Estações
Sendo direto: No próximo dia 3 de abril, o Rio de Janeiro saberá se o Grupo Estação, responsável pela formação cinéfila do carioca nos últimos 30 anos, irá pedir falência definitiva.
O carioca está acostumado a perder ou ver transformadas suas coisas mais cariocas. O Palácio Monroe, o Morro do Pasmado, o Jornal Última Hora, o Tivoli Park, O Circo Voador no Arpoador, a Feira de São Cristóvão, o antigo Maracanã.
Morreram de vez ou reiventaram-se.
Em comum, um espírito imortal.
Que uma grife de cinemas, sozinha, entre para este grupo, é inédito. E diz muito sobre ela.
Quem, nas redes sociais, nos botecos e nos blocos de pré-carnaval está consternado, não é tanto o profissional de cinema, não é tanto quem trabalho no ramo ou é do meio.
Quem mais sentirá falta do Grupo Estação é tudo quanto é carioca. Aquele cujo apetite para a sala escura não se sacia com essas aventuras milionárias hollywoodianas, ou comédias brasileiras televisivas, esses filmes grandes.
Aquele que lambe o beiços é com grandes filmes.
Nas redes sociais, quem lambe os beiços com grandes filmes já se mobiliza para evitar o fim do Grupo Estação. No Facebook já existe página de apoio. No perfil de Marcelo Mendes, à frente do grupo, são muitas as manifestações de solidariedade.
Marcelo respondeu com uma proposta, algo que se pode fazer já: que cada pessoa que tem alguma história com o Grupo Estação, lembre-se, escreva, publique.
As minhãs são muitas. Fui criado nos cinemas do Grupo Estação. Minha vida daria um filme passado dentro de um dos cinemas do Estação. Eu aos 16 anos afogado nos números de Peter Greenaway, aos 18 conhecendo o cinema de preto de Spike Lee, aos 20 encontrando minhas almas gêmeas, os personagens de Jim Jarmush, tão estranhos no paraíso quanto nós que nos vestíamos de preto na cidade do sol para dançar no Cubatão, conhecendo Cassavetes e entendendo que aquilo já não é mais cinema, latindo feito um cão para um tal jovem chamado Tarantino, gritando “Lulaaaa!”, com o coração selvagem de Nicholas Cage e David Lynch, descobrindo o silêncio restaurado de Antonioni e, enfim, já no século 21, assistindo ao renascimento definitivo do cinema brasileiro.
Posso dizer, convicto: sou os filmes que vi na vida.
Em seu filme recente, “O primeiro dia de um ano qualquer”, Domingos Oliveira, há uma cena, dentre tantas, particularmente bonita. O personagem de Domingos dorme durante um filme antigo numa pequena sala de cinema. E é esquecido lá. Ao acordar, comenta algo como se existe um lugar digno para um último repouso, é o cinema.
Não quero viver numa cidade onde uma loja da Apple abre com cariocas cantando “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” e no mês seguinte cinemas fecham.
Mas morrer, bem velhinho, dentro de uma sala de cinema do Grupo Estação, assistindo a qualquer filme que esteja passando por lá, seria morrer satisfeito.
Morrer de ver, ou reinventar-se; afogar-se em números ou permanecer perto do coração selvagem; o que temos hoje, de certo, como consumado, é que a história do Grupo Estação é filme grande e um grande filme.
Fim?
Como vizinho do Estação Ipanema, e frequentador assíduo das 2 salas, não poderia deixar de me solidarizar com tudo o que de bom recebo/recebi nesses anos roubados. Me identifiquei com a imagem do dorminhoco (Gracias Woody), fato que me aconteceu recentemente num filme francês em que a minha musa (Juliette Binoche) interpretando Camille Claudel me fez sonhar (e roncar tão alto a ponto de ser gentilmente acordado). Mas ela tem crédito de sobra (‘Cópia Fiel’ é uma obra-prima)…(A “grande Beleza” também.)
Espero não ter que sentir saudades, tão cedo, da pipoca, do chocolate, e da água sem gás (e do contato humano, claro).
A cidade tem que reinventar mesmo. Torço para que o estação continue, mas dai a falar que tudo muda para pior é exagero… O circo voador fora do arpoador deu um espaço novo de lazer à zona sul e ainda ajudou a ressucitar a Lapa. O Maracanã novo é muito mais bonito e funcional que o antigo. A Feira de São Cristovão então… Antes era inacessivel para qualquer cidadão com o mínimo de hábitos higiêncos, e hoje é até referência turística…O Tivoli também deu espaço a um lugar muito melhor. Hoje o Parque dos Patins é simplesmente a melhor area de lazer da Zona Sul para todas as idades e ainda é gratuito. Enfim… Retornando ao cerne da questão, que o Grupo Estação consiga um apoio externo vigoroso, pois de fato, se deixar de existir, fará falta à cidade!
Estação faz parte da minha vida.
Tanto é que cheguei a trabalhar como Gerente por 4 meses.
Experiência única.
Todo final de semana, eu e minha namorada vamos ao Estação.
Não é só os filmes mas a “ALMA”.
Quem gosta e ama cinema sabe o que eu estou falando.
Muito triste.
Espero que tudo se resolva.
Ficaremos reféns das grandes salas com seus enlatados e “hipnóticos” filmes.
Abraço triste.
Notícia muito triste ! Não gostaria de acreditar que um dos espaços mais interessantes de cinema vai acabar. O leque de filmes é sempre bom, conheço pessoas que nem verificam os filmes pelos jornais ou internet, simplesmente se dirigim direto pra uma das salas do grupo Estação, e sempre há boas escolhas.
Lamentável, tomara que a situação consiga ser revertida. São meus sinceros desejos.