De olho nas vendas expressivas da Honda NXR 150 Bros no Brasil, 4ª moto mais vendida do país, a Yamaha acaba de apresentar a inédita XTZ 150 Crosser, que deve ser sua principal novidade no ano.
O modelo exclusivo para o mercado brasileiro vai chegar às lojas em abril por preço base de R$ 9.050. Seu motor flex é o mesmo da recém-lançada Fazer 150, mas seu visual e conjunto seguem o padrão aventureiro, encontrado em modelos de uso misto para terra e asfalto.
Apesar de ser nitidamente um modelo da categoria trail (on e off-road), a Crosser foi concebida pela Yamaha para ser uma opção urbana que possa trazer mais conforto em deslocamentos sobre vias em mau estado.
A Yamaha aposta no visual diferenciado da moto, além do bom acabamento, para competir com a Bros.
A expectativa da fabricante é alcançar 35 mil unidades vendidas em 2014, uma média de 4 mil motos por mês, ainda distante das 14,5 mil unidades que a Bros obtém no país, de acordo com números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
A chegada da Crosser 150 deve aquecer este segmento, das trail de 150 cc, no qual a Bros é soberana e praticamente não possui rival direto. Com preços similares, a Bros tem valor sugerido começando em R$ 9.000, as duas ainda têm a Kasinski CRZ 150 como possível rival, modelo que custa a partir de R$ 6.790, mas não apresenta vendas expressivas.
dianteira (Foto: Rafael Miotto/G1)
Veja os preços*:
XTZ Crosser 150 E: R$ 9.050
- Freio a tambor na dianteira
XTZ Crosser 150 ED: R$ 9.350
- Freio a disco na dianteira
- Ajuste de guidão
*sem frete incluso
Uma aventureira para a cidade
Apesar de ter roda grande na dianteira, de 19 polegadas (na traseira é de 17 polegadas), pneus de uso misto e escapamento alto, a Crosser traz algumas soluções que mostram uma estratégia diferenciada da marca em relação ao produto. Ao contrário da Bros, o para-lama dianteiro foi colocado rente à roda, como é tradicional em modelos urbanos.
No caso do modelo da Honda, o item fica mais no alto e é maior – lembrando modelos de motocross -, algo feito para evitar que a terra voe em direção ao motociclista. Outro detalhe interessante é o pequeno “bico” vazado colocado sob o farol dianteiro da Crosser, muito mais um detalhe estético do que de real utilidade.
(Foto: Rafael Miotto/G1)
Com estas características, a Yamaha procurou dar um ar de SUV para a moto, ou como a marca chama, de "Sport Utility Motorcycle", artifício já foi visto em modelos de alta cilindrada, como Ducati Multistrada 1200 ou Kawasaki Versys 1000. No entanto, ao contrário destas motos de alta cilindrada, a empresa manteve a roda grande na dianteira, deixando o modelo apto a rodar na terra.
Se a fabricante tivesse optado por colocar rodas de 17 polegadas em ambos eixos e pneus totalmente para asfalto, a Crosser seria uma autêntica supermotard. Este nicho é formado por motos trail, mas que recebem rodas e pneus para asfalto, como ocorreu com a extinta XTZ 250X da própria Yamaha.
Na pista
A apresentação da moto ocorreu em um kartódromo em Florianópolis (SC), que apesar de não ser a melhor opção para avaliar a proposta urbana do produto, foi uma boa oportunidade para levar o conjunto a situações mais extremas. De acordo com a empresa, motor e câmbio se mantiveram inalterados em relação à Fazer 150.
(Foto: Stephan Solon/Divulgação)
Os engates das marchas são precisos e adequados para arrancadas rápidas de semáforo a semáforo.
Sem mostrar uma força extraordinária, como é esperado para o segmento, o motor com injeção eletrônica funciona linearmente, sem muitas vibrações, garantindo força suficiente para deslocamentos tipicamente urbanos. Mas, quando se leva garupa, a Crosser sofre um pouco.
Os números divulgados pela empresa indicam potência máxima de 12,2 cavalos (gasolina) e 12,4 cavalos (etanol), enquanto o torque é de 1,29 kgfm (etanol) e 1,28 kgfm (gasolina). Sem retas muito grandes, foi possível chegar a cerca de 80 km/h na pista, mas é esperado que o ultrapasse os 100 km/h, apesar de a empresa não divulgar a velocidade máxima.
Em curvas, a moto surpreendeu, e mesmo com suspensões longas de 180 mm, tanto na dianteira, como na traseira, manteve boa estabilidade e garante trocas de direção com rapidez. Apesar de os pneus serem de uso misto, permitem inclinação razoável da moto, sendo possível até raspar as pedaleiras.
Freio a tambor
Ao contrário de sua irmã Fazer, a Crosser não possui freios a disco de série na dianteira – na traseira o dispositivo é sempre a tambor, tanto na XTZ 150, como na Fazer. De acordo com a empresa, a ideia é agradar o consumidor de mercados como o nordestino, que ainda preferem a ação mais branda realizada pelo arcaico sistema a tambor.
Crosser 150 (Foto: Divulgação)
Como o freio a tambor tem uma “mordida” mais fraca na roda dianteira, os consumidores tendem a escolhê-lo para evitar quedas em um possível travamento da roda dianteira, justificou a fabricante. Claro, também reduz o custo da moto.
A explicação possui sua lógica comercial, porém, na prática, é uma “muleta” para a má formação de condutores que não sabem utilizar o freio corretamente, solução também empregada pela Honda na Bros.
Durante a avaliação, o G1 pode rodar com a moto equipada com os dois tipos de freios. O sistema a tambor até que não é tão fraco, mas comparado com o disco de 230 mm na dianteira, fica muito atrás.
Outro detalhe é que a “mordida” no disco não é muito forte, o que pode ajudar aqueles que não possuem muita experiência em frenagens, tornando assim a opção pelo sistema a tambor quase inaceitável. Cabe ao consumidor fazer a escolha, são R$ 300 a mais, em uma moto que já custa mais de R$ 9 mil.
Ergonomia confortável
No mesmo dia foi possível rodar também com a Fazer 150 e ficou claro que a Crosser possui uma ergonomia mais confortável. Com guidão mais alto comparado ao da Fazer, a sensação é de ficar em posicionamento mais natural, com os braços relaxadas na XTZ, enquanto a Fazer deixa o motociclista mais espremido.
(Foto: Stephan Solon/Divulgação)
O assento é amplo e dividido em dois níveis, com altura do solo de 836 mm, o que possibilita bom acesso fácil dos pés ao solo, mesmo para os mais baixinhos. As pernas também ficam bem acomodadas, não flexionadas em demasia, e existe bom encaixe para elas no tanque. Como o asfalto estava em bom estado, não foi possível notar o comportamento das suspensões passando sobre buracos.
Mas o desempenho mostrou a firmeza esperada, sem ser muito dura, mas também não oscilando em demasia em trocas de direção e curvas. Enquanto na dianteira, a empresa optou um garfo simples com 180 mm de curso, na parte traseira o sistema é do tipo "monoshock", de apenas 1 amortecedor, com link para conexão com a balança, o que proporciona melhor absorção de impactos.
Para o garupa, o conforto é razoável. Apesar de contar com um bom espaço no assento, o acesso às alças de garupa é um pouco incômodo, pois o encaixe das mãos é feito paralelamente atrás da coluna.
O gigante acordou
O valor acima dos R$ 9 mil não pode ser considerado barato, porém, se encaixa na realidade do mercado brasileiro composto de motos caras. Se quisesse desafiar a Honda, a Yamaha poderia vender o modelo por um valor mais barato, mas não foi a opção.
conjunto (Foto: Rafael Miotto/G1)
Com um projeto que levou 3 anos para ficar pronto, a Crosser mostra um conjunto bem acabado e com mais detalhes esmerados que o da concorrência. Inclusive, a Crosser se mostra mais refinada que a Fazer 150, trazendo, por exemplo, o botão de corta-corrente (que serve para desligar a moto) que ficou de fora na Fazer.
Um dos deslizes está na tampa do tanque, muito simples, e destoando do restante do conjunto, com carenagens laterais. No geral, a empresa caprichou no visual e, mesmo que o estilo seja “ame ou odeie”, trouxe uma identidade diferente para a XTZ 150, saindo do mais do mesmo visto em outros modelos.
Há muito tempo se fala no mercado brasileiro que a Yamaha precisava se mexer. Foram alguns anos de letargia da marca desde a Ténéré 660, lançada em 2011, a marca não apresentava nenhuma novidade de peso. Em 2012, é verdade, a empresa começou as vendas da Fazer 250 flex, a primeira com esta tecnologia da empresa, mas a moto era basicamente a mesma que já estava no mercado.
No entanto, talvez ao ouvir os gritos de protestos finalmente, o “gigante tenha acordado”. Após a Fazer 150, revelada no final de 2013, a empresa lança agora a Crosser 150. Os modelos não trazem nada de revolucionário, mas fazem seu papel muito bem e, em alguns aspectos, até superaram o que já foi visto na linha 150 de extremo sucesso da Honda no Brasil.
“Damos um passo de cada vez”, disse Shigeo Hayakawa, diretor-presidente da Yamaha no Brasil, durante a apresentação da XTZ 150. No entanto, com a Fazer 150 e a Crosser, estes passos foram de gigante, necessários para correr atrás do prejuízo.