras e posturas de quem escuta e faz a música. Um tipo de som mais denso em comparação com outros tipos de música."
O death, como citado acima, é uma variação do gênero, como o trash e o black também são.
Algumas características do death metal são:
- som mais radical, chocante e pesado;
- canções com temáticas satânicas, de guerra e/ou com críticas sociais.
Death, Possessed, Cannibal Corpse, Napal Death, Sarcófago, Destruction, Deicide, Morbid Angel são algumas bandas de sucesso do sub-gênero.
"Suas letras falam coisas ligadas a críticas à religião cristã, devastação do mundo provocada por invasão de demônios, contos de terror, contos históricos mitológicos", apontou a pesquisa de João Paulo.
Rock volta 'com tudo'
Pesquisador avalia a cena do rock em Fortaleza
Márcio Benevides, mestre e doutor em Sociologia, aponta que Fortaleza sempre teve uma cena rock muito antenada com o que acontece no restante do mundo - inclusive com o contexto gótico.
"A cena metal aqui sempre foi um mundo a parte, mais intenso também pela grande variedade de sub estilos. Desde a década de 80 até agora a cena fortalezense é bem prolífera no rock, especialmente no heavy metal. Destacaria, dentro dos vários estilos que a gente tem aqui, o heavy metal, o gótico e o hardcore", comentou ao g1.
Márcio, além de pesquisador, é fundador da banda gótica Plastique Noir e hoje toca na Isis in Crisis, no mesmo estilo. Ele acredita que o Ceará vive um momento de consolidação do rock, que teve uma leve 'brecada' a partir dos anos 2000 - quando outros estilos, como o hip-hop e o funk, se espalharam com ainda mais força.
"Mas o rock está voltando com tudo. Acho interessante esse momento da cena para consolidar essa variedade de bandas, artistas, projetos, gêneros. E para a gente ver que a gente continua exportando (bandas locais). A galera está sempre na batalha. O advento da internet foi muito importante nisso. Tem gente boa e talentosa mostrando seu trabalho", acrescentou o pesquisador.
A Visceral Suffering, por exemplo, traz canções sobre canibalismo e dissecação no seu álbum:
"Nós fazemos um passeio nas nossas letras em coisas que remetem ao terror, ao horror. Temos letras que falam de experiências pessoais a narração de um roteiro que temos de um canibal, de um roteiro que temos de uma dissecação. Mas também temos letras que fazem críticas religiosas, críticas políticas. E estamos compondo alguma coisa que toque no âmbito social.", explicou o vocalista.
Afinações baixas e distorcidas na guitarra também é uma característica importante da Visceral. O vocal gutural de Alisson chama atenção. É um canto mais fechado, pesado, com uso de tons menores.
🎤 Confira abaixo o vocal de Satoshi Alisson:
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Apesar das semelhanças, a diversidade também dá tom ao death metal, e é possível encontrar bandas muito diferentes. Há grupos que investem em temáticas como a natureza, filosofia, ficção e ocultismo.
O estilo também é uma marca. Além das roupas pretas e cabelos longos, pinturas de cadáver no rosto entregam a mensagem ousada (o movimento tem nome e se chama Corpse Paint, disseminado principalmente entre a galera do black metal).
Na foto, um dos integrantes de Marduk, banda sueca de black metal. O músico está com uma pintura no rosto, chamada de Corpse Paint — Foto: Maurício Penedo / G1
Os integrantes da Visceral Suffering, no entanto, não apostam muito nesses ornamentos. Eles preferem, como o vocalista brinca, uma bermuda ou calça e 'blusa normal'.
"A gente não tem uma regra musical ou de escrita, porém o álbum que temos lançado tem uma temática de terror. Mas a gente também se permite falar sobre aspectos sociais, políticos, econômicos. O death metal é muito libertino, ele vai sempre te permitir expor o que está dentro de você. Têm bandas do death metal que fazem (Corpse Paint) e está tudo bem", reforçou o vocalista.
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Sepultura e Angra sempre foram referências
Fortaleza recebe turnês de Sepultura e Angra na Praça Verde do Dragão do Mar no dia 6 de julho — Foto: Edu Defferrari/Divulgação e Divulgação
Abrir os shows de Angra e Sepultura é um sonho adolescente realizado. Os integrantes da Visceral Suffering contam da admiração que têm pelos dois grupos:
"São duas bandas que fizeram parte da nossa adolescência. Temos entre 30 e 35 anos. O peso do Sepultura nas nossas vidas musicais, no gênero que a gente gosta, é muito forte. É a primeira banda nacional a alcançar locais, prestígios e levar o nome do Brasil para o exterior. Se hoje a gente tem a elasticidade e a gama de bandas brasileiras lá foram dando certo, é porque o Sepultura lá atrás abriu essas alas. Isso tem uma representatividade muito forte", comentou o vocalista Satoshi Alisson.
- Sepultura é considerada uma das bandas de metal mais importantes a surgir na América do Sul e tem uma base de fãs globalmente diversificada.
- Já Angra, formada em 1991, se tornou uma das maiores bandas de heavy metal do Brasil, com alcance global também.
No dia 6 de julho, eles fazem uma das apresentações mais importantes da carreira, já que esta é a turnê de despedida de Sepultura. A capital cearense será a única cidade do país a receber Angra e Sepultura na mesma noite e, claro, a Visceral Suffering:
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O repertório para o show já está completo e duas músicas ainda serão lançadas para quem acompanha a Visceral Suffering. Satoshi não esconde o nervosismo, mas reconhece a honra de participar de um evento como esse.
Ele destaca também a originalidade das bandas cearenses quando se trata de metal e reafirma a importância de valorizar e reconhecer os projetos musicais tão plurais de nosso estado:
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