Crônica da Semana: novo governo, novas promessas... E a saudade da boa prosa e boa música
A quarta amanhecia parecida com terça e segunda. Continuávamos a sentir sopros cada vez mais fortes de uma nova ordem, começávamos mais um dia olhando para as caras novas - e outras nem tanto -, que chegavam ao Planalto Central para dar início ao governo de transição. Até que um rosto que aprendermos a ver apenas nos palcos, linda e visceral, apareceu numa nota de óbito. Gal Costa que, desde os anos 1980, pediu tanto para o Brasil mostrar sua cara, cantou nossas dores e renascimentos, em quase seis décadas de carreira, partiu. Numa entrevista recente ao colega Chico Regueira havia compartilhado a impressão de que o mundo havia piorado. Faltava humanidade, um olhar mais humano entre nós, nas nossas relações, ela disse.
A humanidade cada vez mais em risco pela própria negligência com a natureza se reúne no Egito para novas tentativas de consenso na COP-27. Mayara Folly, da Plataforma Cipó, um instituto de pesquisa independente liderado por mulheres e dedicado a questões de clima, me disse que o Brasil é o assunto do momento. "Até pouco tempo o que acontecia na nossa política ambiental era visto com incredulidade pela comunidade internacional, agora há um otimismo, uma esperança".
O presidente eleito Lula já recebeu cerca de dez pedidos para reuniões bilaterais na Conferência do Clima da ONU, onde deve chegar dentro de alguns dias com as promessas de um novo país, como já fez por aqui. As expectativas são do tamanho dos descaminhos que vivemos nos últimos anos. Gal Costa, apesar do pessimismo que sentia nos últimos tempos, achava também que esse poderia ser um momento de grande transformação. Que seja, que o Brasil realmente mostre a sua (nova) cara.
Boa crônica!