Sons do motor ajudam a vender motos: escute os 'barulhos'
O ruído produzido por um motor de motocicleta pode ser um forte motivador de vendas? Considerando que muitas vezes a compra de uma moto é uma atitude predominantemente emocional, a resposta é um enfático sim. Um bom e recente exemplo desta sedução auditiva é a para muitos a saudosa CB 600F Hornet, cujo som emanado pelo escapamento sempre esteve entre os melhores “garotos propaganda” do modelo. Equipada com um motor quatro cilindros em linha, a Hornet exalava pura esportividade pela ponteira de escape, um som agressivo, que das notas graves em baixa rotação passava às mais agudas em piscar de olhos.
Tal característica, totalmente oposta a das Honda CB 500 – tanto faz quais delas, se as atuais ou a pioneira vendida de 1998 até 2007 – pode explicar a menor empolgação dos clientes ante a estas eficazes bicilíndricas. Todos sabem que seja os modelos antigos quanto os novos são motocicletas eficientes, de desempenho razoável mas… o som do espace nem de longe se compara ao da Hornet, e não adianta inventar moda, substituindo a ponteira de escape original por uma do mercado paralelo, em geral mais permissivas em termos de decibéis liberados, pois a “música” não muda. Aumenta o barulho, mas a empolgação e agressividade não aparece.
Como explicar essa diferença? A resposta já foi dada linhas acima, e é bem simples: o fracionamento do motor, ou seja, na quantidade de cilindros. Verdadeiro divisor de águas nesse curioso mais importante aspecto que tanto pode atrair clientes como afugentá-los, é a primeira motocicleta de quatro cilindros que alcançou relevante sucesso, a Honda CB 750 Four.
Surgida no final dos anos 1960, a “Four” tinha quatro escapes, um para cada cilindro. Tal motocicleta era um produto surpeendente, à frente de seu tempo, época onde motos grandes eram bicilíndricas ou, no máximo, tricilíndricas. Mas o quatro em linha da Honda mudou o padrão, e para melhor, um som de motor maravilhoso que até hoje é uma referência. Enfim, desconbriu se que a quantidade de cilindros poderia ser não apenas um método de conseguir maior potência como conquistar clientes pelo som do motor.
Como se não bastasse, alguém também descobriu que o que era bom podia ficar ótimo, trocando os quatro escapes individuais desta histórica Honda por um escapamento tipo “quatro-em-um”, no qual como o próprio nome diz, os quatro canos de escapamento convergiam para uma única saída e… haja ouvido! O som era rasgado, inesquecível, adorável para qualquer fã não só de motos, mas de tudo que se movia impulsionado por um motor a combustão interna, e muito similar ao som produzido pelo motor da comentada Hornet que, como sua bisavó Honda CB 750 Four, tem motor tetracilíndrico e vinha de fábrica com escape 4x1.
ESCUTE SOM DO MOTOR DE 3 CILINDROS DA TRIUMPH TIGER 800XC:
MODA DE ÉPOCA
Com toda certeza em um projeto para um novo modelo de motocicleta, o quesito “voz do escape” é muito considerado hoje em dia. Quando se trata de motos utilitárias, o foco é manter baixa a emissão de ruídos por serem tais motos ferramentas de trabalho que em geral são usadas por horas e horas a fio. Um escapamento barulhento nestes modelos seria desconfortável. Em geral os motores monocilíndricos não são bons “cantores”, qualquer que seja seu tamanho. Idem, como já comentado, os bicilíndricos. Sons bacanas, agressivos, começam nos tricilíndros e especialmente nos “tetra”, mas nem sempre foi assim.
Hoje o som do escape das motocicletas é mais contido inclusive por lei, pois há limites precisos a serem cumpridos. Medidos em decibéis de acordo com um padrão exato, uma moto que supere o limite de ruído estabelecido pela lei simplesmente não pode ser vendida, Outro aspecto que reduz o “vozeirão” dos motores é a necessidade de limitar as emissões de poluentes, o que sempre implica na presença de filtros como catalisadores, verdadeiras mordaças dos motores.
No passado, quando poluir por ruído ou por gases nocivos era algo que preocupava menos os fabricantes e usuários, os escapamentos das motos explusavam notas bem mais altas, e diferentes também. Era a época em que muitas motocicletas eram dotadas de motores de ciclo 2 tempos, hoje praticamente banidos da produção mundial. Por conta de suas características de funcionamento, tais motores literalmente gritavam, produzindo sons mais agudos para darem o melhor em termos de desempenho.Os ouvidos sofriam, mas o coração se alegrava: um motor dois tempos de pequena cilindrada ou não, monocilíndrico ou os excitantes tricilíndricos, causavam emoções não indiferentes.
ESCUTE DE UMA ROYAL ENFIELD DE 1952:
Exemplos? As Suzuki GT 750, 550 e 380 venderam bem no Brasil, muitos por conta da àspera voz, embaralhada em baixa, nas lancinante quando a agulha do contagiros lambia a faixa vermelha. Mais raras entre nós mas ainda mais gritadoras eras as Kawasaki H1 Mach 3, tricilíndricas de 500cc. Fecha a listinha as bicilíndricas Yamaha, da qual a mais conhecida foi a RD 350. Seja a importada, refrigerada a ar (a viúva negra…) ou a LC, Liquid Cooled made in Manaus, elas urravam uma espécie de hino à paixãoa por motos esportivas.
Hoje, apesar das restrições comentadas,”vozes” sedutoras não faltam no mundo da moto. Para os fãs das americanas Harley-Davidson a compassada batida do V2 norte-americano é inigualável, e o charme é a rotação baixa, pulsante. No extremo oposto está o poderoso zumbido do motor seis cilindros em linha que equipa as BMW K 1600. Porquê zumbido? Pela necessidade por se tratarem de motos para o turismo, verdadeiros transatlânticos das estradas. O motor é uma usina inesgotável de força cujo poderio não pode ser explicitado no volume, o que causaria desconforto, mas sim na singularidade do som emanado pelos escapes seis-em-dois, cada um com três orifícios…
Já nas superesportivas, a fórmula de sucesso da CB 750 Four de quase 50 anos de idade perdura. Os motores quatro cilindros em linha são em geral dotados do lendário escape 4x1, que espertamente libera o justo ruído exigido por lei na rotação especificada para o teste homologatório, mas que urram alucinadamente quando levados a rotações mais altas, verdadeiro marketing auditivo de grande efeito. E para os insaciáveis “audiófilos” do mundo da motocicleta, o mercado de acessórios oferece uma infinidade de sistemas de escapes onde a busca pela performance se confunde como a pela mais bela e agressiva “voz” do motor que, como dissemos, é e continuará sendo um eficiente motivador de vendas.
ESCUTE O MOTOR DA HONDA XRE 300: