Africa Twin e R 1200 GS: big-trails são 'tanques de guerra' das motos
Fascinantes e cada vez maiores, as bigtrails são um fenômeno de sucesso relativamente recente na indústria motociclística mundial. Uma rápida olhada para o passado indica que foi do meio para o fim do anos 1970 que as trail, motos nas quais a agilidade e leveza era o maior predicado, receberam o “fermento” que as fez ir crescendo e crescendo cada vez mais.
Qual é mãe de todas as bigtrail? Há quem sustente que foi a Yamaha XT 500. Apresentada em 1975, logo se tornou um sucesso comercial comprovando que alguns clientes não acharam nada ruim ter um motor mais forte em uma estrutura mais parruda em troca de alguns quilos a mais.
Divisor de águas para a consagração da receita foi o sucesso nos ralis africanos. As Yamaha XT 500 praticamente originais venceram as duas primeiras edições do rali Paris-Dakar e tais vitórias tendo como palco mítico deserto do Ténéré garantiram à marca as excelentes vendas de suas motos batizadas com este nome, sejam elas grandes como a Yamaha XTZ 1200 Superténéré, as mais comuns XT 600 ou 660 e as menorzinhas XTZ 250 Ténéré.
Mas foi em 1981 que a moto vitoriosa no rali Paris-Dakar fez nascer a verdadeira receita de bigtrail através de um modelo que virou lenda: a BMW R 80 GS, a primeira da série a usar estas tão conhecidas letrinhas. Desde então as GS foram sendo lapidadas e se transformaram em uma espécie de moto-referência quando o assunto é bigtrail.
Na época de seu lançamento em 1980 a BMW R 80 GS foi vista por muitos como uma moto paradoxal, uma trail sem nexo. A principal causa era seu motor, um boxer bicilíndro de 800 cc largo e pesado. Também causava espanto a escolha da transmissão final por cardã, que em nada ajudava a traseira ter os predicados esperados de uma off-road tais como grande curso de suspensão e leveza.
No entanto estas BMW GS comprovaram que a estranha receita era boa e venceram o Paris-Dakar em 1983, 1984 e 1985com as R 100 GS, com motores ainda maiores, de 1.000 cc. Tal dominio no então popularíssimo rali africano serviu como uma verdadeira rampa de lançamento para a receita de bigtrail da marca alemã onde motor bicilindrico e peso elevado derrotavam as mais leves motos com motores monocilíndros.
G1 JÁ AVALIOU A TRIUMPH TIGER 800. ASSISTA:
Nova Africa Twin vem por aí
No recém-encerrado Salão de Milão, a mostra mundial que anualmente traz aos olhos do mundo as principais novidades do setor, a Honda CRF 1000L Africa Twin talvez tenha sido o lançamento mais relevante. A intenção da Honda é a de reviver as glórias da XRV 650 Africa Twin original, que lançada em 1986 teve um grande sucesso de mercado, impulsionado pelas vitórias da versão “de briga”, o protótipo Honda NXR 750V e NXR 800V, ganhadoras do rali Paris-Dakar de 1986 a 1989.
Resumidamente, entramos na quarta década de sucesso deste gênero de motos e mesmo se o rali Paris-Dakar não seja mais tão popular, e tampouco saia de Paris e chegue a Dakar – o palco de disputas agora é a América do Sul e as motos dominantes tem no máximo 450 cc por razões de segurança – praticamente todas as marcas tem em seu catálogo uma bigtrail.
Líder deste segmento em todo o planeta é a BMW R 1200 GS, moto cuja receita não se distanciou da R 80 GS de 35 anos atrás na essência. O renascimento da Africa Twin atual, a Yamaha aperfeiçoando cada vez mais suas Ténéré super ou não e até mesmo marcas sem grande tradição no off-road como a Ducati ou a Triumph com representantes neste segmento, as Multistrada e as Tiger mostra o quanto a receita da BMW fez sucesso. Isso para não falar na austriaca KTM , marca especialista em motos off-road, cuja majestosa 1190 Adventure é exemplo.
'Tanques de guerra'
O que faz deste gênero de motos modelos tão ambicionados? Um conjunto de fatores. Primeiro deles é, talvez, o inegável ar de indestrutibilidade. Verdadeiros tanques de guerra, tais motos tem na aparência robusta um de seus mais admirados fatores mesmo se isso implique em peso elevado e consequente prejuízo em sua capacidade de superar obstáculos.
Outro fator não indiferente é que qualquer motociclista sobre elas ganha ares de super-homem. Altas, largas, pesadas e geralmente dotadas de aparatos vistosos como barras de proteção, faróis suplementares, malas e parabrisas gigantes, passam uma impressão de serem difíceis de serem domadas. De fato não são motos indicadas para iniciantes mas na verdade não são tão complicadas de se levar quanto fazem crer. Basta apenas não esquecer da condução atenta e apropriada ao seu volume e peso e, é claro, ter pernas longas o suficiente para manobrá-las.
Hoje as bigtrail são as motos favoritas de quem pretende percorrer longas distâncias pois conciliam conforto e capacidade de rodar em qualquer tipo de estrada com grande capacidade de carga e performance. De fato, elas representam para o mundo da motocicleta o que são os SUV no âmbito dos automóveis com a diferença de que elas, as motocicletas com esta pegada multiuso que não temem estradas ruins e aparentam robustez, estão há bem mais tempo no topo das preferências dos motociclistas do mundo todo, uma moda que não dá menor sinal de estar perdendo força, pelo contrário.