A 'gigante' Honda acordou: moto mais vendida da história vira elétrica
Em 2018, a Honda colocará no mercado uma versão elétrica de sua motoneta “galinha dos ovos de ouro”, a Cub. Tal notícia pôs fim a um gigantesco ponto de interrogação da indústria motociclística mundial. A questão era quase constrangedora: por qual razão o maior fabricante mundial de motocicletas não cedia de vez ao apelo, sustentável, “eco friendly”, dos veículos elétricos de duas rodas?
Takahiro Hachigo, presidente da empresa há pouco mais de seis meses, se encarregou de enterrar esta suposta timidez na conferência de imprensa realizada em Tóquio no fim de fevereiro. Sucinto, mas definitivo nas palavras, o CEO da empresa definiu que, sim, o caminho já trilhado por concorrentes de peso como Suzuki, Yamaha, BMW e outros menos musculosos, de entrar no mercado das elétricas, também interessa à Honda.
E demorou por quê?
Dona de um soberbo currículo de inovação tecnológicas em áreas múltiplas, era no mínimo estranho ver a Honda envolvida em robótica de alto nível – o Asimo é o maior exemplo –, aviões, carros empurrados por motores híbridos e uma série de meios de locomoção inovadores, mas ver que quando o assunto é propulsão elétrica seu catálogo trazia apenas as bicicletas “Kushi”, nada hi-tech, cujo mercado prioritário é a China.
Há mais de uma década – mais exatamente desde 2004 – a Honda vem apresentando protótipos movidos a motores elétrico. Em 2010 começou a oferecer um scooter batizado de EV Neo a operadores profissionais (empresas de entrega), vendas de baixo volume, longe de causar impacto e comprovar a viabilidade de expansão da propulsão elétrica. Mas, pelo jeito, tal ensaio deu a capacitação para projetos mais ousados.
Assim, agora o leão entrou no picadeiro, ou seja, está prometida para daqui dois anos nada menos do que a versão elétrica do veículo movido a motor mais vendido da face da terra, a galinha dos ovos de ouro da Honda, a motoneta Cub.
Aqui no Brasil este segmento teve a Honda C 100 Dream como pioneira,vendida no começo dos anos 1990 e cuja evolução é a popularíssima Honda Biz, nada mais do que uma Dream modernizada na aparência mas que mantém a essência mecânica das Cub originais.
Ponto importante do anúncio da Honda é o fato de ter sido com uma motoneta e não foi através de um scooter que a líder mundial entra de sola no setor elétrico, ao contrário dos concorrentes que citamos linhas acima. Esta sutil mas emblemática diferença vem atrelada ao volume de vendas.
A 1ª elétrica da Honda destinada a produção em massa pretenderá isso mesmo, massificar o produto, vender muito, alcançar cifras que as atuais elétricas estão longe de conseguir tanto pelas naturais limitações do segmento scooter como pela conhecida economia de escala: as elétricas custam caro pois vendem pouco, e vice-versa.
Assim, em 2018 começará a “invasão” dos watts da marca da asa, que segundo o presidente terá início pelo mercado interno e logo em seguida se espalhará pela chamada ASEAN (Indonésia, Vietnã, Malásia, Camboja, Tailândia e Filipinas, entre outros). E dali… para o resto do planeta!
Custo elevado
É possível imaginar hipóteses que tenham levado a Honda a adotar atitude mais tímida neste âmbito dos veículos de duas rodas elétricos. De fato, ainda há entraves para considerá-los meios de locomoção eficazes e bem resolvidos. A baixa autonomia e custo elevado de produção das baterias e também aspectos relacionados a durabilidade das baterias e ao descarte quando a vida útil se extingue, além do peso.
Por outro lado, podemos pensar que o anúncio da entrada no setor elétrico pode estar relacionado a algum fator tecnológico que eventualmente tenha dado à companhia japonesa a certeza de poder, mesmo atrasada, entrar pela porta da frente? Talvez. Uma eventual carta na manga técnica não está excluída, recurso técnico que tanto poderá ser aplicado a meios de transporte como uma motoneta como à uma superesportiva, que aliás já teve o protótipo mostrado no Tokyo Motor Show de 2011, a belíssima RC-E Concept.
Diante de todo este movimento, uma coisa é certa: o gigante acordou, e certamente daqui dois anos veremos sair das linhas de montagem uma legião de modernas Cub, que poderão se tornar as novas “galinhas dos ovos de ouro” da empresa.
IMAGENS: Honda / BMW / Yamaha / Divulgação