De uns anos para cá as trail, especialmente as com motores que vão de 125 a 300 cc, vêm conquistando cada vez mais espaço nas preferências dos consumidores de motocicletas.

Uma consulta a estatísticas de emplacamentos comprova um forte crescimento deste subsegmento: em 2008 as trail até 300 cc detinham 11,1% do bolo geral de motos vendidas, percentual que pulou a 19,5% no fechamento de 2014. E em 2015 esta tendência se confirma, com as trailzinhas conquistando quase 23% de participação no mercado nos primeiros quatro meses deste ano.

No pódio das mais vendidas desta faixa estão duas Honda e uma Yamaha: a Honda NXR 150/160 é a campeã disparada nas preferências, seguida pela veterana XRE 300, e com Yamaha XTZ Crosser 150 ocupando o terceiro degrau.

Honda NXR 150 Bros
O que vem fazendo esses modelos ganharem espaço no gosto dos brasileiros? São vários os fatores. Primeiro deles: a simplicidade mecânica preservada, uma vez que a diferença básica delas para as pequenas estradeiras utilitárias, que ainda são as preferidas da maioria, não está no motor.

Todas as trail citadas trazem exatamente os mesmos motores que as motos mais vendidas da categoria street, e isto funciona como uma espécie de atestado de competência, um seguro contra surpresas, tendo em vista a robustez destes motores monocilíndricos, além da inegável economia de exercício. Resumindo: motores que não quebram, não dão grandes despesas e consomem pouco combustível.

Honda XRE 300
Se na “alma”, o motor, as Honda NXR e XRE e a Yamaha Crosser se equivalem às best-sellers CG, CB 300R e Yamaha Fazer 150, o que mais vem atraindo gradualmente os consumidores para as trail? Um dos principais motivos é o porte diferenciado, que resulta em uma posição de pilotagem mais confortável, assim como uma sensação de maior domínio sobre a moto.

Todas as trail têm suspensões de curso maior, característica permite melhor capacidade de absorção de irregularidades. Estar ao guidão de uma trailzinha e encarar um buracão imprevisto ou deixar de perceber uma lombada tem um efeito muito menos problemático do que se o condutor estivesse pilotando uma pequena estradeira.

Outra característica das trail é o guidão largo, que favorece o domínio do veículo, assim como a maior distância livre em relação ao solo. No fim das contas, essas diferenças nas suspensões e posição de pilotagem acabam sendo muito bem-vindas no uso urbano, inclusive por causa da evidente piora na qualidade da pavimentação das cidades brasileiras.

Yamaha XTZ Crosser 150
Terra? Nem sempre!

As motos trail nasceram pensadas para um uso misto, capazes de encarar tanto estradas pavimentadas como as de terra. No entanto, nas últimas duas décadas ocorreu uma especialização de motos verdadeiramente dedicadas à prática do fora de estrada, fator que modificou definitivamente o destino das trail que citamos.

Um exemplo claro deste novo panorama está na redução do diâmetro das rodas dianteiras. No passado, a Honda tinha na XL 250R sua moto multiuso, confrontada pela rival da Yamaha, a DT 180. Ambas tinham rodas aro 21 polegadas na dianteira, e era comum vê-las, novinhas, passarem por um brutal processo de “depenamento” e adaptação para uso específico em trilha. Hoje, isso não é mais necessário, pois os fabricantes oferecem motos prontas para tal – Honda CRF e Yamaha TT-R – para os que elegem o lazer na terra como passatempo ou prática esportiva favorita.

Deste modo, as trail se “urbanizaram” de vez: saíram as rodas 21 polegadas, chegaram as de 19 polegadas, que favorecem a maneabilidade. O peso aumentou, tanques cresceram e até mesmo itens como freios ABS foram incorporados. Tudo isso para dar aos usuários aquilo que uma boa motocicleta pensada para o uso no dia a dia da cidade pode oferecer, mas sem renunciar ao DNA das motos que as originaram: robustez, capacidade de superar obstáculos e uma “pegada” ou jeitão de moto capaz de enfrentar grandes desafios.

Na verdade, ao optar por uma trail em vez de uma estradeira, o motociclista leva para casa um veículo no qual alguns elementos, como chassi e suspensões, foram superdimensionados. Isso pode agradar tanto os que querem apenas a maior tranquilidade de ter nas mãos uma moto mais forte, como também atender aos que vão efetivamente submeter a moto a um uso mais estressante.

Em uma trail, as suspensões estão mais habilitadas a suportar maior carga ou rodar em estradas ruins. Dotadas de pneus mistos, as trail oferecem um comportamento menos preciso do que as estradeiras e seus pneus 100% voltados para asfalto, mas em um grau que pode ser considerado mínimo, quase irrelevante. Por outro lado, estão mais habilitadas a serem carregadas de bagagem e a encarar viagens sem escolher caminhos.

O “conjunto da obra” oferecido pelas trail vem agradando cada vez mais. E atrai o estilo imponente, de moto maior e capaz de enfrentar os desafios de modo mais competente, nem que estes sejam apenas levar e trazer seu usuário com segurança em tranquilos percursos urbanos.

Fotos: Honda NXR 150 Bros (Divulgação); Honda XRE 300 (Divulgação); Yamaha XTZ Crosser 150 (Stephan Solon/Divulgação)