• Andar de moto: respeito é a regra número 1



    Encarar o trânsito de uma metrópole, pegar uma rodovia ou mesmo percorrer um pequeno trajeto em uma localidade tranquila com uma motocicleta. Muitos gostariam de fazer isso mas nem todo mundo pode ou consegue. Se você tem esta capacidade, parabéns, sinta-se um privilegiado, mas coloque uma palavra em sua cabeça: respeito! Por você e pelo veículo que você conduz.

    Nem todos os seres humanos são capazes de coordenar os cinco comandos que uma motocicleta normalmente tem com apenas quatro membros. Esta conta que não fecha implica em ter certa habilidade, talento, e se a isso somarmos o necessário equilíbrio e uma refinada percepção espacial a conclusão é que, sim, quem pilota moto é um privilegiado.

    Quase um super-homem? Menos, bem menos... Não é preciso exagerar. Conduzir uma motocicleta é uma experiência fascinante, para alguns quase uma experiência mística. É o meu caso: há exatos 46 anos ando de motocicleta e ainda lembro em detalhe de minha "primeira vez". Naquele instante mágico tive certeza de que as motos iriam fazer parte de minha vida para sempre, e acertei.

    Porém nunca fui um super-homem do guidão, nunca tive habilidade acima da média. Apenas entendi loguinho que andar de moto é que era especial, e não eu e desenvolvi um saudável respeito pela máquina e pelos meus limites. Quase cinco décadas depois dessa estreia meu retrospecto é bem positivo, jamais tive um episódio "doloroso".

    Ué? Não dizem que a moto é o veículo mais perigoso que existe? Como explicar tanto tempo e tantos quilômetros rodados com um veículo que, como o Jô Soares gosta de dizer, "foi feito para cair", sem nenhum acidente digno de nota, nenhum ossinho quebrado sequer?



    A MOTO É PERIGOSA?
    Não. Perigoso é quem a pilota sem o devido respeito e, principalmente, sem conhecer seus próprios limites. Muitos jamais tentaram andar de motocicleta vencidos pelo medo. Outros estão no extremo oposto e fazem da moto um instrumento para exibir a quem quer que seja uma coragem suicida.

    Acredito que, como sempre, a verdade está no meio: é muito frustrante nem tentar fazer algo que pode ser positivo por temor, assim como é pouco saudável exceder. Andar de motos não me exigiu dom ou talento acima da média, mas sim – bato de novo na tecla – perceber quanto antes que o veículo exige respeito.

    Desaforos ao guidão custam caro, erros são dolorosos e podem ter consequências bem ruins e irreversíveis. Fatalidades acontecem em qualquer atividade, mas a maioria das histórias ruins sobre motociclistas que ouvi ou vivenciei ao longo de minha vida tinham um componente de abuso ou excesso, do que fosse. De velocidade, de autoconfiança, de exibicionismo e por aí vai. 

    Portanto, RESPEITO é a regra nº 1 a ser seguida desde o primeiro metro de sua vida de motociclista. Constatacão irrefutável: existem motociclistas experientes e motociclistas irresponsáveis. Mas não existem motociclistas experientes e irresponsáveis... Os irresponsáveis ao guidão não terão tempo de se tornarem motociclistas experientes.

    Alguns são mais habilidosos, ousados, ou ambos. A eles, parabéns, e que além disso tenham sorte. Mas, com ou sem grande dom para o guidão, conhecer seus limites é importante. Levar motos ao extremo é coisa para poucos. O melhor é explorar outras capacidades, a de se concentrar e querer fazer bem feito. Resumindo, menos rapidez e malabarismos e mais capricho.  


    Concentração em 100% do tempo
    Há décadas me divirto pilotando motos de todo tipo e tamanho. Além de me levarem para lá para cá, motos são meu ganha pão, profissão invejável que me fez quase que literalmente conhecer o mundo todo. Por conta disso as pessoas me pedem conselhos sobre como aprender a andar de moto de maneira segura, como começar, quais os melhores modelos e tudo mais. Sempre tenho muito a dizer mas o que mais gosto de enfatizar é que andar de motocicletas exige 100% de concentração 100% do tempo.

    Pode parecer exagerado mas ao guidão não há margem para ceder ao risco. Trocando percentuais por quilômetros a coisa fica mais clara: em uma viagem de 100 km não se pode ficar concentrado em apenas 97 km eles, e rodar distraidão, fora do ar, sem olhar direito para frente, para o chão, para aquilo que te cerca durante dois longos quilômetros. Percentualmente 2% parece nada, mas em dois quilômetros pode dar muita coisa errado.

    Em um automóvel, pequenos vacilos ao volante como não reparar em buracos, lombadas ou naquela areiazinha esparramada na pista não terão consequências muito ruins. Já na moto a distração pode se transformar em uma grande dor de cabeça. Dor de mão, dor de pé ou, na melhor das hipóteses, dor de bolso.

    Aos onze anos de idade, no dia em que montei naquela cinquentinha azul, eu não poderia imaginar quanta felicidade, quantas coisas boas e emocionantes as motocicletas me dariam vida afora. Hoje tenho o privilégio de poder contar tudo isso para vocês, passar adiante minha experiência e o conhecimento acumulado.

    Espero que as "Dicas de Motos" sirvam para vocês, leitores, aperfeiçoar suas vidas de motociclistas que, repito, será tanto melhor quanto maior for o RESPEITO. Pelos limites da moto e especialmente pelos seus. Evite excessos e seja feliz! 

  • Mexe na moto? Saiba qual tipo de 'customizador' você é

    Moto-esqueleto customizaçãoDeixar a moto do seu jeito, ao seu gosto, a “sua cara”. Esta não é uma tendência nova mas recentemente vem ganhando força, cada vez mais espaço. Para falar desse mundo efervescente onde preservar a originalidade não é a praia, escolhemos três tipos tipos de personagens-motociclistas. Veja em qual deles você se encaixa.

    TIPO 1, VISUAL TOTAL: Ah, o charme da customização! A palavrinha é batida, remete sempre à busca de uma aparência exclusiva, diferente de todas as outras motos. Caçar uma nova e singular identidade visual para a motocicleta é o alvo e nesse “Tipo 1” se encaixam não apenas os clássicos donos das custom (a mãe deste estilo de moto é a americaníssima Harley-Davidson) como também os cada vez mais numerosos fãs das café-racers.

    Essa “religião” prevê mandamentos simples mas rígidos. Primeiro deles é o desprezo à originalidade. A moto 0 km que acaba de chegar a garagem da casa precisa ser imedatamente “exorcizada” de suas características comuns.

    É um rito de passagem que tanto pode ocorrer com a troca de um simples par de pedaleiras por outro mais “style” como desencavar do armário de tralhas o lendário par de semiguidões da moto de seu avô que há 50 ou mais anos esperam para voltar à ativa. Radicalismo faz parte do  mundo do Tipo 1. Serrar o subchassi para encaixar um banco diferente ou uma rabeta monoposto? Pode!Moto ouro customização

     Lixar o tanque arrancando a tinta para que a ferrugem seja a cor predominante, no melhor estilo rat-bike? Pode! E na direção oposta, também é autorizado folhear a ouro o quadro ou comprar logotipos cravejados de perdas sempireciosas no melhor estilo custom-ostentação. Bom ou mau gosto para os customizadores ou café-racers lovers são conceitos individuais.

    Meu conselho, qualquer que seja a atitude, tendência ou gosto, é não perder de vista a funcionalidade: deixar a moto legal de olhar, atraente, chamativa, impressionante; mas sem matar a maneabilidade, a capacidade de frear, curvar e acelerar. Ou seja, deixar a moto boa para andar e não só olhar.

    TIPO 2, RACING PRO: Esta turminha em vez da caça à individualização estética prefere fuçar, alterar a parte técnica. Performance é o nome de seu Deus e extrair o máximo tanto do motor como da parte ciclística (freios, suspensões, chassi) é um objetivo de vida.

    A boa aparência até pode até ser uma consequência do trabalho, mas não seu objetivo principal, que é a busca de mais esportividade. A timidez no começo – substituir apenas a ponteira de escape por exemplo – pode dar lugar à uma grave evolução da “doença”, a obsessões caras e complexas, como substituir todo o sistema de escapamento por um feito do leve e caríssimo titânio.

    E como se fosse um tumor, a coisa se espalha: do escape a rodas mais leves, calçadas com pneus chiclete, passando por freios de especificação superplus e, finalmente, ele, o motor. Aumento da capacidade cúbica, algo que no passado era comum, hoje é mais raro pois compensa mais buscar mais cavalos atuando em aparatos eletrônicos, reprogramando a ECU, o cérebro que comanda parâmetros ligados a gestão da alimentação e etc.
    Ducati PanigaleCaríssimas são as alterações que envolvem suspensões, onde para se ter um click aqui e outro acolá determinando mais isso ou menos aquilo (compressão, retorno…) é preciso cifras que muitas vezes superam o valor da moto original, acredite.

    Meu conselho: seja qual for o poder da conta bancária, raciocinar sobre a efetiva possibilidade de usar a melhor performance é exercer sabedoria. Em geral, as superesportivas atuais já tem um nível de desempenho que está bem além da maioria da capacidade dos pilotos. Melhorá-las tecnicamente não é, porém, errado nem impossível. Mas seja honesto com pelo menos duas realidades: seu talento, sua capacidade de desfrutar das melhorias e a condição para uso. Para andar na pista de vez em quando, ok. Para apavorar (e se apavorar) na estrada, melhor não exagerar nem na fuçada, nem na animação… 

    TIPO 3, PRÁTICOS: Este terceiro grupo tem menos charme, é menos vistoso mas talvez seja o mais disseminado. Trata-se da turma que quer simplesmente ajustar a suas necessidades detalhes da moto que tanto podem ser de ordem estética quanto prática. Neste segmento de motociclistas se encaixam vários “personagens”.

    Pode ser desde o motociclista que instala um baú na rabeta para carregar pequenas tralhas como também o praticante de fora de estrada em fins de semana, que sem bala para ter uma moto específica para a trilha ajusta a sua trail para diversão sem chateação, percebendo a possibilidade de melhorar detalhes que tanto podem ser relacionados à utilização prática como para preservar a integridade da máquina. Exemplo?

    Trocar manetes de freio e embreagem por outros que tanto podem ser mais robustos como menores, dobráveis e… mais resistentes às quedas. Encapar o tanque com adesivo é coisa antiga mas eficaz, e o mesmo se aplica a instalar uma cinta na rabeta para a eventualidade de ter de desatolar a moto.Moto com baú
    Já os que terra não gostam de ver nem em fotografia poderão optar por outro gênero de mudanças de ordem prática, que podem ir desde um assento mais adequado à pernas curtas como espelhos retrovisores de outro formato e/ou altura, passando por guidões assim-assado, pedaleiras assado-assim ou aparatos de conforto/proteção como parabrisas, protetores de mão e reforço no aparato de iluminação. Tudo visando a melhora da utilização, enfim.

    Meu conselho: respeitar especificações e leis. No caso do baú traseiro, saber quanto que o fabricante do acessório recomenda em termos de peso máximo é meio caminho andado para não ter dor de cabeça. A outra metade é ler o manual da moto e saber quanta massa e onde pode ser instalada na traseira sem que exista prejuízo da maneabilidade e segurança. Sensibilidade para avaliar o que muda quando componentes cruciais (os manetes!) são trocados é mais que óbvio.

    Enfim, seja qual for o tipo de motociclista, 1, 2 ou 3, é brutalmente importante lembrar sempre que exagero, em qualquer coisa, seja de ordem estética, técnica ou prática é sempre isso mesmo, um exagero.

    VEJA DICAS DE COSTUMIZAÇÃO EM MOTOS DE BAIXA CILINDRADA:



    FOTOS: Onno Wieringa / Frank Sander/ Divulgação / Marcelo Camargo/Agência Brasil

  • Honda SH 300i e Dafra Citycom 300i: preço é a grande diferença



     

    O preço divulgado pela Honda para uma de suas grandes novidades deste ano no Brasil, o scooter SH 300i, foi recebido com surpresa, na verdade com forte indignação. O valor sugerido, R$ 23.590, é um número “forte”, especialmente tendo em vista que o concorrente único, o já veterano – desde 2010 em nosso mercado –, Dafra Citycom 300i sai da loja por bem menos, R$ 17.890 (ou R$ 18.490 se a versão for o Citycom S 300i, mais potente).

     

    Uma passeada pelos comentários do leitores na reportagem sobre o lançamento da novidade Honda que foi publicada aqui mesmo dias atrás revela que praticamente 100% dos que se manifestaram o fizeram um tanto enfurecidos. Faz sentido pensar que entre o bem conceituado Dafra e o ainda desconhecido para o público geral Honda a diferença a pagar é um exagero, da ordem de R$ 5.100 (ou R$ 5.700 para o Citycom S). Com a quantia pedida pelo SH 300i dá para sair da revenda Dafra montado no Citycom e ainda passar na Honda e levar uma Pop 110i mas…  é isso mesmo o que conta?

     

    Pelo lado da razão, é claro que sim. Os scooters de 300cc alvo deste meu blablablá se equivalem em linhas gerais e servem ao mesmo propósito: levar do ponto A ao B preferencialmente em ambiente urbano, mas sem arregar se houver um teco de rodovia a percorrer. Ambos tem rodas de 16 polegadas, boas engolidoras das irregularidades que não faltam em nossas vias, espaço generoso sob o banco e a nada indiferente proteção contra as intempéries oferecida pela dupla parabrisa-escudo, que deixam peito e pernas bem  limpinhos e sequinhos durante a maior parte do tempo. Mas um custa X, e outro X acrescido de quase 30%… Honda SH 300i
    “Ah, mas é Honda, né?” Isso se ouve frequentemente e na alma desta frase está, em poucas palavras, o que fez da marca a líder mundial quando o assunto é veículo de duas rodas motorizado (tecnologia, robustez, pós-venda, valor de revenda…). Mas há também a conotação pejorativa, a irritação que dá à marca da asa uma fama de malvada, de pesar a mão excessivamente praticando uma política de preços cruel já que na cabeça de muitos existem veículos tão bons quanto os da Honda custando menos e oferecendo praticamente o mesmo.

     

    Sem entrar neste delicado mérito,que certamente tem tons de um Fla-Flu motociclístico, será este o caso destes dois scooters? Um é tão melhor assim do que o outro? Ainda é cedo para dizer. Os testes comparativos ainda não foram realizados pelas revistas especializadas. Elas esmiuçarão igualdades e diferenças, vantagens e desvantagens, e haverá também o veredito do usuário que virá cm o tempo e com os quilômetros, que decretará julgamento sobre durabilidade, custo de manutenção e, na hora da vender, sobre a depreciação.

     

    SH é líder na Itália
    O que dá para dizer agorinha é que na Itália, maior mercado europeu para scooters, a família Honda SH formada pelo 300i e versões de 150 e 125 cc é a campeã nas vendas, líder disparada do segmento em 2015 ocupando os três primeiros lugares no ranking de vendas assim dispostos: 1º lugar para o SH 150 (8.450 unidades vendidas), 2º para o SH 125 (6.849) e, finalmente, o SH 300 em 3º (6.802).  

     

    E o Citycom 300i? Sim, também é vendido por lá mas não agrada tanto, foi o 66º no ranking 2015, com 258 unidades vendidas. Importante registrar que também lá o SH 300 custa mais: o valor em euros que o consumidor italiano paga, 5.190, equivale a R$ 20.973 ao câmbio da segunda semana de março. Já pelo Citycom S 300i a pedida é de 3.860, ou seja R$ 15.600. A diferença regula com a daqui, os mesmos R$ 5 mil e alguma coisa…

     

    O que define o preço?
    Ao contrário do que a irritada maioria pensa, preço de produto industrializado não depende tanto do humor do chefe na hora da definição, mas sim de uma infinidade de fatores. Custo de produção certamente tem peso grande, mas incide também o posicionamento dentro de segmento que se pretende e neste quesito, a Honda brasileira não se fez de morta e nem de fingida, admitindo que, sim, quer colocar a novidade SH 300i em um patamar “premium”, capturar um público alvo para o qual dinheiro nesta magnitude, R$ 20 mil, não é um grande problema.

     

    Comprova esta política “para poucos e bons” a quantidade de SH 300i que pretende vender este ano, apenas 1.000, e a distribuição fortemente orientada para suas concessionárias localizadas nos grandes centros, especialmente o sudeste do Brasil, tática que certamente está deixando muitos de seus mais de mil concessionários malucos de raiva pois não haverá SH 300i para todos. Dafra Citycom 300i S 2017

    Levando em conta que a Dafra vendeu 2.250 Citycom 300i em 2015 o que a Honda alega pretender em termos de venda não parece nem sub nem superestimado. Essa leva inicial a meu ver sumirá das revendas, na sequência haverá ajustes, de quantidade e de preço, claro. E o mesmo vale para a Dafra, grande introdutora deste segmento e que merece palmas tanto pela aposta certeira quanto pela escolha de ter a taiwanesa SYM como fornecedora de seu best-seller Citycom, cuja qualidade, eficiência e solidez fizeram dele uma referência de mercado. Antes ele estava só no segmento e agora tem um rival peso-mais-do-que-pesado. Para enfrentar a chegada do scooter Honda a Dafra mexeu no motor, cavou cavalos e manteve o preço razoável. Seus clientes terão motivos para lhe serem fiéis.

     

    A chegada do Honda SH 300i, portanto, pode ser interpretada mais com uma expansão do segmento do que um ataque frontal. Ainda mais com este desnível de preço. Talvez uma análise apurada determine que haja algo a mais do que o mais evidente “degrau” tecnológico que separa o SH 300i do Citycom S 300i, que não justifica toda a diferença de preço, mas ajuda a montar uma parte do quebra-cabeça: os freios ABS. Isso, sabemos, é um equipamento que não é exatamente barato.

     

    Será curioso daqui um ano olhar o que aconteceu. Apesar da queda geral nas vendas de motos o segmento dos scooters parace imune ao mau momento de nossa economia. A oferta de uma novidade importante pelo dono do mercado vai alterar a cena? Em março de 2017 teremos a resposta, tanto de como andará o mercado como sobre o preção da novidade. Afetou ou não? A quem, à Dafra ou ao consumidor. Ou ambos?  

     

    Antes de fechar, um causo: em 1986 a Honda decidiu importar um lote de uma supermoto. Naquela época a maior máquina disponível no Brasil era a Honda CB 450 e, para “apavorar” a clientela (e a concorrência!) trouxeram 700 unidades da CBX 750F, que foram disputadas a tapa, vendidas pelo triplo do preço sugerido. Certamente isso não irá ocorrer com o SH 300i. Os tempos são outros e também o fator de atração é diferente. Mas brasileiro, sabemos, adora novidades e por causa disso o preço – ora o preço! – às vezes conta bem pouco.

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  • Viajar de moto no final de semana: os 6 passos para o sucesso

    Dicas de motos viagem de final de semana - Yamaha Ténéré 660
    Sábado e domingo chegando, a moto na garagem e uma ideia na cabeça: viajar! Para o plano dar certo e você poder matar de inveja seus colegas no trabalho, contando a bola dentro que foi seu passeio, vale dar uma repassada nos pontos mais importantes que, se respeitados, vão tornar tudo uma maravilha. Vamos lá!

    DESTINO - Exagerar jamais. Escolha um destino próximo e fácil, levando em consideração duas capacidades fundamentais. A sua e a de sua montaria. Motos pequenas, as de 125 até 160 cc, sofrem e fazem sofrer em viagens de mais de 150 km o que significará pelo menos duas horas de guidão ou mais.

    Se o plano é fazer da viagem um momento de relaxamento, remédio contra o estresse do dia a dia, não passe da medida. Lembre-se que é melhor escolher um lugar próximo e, chegando lá, explorá-lo devidamente realizando passeios curtinhos entremeados de descanso do que escolher uma meta distante e chegar lá um trapo, sem condições de aproveitar as atrações (natureza, balada ou o que seja) do lugar.

    Se sua motos for média ou uma verdadeira comedora de quilômetros, estilo bigtrail ou verdadeira touring à la Goldwing, distâncias de até 300 km são admissíveis tendo em vista o conforto oferecido. Mas, mesmo assim, vale a observação: viagem de fim de semana de moto tem de ser bem pensada, na medida certa de sua disposição, para que não se torne um sacrifício. E isso vale mais ainda se alguém estiver ocupando a garupa.



    PREPARAÇÃO - Viagem curta não obrigatoriamente precisa ser desinteressante. Deste modo, prepare seu roteiro estabelecendo um objetivo claro. Se é simplesmente curtir a moto e desfrutar do enorme prazer que é pilotar, evite rodovias sem curvas. Afinal de contas, se o barato é sentir a moto, que graça tem se plantar em uma longa reta em velocidade constante?

    Já em uma estradinha que serpenteia entre vales e montanhas, cada curva revela um novo panorama, cada curva determina a prazerosa ação de frear, escolher a marcha certa e determinar a trajetória perfeita. Uma vez, duas vezes, mil vezes: não conheço motociclista que não goste de “trabalhar o braço”, caprichando na tocada em uma viagem.

    Outro componente do prazer é deixar a moto OK para encarar a diversão. Nos dias que antecedem a viagem rememore a situação: pneus ok e calibrados? Óleo? E os freios, aguentarão a quilometragem sem ferrar seu disco ou tambor por um imprevisível componente desgastado demais? E o sistema de iluminação, vai bem, obrigado?

    BAGAGEM - Menos é mais, sempre. Nada mais chato do que uma bagagem volumosa e/ou excessiva. E isso vale mesmo para motos equipadas de bolsas laterais, baú ou ambos. Mesmo se bem acondicionada dentro destes compartimentos, muita coisa sempre é sinônimo de mais peso, o que sempre prejudica a agilidade, uma das qualidades mais relevantes de qualquer motocicleta.

    E, lembre-se também que excesso de quilos causará maior desgaste e potencializará problemas de toda ordem, principalmente o maior deles se sua moto não tem as citadas malas: a fixação da desgraçada! Ô coisa chata amarrar a bagagem e, poucos quilômetros depois, ter de parar pois “o monumento” está despencando, ou coisa pior como aquele elástico que enrosca entre a corôa e a balança de suspensão (arghhh!). Enfim, leve pouco peso e pouco volume, o curto espaço de tempo de um fim de semana não pode ser desperdiçado com chatices.




    PREVISÃO - A do tempo é a primeira. Fuja do mau tempo que sempre aumenta os riscos. Você até pode ser um excelente piloto na chuva, e gostar do desafio da tocada com baixa condição de aderência e visibilidade mas isso promove estresse, aumenta a chance de problemas, até mesmo aqueles que nada tem a ver com sua moto ou seu talento.

    Exemplo: enchentes, deslizamentos de terra, estradas interditadas… Existem várias maneiras de se informar sobre a meteorologia, TV, sites dedicados e etc, e assim não há desculpa ao optar por um fim de semana onde os céus não estavam sorrindo para motociclistas. Outra aspecto importante é o equipamento, sua indumentária. Passar frio ao guidão é péssimo, idem excesso de calor. O traje exato é fundamental.


    ATITUDE - Maneirar na expectativa é sagrado. Se você vai a um lugar conhecido, considere que tudo pode ter mudado, e aquela maravilhosa viagem de “X” tempo atrás hoje pode ter se transformado em uma total decepção. Controle os nervos, respire fundo e tente fazer do limão uma limonada, lembrando que nem tudo sai como a gente quer. E no caso de a viagem ser para um lugar desconhecido que se revelou um “megamico”, vale o mesmo. Fique frio! Não desconte frustrações na moto e nem na orelha dos eventuais companheiros de viagem.

    COMPANHIA - Ah, os companheiros! Eles são fundamentais para tornar qualquer viagenzinha mais divertida mas… às vezes acontece o contrário. Um cara que parecia legal pode virar um “nóia” ao primeiro contratempo. A amiga tão simpática e bonitinha pode ser incompatível com o que se espera de uma parceira para encarar a estrada. Premissa básica: viajar de moto é mais seguro quando feito em companhia por óbvias razões. Assim, não seja antissocial, mas escolha bem e seja feliz. 


  • A 'gigante' Honda acordou: moto mais vendida da história vira elétrica

    Honda EV-CUB e Super Cub Concept
    Em 2018, a Honda colocará no mercado uma versão elétrica de sua motoneta “galinha dos ovos de ouro”, a Cub. Tal notícia pôs fim a um gigantesco ponto de interrogação da indústria motociclística mundial. A questão era quase constrangedora: por qual razão o maior fabricante mundial de motocicletas não cedia de vez ao apelo, sustentável, “eco friendly”, dos veículos elétricos de duas rodas?

    Takahiro Hachigo, presidente da empresa há pouco mais de seis meses, se encarregou de enterrar esta suposta timidez na conferência de imprensa realizada em Tóquio no fim de fevereiro. Sucinto, mas definitivo nas palavras, o CEO da empresa definiu que, sim, o caminho já trilhado por concorrentes de peso como Suzuki, Yamaha, BMW e outros menos musculosos, de entrar no mercado das elétricas, também interessa à Honda.

    E demorou por quê?
    Dona de um soberbo currículo de inovação tecnológicas em áreas múltiplas, era no mínimo estranho ver a Honda envolvida em robótica de alto nível – o Asimo é o maior exemplo –, aviões, carros empurrados por motores híbridos e uma série de meios de locomoção inovadores, mas ver que quando o assunto é propulsão elétrica seu catálogo trazia apenas as bicicletas “Kushi”, nada hi-tech, cujo mercado prioritário é a China.

    Há mais de uma década – mais exatamente desde 2004 – a Honda vem apresentando protótipos movidos a motores elétrico. Em 2010 começou a oferecer um scooter batizado de EV Neo a operadores profissionais (empresas de entrega), vendas de baixo volume, longe de causar impacto e comprovar a viabilidade de expansão da propulsão elétrica. Mas, pelo jeito, tal ensaio deu a capacitação para projetos mais ousados.Honda EV-NEO


    Assim, agora o leão entrou no picadeiro, ou seja, está prometida para daqui dois anos nada menos do que a versão elétrica do veículo movido a motor mais vendido da face da terra, a galinha dos ovos de ouro da Honda, a motoneta Cub.

    Aqui no Brasil este segmento teve a Honda C 100 Dream como pioneira,vendida no começo dos anos 1990 e cuja evolução é a popularíssima Honda Biz, nada mais do que uma Dream modernizada na aparência mas que mantém a essência mecânica das Cub originais.

    Ponto importante do anúncio da Honda é o fato de ter sido com uma motoneta e não foi através de um scooter que a líder mundial entra de sola no setor elétrico, ao contrário dos concorrentes que citamos linhas acima. Esta sutil mas emblemática diferença vem atrelada ao volume de vendas.

    A 1ª elétrica da Honda destinada a produção em massa pretenderá isso mesmo, massificar o produto, vender muito, alcançar cifras que as atuais elétricas estão longe de conseguir tanto pelas naturais limitações do segmento scooter como pela conhecida economia de escala: as elétricas custam caro pois vendem pouco, e vice-versa.

    Assim, em 2018 começará a “invasão” dos watts da marca da asa, que segundo o presidente terá início pelo mercado interno e logo em seguida se espalhará pela chamada ASEAN (Indonésia, Vietnã, Malásia, Camboja, Tailândia e Filipinas, entre outros). E dali… para o resto do planeta!BMW C-Evolution


    Custo elevado
    É possível imaginar hipóteses que tenham levado a Honda a adotar atitude mais tímida neste âmbito dos veículos de duas rodas elétricos. De fato, ainda há entraves para considerá-los meios de locomoção eficazes e bem resolvidos. A baixa autonomia e custo elevado de produção das baterias e também aspectos relacionados a durabilidade das baterias e ao descarte quando a vida útil se extingue, além do peso.

    Por outro lado, podemos pensar que o anúncio da entrada no setor elétrico pode estar relacionado a algum fator tecnológico que eventualmente tenha dado à companhia japonesa a certeza de poder, mesmo atrasada, entrar pela porta da frente? Talvez. Uma eventual carta na manga técnica não está excluída, recurso técnico que tanto poderá ser aplicado a meios de transporte como uma motoneta como à uma superesportiva, que aliás já teve o protótipo mostrado no Tokyo Motor Show de 2011, a belíssima RC-E Concept.Honda RC-E


    Diante de todo este movimento, uma coisa é certa: o gigante acordou, e certamente daqui dois anos veremos sair das linhas de montagem uma legião de modernas Cub, que poderão se tornar as novas “galinhas dos ovos de ouro” da empresa. Yamaha E-Vino
    IMAGENS: Honda / BMW / Yamaha / Divulgação

  • Moto de Marc Márquez pode ser sua, mas custa mais de R$ 1,8 milhão

    Honda RC 213V-S
    Quanto custa um sonho sobre duas rodas? Se você sonha alto (bem alto!) e é um fã da motovelocidade, colocar a Honda RC213 V-S na sua garagem, a réplica da moto que Marc Márquez e Daniel Pedrosa usam na MotoGP, exigiria teóricos 200 mil euros. Ah, não esqueça de somar a esta cifra os impostos, taxas e demais custos, que aqui no Brasil geralmente duplicam o valor de um bem importado. Continha (modo de dizer…) rápida: no final você pagará 400 mil euros, ou seja, quase 1,8 milhão de reais.

    Loucura? Para alguns sim. Mas para cerca 250 felizardos, comprar esta moto foi a oportunidade não só de realizar um desejo como também fazer um bom negócio. Fabricada sob encomenda, em série limitadíssima de exemplares (+/-250 motos), esta maravilha da tecnologia sobre duas rodas já era, se esgotou pouco depois de anunciada em meados do ano passado. Detalhe: apenas uma foi entregue porque a produção começou agora. Assim sendo, se você quer mesmo ter esta preciosidade, prepare-se para desembolsar o tal 1,8 milhão de reais acrescido de mais algum, cifra que permita convencer um dos felizardos a encomendá-la a se desfazer dela.

    Como você leu aqui na semana passada, réplicas de motos de corrida são objetos do desejo de muitos e há pelo menos trinta anos são desovadas com parcimônia pelos fabricantes. Os três modelos dos anos 1980 da coluna passada, todos fabricados nos anos 1980, são hoje peças de coleção preciosas.

    Tal tipo de moto segue a regrinha “tostines”: fabricam se poucas porque custam caro, e custam caro porque fabricam-se poucas. Embutem o que há de melhor em termos de tecnologia, são plenas de simbolismo esportivo e, de quebra, trazem performance que justifica a aparente loucura que é comprá-las.

    A atual Honda RC213 V-S tem, segundo a Honda, 80% de componentes em comum com a exclusiva máquina que compete atualmente na MotoGP. Não é uma réplica só na aparência mas também nas entranhas. Sem cair ao nível do detalhe, que mereceria um livro e não uma coluna, basta dizer que ela não só tem um motor com a mesma configuração (V4 a 90 graus) e parte ciclística – chassi, suspensões, rodas e freios – que seguem as mais do que espetaculares especificações necessárias para vencer no campeonato mais exigente do motociclismo atual.Honda RC 213V-S


    Assim, não se engane, pensando que é apenas na aparência que a RC213 V-S segue as pegadas da moto de Márquez e Pedrosa: materiais nobres como titânio, fibra de carbono e etc. são usados como se fossem arame e papelão, resultando em uma máquina de 1.000 cc que pesa 171 kg a seco, apenas 20 quilinhos mais que a moto de pista. Achou muito? Pois não é, considerando que a RC213 V-S está homolgada para uso rodoviário, ou seja, tem farol, lanterna, piscas, suporte de placa, espelhos retrovisores e tudo mais que permitiria  a você estacionar na frente da balada e… bem. Talvez esse não fosse o melhor uso para ela, especialmente no Brasil, mas poder, poderia!

    Quando a Honda finalmente anunciou as especificações completas desta moto alguns se decepcionaram com a potência, “apenas 157 cv”, cifra menor do que a de muitas superesportivas de normal venda como a própria irmã CBR 1000RR Fireblade. Porém, este preço de 200 mil euros da RC213 V-S inclui um kit (opcional, 14 mil euros, vai querer?) que traz magiquinhas que elevam a potência a 212 cv, ou seja, bem perto dos alegados 250 cv que a real moto de corrida.Marc Marquez



    Os que andaram nela – e foram bem poucos, acreditem –, em um evento de aperesentação realizado na pista de Valência, na Espanha ficaram maravilhados. Alguns destes premiados jornalistas (nenhum brasileiro…) tinham já rodado com verdadeiras máquinas da MotoGP e destacaram a total similaridade de comportamento.

    Outro fez um comentário curioso: munido de um imã, não conseguiu que ele “grudasse” em nada, a não ser nos discos de freio que, ao contrário da MotoGP, não são de fibra de carbono mas sim de aço. A razão é que discos de carbono não funcionam em baixas temperaturas. Mas não se ofenda, pois os discos de aço da RC213 V-S são os mesmo que a moto de pista usa na chuva. Ah, bom…

    Ducati DesmosediciDucati Desmosedici RR

    Esta magnífica Honda sucede, a uma distância de oito anos, outra verdadeira race-replica da categoria MotoGP, a Ducati Desmosedici RR. Apesar de também ser uma preciosidade em termos de performance e materiais empregados, e trazer elementos praticamente idênticos à da Ducati usada à época, ela custava menos que a atual Honda.

    Anunciada na metade de 2007, a venda de tal moto foi anabolizada pelo domínio de Casey Stoner na temporada da MotoGP daquele ano, o que fez os 1.500 exemplares serem encomendados em um piscar de olhos. Um pouco por conta disso, o número de unidades ser bem maior do que o da Honda RC213 V-S, é que o preço desta Ducati não foi estabelecido em um patamar tão elevado, “apenas” 55 mil euros, cerca de 250 mil reais, o que se transformaria  (naquela continha de guardanapo de padaria) algo como meio milhão de reais para importá-la para o Brasil.
    Ducati Desmosedici RR

    Como na Honda, esta Ducati incorporava a mesma “persona” da moto de Stoner. Motor V4, pouco peso, muita cavalaria e um comportamento muito parecido ao da verdadeira racer. Rigidíssima, geniosa e exclusiva. Só mesmo um piloto com P maiúsculo para levá-la ao limite.

    Pertencentes a um mundo onde alta tecnologia, materiais preciosos e história esportiva pontilhada de conquistas se fundem, estas duas motos podem ser consideradas como as Mona Lisa da indústria da motos, obras primas dignas de museu que é, aliás, o lugar onde você as poderá ver de fato pois duvido muito que você dê de cara com uma estacionada na rua de sua casa aqui no Brasil.  

Autores

  • Roberto Agresti

    Roberto Agresti pilota e escreve sobre motocicletas há três décadas.

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