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  • Aprilia e Vespa: as duas gigantes que faltam no Brasil

    Entre 1998 e 2001, a italianíssima Aprilia foi comercializada no Brasil. Modelos como a bigtrail Pegaso 650, a superesportiva RS 250 ou o scooter Scarabeo, importados da Itália, logo ganharam status de objetos do desejo, produtos destinados a clientes que valorizavam modelos com o design italiano aliado a alta tecnologia, qualidade e excelente acabamento.

    O sucesso da marca foi tanto que, em meados de 1999, foram anunciados investimentos na ordem de US$ 15 milhões (R$ 46,7 milhões, na cotação do dia) para implantação de uma linha de montagem em Manaus. O intuito era beneficiar-se da redução de impostos decorrente de produção nacional e oferecer os modelos a preços mais competitivos, aumentando a participação em nosso mercado.

    Aprilia Caponord 1200
    Desta feliz notícia ao cessamento total das atividades da Aprilia no Brasil passaram-se apenas dois anos. O problema, ao que consta, não foi o desinteresse dos clientes pelas motos e scooters da marca, mas sim conflitos entre o importador, o Grupo Izzo, detentor de 49% do negócio, e os então donos da Aprilia, a família Beggio.

    Este triste desfecho é um episódio recorrente na história do finado Grupo Izzo, que também foi importador/parceiro comercial de marcas como Harley-Davidson,Triumph, Husqvarna, Ducati e KTM entre outras. A briga entre a Aprilia e o Grupo Izzo foi parar nos tribunais mas, diferentemente das outras marcas citadas, não houve acordo. Assim, a italiana Aprilia foi a única das marcas ex-Izzo a não voltar ao Brasil de forma oficial.

    Pouco mais de uma década antes do fim da Aprilia no Brasil, outra marca importante de origem italiana deixava consumidores brasileiros na mão: a Vespa. Em meados dos anos 1980, esta que é considerada a mãe de todos os scooters, foi fabricada em Manaus através de uma parceria entre três empresas as brasileiras: a Caloi, notória fabricante de bicicletas, a B. Forte e o Grupo Piaggio. O modelo escolhido foi a PX 200E, que logo caiu nas graças dos brasileiros. Apesar do grande sucesso de vendas, a sociedade naufragou após míseros três anos de atividade, ao que consta, vitimada por brigas entre os sócios brasileiros e os italianos.

    Em 2004, um fato uniu estas duas histórias de fracasso de nosso mercado de motocicletas: a Aprilia foi vendida para o Grupo Piaggio, que além de donos da Vespa, também incorporaram marcas importantes como a Gilera, Moto Guzzi e a espanhola Derbi.

    Vespa 946
    Deste modo, a Piaggio tornou-se o maior produtor europeu de veículos motorizados de duas rodas, tendo outra lucrativa atividade no âmbito dos veículos comerciais leves de três ou quatro rodas.

    Esta grande diversidade produtiva fez o Grupo Piaggio fechar o ano de 2014 vendendo mais de meio milhão de veículos em todo o planeta. O resultado significativo também foi obtido graças a uma verdadeira reengenharia industrial ocorrida na última década, que além de marcas, acrescentou às fábricas na Itália unidades produtivas na Índia, China e Vietnã. Enfim, o Grupo Piaggio parece ter conseguido driblar as dificuldades do mercado de duas rodas pós-crise de 2008 no chamado 1º mundo com suas operações em países emergentes.

    Toda a política expansionista dos italianos não teve ramificações no Brasil. Aqui, os que desejam ter uma Aprilia, Vespa ou qualquer outra moto do grupo, devem recorrer a importadores independentes. Deste modo a Piaggio é a única grande empresa realmente relevante no cenário da motocicleta mundial ausente de nosso mercado e, como exposto acima, motivos não lhe faltam.

    Questionados anualmente na principal mostra do setor de duas rodas mundial, o EICMA – mais conhecido por Salão de Milão – quando este distanciamento do Brasil terá fim, ouvimos dos altos executivos da Piaggo sempre a mesma lacônica justificativa: “Nossa prioridade são investimentos na Índia e Sudeste Asiático”.

    Todavia, uma luz no fim do túnel surgiu em novembro passado, quando Leo Francesco Mercanti, diretor de marketing, nos deu a entender que o Brasil poderia voltar a comparecer no radar da empresa. Infelizmente, o que se viu desde então foi um forte retrocesso nas vendas de motociclos em nosso país, oposto ao cenário observado na Europa e em países emergentes como a Índia, o que certamente não incentiva investimentos por aqui, sejam eles o de simples atividade de importação ou o mais adequado processo de montagem em Manaus.

    A esperança de ter as premiadas Aprilia em nossas ruas, marca detentora de nada menos do que 54 títulos mundiais (39 deles na velocidade mundial), as charmosas Vespa ou o inovador triciclo Piaggio MP3 estão reduzidas ao fato que, apesar da queda geral no número de motos vendidas no Brasil, o segmento de scooters e de motos grandes, acima de 500cc, ainda não foi tão afetado pela freada em nossa economia, o que na verdade não parece ser o suficiente para que vejamos estas marcas em nossas ruas.

    Tais modelos parecem fadados a continuar longe da realidade da maioria de nossos consumidores e presentes apenas nas garagens de gente que se dispõe a pagar muito caro por produtos reconhecidamente requintados, mas que não dispõe do respaldo oficial de uma marca o que significa serviços, peças e garantia. Uma pena.

  • O número é 300


    O anúncio do preço das Kawasaki Z300, versão naked (sem carenagem) das best-seller Ninja 250/300 é apenas uma das notícias que estão alimentando as rodinhas de motociclistas brasileiros neste momento.

    Bonita, moderna e instigante, a Z300 tem preço sugerido de R$ 17.990, cifra que aumenta em R$ 2 mil caso o candidato a dono queira levar também a frenagem antibloqueio ABS. Esta nova Kawasaki chega às concessionárias da marca em julho e, em breve, outra concorrente de peso entrará na briga, ainda sem preço divulgado: a KTM 390 Duke. E mais: a BMW também vai participar dessa disputa.

    Kawasaki Z300
    Design e motor

    O que tem de tão interessante estas motos? Para começar, design. Tanto a japonesa como a austríaca apresentam um visual que não esconde a intenção de chamar a atenção. Nada de formas clássicas, arredondadas, mas muita agressividade, exalada através de ângulos vivos, cores chamativas e – cerejinha em cima do sorvete – desempenho à prova de críticas.

    Importante mencionar que, apesar de há muito existirem no mercado outras 300cc, a Honda CB 300R e a trail XRE 300, as novidades oferecem motores com bem mais músculos. A potência declarada da Kawasaki é de 39 cavalos enquanto a KTM exibe 44. As Honda citadas não passam de 27 cv, ou seja, não são páreo e nem querem ser, por ter perfil mais utilitário e preço inferior, abaixo dos R$ 15 mil na versão mais cara da CB 300R, com frenagem C-ABS.

    KTM e Kawasaki buscam com suas novidades um cliente novidadeiro e ansioso por montar em algo que lhe traga uma sensação diferente, seja ela no âmbito do desempenho como no da percepção qualitativa. Joga muito a favor da moto da marca japonesa o motor bicilíndrico com refrigeração líquida e um porte que exige prestar muita atenção para não tomá-la pela irmã bem mais poderosa (e cara), a Z800.

    Quanto à 390 Duke, a aposta na performance tem um peso preponderante maior, pois o motor, apesar de monocilíndrio (mas também com refrigeração líquida), "fala" 5 cavalos mais alto, além da 390 Duke ser uma máquina mais compacta e leve do que a Kawasaki.

    KTM Duke 390

    Era para os emergentes
    A criação destes modelos mirou no que viu e acertou no que não viu. Tais marcas, com histórico de atuação mais focado em motos maiores (Kawasaki) ou nichos específicos como motos off-road (KTM), desenvolveram essas motos pensando em clientes dos chamados países emergentes.

    Comprova isso o fato de que a japonesa é fabricada na Tailândia, aproveitando custos menores de produção e a força do mercado do sudeste asiático quando o assunto é moto de baixa ou média cilindrada. Idem a KTM, cuja fabricação das Duke (existe a 390 e também uma 200cc) ocorre na Índia, outro mercado de grandes volumes. Porém, uma vez lançadas, todos entenderam que o potencial de sucesso não era regional, mas sim global. E hoje Z300 e 390 Duke são famosas inclusive em mercados do chamado Primeiro Mundo.

    Custo menor, com qualidade
    A graça destas motos é juntar custos reduzidos sem renunciar a estilo e desempenho interessante, coisa que atraiu clientes de uma Europa em crise. Em vez de pular das utilitárias de 125-150cc (ou dos scooters) direto paras as 500-600cc, jovens de várias partes do planeta foram seduzidos por estas motos que agora chegam ao Brasil. Serão elas sucesso também por aqui? É possível, tendo em vista as boas vendas da Kawasaki Ninja 250 que estreou no Brasil em 2009 (virou 300 em 2013) e sempre foi a mais vendida moto da marca no nosso país.

    Com relação à KTM qual será a receptividade ainda é uma incógnita: não há preço definido, mas vozes de bastidores indicam cifra na faixa dos R$ 20 mil, o que afugentaria clientes uma vez que, por um pouco mais, é possível levar para a garagem uma Honda CB 500F, que certamente não é tão exclusiva quando a pequena austríaca, mas oferece performance equivalente e o esteio do grande número de concessionárias Honda no Brasil, isso para não falar da excelente imagem dos produtos da marca em termos de confiabilidade e valor de revenda.

    Todavia, tendo em vista o preço da Kawasaki, há chance de a KTM optar por competir com armas iguais, como é no exterior, onde Z300 e 390 Duke têm preços equivalentes.

    BMW vem aí
    A efervescência deste segmento é comprovada por outra notícia, oficialmente confirmada, que a BMW apresentará ainda este ano, possívelmente no Salão de Milão, que será realizado em novembro próximo, uma novidade neste segmento.

    Será uma 300, monocilíndrica, também com refrigeração líquida e estilo roadster. Tal moto, já em fase final de testes, foi 100% projetada na Alemanha mas será fabricada na Índia, pela TVS, em regime de parceria.

    O objetivo é simples: fabricar onde estará o grosso do mercado consumidor e, principalmente, reduzir custos, mas não qualidade, como destacou o diretor da divisão de motocicletas da BMW do Brasil, Alejandro Echeagaray ao colunista. A idéia, segundo o executivo, é atrair consumidores mais jovens para o mundo BMW com um produto menor, mais acessível, mas que nem por isso renunciará à tradicional tecnologia presente nos produtos da marca alemã. Echeagaray confirmou que esta moto estará presente no portfólio da marca alemã no Brasil, montada em Manaus, mas ainda não soube precisar quando.

    Como se vê, o "buraco" que existia entre as motos pequenas e as médias está sendo tapado por novidades que incorporam tecnologia e requinte antes exclusivo das motocicletas maiores. São produtos, como disse no início, instigantes e atraentes. Os que buscam a diversão oferecida por desempenho exuberante, assim como os que querem apenas "cavalgar" uma máquina de porte maior e mais qualificada, estão sendo plenamente atendidos. 

     

  • Além de astro de Hollywood, Steve McQueen foi campeão nas motos

    Não há nenhum outro ator na história do cinema que tenha sido tão apaixonado por motocicletas como o norte-americano Steve McQueen. No auge de sua carreira, pouco antes de sua morte aos 50 anos causada por uma doença incurável, McQueen tinha, além de muitos automóveis, mais de 120 motocicletas, uma coleção formada por modelos de grande relevância em termos históricos.

    O ator, que em meados dos anos 1970, era tido como o mais bem pago de Hollywood, criou uma espécie de local de culto a um objeto que lhe dava intenso prazer e satisfação.

    Steve McQueenSteve não era apenas um amante e grande conhecedor de motocicletas e carros, mas principalmente um talentoso motociclista. Vários de seus filmes que exigiam demonstrações de grande perícia, seja ao volante ou ao guidão, não necessitavam de dublê pois o próprio McQueen se encarregava de protagonizar as cenas mais arrojadas. Nestes momentos ele se transformava em intérprete de si mesmo, juntando o talento de ator ao de piloto. 

    Abandonado pelo pai, criado por parentes e por uma mãe de presença inconstante, Steve McQueen teve uma adolescência muito turbulenta. Não faltaram episódios de violência e períodos de internação em reformatório. Naquela época, no imediato pós-guerra, pode ser encontrada a raiz do envolvimento de McQueen com motores.

    Traquitanas sobre rodas, geralmente carros que mereceriam estar no ferro-velho, se transformaram em rápidos mas nadas confiáveis meios de transgressão nas mãos do futuro astro de Hollywood e seus amigos. Antes de ganhar a fortuna que o sucesso nas telas lhe traria, McQueen fez um pouco de tudo: ficou três anos na Marinha e, aos 20, conseguiu seu primeiro papel em uma peça de teatro em Nova Iorque. Ao mesmo tempo, começou a ganhar uns trocados vencendo corridas não oficiais de motocicleta.

    Nessa época, começo dos anos 1950, McQueen comprou uma Indian Chief 1946 dotada de sidecar, e dali para a frente nunca mais deixou de ter uma moto.

    As primeiras experiências no cinema deram a Steve a chance de ter o que havia de melhor à época, as inglesas BSA e Triumph, e foi ao guidão dessas motos que McQueen – já morando em Hollywood  – conheceu o fora de estrada.

    Steve McQueenVivendo na Califórnia, desertos e locais para rodar na terra não faltavam e nesta modalidade seu talento ao guidão se sobressaiu a ponto de ser integrado à equipe oficial de pilotos norte-americanos que representaria o país no ISDT – International Six Days Trial – de 1964, disputado então na Alemanha Ocidental. A competição de nível mundial fez o ator, que já não era um simples iniciante, se destacar. McQueen e seu time disputaram a medalha de ouro até ele e um parceiro serem obrigados a abandonar depois de acidentes irreparáveis com Triumph TR6SC.

    Esta participação em um evento de alto nível do motociclismo mundial foi precedida pela filmagem de “A Grande Escapada” (The Great Escape), um dos maiores sucessos da carreira o ator e com a cena que virou um ícone da relação com motocicletas de Steve McQueen: o salto sobre a cerca de arame farpado fugindo do campo de prisioneiros. A moto era também uma Triumph disfarçada de BMW do exército alemão e, para grande frustração do ator, não foi ele a pilotar, pois a companhia de seguros contratada pelos produtores do filme alegou uma cláusula que o impediria de realizar cenas consideradas muito arriscadas.

    Famoso, ganhando rios de dinheiro, Steve McQueen completou quarenta anos em 1970 em um momento em que a tecnologia das motos off-road deu uma definitiva guinada, com os pesados motores de quatro tempos cedendo de vez o lugar aos mais leves e ágeis dois tempos, e logo McQueen estava agarrado ao guidão destas novidades.

    Apesar disso, ele nunca escondeu preferir o caráter dos motores 4T dizendo que o único problema deles era o peso excessivo. De certa forma esta afirmação confirmou a grande sensibilidade do ator, uma vez que atualmente a maioria das motos off-road tem motores 4T, agora tão leves e menos poluentes que os 2T.

    Steve McQueen
    A sueca Husqvarna 400CR de 1971 era sua favorita, mas a japonesa Honda CR 250 Elsinore também serviu para Steve se divertir, seja em corridas oficiais de motocross seja em finais de semana onde, de sua casa em Palm Springs, cidadezinha reduto dos artistas de Hollyowood rodeada de desertos, McQueen partia sem destino e nem hora certa para voltar.

    Foi nesta época que o ator coproduziu e participou do filme “On Any Sunday”. Indicado para o Oscar de 1972, o filme de 96 minutos trata da paixão pelo motociclismo fora de estrada, e é cheio de cenas do que foi a grande paixão de McQueen pelo esporte protagonizadas por ele mesmo. Aliás, a uma frase do ator definiu bem sua relação com o guidão: “Às vezes, monto na moto e rodo uma dezena de quilômetros perseguindo uma nuvem de poeira apenas pelo prazer de alcançar quem está na minha frente. Então, quando isso acontece, descubro que é exatamente alguém como eu, e a conversa corre solta."

    Bem mais do que uma simples celebridade apaixonada por motocicletas, Steve McQueen foi um verdadeiro garoto propaganda do bom uso da moto para lazer e esporte em uma época na qual ela ainda era erroneamente muito associada a desordeiros e criminosos, clichê definitivamente derrubado pelo "King of Cool", como foi apelidado o ator. Por conta disso, em 1999 McQueen foi incluido no "Hall of Fame" da AMA (American Motorcyclist Association), em reconhecimento à sua significativa contribuição para o esporte.  

    Steve McQueen

    Imagens: Reprodução

  • Protetores da coluna são os anjos da guarda dos motociclistas


    O “rei” dos equipamentos de proteção ao motociclista é o capacete, mas há outra parte do corpo humano que também exige atenção especial, pelo potencial de sequelas graves que podem ocorrer em acidentes. Se você está pensando na coluna vertebral, parabéns, acertou!

    Motociclistas que tiveram sua saúde prejudicada por lesões de coluna são testemunhos tristes da gravidade do problema. Infelizmente, as consequências são quase sempre irreversíveis, resultando em limitações motoras como a paraplegia, a perda dos movimentos das pernas, ou a mais grave tetraplegia, quando os movimentos nos membros superiores também são afetados.

    Este tipo trauma, pavoroso fantasma que ronda todos nós, pode ser atenuado com o uso de um equipamento de segurança que ainda é pouco disseminado: o protetor de coluna. Criado especificamente para motociclistas, diz a lenda que o inventor de um rudimentar modelo, espécie de bisavô deste equipamento, foi o piloto inglês Barry Sheene. Ele era famoso tanto por ser um grande campeão da motovelocidade dos anos 1970 como por colecionar pavorosos acidentes. Diz a lenda que, ao passar pelos controles de raio X dos aeroportos, Sheene os fazia enlouquecer por conta da quantidade de pinos e parafusos metálicos espalhados pelo seu corpo.

    Protetor de coluna para motociclistasTalvez as muitas horas de hospital deram a Sheene tempo livre necessário para refletir sobre a sorte de não ter machucado a coluna e para bolar uma proteção para dar uma forcinha ao destino. Sheene se serviu de viseiras usadas de seu capacete e as uniu com fita adesiva, criando um aparato parecido com uma casca de lagosta, destinado a proteger sua espinha dorsal.

    Deste criativo artesanato do piloto inglês aos melhores protetores de coluna disponíveis no mercado hoje em dia há uma intensa e qualificada pesquisa multidisciplinar envolvida. O estudo dos tipos de lesões, da fisiologia humana e dos animais (a lagosta…) e de materiais especiais resultou em artefatos extremamente protetivos.

    Da época de Sheene até os dias atuais, nenhum piloto de motocicleta, de qualquer categoria, entra numa pista de competição sem um protetor de coluna. O progresso deste equipamento se deu tanto pela redução de peso e do atualmente mínimo incômodo causado pelo uso quanto pela efetividade oferecida. O protetor não é simplesmente uma carapaça plástica que age de maneira passiva, evitando que impactos lesionem as vértebras, mas também funciona ao limitar movimentos antinaturais da espinha dorsal.

    A capacidade de curvatura desta verdadeira “viga mestra” de nosso esqueleto é muito ampla quando nos inclinamos à frente, mas limitada no sentido oposto, para trás. Em um acidente, o motociclista pode ser atingido por trás por outro veículo, pela sua própria motocicleta ou ser lançado bruscamente contra um obstáculo. Os mais evoluídos protetores de coluna limitam a possibilidade de a curvatura da coluna alcançar um ângulo exagerado, o que causaria lesão mesmo se o impacto não for tão violento, tendo como agravante o fato do motociclista poder estar desmaiado, coisa não incomum em tombos de moto.

    Pesando pouco, entre 650 g e 1 kg, os mais efetivos protetores são os que se vestem, fixados ao corpo de modo aderente por meio de faixas elásticas. Menos eficazes, mas ainda assim preferíveis a não usar nada são os protetores incorporados ao forro das jaquetas, cuja eficiência é menor por conta da possibilidade de se deslocarem durante a queda e consequente rolagem pelo solo.

    Outra diferenciação entre protetores diz respeito ao comprimento: os melhores são os mais longos, capazes de proteger desde a base da coluna até a altura dos ombros.

    Há também modelos menores, que protegem apenas a legião lombar e que consequentemente tem menor capacidade de proteção.

    Seja qual for o modelo, longo, curto, incorporado ao traje ou não, é necessário ao motociclista encarar o problema de frente e incorporar ao dia a dia o uso deste equipamento que, por mais incômodo que possa parecer, é e sempre será fundamental para que rodemos quilômetros e quilômetros em segurança.

    E pensando bem, um protetor de coluna, por maior que seja, sempre será um equipamento mais fácil de administrar do que o superimportante, mas volumoso capacete, que hoje é parte indissociável de nossa vida ao guidão.   

    Foto: Roberto Agresti/G1

  • As pequenas trail caem no gosto dos motociclistas


    De uns anos para cá as trail, especialmente as com motores que vão de 125 a 300 cc, vêm conquistando cada vez mais espaço nas preferências dos consumidores de motocicletas.

    Uma consulta a estatísticas de emplacamentos comprova um forte crescimento deste subsegmento: em 2008 as trail até 300 cc detinham 11,1% do bolo geral de motos vendidas, percentual que pulou a 19,5% no fechamento de 2014. E em 2015 esta tendência se confirma, com as trailzinhas conquistando quase 23% de participação no mercado nos primeiros quatro meses deste ano.

    No pódio das mais vendidas desta faixa estão duas Honda e uma Yamaha: a Honda NXR 150/160 é a campeã disparada nas preferências, seguida pela veterana XRE 300, e com Yamaha XTZ Crosser 150 ocupando o terceiro degrau.

    Honda NXR 150 Bros
    O que vem fazendo esses modelos ganharem espaço no gosto dos brasileiros? São vários os fatores. Primeiro deles: a simplicidade mecânica preservada, uma vez que a diferença básica delas para as pequenas estradeiras utilitárias, que ainda são as preferidas da maioria, não está no motor.

    Todas as trail citadas trazem exatamente os mesmos motores que as motos mais vendidas da categoria street, e isto funciona como uma espécie de atestado de competência, um seguro contra surpresas, tendo em vista a robustez destes motores monocilíndricos, além da inegável economia de exercício. Resumindo: motores que não quebram, não dão grandes despesas e consomem pouco combustível.

    Honda XRE 300
    Se na “alma”, o motor, as Honda NXR e XRE e a Yamaha Crosser se equivalem às best-sellers CG, CB 300R e Yamaha Fazer 150, o que mais vem atraindo gradualmente os consumidores para as trail? Um dos principais motivos é o porte diferenciado, que resulta em uma posição de pilotagem mais confortável, assim como uma sensação de maior domínio sobre a moto.

    Todas as trail têm suspensões de curso maior, característica permite melhor capacidade de absorção de irregularidades. Estar ao guidão de uma trailzinha e encarar um buracão imprevisto ou deixar de perceber uma lombada tem um efeito muito menos problemático do que se o condutor estivesse pilotando uma pequena estradeira.

    Outra característica das trail é o guidão largo, que favorece o domínio do veículo, assim como a maior distância livre em relação ao solo. No fim das contas, essas diferenças nas suspensões e posição de pilotagem acabam sendo muito bem-vindas no uso urbano, inclusive por causa da evidente piora na qualidade da pavimentação das cidades brasileiras.

    Yamaha XTZ Crosser 150
    Terra? Nem sempre!

    As motos trail nasceram pensadas para um uso misto, capazes de encarar tanto estradas pavimentadas como as de terra. No entanto, nas últimas duas décadas ocorreu uma especialização de motos verdadeiramente dedicadas à prática do fora de estrada, fator que modificou definitivamente o destino das trail que citamos.

    Um exemplo claro deste novo panorama está na redução do diâmetro das rodas dianteiras. No passado, a Honda tinha na XL 250R sua moto multiuso, confrontada pela rival da Yamaha, a DT 180. Ambas tinham rodas aro 21 polegadas na dianteira, e era comum vê-las, novinhas, passarem por um brutal processo de “depenamento” e adaptação para uso específico em trilha. Hoje, isso não é mais necessário, pois os fabricantes oferecem motos prontas para tal – Honda CRF e Yamaha TT-R – para os que elegem o lazer na terra como passatempo ou prática esportiva favorita.

    Deste modo, as trail se “urbanizaram” de vez: saíram as rodas 21 polegadas, chegaram as de 19 polegadas, que favorecem a maneabilidade. O peso aumentou, tanques cresceram e até mesmo itens como freios ABS foram incorporados. Tudo isso para dar aos usuários aquilo que uma boa motocicleta pensada para o uso no dia a dia da cidade pode oferecer, mas sem renunciar ao DNA das motos que as originaram: robustez, capacidade de superar obstáculos e uma “pegada” ou jeitão de moto capaz de enfrentar grandes desafios.

    Na verdade, ao optar por uma trail em vez de uma estradeira, o motociclista leva para casa um veículo no qual alguns elementos, como chassi e suspensões, foram superdimensionados. Isso pode agradar tanto os que querem apenas a maior tranquilidade de ter nas mãos uma moto mais forte, como também atender aos que vão efetivamente submeter a moto a um uso mais estressante.

    Em uma trail, as suspensões estão mais habilitadas a suportar maior carga ou rodar em estradas ruins. Dotadas de pneus mistos, as trail oferecem um comportamento menos preciso do que as estradeiras e seus pneus 100% voltados para asfalto, mas em um grau que pode ser considerado mínimo, quase irrelevante. Por outro lado, estão mais habilitadas a serem carregadas de bagagem e a encarar viagens sem escolher caminhos.

    O “conjunto da obra” oferecido pelas trail vem agradando cada vez mais. E atrai o estilo imponente, de moto maior e capaz de enfrentar os desafios de modo mais competente, nem que estes sejam apenas levar e trazer seu usuário com segurança em tranquilos percursos urbanos.

    Fotos: Honda NXR 150 Bros (Divulgação); Honda XRE 300 (Divulgação); Yamaha XTZ Crosser 150 (Stephan Solon/Divulgação)

  • Como fazer amigos com sua motocicleta

    Viagem de motociclistas
    Quem esteve em Campos do Jordão (SP) no final de semana passado ou em Caldas Novas (GO) no feriado de Tiradentes viu milhares de motociclistas vindos de todos os cantos do Brasil. Na agenda destes fãs do guidão havia não só a vontade de praticar a paixão de maneira óbvia – rodando até esses destinos –, mas também a de se divertirem em grupo.

    Seja no BMW Motorrad Days paulista ou no HOG Rally goiano, os donos das motos alemãs ou das americaníssimas Harley-Davidson – “tribos” na teoria bem distintas – buscaram o mesmo: a confraternização em sua essência, festejando o gosto pela motocicleta e pelo que ela pode oferecer. Certamente, a maioria dos participantes dirá que a viagem valeu a pena, sabendo que no final acabaram voltando para casa com bem mais do que os simples quilômetros acumulados no hodômetro.

    Encontro de motociclistas
    “Experiência” é a palavra! Sabiamente, estas tradicionais marcas souberam organizar reuniões periódicas, congregando seus clientes e fazendo com que eles se sintam importantes membros de uma seleta confraria. Falar dos aspectos psicológicos e sociológicos desses encontros que exalam puro “esprit de corps” – irmandade, companheirismo e senso de pertencimento – renderia uma tese de doutorado.

    Resumir isso tudo a puro marketing seria errado? Claro que não, mas é um marketing do bem, com um peculiar resultado “ganha-ganha”, onde todos ficam felizes, cliente e fabricante.

    Motociclistas de Harley - encontro
    Encontros de motociclistas não são novidade no Brasil. Acontecem há pelo menos duas décadas, mas, assim como no caso das próprias motocicletas, os anos serviram para aperfeiçoá-los. Um alegre ajuntamento de pessoas com o mesmo gosto e as mesmas preferências teria pouca chance de dar errado, porém, como sabemos, motos podem ser de diversas marcas, tipos e tamanhos. A mesma diversificação ocorre com os usuários. Tem a turma das speed, a do fora-de-estrada, a das touring, a das custom…

    A possibilidade de optar por reuniões menos genéricas do que os encontros abertos a todos os tipos de motos & motociclistas certamente elitizou eventos, mas os qualificou. Ganhou-se em qualidade nestas reuniões menos ecléticas, por outro lado perdeu-se o atrativo da variedade. Na prática o que se percebe é que quando há a chancela de uma marca por trás do evento, a garantia de melhor organização faz as cidades receberem os motociclistas de braços abertos.

    Teste em moto
    O importante é participar
    Para quem nunca participou de um encontro organizado de motociclistas, seja ele específico de um fabricante ou não, é importante destacar que o ver e ser visto é apenas um dos componentes das reuniões. Mais importante (e útil) é, como dissemos, a chance de trocar experiências, aprender mais sobre motos e absorver informações que podem nos melhorar como motociclistas.

    O simples fato de viajar até o local do evento – longe ou perto, não importa – é um fator preponderante da diversão mas não único. Convocar a turma, preparar o roteiro e deixar a moto apta para encarar o trajeto também diverte. E uma vez na festa, a melhor ideia não é ficar largado com um copo de cerveja na mão olhando a paisagem, mas sim participar das atividades.

    Teste em moto
    No HOG Rally não faltaram gincanas, tipo a corrida onde ganha que for mais lento em um trajeto determinado sem colocar o pé no chão ou o garupa que conseguir abocanhar uma salsicha pendurada em um barbante. No BMW Motorrad Days, estava disponível praticamente toda a linha de motos da marca vendida no Brasil para test-rides (assim como havia a chance de fechar negócio ali mesmo, claro!). Participar de clínicas de pilotagem em pistas especialmente criadas para tal fim, frequentar palestras variadas com temas como moto-turismo, segurança e pilotagem também estavam na programação.

    Para aqueles que sempre querem melhorar a moto e não conseguem deixar de associar viagens às compras, oportunidades de bons negócio não faltam. Nesses encontros são vendidos acessórios, vestuário técnico ou “casual”, componentes dedicados a aumentar a performance ou o conforto e artigos “de primeira necessidade”, como pneus. Tudo isso é oferecido, às vezes, a preços promocionais. Manutenção? Também tem, com revendas disponibilizando oficinas volantes para fazer simples revisões ou eventuais intervenções de emergência para que a volta para casa ocorra sem problemas.

    Show em encontro de motociclistas
    Mergulhar na motocicleta de modo radical e fazer amigos é o espírito das reuniões, onde não faltam um ou mais palcos para apresentações de música e atrações variadas extra-moto, para quem quiser ou precisar arrastar a família junto.

    Caldas Novas é conhecida por ser a maior estância hidrotermal do planeta, enquanto Campos do Jordão é uma estância climática plena de atividades totalmente voltadas para o turismo. Ou seja, quem acompanhou filho, pai ou marido em sua peregrinação de culto à motocicleta não teve do que reclamar.

    Fotos: Roberto Agresti/G1

Autores

  • Roberto Agresti

    Roberto Agresti pilota e escreve sobre motocicletas há três décadas.

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