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  • BMW quer crescer 50% com moto de baixa cilindrada e 'peitar' a KTM


    BMW, três letras que colocadas juntinho, significam muito. Principalmente dinheiro: tanto motos como carros desta marca ocupam o mais alto posto entre os objetos do desejo de quem quer se locomover sobre rodas (o colunista viajou à Alemanha pela Revista da Moto! e a convite da BMW). São máquinas exclusivas que custam caro, e custam caro porque são máquinas exclusivas. Como queiram.

    A BMW é um camaleão industrial, mudando conforme o momento. Quando nasceu, no começo do século 20, fabricava motores aeronáuticos. Do movimento das hélices passou ao movimento de rodas. O primeiro veículo com logotipo BMW foi uma motocicleta, a R 32 de 1923. À partir dos anos 1950, carros viraram o negócio principal mas em Munique nunca deram as costas a sua primeira “paixão”, as duas rodas. Apesar de ingleses e italianos, antigos donos da indústria da moto mundial, e dos japoneses de agora, motos BMW, em qualquer época, sempre foram respeitados ícones.

    VEJA COMO É A G 310 R E ESCUTE O MOTOR:

    No passado as BMW eram lembradas principalmente pela robustez, hoje pela tecnologia e… pelo preço elevado, o que não impede que sejam líderes do segmento acima de 500 cc em 26 países, tendo vendido um total de 121.622  motos até este outubro, superando em 11,5% o período anterior.

    E no Brasil, como é? Se considerarmos apenas as marcas tidas como “premium”, ela é a nº1. Bate por pouco a americana Harley-Davidson, vende o dobro que a Triumph e deixa à Ducati a lanterninha em um lucrativo mas estreito bolo de pouco mais de 16 mil unidades vendidas em 2015, até outubro inclusive, onde a parte que cabe à BMW é de 6,4 mil unidades.

    Se essa conta do mercado nacional considerar as motos “acima de 500 cc”, as BMW abocanham algo como 13% do bolo, ocupando um instigante 3º lugar atrás de Honda e Yamaha com suas bem mais populares (e baratas) CB 500, XJ6 e MT-07.
    BMW G 310 R

    Porém, pelo que ouvi em Munique na última quarta-feira (11), tal panorama poderá mudar. Como o lançamento de sua interessante G 310 R, uma roadster moderninha, a BMW quer bem mais clientes do que tem hoje, e clientes diferentes.

    Segundo os chefões alemães não se trata de uma popularização da marca, mas sim de conceder a quem quer ou precisa de motos menores a oportunidade de entrar no mundo BMW. Para isso a BMW conta conosco, brasileiros, e também com asiáticos da Indonésia, Malásia e Vietnã por exemplo, sempre sedentos por duas rodas. E enfie neste balaio também os indianos, que não apenas vão contribuir com numerosos clientes mas também com a fabricação da novidade.

    Uma BMW made in Índia choca? Não há porquê: a BMW estabeleceu uma parceria com a TVS (lembram da Apache, da Dafra? Pois é, é uma TVS!) com o intuito de construir com qualidade mas a preço acessível. Projetada na Europa, a G 310 R será fabricada na terra de Gandhi. No Brasil será montada em Manaus e chegará as revendas ainda em 2016, segundo trimestre.

    VEJA COMO ANDA A KTM 390 DUKE, RIVAL DA G 310 R:


    O plano todo visa fazer a BMW Motorrad, como é chamada a divisão de motos da empresa alemã, incrementar suas vendas em nada menos que 50% até o ano de 2.020. Para isso, não só contará com a G 310 R mas também como scooters menores que os atuais C 650 Sport e C 650 GT, além de elevar em termos globais o número de suas revendas das atuais 1.100 para 1.500.

    Não é a primeira vez que a BMW fabrica uma moto de pequena/média cilindrada. A R 39 de 1925, segundo modelo da marca, era empurrada por um motor monocilíndro de 247 cc. 90 anos atrás assim como é a G 310 R hoje, era uma vitrine de tecnologia alemã. BMW R39 de 1925
    A estratégia expansionista da BMW anunciada ontem tem, também, ingredientes ocultos, menos idealistas do que conceder a mais gente a “oportunidade de entrar no mundo BMW “, ou mercantilistas, crescer 50% em cinco anos. KTM 390 Duke

    Como se sabe, o inimigo frequentemente mora ao lado e os austríacos de Mattighofen, leia-se KTM, estão bem pertinho dos alemães da BMW não só geograficamente: fazem motos aventureiras com as da linha GS da BMW, fazem superesportivas como a BMW S 1000 RR e, principalmente, fazem as interessantes KTM 390 Duke e 200 Duke, atraentes e não a toa parecidíssimas com esta BMW G 310 R.

    No fim das contas, a luta é sempre será por mais clientes, por maior fatia de mercado, mas a BMW sabe, como eu sei e você também, que os jovens de hoje estão menos interessados por motos do que estiveram no passado. E certamente um modo de atraí-los é com produtos marcantes e que custem menos dinheiro como esta nova roadster. O tempo mostrará se a estratégia vai dar certo…

    FOTOS: Roberto Agresti / G1 / Divulgação

  • Triumph responde à Ducati Scrambler com nova geração da Bonneville


    Reborn: esta palavra, “renascido” em inglês, está se tornando comum ultimamente. A Harley-Davidson mostrou à imprensa especializada mundial sua linha de motocicletas para 2016 há cerca de dois meses atrás na ensolarada Barcelona, na Espanha, usando este “Reborn” para anunciar a modernização da família Sportster, como você pôde ler aqui.

    Agora, trocamos a luz e o calor do verão na costa catalã pela tradicional garoa e céu cinza chumbo do outono em Londres (o colunista viajou à Inglaterra pela Revista da Moto! e a convite da Triumph). Saem as americanas H-D e entram em cena as novidades da britânica Triumph. “Reborn” apareceu novamente na boca dos marqueteiros mas apesar da repetição, da falta de criatividade, é obrigatório afirmar que a Triumph foi mais longe, bem mais literal que os americanos de Milwaukee neste “renascimento” de suas Bonneville. Triumph Bonneville: nova geração
    A mais lendária família de motos da Triumph verdadeiramente “reborn”. Em vez de um tapa aqui ou acolá, as Bonneville foram 100% atualizadas. Tudo é novo, do motor ao chassi, passando pelas suspensões. Exagerando, podemos dizer que a única coisa em comum com as velhas “Bonnies” é o fato de terem ainda duas rodas, uma na frente da outra.

    VEJA COMO FOI O LANÇAMENTO DA DUCATI SCRAMBLER NO SALÃO DUAS RODAS:


    Começando pela alma, o motor: o bicilindro refrigerado a ar de 865cc foi aposentado definitivamente. No seu lugar entraram dois novos propulsores, um de 900cc e outro de 1.200cc. Como manda a tradição são também bicilíndros, mas os novos tempos os fizeram ganhar a refrigeração líquida para ajudar a conter vibrações e emissões de poluentes.

    Manter o visual clássico exigiu disfarçar o sistema, e para notar o radiador, encaixadinho entre as duas traves descendentes do chassi tubular de aço, foi preciso olhar com muita atenção. Fora isso, os cilindros são vistosamente aletados, o que seria desnecessário em um motor refrigerado por água, mas ai o visual de um motor sem aletas não seria adequado a uma verdadeira “Bonnie”. Triumph Street Twin é nova integrante da família Bonneville
    Se na aparência os motores não entregam uma indesejada e imprópria modernidade, a safra 2016 das Bonneville o fará no comportamento. Apesar de não haver test-ride como a Harley-Davidson ofereceu em Barcelona (ponto a menos para os ingleses!), os técnicos da marca inglesa garantiram que no 900cc há 18% a mais de torque máximo (54% nos motores 1.200cc), números que deram coceira: não vejo a hora de poder testar todas as cinco Boneville. Harley-Davidson Forty-Eight

    CINCO?
    No Brasil a Triumph comercializava apenas duas motos desta família, a T100 e a esportivada Thruxton. No fundo, ambas tinham apenas diferenças cosméticas. Agora, segundo Fernando Filié, gerente de marketing da filial brasileira, todas as versões das novas Bonneville deverão estar nas revendas nacionais. A mais simples de todas, a Street Twin, deverá chegar em janeiro. Nas sequência, ao ritmo de uma por mês, vem as T120, T120 Black Edition e as duas Thruxton, a 1200 e a 1200R.

    A Street Twin será a mais acessível do lote – o preço será divulgado só em janeiro –, e segundo a Triumph a máquina ideal para personalizações. Aliás, a própria Triumph disponibilizará três kit de customomização batizados de “Scrambler”, “Bat Tracker” e “Urban”.  E para quem lembrou da Ducati Scrambler lendo estas palavras a resposta é, sim: esta renascida Bonneville em suas variadas versões é uma mirada reação tanto à novidade da Ducati quanto para as citadas Harley-Davidson Sportster e, porque não, à elegante café racer da BMW, a R nineT. Triumph Bonneville T120
    O que une todas estas motos? Modernidade técnica disfaraçada em um lay-out antigo, ou clássico, como queiram. Motos que aceleram, freiam e fazem curvas tão bem quanto qualquer moto moderna, mas cuja aparência remete a tempos mais românticos ou trangressivos do motociclismo. Enfim, por fora mais Marlon Brando e James Dean, por dentro Brad Pitt e Johnny Depp.

    Com esta investida a Triumph não só reforça sua presença no segmentocomo espera ampliá-la. Suas off-road Tiger são sucesso, suas naked Street Triple e Speed Triple idem e o mesmo pode ser dito das superesportivas Daytona. A esta “ala jovem” da marca inglesa se unem estas Bonneville “reborn”, com um apuro técnco poderoso aliado do icônico nome.

    ORIGEM DO NOME
    E para quem ainda não sabe, a explicação: Bonneville alude ao recorde de velocidade batido nos anos 1950 por um míssil empurrado por um motor da marca no homônimo lago salgado em Utah, EUA. E falando em nome icônico, as Bonneville Thruxton – nome de uma pista inglesa onde a Triumph colheu glórias esportivas – agora são duas, e ao contrário da Thruxton anterior exibem bem mais músculos no motor, atitude nas suspensões e visual assim como um kit destinado a apimentar ainda mais a performance.

    Ou seja, nada foi deixado ao acaso: na briga por um cliente amante de um visual mais clássico, a Triumph pretende atender a todos, respondendo com variedade e consistência aos ataques das rivais, literalmente incendiando um segmento que aparentemente tem tudo para crescer, o das motocicletas “modern classics”, um balaio grande onde cabem as Custom, as Café Racers, Scramblers, Bobbers e por aí vai…

  • Rodas de motos: como e por que cuidar delas

    Rodas MarchesiniVocê cuida bem das rodas de sua moto? Sabe o que é realmente necessário para que elas continuem fazendo seu papel sem causar problemas?

    Componente fundamental em praticamente todo veículo, as rodas em uma motocicleta têm um papel crucial, pois delas depende boa parte do equilíbrio, estabilidade e resposta exata aos comandos do motociclista.

    Existem basicamente dois tipos de rodas de motocicleta: as raiadas e as de liga leve. As primeiras são as mais comuns, compostas por três componentes básicos: aro, cubo e seus elementos de união, os raios. Já as rodas de liga leve são peças monobloco, geralmente feitas de uma liga metálica na qual o alumínio é o componente principal. O objetivo de mesclar alumínio a outros metais é obter características de leveza e/ou resistência adequadas à motocicleta que a roda vai equipar.

    QUAL A MELHOR RODA?
    Esta pergunta, automaticamente, gera outra: para qual finalidade? Uma roda destinada a uma motocicleta pequena, leve e pouco potente não será submetida a grandes esforços. Por conta disso, a opção do fabricante é nunca exagerar, equilibrando de maneira ideal a resistência ao menor peso possível. Rodas pesadas demais influem não só no aumento do consumo mas também na dirigibilidade. Quanto maior e mais veloz for a motocicleta, mas importante será equacionar de maneira ideal a resistência e o peso.

    Outro fato importante diz respeito não apenas ao tamanho, permormance e peso da moto mas também à sua finalidade, pois em uma moto destinada ao fora-de-estrada, por exemplo, a capacidade de resistir a impactos deve ser maior do que em uma moto superesportiva, destinada ao uso prioritário em pistas com boa pavimentação.Rodas raiadas com Marc Marquez


    De uma maneira geral, as rodas mais comuns, raiadas, têm aros e raiação de aço com cubo de liga leve. Nas mais elaboradas motos para prática do off-road, sejam elas as cross mais radicais ou as enduro profissionais, de diferentes calibres, as rodas também são raiadas.

    O que difere as rodas raiadas que equipam as motos utilitárias mais simples das mais sofisticadas off-road? O material utilizado especialmente no aro. Sai o aço, barato, e entra a cara liga de alumínio. Em um hipotético choque com um obstáculo, buraco, pedra ou desnível, uma roda raiada terá naturalmente uma maior capacidade de absorção de impacto.Os raios “trabalham”, oferecendo a flexão que atenua e redistribui a intensidade do impacto.

    O mesmo acontece com o aro: se for de liga leve, a capacidade de flexão maior que a do aço o faz ter mais resistência a amassados ou ruptura.

    Nas rodas monobloco de liga leve, a capacidade de absorção de choques é naturalmente menor, pois aro, raios e cubo são peça única realizada de um mesmo material, e desta maneira não há elementos de diferentes níveis de flexibilidade.

    Então uma roda raiada é sempre melhor que uma de liga leve? Não, pois isso depende – como dito no início – do tipo de motocicleta. Motos muito potentes e rápidas exigem uma roda mais “precisa”, que não flexione sob o efeito de grande potência ou forças extremas como as enfrentadas em curvas rápidas.

    Deste moto, rodas monobloco de liga-leve, sejam elas fundidas (as mais comuns e baratas) ou os mais caros modelos forjados, são perfeitas.

    Uma moto grande, potente, mas com características de utilização mais "tranquila", como por exemplo as grandes custom estilo Harley-Davidson, podem ter rodas raiadas desde que sejam robustas, pois neste tipo de moto a exigência por precisão direcional e os esforços devidos à alta velocidade são mínimos.Rodas raiadas

    COMO CUIDAR
    O principio básico é a análise visual constante das rodas, assim como “afiar” sua percepção para perceber alterações na moto, como vibrações anormais ou “puxar” para um lado.

    Pequenos amassados em rodas raiadas, sejam elas dotadas de aros de aço ou de liga-leve não são obrigatoriamente motívo de pânico, mas exigem uma consulta a um profissional competente e especializado.

    Muitas vezes o aro pode ser desamassado sem que isso represente um risco à segurança, dirigibilidade e resistência a futuros impactos. Porém, se o amassado for grande, e, pior, houver quebra de alguns raios, não economize: troque o aro e mande revisar toda a raiação.

    Aliás, mesmo sem sinais de amassado, rodas raiadas terão sua performance ideal e vida últi aumentada com o devido tensionamento dos raios e verificação do alinhamento do aro em relação ao cubo.

    E, quanto a este, é mais raro – mas não impossível – que grandes choques causem trincas ou rachaduras, principalmente nos locais de ancoragem dos raios. Nesse caso, JAMAIS caia na conversa de que uma soldinha resolve: cubo não se solda, se troca, tanto por conta de avarias quanto por causa do desgaste no caso de motos com freio a tambor. Portanto, olho vivo: buscar amassados, rachaduras e raios soltos é tarefa periódica (a cada mês, no mínimo, ou até menos em caso de frequentar pisos muito ruins).

    As rodas de liga leve não fogem desta receita de inspeção visual constante, mas demandam ainda maior cuidado com relação a amassados. Nelas, não há como ser condescendente: uma vez amassadas, troque-as. E, de preferência, inutilize-as, evitando que um mau profissional as “conserte” e repasse para um incauto.

    Consertar rodas de liga leve é um pecado. Desamassá-las exige duas ações que comprometem a resistência da roda: uso de calor e/ou pancadas. Tanto um como outro método podem, aparentemente, fazer a roda voltar ao seu formato original, mas não se engane: ela jamais voltará a ter suas características de resistência originais.Rodas de liga leve

    Quanto maior, mais pesada e potente for a moto, piores serão as consequências, das quais as mais comuns são o perene desalinhamento e a fragilidade que, em caso extremo, leva a uma quebra repentina. Imaginou?

    Outro grave aspecto é que, de um modo geral, motos com rodas monobloco de liga leve usam pneus sem câmara que, por sua natureza, exigem um contato perfeito do talão do pneu com a face interna do aro. Se o aro estiver amassado, a perda de ar ocorrerá. Pequeno amassado, pequena perda, grande amassado, esvaziamento rápido.

    Se acaso acontecer o azar de, em uma viagem, de a roda amassar e a perda de ar for significativa, usar a marreta de borracha de uma borracharia vale para rodar de volta para casa. Isso desde que os quilômetros não sejam muitos e que a atenção seja redobrada, assim como a velocidade a mínima possível.

    Rodas, como dito no começo, são um elemento crucial para a saúde da motocicleta e, consequentemente, de seu dono. Cuidar delas é obrigatório e tarefa periódica a ser realizada de maneira precisa e sem concessões pois, no caso, o barato pode sair muito caro, mesmo.

  • Valentino Rossi e Marc Marquez não usam ABS em moto na pista; saiba o motivo

    Marc Marquez
    Hoje a opinião geral sobre o sistema que impede as rodas de um veículo travarem em frenagem, mais conhecido por ABS (
    sigla de sistema antitravamento de freios, em inglês) é quase uma unanimidade. Os poucos que “torcem o nariz” para essa maravilha da tecnologia o fazem ou por desconhecimento de sua mais do que provada eficiência ou por conta do sobrepreço que tal equipamento acrescenta ao valor das motos.

    A opção de se ter ou não ABS está, porém, com data marcada para terminar: a partir de 1º de janeiro de 2019 toda motocicleta vendida no Brasil com motor igual ou maior do que  300cc deverá obrigatóriamente ter freios ABS como noticiado no final de dezembro do ano passado.

    A lógica que faz veículos, sejam eles motos, carros, caminhões ou até mesmo aviões – os primeiros a usar tal dispositivo – serem mais seguros se equipados com freios ABS é simples: manter os pneus girando no limiar do travamento para diminuir a velocidade reduz muito a distância de frenagem se comparado à esfregada de borracha no solo que rodas travadas provocam, assim como permitem ao condutor manter algum controle sobre o veículo. Na frenagem travada, ou seja, sem ABS, o desvio de trajetória ou derrapagem será o menor dos problemas já que em uma moto o travamento da roda dianteira significa invariavelmente um tombo.

    VEJA COMO FUNCIONAM OS FREIOS ABS NAS MOTOS:


    Um dado que incentiva o posicionamento dos que não consideram os freios ABS como fundamentais é o fato de que nas competições de alto nível tal componente não é usado, nem na MotoGP, nem na Fórmula 1. A consideração geral que flui da boca desses inimigos do ABS diz respeito à habilidade: se grandes pilotos como Valentino Rossi e Marc Marquez dispensam o sistema, o que impede nosso livre-arbítrio, nos julgarmos talentosos ou cuidadosos o suficiente para não precisarmos do sistema?

    Tal ponto de vista rende grandes discussões, mas é importante frisar que o ABS não é usado na competição, especialmente nas motocicletas, por razões que vão bem além do óbvio talento que os grandes pilotos da MotoGP – ou de qualquer outra competição com motos no asfalto – devem ter.Valentino Rossi


    PESO e TAMANHO
    Por mais que os sistemas tenham perdido peso e dimensões externas, o ABS ainda representa um “fardo” pesado que nenhum projetista quer acrescentar à sua motocicleta. Seja ao preparar uma moto de normal venda ao público para uso em competição, seja ao projetar uma máquina específicamente para este fim, a reducão do peso ao limite regulamentar é sempre um alvo, assim como posicionar as massas de maneira ideal na motocicleta. Isso pode significar a diferença entre moto vencedora ou outra que ocupa as últimas posições na classificação.

    As mais modernas unidades de controle de um sistema ABS pesam menos de 1 quilo, e a esse aparentemente mísero quilinho devem ser acresentado o peso de cabos elétricos, dutos e sensores, o que facilmente duplicará a cifra. E quanto ao posicionamento, por ser um elemento de controle eletrônico, não é conveniente situar a unidade de controle do ABS em partes baixas da moto, o que seria ideal.

    Todavia, efetivamente não é peso ou tamanho que faz do ABS um equipamento cujo uso não é considerado em motos de competição, mas sim a própria ação dos pilotos na difícil arte de explorar o limite de suas motocicletas. Mesmo os mais evoluídos sistemas que impedem o travamento de rodas em frenagem não conseguiram eliminar 100% de uma característica do ABS que passa praticamente despercebida da maioria dos usuários, mas que atrapalha muito quem busca o limite: o ABS não favorece frear forte e ao mesmo tempo inclinar a motocicleta em busca do ponto de tangência da curva.

    Frear em curva não pode? Poder, pode, mas com graaande suavidade! Freio dianteiro quase nada, já o traseiro às vezes até serve para o que se chama de “fechar a trajetória”, técnica aliás recomendável em certas situações mas que merece uma explicação que fica para outra coluna. Aqui o assunto é o ABS e esse praticamente impede que um piloto mergulhe de maneira radical para dentro da curva ainda com os freios pinçados, o que é corriqueiro em competição.

    Outro aspecto negativo vem da menor sensibilidade que os comandos do freio de uma motocicleta dotada de ABS oferecem ao seu piloto. A existência de uma válvula de alívio da pressão exercida nos comandos, que em síntese é o que evita a roda travar, estabelece uma espécie de  barreira ou “filtro” entre os dedos do piloto e a frenagem, fator este que não é apreciado por quem busca o limite e, sobretudo, tem sensibilidade e habilidade superior.

    Pioneira em equipar motocicletas com freios ABS, com a K 100 LT, em 1988, a marca alemã BMW equipa todas suas motos com o sistema, entre elas sua furiosa superesportiva de altissima performance, a S 1000 RR. Tal moto exige bem pouca preparação para participar de competições de alto nível uma vez que vem praticamente pronta para uso em pista. BMW K 100 LT, de 1988

    Dona de sofisticada eletrônica embarcada, a S 1000 RR permite ao seu usuário escolher entre diversas configurações de comportamento de motor, suspensões e… freios! Selecionando o modo “Slick” através de botão no painel, nome que não à tôa alude aos pneus de competição, o sistema ABS é simplesmente desligado, favorecendo a tocada radical que mencionamos. No extremo oposto está o modo “Rain”, chuva em inglês, opção na qual o ABS não só atua como o faz de maneira bem mais intensa.

    A Honda também introduziu um sofisticado sistema de frenagem antitravamento em sua família de motos superesportivas, entre as quais as mais notórias são a CBR 1000 RR Fireblade e a CBR 600 RR. Nelas o software de controle do ABS não leva apenas em consideração a iminência do travamento captada por sensores mas também age no sentido de distribuir poder frenante em ambas rodas e com diferente percentual de acordo com parâmetros capturados por outros sensores que não os de rotação instalados nas rodas. Um complexo mix de “notícias” sobre o ângulo de inclinação da moto, abertura do acelerador, marcha engatada e muito mais – além da óbvia ação do piloto na alavanca e/ou pedal de freio – é que determinará a ação de servomotores que enviarão a pressão hidráulica a la carte às pincas de freio dianteiras e à traseira.BMW S 1000 RR

    Quem pilota estas supermotocicletas com estes freios ABS de última geração precisa ser efetivamente um superpiloto para perceber a atuação desses sistema e, principalmente, ter condição de considerar que ele atrapalha a pilotagem, ou seja, induz a tempos de volta maiores do que aqueles que seriam possíveis no caso da motocicleta não ter o sistema ABS. Mas aí, caros amigos, frisamos o termo “SUPERPILOTO” usado linhas atrás: quem usar uma dessas máquinas apenas para, de vez em quando, participar de um “track day” ou de um passeio veloz em estradas abertas ao tráfego normal fará uma opção excelente e muito mais segura se optar por ter o ABS do que não tê-lo. Humildade que certamente se reverterá e segurança indiscutível sob todos os pontos de vista…

    FOTOS: Divulgação / REUTERS/Max Rossi / BMW

  • O que as fabricantes de moto estão fazendo para convencer você

    Fábrica da Honda em Manaus


    O ano de 2011 foi o ponto alto nas vendas de motocicletas no Brasil, nada menos do que 2,04 milhões delas saíram das lojas para as mãos de felizes consumidores. Este número grandão não só demonstrava um bom momento de nossa economia como os acertos dos investimentos feitos especialmente em Manaus, que, desde meados da década de 1970, abriga o grosso de indústria motociclística.

    Daquele belo momento para o atual, um triste e cinza "inverno" se abateu sobre o mercado de motos brasileiro: das mais de 2 milhões de unidades vendidas passaremos a, talvez, 1,3 milhão no fechamento de 2015, se o ritmo de vendas se mantiver. Mas há quem diga que uma piora ainda maior estaria delineada no horizonte dos meses que restam deste duro 2015.

    Altos e baixos fazem parte de qualquer atividade. Porém, a marcha a ré dos últimos anos foi brutal demais, e fez o setor retroceder praticamente uma década: voltaremos aos números de vendas de 2006, o que, para a indústria de motos e toda a cadeia de atividades que dela depende, representa um problema enorme.

    Yamaha YZF-R3 (à esq) e Honda CB500

    Mais variedade

    Qual o tipo de reação é possível a este cenário sombrio para uma atividade que, em certos momentos da última década, cresceu mais de 20% ao ano? Talvez a melhor resposta seja continuar fazendo sua parte, e bem feita.

    Um observador mais atento não terá dificuldades em perceber que, em vez de sentar nos louros da vitória, a indústria da motocicleta no Brasil fez uma bela lição de casa de 2006 para cá.

    A oferta de modelos cresceu, proporcionando aos clientes a oportunidade escolha variada. E a tecnologia empregada evoluiu muito, seja pela necessidade de atender exigentes normas antiemissões de poluentes e condições de utilização difíceis como para alinhar a volumosa produção ao que de melhor se faz em todas as partes do globo. Sólido, moderno e eficaz, o produto "made in Manaus" poderia ser vendido em qualquer parte do planeta sem fazer feio.

    De 2006 a 2015, a linha se qualificou e se diversificou. Dez anos atrás as duas principais empresas do setor, Honda e Yamaha, produziam 30 modelos de motos diferentes, hoje é o dobro disso.

    E se, anteriormente, uma nova motocicleta lançada em mercados internacionais como Europa ou EUA demorava anos para ser introduzida no Brasil, hoje este prazo caiu para meses. Exemplos recentes são a Yamaha YZF-R3 e as Honda CB 500 e CBR 500.

    Modelos mais qualificados

    Aliás, estes dois modelos exemplificam bem a determinação de reagir à marcha a ré do setor. Os modelos utilitários como a Honda CG e sua rival Yamaha YBR sempre foram e serão os responsáveis pelo grosso da venda, lógico. Mas, tendo em vista que não foi a falta de vontade do povo de comprar motociclietas que determinou a queda nos emplacamentos, e sim o crédito cada vez mais escasso, oferecer modelos mais qualificados e que, na teoria, dependem menos de financiamento é uma estratégia clara.

    Para as utilitárias a "lei" é incentivar venda por consórcio e fazer os braços financeiros das fábricas. O Banco Honda, por exemplo, atuar mais agressivamente em parceria com as concessionárias, deixando quem entra na loja difícilmente sair a pé.

    Os quatro últimos meses de 2015 serão marcados por uma verdadeira guerra pelo cliente. Gigantes como Honda e Yamaha, assim como pequenos produtores de modelos de nicho, como a recém-chegada KTM ou a Triumph, estarão ativos como nunca para atrair clientes.


    O salão vem aí

    Uma forte leva de novidades é aguardada em um movimento que terá seu ápice na capital paulista, onde na segunda semana de outubro próximo será realizada a principal feira do setor, o Salão Duas Rodas.

    Voltar aos bons tempos é a palavra de ordem, enfim, e, se a economia do país não colabora, as fabricantes estão se encarregando de fazer tudo o que estiver a seu alcance para que o forte investimento feito na produção e distribuição não se perca. Tudo isso, apesar do dólar nas alturas e da escassez de crédito, valerá a pena para sustentar a clara opção dos brasileiros pela motocicleta.

    Salão Duas Rodas 2011

     

    Fotos:
    Fábrica da Honda em Manaus - Suelen Gonçalves/G1
    Yamaha YZF-R3 e Honda CB500 - Divulgação
    Salão Duas Rodas - Raul Zito/G1

  • Moto que substituiu o jegue se rende à tecnologia


    Quanto mais simples, melhor. E se custar pouco, então…

    Estes são os princípios que regem o mercado de motocicletas nas regiões mais remotas do Brasil, locais onde os conceitos de “rua” ou “estrada” são bem diferentes daqueles que os habitantes das grandes cidades brasileiras conhecem.

    Nestes rincões, onde a rusticidade é essencial para a sobrevivência de seres e objetos, uma pequena motoneta é rainha absoluta: a Honda Pop que, justamente neste mês, recebeu sua primeira grande atualização desde que chegou ao mercado nacional, no já distante ano de 2006.

    Conceitualmente simples como um prego, a nova Pop recebeu um motor mais potente, atualizado não apenas pelo pequeno acréscimo de cilindrada – passou de 97,1 para 109,1 cm3 – mas, principalmente, pela introdução da alimentação por injeção eletrônica substituindo o carburador, componente em vias de extinção como comentamos em outra coluna.

    Apesar do “upgrade” técnico, em grande parte ditado pela necessidade de atender às mais restritivas normas para baixar as emissões de poluentes na atmosfera determinada pela segunda fase do Promot 4 (Programa de Controle de Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares), previsto para vigorar no país a partir de janeiro próximo, a Honda levou a sério o ditado que reza não mexer em time que está ganhando, e assim deixou a Pop exatamente como veio ao mundo quase uma década atrás. Honda Pop 110i

    E como ela veio?

    A Pop seguiu as pegadas do modelo que abriu as portas para a Honda se tornar a marca nº 1 em vendas de motocicletas do planeta Terra: a Honda Super Cub, idealizada pelo fundador Soichiro Honda. Como a Pop, era um concentrado de essencialidade, uma campeã em economia, facilidade de manutenção e eficiência dinâmica.

    Um modelo herdeiro deste, tido como a galinha dos ovos de ouro do império Honda, foi fabricado no Brasil de 1992 até 1998. Era o C 100 Dream, que preservava o visual e as características técnicas das Cub originais (iniciais de Category Upper Basic, em inglês) do final dos anos 1950.

    Talvez por este ar retrô, então fora de época, fez sucesso relativo entre nós, mas serviu para abrir caminho para que a versão seguinte, a Honda Biz, de visual muito mais caprichado – mas respeitadora dos princípios de simplicidade operacional e técnica – fizesse e ainda faça estrondoso sucesso. Honda Super Cub de 1958
    Honda Super Cub

    E a Pop, onde entra nessa história? Como se fosse possível (e foi!) a Honda simplificou ainda mais o que já era muito simples. Em vez do câmbio com embreagem automática das Dream e Biz, um câmbio normal de quatro marchas. Em vez de uma carenagem mais ampla, protegendo pés e pernas (e com custo de produção maior…), uma “simplérrima” capa plástica recobrindo o chassi.

    A discreta elegância estética da estirpe Cub cedeu lugar a um design muito criticado, mas de inegável efeito prático pois a Pop deixa claro que não irá estragar se cair, pois não tem nada ou quase nada para quebrar! E mais: a Pop não ter o ar delicado, quase feminino da Biz, o que faz dela – segundo a Honda – ser um modelo escolhido predominantemente por homens.

    O jegue

    A comparação da Pop com o jegue não se dá apenas por ela ter substituído o animal no leva e traz de coisas e gente. Como o bicho, ela aguenta tudo, exigindo pouco: o consumo baixo favorece o pequeno tanque estar localizado sob o assento e este por sua vez é longo como o lombo do burrico, como que convidando a uma família inteira caber nele, coisa que não é recomendada de nenhum modo do ponto de vista da segurança, mas é o que se vê na prática no “cenário de operações” do modelo, os citados rincões remotos.

    As suspensões são robustas e o motor incansável. Peso baixo e uma altura do banco em relação ao solo que não atrapalha mesmo quem não tem estatura elevada faz o resto, tornando a Pop a herdeira natural das tropas de jegues no transporte dos brasileiros do Norte, nordeste e Centro-Oeste, regiões que absorvem nada mais, nada menos, do que 97% das vendas do modelo, o 4º mais emplacado no Brasil em 2015 até julho passado.

    Concorrentes? A receita da Super Cub foi seguida à risca por muitas outras marcas. Aqui no Brasil a mais notória delas é a Yamaha Crypton dona de 3% do segmento enquanto a rival Honda Biz abocanha mais de 55%. Quanto à Pop, ela não tem rival direto, nada se parece com ela, nenhuma outra marca ousou simplificar tanto o que já era tão simples.

    O preço sugerido de R$ 5.100 faz da Pop o modelo mais acessível da marca, quase 15% mais barata que a Biz 100. Com a economia brasileira de nariz apontado para o chão, é de se prever que a Pop, agora ligeiramente mais potente e possivelmente ainda mais econômica, possa começar uma nova carreira, sendo percebida como a alternativa adequada também para a locomoção nos grandes centros urbano, determinando uma inesperada chegada do jegue sobre rodas ao ex-Sul/Sudeste maravilha.Yamaha Crypton
    Honda Biz 125


    FOTOS: Roberto Agresti / Caio Mattos / Divulgação

Autores

  • Roberto Agresti

    Roberto Agresti pilota e escreve sobre motocicletas há três décadas.

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