O delator Benedicto Júnior, que foi diretor da Odebrecht Infraestrutura, entregou uma lista com centenas de doações a vários políticos. São 182 nomes. Nessa planilha, só aparecem pagamentos por meio de caixa dois, quando a quantia não é declarada à Justiça Eleitoral. Também há várias outras informações, como o apelido, se o político estava concorrendo a algum cargo, se foi eleito, e também o motivo da doação. Em alguns casos, aparece que o político tinha disposição de defender projetos de interesse da Odebrecht. Essa lista é de um delator apenas.
De acordo com a planilha, quem mais recebeu foi o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, atualmente preso: mais de R$ 60 milhões de 2008 a 2014, nos anos de eleição. Depois, aparece o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab: R$ 21 milhões.
O atual governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, é o terceiro que mais recebeu doações de caixa dois, de acordo com essa planilha: R$ 20 milhões em 2014. Uma curiosidade, o codinome do Pezão é o mesmo de Sérgio Cabral: Próximus. Na sequência, vem o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes: R$ 16 milhões.
Deu pra perceber que os políticos do Rio figuram no topo da lista. O quinto e sexto que mais receberam dinheiro de caixa dois também são do estado: o deputado Júlio Lopes e o ex-governador Anthony Garotinho. Lembrando, mais uma vez, que essa é uma lista entregue por um delator. Nem todos os políticos que outros ex-executivos da Odebrecht contaram que receberam dinheiro, aparecem nessa relação.
O Rio de Janeiro vive a pior crise econômica da história, não tem dinheiro nem pra pagar o salários de servidores. E, aos poucos, a gente vai entendendo o porquê. O delator Benedicto Júnior detalhou no acordo de delação premiada, pagamentos de propina e o esquema de caixa 2 para favorecer políticos poderosos do PMDB do Estado do Rio.
Benedicto Júnior afirmou que foi chamado para acertar o valor de proprinas que foram pagas mensalmente pela Odebrecht, já no primeiro mês do governo Sérgio Cabral, em 2007. O delator contou que houve um encontro com o ex-secretário de governo, Wilson Carlos, preso na mesma operação que também levou Sérgio Cabral para a cadeia.
"Logo no primeiro mês de governo, o Wilson me chamou e disse, 'olha, tou aqui com uma demanda, o governador pediu para falar com você. Temos uma demanda, uma despesa que ficou descoberta. Eu preciso que a Odebrecht contribua com R$ 1 milhão mês ao longo de 2007'. Eu falei, 'Wilson, já fiz R$ 3 milhões. Um milhão mês dá R4 12 milhões, é um valor expressivo'. 'Não, depois vamos acertar, que a gente tá pensando em estabelecer umas regras aí e você vai ficar bem na seleção dos grandes parceiros que nós temos'", contou Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura.
As propinas eram um acerto para a Odebrecht assumir grandes projetos no estado. A empreiteira ficou responsável pela reforma do Maracanã, o Arco Metropolitano, o PAC das favelas e pela maior obra do estado: a linha 4 do metrô, que custou mais de R$ 8 bilhões.
Benedicto Júnior revelou o valor total pago pela Odebrecht ao governo de Sérgio Cabral e à campanha de Luiz Fernando Pezão.
"Os números que a gente levantou e tem comprovação, eles montam alguma coisa como R$ 125 milhões. Noventa e cinco (milhões) diretamente ao governador Sérgio Cabral e outros vinte poucos (milhões) pagos na campanha do doutor Luiz Fernando Pezão", disse o Benedicto.
Benedicto Júnior disse que o pedido de pagamentos a campanhas de Luiz Fernando Pezão foi feito pessoalmente por Sérgio Cabral, em 2014. E esse encontro foi dentro do Palácio Guanabara. "No primeiro trimestre de 2014, o governador Sérgio Cabral definiu que o candidato à eleição para substituí-lo deveria ser o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Ele me convocou para uma reunião no Palácio Guanabara aonde ele me pediu que, por conta da obra, das obras que eu estava executando, que eu fizesse novos pagamentos ilícitos, de forma a atender a campanha do doutor Luiz Fernando Pezão", contou o ex-executivo.
Benedicto Júnior também detalhou como foi feito o pagamento dos R$ 20 milhões à campanha de Luiz Fernando Pezão. O esquema, segundo o delator, envolveu a empresa de publicidade Prole, que prestava serviços a políticos do PMDB no Rio.
"Parte dos recursos foi entregue a pessoas indicadas pelo Wilson para a campanha do doutor Luiz Fernando Pezão e parte foi entregue à Prole em dinheiro vivo e o pagamento de 800 mil euros à Prole no exterior", contou Benedicto.
O Superior Tribunal de Justiça (STF) vai decidir se abre ou não inquérito para investigar o governador Luiz Fernando Pezão. Benedicto Júnior também revelou pagamentos ao presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani. O delator disse que foram repassador R$ 5 milhões para a campanha do político ao Senado em 2010, quando ele foi derrotado.
"No primeiro semestre de 2010, eu fui convocado pelo doutor Jorge Picciani, então presidente do PMDB do Rio, para uma reunião na sede do PMDB. Ele demonstrou a necessidade de que eu fizesse uma doação de R$ 5 milhões e a proeminência dele no PMDN do Rio de Janeiro, eu avaliei que era uma, para nós seria muito bom se ele ganhasse a eleição e fosse um senador pelo Rio de Janeiro. Decidi fazer essa contribuição", contou Benedicto.
O delator disse que o beneficiário foi o dono do banco BVA, José Augusto Ferreira, um banco que já foi à falência. "A gente levantou dentro do nosso sistema e encontramos pagamentos sendo feitos em moeda no exterior, moeda em euros, no valor de R$ 5 milhões aqui com provas, prova para corroboração, doutor", afirmou o Benedicto.
O delator afirmou também que houve outro pedido de Jorge Picciani, feito em 2012: "Em 2012, senhor Jorge Picciani me procurou, atuando como arrecadador das campanhas do PMDB, na época eram campanhas municipais. Me pediu que eu fizesse uma doação no montante de R$ 400 mil. E nós fizemos mais uma vez uma doação de R$ 400 mil sob o codinome grego, dos quais eu trago um anexo aqui para comprovar esse pagamento".
Grego era o codinome de Jorge Picciani nas planilhas da Odebrecht. Benedicto Júnior contou que esses pagamentos foram feitos pelo departamento de propina da construtora.
O Tribunal Regional Federal do Rio vai decidir se abre ou não investigação contra Jorge Picciani, que tem foro privilegiado.
Pezão reafirmou que nunca recebeu recursos ilícitos nem teve conta no exterior e que as doações de campanha foram declaradas.
Picciani disse que todas as doações à campanha dele foram espontâneas, legais e declaradas e que vai responder com tranquilidade as acusações.
A reportagem não conseguiu falar com as defesas de José Augusto Ferreira, do banco BVA, de Wilson Carlos e de Sérgio Cabral.
Na última quarta-feira (12), o Bom Dia Brasil noticiou que o delator Benedicto Barbosa da Silva Júnior afirmou que a Odebrecht repassou mais de R$ 15 milhões ao ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, ante o interesse de Benedicto na facilitação de contratos na Olimpíada de 2016. Essa informação foi retirada de forma literal do relatório do ministro Edson Fachin.
Agora, o Bom Dia Brasil teve acesso ao vídeo do depoimento do delator Benedicto Júnior. Na gravação, Benedicto afirma que fez o repasse dos valores para campanhas eleitorais e que Eduardo Paes sabia que era dinheiro de caixa dois. E quando questionado se Paes obteve benefício pessoal com as doações, Benedito diz que nunca viu nada.
MP: O Eduardo Paes deu algum benefício para a Odebrecht?
Benedito Júnior: Não. Através de mim nenhum. Eu tenho certeza que através do Leandro, que ia comigo nas reuniões técnicas, também não. Benefício de poder participar das licitações, como as licitações eram de uma certa forma complexas, a gente conseguia estudar, gastar um dinheiro na frente e depois viabilizar a contratação e ser da empresa que iria investir naqueles negócios para que a prefeitura não botasse dinheiro sozinha.
MP: Entendi. E o senhor Eduardo Paes teve algum benefício pessoal com estas doações?
Benedito Júnior: Nunca vi nada, nas licitações, nos negócios. Até pelo estilo dele muito impositivo, com o apelido de 'nervosinho'. Ele não tinha ambiente, ele não gerava ambiente que propiciasse alguma troca, alguma coisa. Ele era bastante seco. Não era uma pessoa afeta a ter as relações pessoais fora do ambiente em que estava sendo tratado. Então, nunca me pediu nada.
A investigação aberta no Supremo Tribunal Federal tem exatamente o objetivo de esclarecer todas as dúvidas sobre cada um dos casos suspeitos. Desde que as delações vieram a público, Eduardo Paes vem afirmando sempre que é absurda e mentirosa a acusação sobre vantagens indevidas obtidas por obras relacionadas à Olimpíada. Tem declarado também que jamais aceitou qualquer contrapartida, de qualquer natureza, pela realização de obras ou projetos conduzidos no governo dele. E que todos os recursos recebidos em sua campanha de reeleição foram declarados à Justiça eleitoral.
Assista à reportagem completa no vídeo acima.
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