RD 50, CG 125, DT 180 e CB 400: motos nacionais viram clássicas
A data exata do início desta paixão, aliás, é 10 de outubro de 1974. Foi neste dia que da linha de montagem da Yamaha Motor do Brasil, em Guarulhos (SP), saiu aquela é considerada a 1ª motocicleta nacional, a pequena RD 50.
Antes disso outros veículos de duas rodas a motor foram montados/fabricados no Brasil - Vespa, Lambretta e a lendária Leonette entre elas. As primeiras eram motonetas, os scooters de hoje em dia, a Leonette um ciclomotor com pinta de moto. Mas motocicleta, mesmo, a pioneira foi a cinquentinha da Yamaha.
Neste período de 4 décadas a indústria da motocicleta no Brasil produziu algumas motos que hoje despertam a cobiça seja de colecionadores, admiradores da mecânica de outros tempos ou de simples saudosistas. Seja qual for o caso, uma coisa é certa: qualquer um dos modelos que descrevemos abaixo, ícones das pioneiras moto Made in Brasil, despertam uma atração espetacular. Qualquer uma delas estacionada ou andando vai atrair olhares tanto quanto a mais moderna e exclusiva motocicleta disponível no país. Acredite…
YAMAHA RD 50
Nossa lista não poderia deixar de começar com ela, a primeiríssima moto nacional. Mas não 100% pois ao menos o carburador era e sempre foi importado. Todavia, o restante dos componentes se valia da mão de obra e de matéria prima brasileira. A escolha da Yamaha por uma 50 cc para estrear sua produção no país teve como objetivo oferecer um produto de custo de aquisição e manutenção baixo.
A escolha de um motor 2 tempos – bandeira da empresa à época – permitia pensar que a simplicidade mecânica de tais motores favoreceria a manutenção inclusive nos mais remotos lugarejos. A pequena moto era valente, com desempenho razoável e tecnologia moderna mas, como se viu na sequência, a preferência do brasileiro recaiu sobre o mais complexo mas robusto motor 4T da Honda CG 125, que lançada dois anos depois dominou o mercado.
De nada adiantou à Yamaha lançar versões mais fortes de sua pequena moto, a RD 75 (1976) e RX 80 (1979): a Honda CG nunca mais cedeu a liderança. Um exemplar dessas Yamaha pioneiras é muitíssimo raro e cobiçado, podendo custar até R$ 15 mil.
HONDA CG 125
Em 1976 ninguém menos que Pelé foi chamado para ser o garoto propaganda da 1ª Honda fabricada no Brasil, mais exatamente em Manaus. A escolha de produzir no Amazonas deu à Honda a vantagem dos incentivos fiscais e também ir nacionalizando a sua motocicleta aos poucos.
As primeiras Honda CG que sairam da fábrica manauara tinham diversos componentes importados mas nem por isso a motocicleta como um todo deixava de ser considerada brasileira. Exemplares desta 1ª CG, especialmente na cor laranja, são perseguidos e desejados e apesar de serem encontrados mais facilmente podem alcançar cifra equivalente a de uma Yamaha RD 50 original.
HONDA CB 400 - CB 450
A primeira grande moto brasileira era, na verdade, toda "made in Japan". Especialmente a primeira versão de 1980, equipada com as rodas “Comstar” e motor 400, era apenas montada em Manaus. A nacionalização veio a reboque do sucesso e foi aumentando com o passar dos anos. A CB 400 chegou ao mercado em um momento particular, quando a importação de motocicletas, proibida deste o final de 1976, havia feito a sede de motos grande crescer desmesuradamente.
A solução “Manaus” deu alívio a tal escassez e fez da CB 400 um sucesso imediato. Quem quisesse uma moto encorpada e com presença tinha nela a única opção. Um ano depois surgiria uma versão mais luxuosa, batizada de CB 400 II. No final de 1984 veio a Honda CB 450, mais potente e que ficou uma década em produção em diversas versões: Custom, Sport, TR e a derradeira DX. A primeira CB 400 e a CB 400 II são as mais raras e desejadas, mas qualquer CB 400 ou 450 em bom estado acha comprador rapidinho. E quanto mais original, mas valiosa. Há exemplares pouco rodados e 100% originais ofertados por cerca de 20 mil reais.
YAMAHA DT 180
Foi a trail que ensinou os brasileiros a fazer trilha, e não só. Mostrou também o quanto versáteis são as motos fora-de-estrada mesmo se jamais usadas na terra. A DT 180 L, a primeiríssima de 1981, é "mosca branca", não se acha, e se reconhece por uma característica única: tem a balança de suspensão traseira fabricada com tubo de seção circular e não retangular como as DT 180 sucessivas.
Fabricadas até 1997, achar uma DT 180 original é complicado, e os preços variam: as mais recentes não custam mais de 5-7 mil reais, mas a primeirona, a dos tubos redondos, pode custar até 12-15 mil reais. E há ainda a MX 180, versão de cross. Quem tem uma dessa impecável, tem um tesouro!
HONDA XL 250R
Ah, o “xiselão”! Na época sinônimo de robustez aliada a tecnologia. Esta motocicleta foi a antagonista da Yamaha DT 180 que, apesar das diferentes capacidades cúbicas de seus motores tinham desempenho equivalente, o que se explicava pelo fato da Yamaha ser mais leve e ter motor ciclo 2 tempos (mais assanhado!) e a Honda, mais pesada, mais cavalos em seu motor 4 tempos. Durante os anos 1980 a popularidade da prática do Enduro transformou o antagonismo entre donos de XL e DT em uma espécie de Fla-Flu sobre duas rodas. Não é tão difícil assim achar uma XL 250R, fabricada de 1982 a 1984, e substituída pela XLX 250R. O valor pode chegar até os 15 mil reais.
YAMAHA RD 350 LC
Na esteira da lendária RD 350 dos anos 1970, apelidada de "viúva negra", a Yamaha introduziu no Brasil a versão modernizada do modelo, a RD 350 LC, onde as letras finais estavam para “liquid cooled” ou seja, refrigeração líquida. Mais tecnológica porém não menos brutal e esportiva, a RD 350 era naquela época o mais fiel paradigma da moto esportiva e foi protagonista de uma longa e curiosa espera pelo modelo, pois a Yamaha anunciou a produção da RD 350 LC em 1984 mas a efetivou apenas em 1986… Encontrar uma dessas “LC” de primeira safra não é impossível, mas exige garimpar direito. Uma 100% original é raríssima pois motos esportivas geralmente tem donos esportivos, e isso reduz a vida das coitadas. Há RD 350 LC à venda por mais de 20 mil reais.
RESTAURADA OU CONSERVADA?
Importante observar que neste mercado de clássicas as motos mais valiosas são as chamadas “conservadas” e não as “restauradas”. Qual a diferença? As primeiras são aquelas que foram mantidas da melhor maneira possível ao longo de sua vida e sofreram pouca ou nenhuma intervenção, como se tivessem hibernado em garagens durante décadas.
Ao contrário do que pode se imaginar, alguns risquinhos na pintura, sinais de uso nos comandos e demais “marcas da vida” contribuem para o preço ser elevado. Já as restauradas são motos que passaram por processos de renovação e portanto, por mais perfeitas que sejam, valem menos pois carecem do charme que algumas rugas conferem a quem atravessou o tempo para contar a história.