Como fazer amigos com sua motocicleta
Quem esteve em Campos do Jordão (SP) no final de semana passado ou em Caldas Novas (GO) no feriado de Tiradentes viu milhares de motociclistas vindos de todos os cantos do Brasil. Na agenda destes fãs do guidão havia não só a vontade de praticar a paixão de maneira óbvia – rodando até esses destinos –, mas também a de se divertirem em grupo.
Seja no BMW Motorrad Days paulista ou no HOG Rally goiano, os donos das motos alemãs ou das americaníssimas Harley-Davidson – “tribos” na teoria bem distintas – buscaram o mesmo: a confraternização em sua essência, festejando o gosto pela motocicleta e pelo que ela pode oferecer. Certamente, a maioria dos participantes dirá que a viagem valeu a pena, sabendo que no final acabaram voltando para casa com bem mais do que os simples quilômetros acumulados no hodômetro.
“Experiência” é a palavra! Sabiamente, estas tradicionais marcas souberam organizar reuniões periódicas, congregando seus clientes e fazendo com que eles se sintam importantes membros de uma seleta confraria. Falar dos aspectos psicológicos e sociológicos desses encontros que exalam puro “esprit de corps” – irmandade, companheirismo e senso de pertencimento – renderia uma tese de doutorado.
Resumir isso tudo a puro marketing seria errado? Claro que não, mas é um marketing do bem, com um peculiar resultado “ganha-ganha”, onde todos ficam felizes, cliente e fabricante.
Encontros de motociclistas não são novidade no Brasil. Acontecem há pelo menos duas décadas, mas, assim como no caso das próprias motocicletas, os anos serviram para aperfeiçoá-los. Um alegre ajuntamento de pessoas com o mesmo gosto e as mesmas preferências teria pouca chance de dar errado, porém, como sabemos, motos podem ser de diversas marcas, tipos e tamanhos. A mesma diversificação ocorre com os usuários. Tem a turma das speed, a do fora-de-estrada, a das touring, a das custom…
A possibilidade de optar por reuniões menos genéricas do que os encontros abertos a todos os tipos de motos & motociclistas certamente elitizou eventos, mas os qualificou. Ganhou-se em qualidade nestas reuniões menos ecléticas, por outro lado perdeu-se o atrativo da variedade. Na prática o que se percebe é que quando há a chancela de uma marca por trás do evento, a garantia de melhor organização faz as cidades receberem os motociclistas de braços abertos.
O importante é participar
Para quem nunca participou de um encontro organizado de motociclistas, seja ele específico de um fabricante ou não, é importante destacar que o ver e ser visto é apenas um dos componentes das reuniões. Mais importante (e útil) é, como dissemos, a chance de trocar experiências, aprender mais sobre motos e absorver informações que podem nos melhorar como motociclistas.
O simples fato de viajar até o local do evento – longe ou perto, não importa – é um fator preponderante da diversão mas não único. Convocar a turma, preparar o roteiro e deixar a moto apta para encarar o trajeto também diverte. E uma vez na festa, a melhor ideia não é ficar largado com um copo de cerveja na mão olhando a paisagem, mas sim participar das atividades.
No HOG Rally não faltaram gincanas, tipo a corrida onde ganha que for mais lento em um trajeto determinado sem colocar o pé no chão ou o garupa que conseguir abocanhar uma salsicha pendurada em um barbante. No BMW Motorrad Days, estava disponível praticamente toda a linha de motos da marca vendida no Brasil para test-rides (assim como havia a chance de fechar negócio ali mesmo, claro!). Participar de clínicas de pilotagem em pistas especialmente criadas para tal fim, frequentar palestras variadas com temas como moto-turismo, segurança e pilotagem também estavam na programação.
Para aqueles que sempre querem melhorar a moto e não conseguem deixar de associar viagens às compras, oportunidades de bons negócio não faltam. Nesses encontros são vendidos acessórios, vestuário técnico ou “casual”, componentes dedicados a aumentar a performance ou o conforto e artigos “de primeira necessidade”, como pneus. Tudo isso é oferecido, às vezes, a preços promocionais. Manutenção? Também tem, com revendas disponibilizando oficinas volantes para fazer simples revisões ou eventuais intervenções de emergência para que a volta para casa ocorra sem problemas.
Mergulhar na motocicleta de modo radical e fazer amigos é o espírito das reuniões, onde não faltam um ou mais palcos para apresentações de música e atrações variadas extra-moto, para quem quiser ou precisar arrastar a família junto.
Caldas Novas é conhecida por ser a maior estância hidrotermal do planeta, enquanto Campos do Jordão é uma estância climática plena de atividades totalmente voltadas para o turismo. Ou seja, quem acompanhou filho, pai ou marido em sua peregrinação de culto à motocicleta não teve do que reclamar.
Fotos: Roberto Agresti/G1