Quando o Sandero foi lançado no Brasil, no início de 2008, ele recebeu a missão de aposentar as versões mais caras e equipadas do Clio, um compacto de desenvolvimento francês que tinha como principal característica a sofisticação e beleza do projeto, mas ficava devendo em espaço, além de não se destacar entre os hatches do mercado.
O tempo passou, o Clio foi "rebaixado" a carro de entrada da Renault e o Sandero, grandalhão sem muito carisma, mas com vantagem em custo-benefício, caiu nas graças do brasileiro. Desde 2012, é frequentador assíduo do ranking dos 10 mais vendidos do Brasil. Como o mais popular veículo da montadora no país, já teve mais de 500 mil unidades comercializadas.
Com a segunda geração, que chega neste mês às lojas, parece que a Renault quis reescrever a parte do "sem muito carisma". Com uma nova plataforma, a mesma do sedã Logan, lançado no país no ano passado, o hatch se modernizou no visual e melhorou o acabamento, além de ter novidades na mecânica que o deixam mais prazeroso de guiar. E agora carrega a missão de figurar entre os 3 automóveis mais vendidos na categoria.
a central multimídia (Foto: Divulgação)
As versões
A linha 2015 chega com quatro versões. A a básica Authentique parte de R$ 29.890 com o novo motor de 1 litro e até 80 cavalos (que estreou no Logan) e está mais equipada. São de série direção hidráulica, ar quente, abertura interna de porta-malas e do reservatório de combustível.
A versão intermediária, Expression, com motor 1.0 (R$ 34.990) ou 1.6 (R$ 38.590), adiciona ar-condicionado, alarme, rádio com CD player e conexão Bluetooth e USB, vidros e travas elétricos, computador de bordo e retrovisores e maçanetas na cor da carroceria.
A topo de linha, Dynamique 1.6 (R$ 42.390), conta ainda com faróis de neblina com cromados no acabamento, retrovisores com repetidores de seta, volante multifuncional, revestido em couro, piloto automático, rodas de liga leve de 15 polegadas e bancos traseiros bipartidos e rebatíveis.
Como opcionais, estão disponíveis ar-condicionado, para Authentique, por R$ 2.730; o kit Tecno Pack (central multimídia Media NAV e sensor de ré), na Expression, por R$ 1.200; e o kit Tecno Pack Plus (central, sensor de ré e ar-condicionado automático), na Dynamique, por R$ 1.430.
Mudanças visuais
Na dianteira, o conjunto ótico recebeu faróis de dupla parábola, com desenho atualizado. O formato é idêntico ao do Logan. Já a grade, antes dividida ao meio, agora ostenta a nova identidade visual da Renault, com o grande logotipo em destaque. Ela tem dois filetes cromados.
externas; acima, geração antiga (Foto: Divulgação)
Na parte inferior do para-choque, as versões de entrada possuem uma grande entrada de ar preta, sem faróis auxiliares. Na versão topo de linha, Dynamique, há luzes auxiliares, também envoltas por detalhes cromados.
Visto de perfil, o hatch também ganhou modernidade, além de certa ousadia, conferidas pelos vincos na base das portas e próximo às maçanetas traseiras. O recorte das portas, com a extremidade superior avançada foi mantido, assim como a generosa coluna C.
Na traseira, as lanternas foram transplantadas do Logan, enquanto a tampa do porta-malas ganhou um ressalto na parte central. Ainda sobre o compartimento, o estepe agora fica na parte interior do veículo, e não mais embaixo.
No interior, o desenho sem ousadia com material simplório sofreu grandes mudanças. O console central, além de ficar mais alto, teve os comandos reposicionados.
As entradas de ar – agora retangulares – estão no topo, junto com o sistema de som, em um nicho envolto de acabamento prateado. No antigo Sandero, eles eram posicionados na parte central do console. Além disso, o painel ganhou novos contornos.
e largo demais (Foto: Divulgação)
O quadro de instrumentos, que antes tinha velocímetro e conta-giros separados por um computador de bordo com letras laranja e marcação imprecisa, deu lugar a um conjunto mais elegante, com iluminação branca e computador de bordo migrando para o quadro da direita.
Além da mudança no design da cabine, os materiais tiveram melhora. O plástico, apesar de duro, tem aparência e toque compatíveis com concorrentes como Chevrolet Onix e Hyundai HB20. Nas portas e acima da tampa do porta-luvas, há uma textura diferenciada de plástico, que confere algum requinte à cabine.
Mesmo com inovações, o espaço interno, principal trunfo do Sandero até então, não foi esquecido. Em qualquer posição dos bancos, é possível acomodar, com conforto, cinco adultos. Nem os mais altos reclamarão de falta de espaço para as pernas ou a cabeça. Tudo isso graças ao bom entre-eixos, de 2,59 m, e à altura, de 1,54 m. O porta-malas segue inalterado, com bons 320 litros. Todas as dimensões estão acima da média da concorrência.
retrovisores pretos (Foto: Divulgação)
Ao volante
O G1 rodou por 150 km em Florianópolis com as versões Expression 1.0 e Dynamique 1.6 do novo Sandero, e por cerca de 200 km com uma unidade Expression 1.0 da antiga geração.
É evidente a evolução do hatch, tanto na condução, mas, principalmente, na construção. Com a nova plataforma, sistemas elétricos, direção, suspensão e freios também foram renovados.
A suspensão, que já era macia, agora filtra ainda mais as irregularidades do piso, tornando a condução mais agradável, sobretudo no asfalto maltratado. Mesmo assim, o Sandero é um carro "na mão", que não apresenta grande rolagem da carroceria. Ao menor sinal de que a aderência pode ser perdida, o motorista tem condição de retomar o controle, corrigindo a rota no volante. A direção, aliás, ficou mais direta, apesar de a empunhadura do volante não privilegiar a ergonomia. Além do grande diâmetro, a largura do volante é exagerada.
Quando equipado com motor 1.0 de 16 válvulas e até 80 cv, o Sandero vai bem na cidade. As arrancadas não empolgam, mas os 10,5 kgfm de torque são suficientes para empurrar os 1.013 kg do hatch.
Na estrada, porém, não há milagres, e o motorista terá que se acostumar a reduzir marchas em trechos de aclive, assim como na maioria dos carros com motor de baixa cilindrada.
Menos barulhento
O preço de trocar marchas em rotações mais elevadas é cobrado no ruído. Aos 120 km/h, o Sandero roda a 4 mil rpm, e o som áspero do motor invade a cabine. Ainda assim, o novo Sandero é menos barulhento que o antigo.
Com motor 1.6, o comportamento muda. Além da agilidade na cidade, o hatch também vai bem na estrada. Apesar de não contar com tecnologias recentes, como construção em alumínio ou duplo comando de válvulas, o propulsor de 106 cv se mostra competente. As retomadas são mais vigorosas e o ruído, mais comedido, apesar de, ainda assim, ficar longe do silêncio a bordo do HB20.
Busca pelo top 3
Apesar de as vendas de carros no Brasil apresentarem queda neste ano, na comparação com 2013, a Renault é otimista em relação ao novo Sandero.
Para o vice-presidente da montadora no país, Gustavo Schmidt, o objetivo está bem definido: "Como o mercado tem sofrido variações, é difícil prever uma quantidade exata. Mas uma coisa é certa: queremos estar entre os três mais vendidos do segmento", afirmou.
Na prática, a diretoria da Renault quer roubar o lugar do Onix no simbólico pódio dos mais vendidos segundo a associação dos distribuidores de veículos, a Fenabrave. Até o fechamento de maio, o ranking deste ano era o seguinte: o Volkswagen Gol liderava, seguido por Fiat Palio e Chevrolet Onix. Atrás vinham Ford Fiesta, Fiat Uno, Hyundai HB20, Volkswagen Fox e Renault Sandero, nesta ordem.
Jovem solteiro e casal com 2 filhos
Para ser top 3, a marca aposta em uma diversificação do público-alvo do Sandero. Tanto que, na apresentação, fez questão de apresentar três potenciais compradores para seu hatch, em uma encenação. Rodrigo seria o jovem solteiro que gosta de novidades e está atento ao que o mercado de automóveis oferece. Enquanto isso, o casal João e Inês tem dois filhos e procura um modelo espaçoso para ser o primeiro carro zero quilômetro da família. Já Paulo e Marcela fazem a decisão da compra de um carro pelo custo-benefício.
Ou seja, com o novo Sandero, a Renault espera atrair mais que o consumidor da primeira geração do modelo, que buscava apenas espaço interno e fazia as contas. Agora, os franceses almejam conquistar mais clientes com uma "embalagem" mais bonita. Ainda neste ano, a linha será reforçada. Em agosto, chega a versão com câmbio automatizado, baseado na caixa manual de cinco marchas e aposentando a automática de quatro velocidades. Para o Salão do Automóvel de São Paulo, está previsto o lançamento da "aventureira" Stepway.
Além das linhas mais interessantes e de melhoria na dirigibilidade, o Sandero não abandonou os atrativos de espaço interno e preço – muito abaixo da concorrência (veja tabela acima). Por isso, vale a visita a uma concessionária, independente de o cliente pensar como "Rodrigo", "João e Inês" ou "Paulo e Marcela".
COMPARE A NOVA GERAÇÃO COM A ANTERIOR: