Liberte-me, por favor

sáb, 29/06/13
por Dodô Azevedo |

Rio de Janeiro, junho de 2013.

 

Em 213 A.C., o imprerador chinês Qin Shi Huang ordenou que sua guarda recolhesse das residências de seus súditos todos os livros de filosofia e história. Na Grécia antiga, escrituras judaicas foram apreendidas pelo governo. Na Roma antiga, foi a vez de escrituras cristãs. Do séc. XIII ao séc. XVII, papas ordenaram que fossem apreendidas todas as cópias do Talmud, o livro mais importante do judaísmo. A inquisição espanhola apreendeu e queimou cinco mil manuscritos árabes. Em 1562, os conquistadores ibéricos destruíram todos os textos sagrados da civilização Maia. Em 1640, a bíblia produzida na reforma luterana foi caçada pelos católicos alemães. Em 1920, os comunistas queimaram centenas de milhares de livros que representavam os valores do ocidente. Em 1932, os alemães perseguiram todas as obras que não fossem nacionalistas. Depois da 2a guerra, os americanos apreenderam livros que representassem os valores comunistas. Em 1968, militares brasileiros apreenderam livros que representassem valores socialistas. No Brasil, foi a última vez que os livros, estes suspeitos número um na lista de governos autoritários, foram apreendidos por uma autoridade policial.

Até o último dia 26 de junho.

O livro Mate-me, por favor, escrito por dois jornalistas e que conta a história do movimento punk, foi apreendido pela polícia na casa de um anarcopunk, suspeito de vandalismo na passeata do dia 20 de junho no Rio, junto com objetos como faca, martelos e morteiros. 

Quando um livro é, na visão da autoridade, algo tão perigoso quanto uma faca, ter ideias passa a ser tão fora da lei quanto cometer um homicídio.

Li Mate-me, por favor, umas três vezes. Sou fã do livro. Sou fã de sua principal mensagem: faça você mesmo.

E tudo de bom que aconteceu com o brasileiro, com todos os brasileiros, nestas semanas de ouro, foi que desistiu-se de assistir parado a banda passar.

Decidiu-se fazer-se você mesmo.

Devemos todo o medo de nossos governantes, esse pavor que os fez trabalhar  mais de 6 horas por dia  (como se essa não fosse sua obrigação), que os fez receber representantes da sociedade para ouví-los e se arvorar em apresentar soluções, devemos tudo isso à ideologia… punk.

Não se engane: quando você decidiu ir para a rua, escrever seu cartaz e bradar o seu grito, mesmo que sem violência, e antes ainda da grande midia apoiar o movimento (lembra?), você foi punk.

Fez você mesmo.

Voltando ao caso do livro apreendido pela polícia, como estivéssemos sob o regime militar brasileiro dos anos 60, ou sob a inquisição espanhola, ou na Alemanha de Hitler, hoje não sou eu quem vai combater ignorâncias  - o mal por trás de tudo o que de ruim que a humanidade já protagonizou.

Resolvi chamar um punk para falar.

Larry Antha é vocalista de um grupo de rock alternativo dos anos 90, o Sex Noise, reconhecido e respeitado no underground carioca. Hoje ele é também escritor. Lançou dois livros. ‘Memórias não póstumas de um punk’(2011) e ‘Tropicalismo Selvagem – As memórias não póstumas de um punk na infância’(2012), ambos pela Editora Multifoco. No momento, prepara seu terceiro livro, chamado ‘Dom Josué & seu galo infante na Belle Époque Punk’. Carioca da Zona Oeste. Não a Barra da Tijuca. Da região mais… punk da região. Dei a ele 10 minutos para escrever sobre o livro. Assim, um texto rápido, de supresa, pra ontem, punk:

Vamos lá. Um, dois, três, quatro:

“Um livro que nasceu clássico? “Mate-me por favor (Please Kill Me)”, é uma obra prima. O compêndio de entrevistas, conduzidas com destreza pelos jornalistas Legs McNeil e Gillian McCain, narra o nascimento do punk, vai fundo em suas origens e acompanha o nascimento do The Velvet Underground de Lou Reed e companhia, ainda em 1965, mapeando os primeiros passos da banda. O livro chegou modestamente por aqui e aos poucos foi se tornando um clássico cult.

‘Pô você nunca leu ‘Mate-me por favor’? É demais, cara!’. Volta e meia escuto alguém falando do livro por aí. E acho que é justamente por ser o movimento punk tão diverso e controverso, que o livro acaba se tornando uma obra com frescor que se renova a cada nova geração de aficionados pela então vanguarda da cultura pop.

E o grande barato do livro e poder lê-lo sem seguir uma ordem cronológica. Deixá-lo quietinho num canto da casa e abri-lo de vez em quando em alguma página aleatória, tal qual um livro de autoajuda. E que autoajuda! Imagina saber como se livrar de uma cilada num banheiro sujo de Nova York e descolar a sua ‘onda’ com a pessoa certa/ ou não por aquelas plagas.

O livro vai te envolvendo, e aos poucos você vai descobrindo histórias que tem versões diferentes narradas pelos mesmos personagens, e o que acaba sendo o grande deferencial do livro. As centenas de entrevistas que com personagens reais como Iggy Pop, Patti Smith, Dee Dee e Joey Ramone, Debbie Harry, Nico, Richard Hell e Malcolm MacLaren,  te colocam para dentro das entranhas da cena de Nova York dos anos 70, mostrando porque e como uma pequena cena artística local tomou proporções mercadológicas mudando e definindo padrões estéticos e culturais da cultura pop como a vemos hoje em dia.

Não se engane, a barra era pesada na Nova York cantada por Lou Reed em sua obra mais emblemática; ‘Transformer’ que conta com a clássica canção ‘Walk on the wild side’, citada até por Cazuza e ‘Só as mães são felizes’; “(…) Você nunca ouviu falar em Lou Reed, Walk on the wild side”, que nos transporta para dentro daquela época, e deixa claro que muitas gerações ainda serão marcadas por aqueles dizeres ácidos escritos em letras garrafais na camisa usada por Richard Hell, ex-baixista do Television, com as eletrizantes histórias movidas a overdoses de sexo, drogas e rock and roll. “Mate-me por favor” pelo visto ainda não tem pazo de validade. Nem fronteiras.”

Larry Antha

 

 

 

Feito o esclarecimento, fica o alarme ligado. Estas contrações do parto desta democracia mais madura que viveremos a partir deste inverno vão expor, já estão expondo, a hipocrisia, violência, covardia, oportunismo e ignorância de uma nação até ontem sentada no pudim da fama de povo satisfeito e festivo. Se não examinarmos esta maravilhosa exposição de nossos aspectos mais obscuros perderemos a incrível oportunidade de nascer sem eles.

Portanto, façamos.

Algo aqui

qui, 27/06/13
por Dodô Azevedo |

Rio de Janeiro, junho de 2013.

 

Muito está-se ganhando e muito está-se perdendo desde que o brasileiro resolveu ir para as ruas.

Entre os ganhos, este blog destaca uma frivolidade: os comentários dos leitores, tanto deste blog quanto em todas as matérias públicadas no G1, saíram do monotema cariocas versus paulistas, esquerda versus direita.

Discussões que levam pra todos os lados.

Menos pra frente.

Quando fui convidado a abrir este blog, a escrever colunas, adverti-me: prepare-se para estes monotemas nos comentários.

Nos últimos dias, conversei com colunistas e blogueiros de diversos sites. Todos sofriam com este mesmo problema. Todos aliviados agora.

A sensação é de que algo maior uniu vocês.

E de que a era das discussões sobre problemas menores passou.

Este blog agradece.

Rua de palavras.

Voto e veto

ter, 25/06/13
por Dodô Azevedo |

Confira a lista dos deputados que assinaram a favor da tramitação da Proposta de Emenda Contitucional 37, a PEC 37, criada pelo deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA) em 2011, e que hoje votaram contra, em plenário.

fonte: https://www.camara.gov.br/

 

ADEMIR CAMILO PDT MG

ALBERTO FILHO PMDB MA

ALEX CANZIANI PTB PR

ALEXANDRE SANTOS PMDB RJ

ALICE PORTUGAL PCdoB BA

ANDERSON FERREIRA PR PE

ANDRE VARGAS PT PR

ANDRÉ ZACHAROW PMDB PR

ANTONIO BULHÕES PRB SP

ANTONIO CARLOS MENDES THAME PSDB SP

ARIOSTO HOLANDA PSB CE

AROLDE DE OLIVEIRA DEM RJ

ARTHUR LIRA PP AL

ASSIS CARVALHO PT PI

ASSIS DO COUTO PT PR

AUGUSTO COUTINHO DEM PE

AUREO PRTB RJ

BENJAMIN MARANHÃO PMDB PB

BIFFI PT MS

CARLOS BRANDÃO PSDB MA

CARLOS ZARATTINI PT SP

CARMEN ZANOTTO PPS SC

CELSO MALDANER PMDB SC

CÉSAR HALUM PPS TO

CLEBER VERDE PRB MA

DAMIÃO FELICIANO PDT PB

DANIEL ALMEIDA PCdoB BA

DAVI ALCOLUMBRE DEM AP

DAVI ALVES SILVA JÚNIOR PR MA

DELEGADO PROTÓGENES PCdoB SP

DEVANIR RIBEIRO PT SP

DIEGO ANDRADE PR MG

DILCEU SPERAFICO PP PR

DIMAS FABIANO PP MG

DOMINGOS DUTRA PT MA

DR. CARLOS ALBERTO PMN RJ

DR. GRILO PSL MG

DR. PAULO CÉSAR PR RJ

DR. UBIALI PSB SP

DUDIMAR PAXIUBA PSDB PA

EDINHO ARAÚJO PMDB SP

EDINHO BEZ PMDB SC

EDIO LOPES PMDB RR

EDSON SILVA PSB CE

EDUARDO CUNHA PMDB RJ

EDUARDO SCIARRA DEM PR

ELIANE ROLIM PT RJ

ERIVELTON SANTANA PSC BA

EUDES XAVIER PT CE

EVANDRO MILHOMEN PCdoB AP

FÁBIO FARIA PMN RN

FABIO TRAD PMDB MS

FELIPE BORNIER PHS RJ

FERNANDO FRANCISCHINI PSDB PR

FRANCISCO ESCÓRCIO PMDB MA

FRANCISCO PRACIANO PT AM

GENECIAS NORONHA PMDB CE

GEORGE HILTON PRB MG

GIVALDO CARIMBÃO PSB AL

GONZAGA PATRIOTA PSB PE

GUILHERME CAMPOS DEM SP

HÉLIO SANTOS PSDB MA

HENRIQUE OLIVEIRA PR AM

HUGO LEAL PSC RJ

IZALCI PR DF

JAIME MARTINS PR MG

JAIR BOLSONARO PP RJ

JANETE ROCHA PIETÁ PT SP

JÂNIO NATAL PRP BA

JÔ MORAES PCdoB MG

JOÃO ANANIAS PCdoB CE

JOÃO ARRUDA PMDB PR

JOÃO DADO PDT SP

JOÃO MAGALHÃES PMDB MG

JOÃO PAULO CUNHA PT SP

JOÃO PAULO LIMA PT PE

JORGINHO MELLO PSDB SC

JOSÉ CARLOS ARAÚJO PDT BA

JOSÉ CHAVES PTB PE

JOSÉ GUIMARÃES PT CE

JOSÉ HUMBERTO PHS MG

JOSÉ NUNES DEM BA

JOSÉ OTÁVIO GERMANO PP RS

JOSÉ ROCHA PR BA

JOSE STÉDILE PSB RS

JÚLIO CAMPOS DEM MT

JÚLIO CESAR DEM PI

LÁZARO BOTELHO PP TO

LELO COIMBRA PMDB ES

LEONARDO MONTEIRO PT MG

LEONARDO QUINTÃO PMDB MG

LEOPOLDO MEYER PSB PR

LILIAM SÁ PR RJ

LÚCIO VALE PR PA

LUIS CARLOS HEINZE PP RS

LUIS TIBÉ PTdoB MG

MANATO PDT ES

MANOEL SALVIANO PSDB CE

MARCELO CASTRO PMDB PI

MÁRCIO MARINHO PRB BA

MAURO LOPES PMDB MG

MENDONÇA FILHO DEM PE

MIGUEL CORRÊA PT MG

MILTON MONTI PR SP

MIRO TEIXEIRA PDT RJ

MISSIONÁRIO JOSÉ OLIMPIO PP SP

NELSON MARQUEZELLI PTB SP

NELSON MEURER PP PR

ODAIR CUNHA PT MG

ONOFRE SANTO AGOSTINI DEM SC

OSMAR JÚNIOR PCdoB PI

OSMAR SERRAGLIO PMDB PR

OTAVIO LEITE PSDB RJ

OTONIEL LIMA PRB SP

PADRE JOÃO PT MG

PAES LANDIM PTB PI

PASTOR MARCO FELICIANO PSC SP

PAULO ABI-ACKEL PSDB MG

PAULO CESAR QUARTIERO DEM RR

PAULO FOLETTO PSB ES

PAULO RUBEM SANTIAGO PDT PE

PAULO WAGNER PV RN

PEDRO CHAVES PMDB GO

PEDRO EUGÊNIO PT PE

PERPÉTUA ALMEIDA PCdoB AC

PROFESSOR SETIMO PMDB MA

RAUL HENRY PMDB PE

RENAN FILHO PMDB AL

RICARDO BERZOINI PT SP

ROBERTO BRITTO PP BA

ROBERTO DE LUCENA PV SP

RODRIGO DE CASTRO PSDB MG

ROSINHA DA ADEFAL PTdoB AL

SABINO CASTELO BRANCO PTB AM

SANDRO ALEX PPS PR

SANDRO MABEL PR GO

SEBASTIÃO BALA ROCHA PDT AP

SÉRGIO MORAES PTB RS

SIBÁ MACHADO PT AC

SILAS CÂMARA PSC AM

STEFANO AGUIAR PSC MG

STEPAN NERCESSIAN PPS RJ

TAKAYAMA PSC PR

TIRIRICA PR SP

VALADARES FILHO PSB SE

VALDIVINO DE OLIVEIRA PSDB GO

VANDERLEI MACRIS PSDB SP

VICENTE CANDIDO PT SP

VITOR PENIDO DEM MG

WALDIR MARANHÃO PP MA

WALNEY ROCHA PTB RJ

WASHINGTON REIS PMDB RJ

WILLIAM DIB PSDB SP

WILSON FILHO PMDB PB

ZÉ GERALDO PT PA

ZECA DIRCEU PT PR

ZEQUINHA MARINHO PSC PA

ZOINHO PR RJ

A vitória das ruas

seg, 24/06/13
por Dodô Azevedo |

Rio de Janeiro, junho de 2013.

 

 

VItória.

As ruas colocaram 26 prefeitos, 27 governadores e uma presidente para, afinal, trabalhar. Fazer, afinal, sua obrigação: cumprir as demandas de quem os elegeu.

Um plebiscito foi sugerido hoje. Reforma política – tema encruado no Congresso faz mais de década. Teria sido proposto se não fosse 1 milhão de pessoas nas ruas do país, sob os olhos do mundo, que vieram aqui cobrir um país em festa? A festa da Copa das Confederações?

Uma constituinte foi proposta. Isso aconteceria se não fossem o milhão de pessoas nas ruas?

Pacto nacional pelo transporte público. Teria acontecido se não tivessem ido enfrentar as balas de borracha e o gás lacrimogênio de nossas militarizadas polícias?

A presidente chamou para a ação irrestrita o Congresso Nacional, que barrou muitas das pautas expostas nos cartazes feitos pelo povo e exibidos para o mundo nas manifestações. Estas pautas estão, agora, no colo do Congresso, que não costuma ouvir as ruas – vide as manifestações pelas Diretas Já, barradas na votação em plenário. Teria acontecido se não fosse tudo o que aconteceu nas ruas nesta semana?

Parabéns a todos que foram às ruas na última semana. Os que, sem receber ordem de ninguém, foi para a rua falar, dizer, no fundo: “Eu existo”.

Poderia-se ter feito isso há 20 anos. Mas não: foi preciso nascer uma nova geração, uma garotada destemida, rápida como um clique de mouse. Filha da internet. Vocês comoveram os mais velhos.

Parabéns ao MPL, que insistiu em ir para as ruas quando eram apenas 100 pessoas “atrapalhando o trânsito”.

Parabéns aos que não tiveram medo de sacar seus celulares, registrar e publicar na rede os abusos da polícia.

Muitas das reivindicações das ruas ficaram de fora. As mais pontuais, é verdade. PEC 37, Cura Gay, ‘Bolsa Estupro’, gastos com a Copa – tudo isso ficou de fora. – embora tudo isso seja atribuição do Congresso Nacional. Para a rua atrás deles.

Foi um começo. Ainda tímido. Um tanto constrangido. Forçado pelas ruas. Exigido pelo verdadeiro chefe de nossos governantes: o povo que vota.

Mas um começo que demorou décadas para acontecer em nosso país.

Por isso, não deve deixar de ser comemorado.

E, qualquer coisa, a rua continua aí.

A sua rua.

 

Agenda

seg, 24/06/13
por Dodô Azevedo |
categoria Política, Rio, Você

A agenda da semana no RJ tem: plenárias e debates públicos, ato da OAB pela reforma política, ato para pressionar a aprovação da  “CPI dos ônibus”, e convocação para encontro no entorno do Maracanã na final da Copa das Confederações. Para os fortes de espírito, a vida é simples.

 

24/06 (segunda-feira):
- 10h, OAB RJ 9º andar: ato público em prol da reforma política que vai reunir partidos, sindicatos, entidades de classe, movimentos sociais, entre outros representantes da sociedade. O ato também tem como objetivo formar um comitê para dar seguimentos aos debates sobre o tema.

- 13h, PUC Rio: “Movimento da Hora Presente: entre a rua e a universidade”

- 14h, Iesp/Uerj: “Debate coletivo: Porque não é só sobre R$0,20″

- 17h, UFRJ: Plenária “anti-fascismo” -  avaliação da situação política do país.

- 19h, Fundição Progresso (Armazém Cia. de Teatro): reunião do movimento “Reage, Artista!”  – Avaliação do rumo das manifestações e criação de mecanismos de foco nas reinvidicações da classe artística.

25/06 (terça-feira)

- 10h30, IFCS (sala 106): “Debate público sobre o atual movimento de massas”

- 14h, Câmara Municipal: “Pela CPI dos Ônibus”.  Ocupação pacífica das galerias da Câmara.

- 16h, Agência de Redes para Juventude (na Escola Livre da Palavra, Lapa): Debate com Luiz Eduardo Soares

- 17h, concentração em frente à sede da Acadêmicos da Rocinha: Manifestação Pacífica – Favela Rocinha, Vidigal e adjacências. Tópicos a serem abordados:

“Transporte de qualidade.
Saneamento básico.
Poluição na praia de São Conrado.
Educação com creches públicas com vagas suficientes para todas as crianças da comunidade.
Pavimentação das ruas.
PAC.
Teleférico.
Saúde e rapidez no atendimento da UPA e postos da comunidade.
Vans
Aparato Policial”

- 18h, (ABI ou IFCS – local ainda a confirmar): Plenária do Fórum de Lutas, na ABI ou no IFCS

 

 

30/06, (d0mingo)

- 14h, Entorno de Estádio do Maracanã:  “Ato nacional na final da Copa das Confederações. Copa para quem? Pela anulação da privatização do Maracanã.”

Tópicos da manifestação:

“Reabertura do Parque Aquático Julio Delamare, reconstrução da pista do Estádio de Atletismo Célio de Barros, manutenção da Escola Friedenreich e devolução da Aldeia Maracanã para os indígenas.”

“Realocação de recursos da Copa do Mundo de 2014 para Saúde e Educação.”

“Gestão democrática das cidades: construção de espaços efetivos de deliberação popular.”

“Passe livre – por um transporte público que garanta o direito à mobilidade na cidade.”

“Não à repressão policial e ao uso de armas letais e menos letais.”

“Contra a criminalização dos movimentos sociais. Anistia aos presos nos atos contra os aumentos das passagens.”

Recuar?

sex, 21/06/13
por Dodô Azevedo |

Rio de Janeiro, junho de 2013.

 

O ritual de amadurecimento dos jovens da tribo brasileira Sateré-Mawé consiste em fazê-los colocar as mãos dentro de uma espécie de luva cheia de formigas-bala, cuja mordida é quase 20 vezes mais dolorida que a de uma vespa. Os garotos têm que dançar com as mãos dentro da luva durante dez minutos – e a dor é tão intensa que o corpo sofre com convulsões e as sensações podem durar até 24 horas.

Nossa jovem democracia, para amadurecer, terá que passar por rituais doloridos também. Um deles é passar pelo perigo de golpe de estado, pelo período de capitalização do movimento por parte de fascistas, dos infiltrados em passeatas, da polícia despreparada, da imprensa aturdida.

Nossa luva cheia de formigas é a rua. Hoje foi convocado um ato para protestar contra os aspectos fascistas das manifestações, como a depredação do Palácio do Itamaraty. Outro ato é de uma greve geral, apelo vindo de uma obscura fonte. E o movimento já está perdendo adesão. Todas essas manifestações fazem parte deste dolorido amadurecimento.

Paris, 2013: Num sábado, 500 mil pessoas marcham contra o casamento gay e pela familia. No dia seguinte, 500 mil a favor do casamento gay. Começa o torneio de tênis de Roland Garros e vai uma garotada pra rua quebrar tudo, entrar em conflito com a polícia, dizendo que é um absurdo gastar grana com a realização do evento esportivo. A polícia baixa o sarrafo; bem mais até do que tem baixado no Brasil. E no dia seguinte é segunda-feira, a vida segue, o país fortalecido, tudo às claras.

Portanto, se você está com medo de alguma coisa, o teu lugar é na rua. Até pra não deixar acontecer o que quer que você esteja com medo.

Rua todo dia. Cada um por sua ideia. Em dias separados, em dias juntos, como der. Dá trabalho, é puxado, mas é, como qualquer ritual de amadurecimento, ensinam os índios de qualquer lugar do mundo, assim que se eleva o patamar.

Os cartazes da Passeata do Milhão

sex, 21/06/13
por Dodô Azevedo |

Com a voz, vocês:

 

Troia

qui, 20/06/13
por Dodô Azevedo |

 

Manifestantes cariocas irão inovar na manifestação de hoje, no centro do Rio de Janeiro. Trabalhadores e artistas plásticos criaram “0,20 de Tróia” – iniciativa em levar uma escultura de madeira de 2,40 metros de altura e 200 kg em formato de burro, criada em 2012 pelo artista plástico João Jitujeusi.

“O Burro é uma alusão ao Cavalo de Troia, e representa o que nossos governantes acham que somos.” – Conta a este blog um dos produtores da empreitada em levar a obra para a manifestação de hoje no centro do Rio. Ao lado dos colaboradores Vinicius Vaitsmann e Thiago Rodrigues, o produtor de Cinema Daniel Santos, 26 anos, explica como surgiu a ideia:  ”Um amigo me convidou e logo topei a produção – convocamos outros artistas e trabalhadores que imediatamente aderiram a ideia de levar a escultura para a manifestação de hoje.”

A escultura está no bairro de Santo Cristo, neste momento a caminho da Candelária.

Crédito da foto: divulgação.

Mostra a tua cara

qua, 19/06/13
por Dodô Azevedo |

Rio de Janeiro, junho de 2013.

 

 

Ela fez 18 anos no último dia 26 de agosto. Faz parte das assembleias, fóruns e manifestações do Movimento Pelo Passe Livre desde que eram apenas 150 pessoas nas ruas. Ela é filha de um humilde motorista de carro-forte. Não recebe mesada. Renda familiar, R$ 2 mil. Nasceu e vive em Duque de Caxias. Não transita pela Zona Sul do Rio. De segunda a sexta, acorda às 8h da manhã e pega três conduções até Niterói, onde cursa o 2º período do curso de Segurança Pública da Faculdade de Direito da UFF. Só tira notas altas. Passa os fins de semana em casa, estudando. Seu ídolo, político inclusive, é o cantor inglês Morrissey – mas seu coração bate também por Foucault, Los Hermanos, Virginia Woolf e Pedro Almodóvar. Acha que o filme brasileiro “O Som ao Redor” já previa tudo o que está acontecendo nas ruas do Brasil, hoje. Ela aprendeu cedo o cheiro do gás lacrimogêneo e do gás de pimenta. O nome dela é Mayara Duarte de Moraes. E seu rosto é a primeira cara pública da geração que mobilizou o Brasil. Um rosto público, ao contrário da minoria que cobre o seu rosto de preto para exercer cidadania com atos de vandalismo. Mayara não cobre o seu rosto porque tem orgulho dele.

 

 

Como começou a sua militância?

Sou feminista desde a adolescência. Sempre fui aquela chata que perde o amigo mas não deixa passar piada machista ou sexista. Minha primeira marcha foi a Marcha das Vadias, em maio do ano passado. Em seguida, me filiei a coletivos que operam em ações comunitárias. Já passei por mais de um porque, quando vejo que o coletivo tem um viés doutrinador, de lavagem cerebral, pulo fora. Nos fóruns que participei em seguida, essa questão do aumento dos preços do transporte público, por ser nacional, por representar o abuso de tantos serviços ruins prestados à população, principalmente pobre, por preços tão caros, se tornou o foco da militância.

Quando vocês se reúnem para estabelecer uma data e um local para uma manifestação, decidem também a respeito de seu caráter? Se ela será pacífica ou não?

É sempre feita uma votação. E sempre tem vencido, por unanimidade, a opção por manifestação pacífica. Com cartazes e palavras de ordem. Confronto com a polícia, que tem o dever de nos proteger, apenas se formos atacados. E fomos atacados, como mostraram as imagens da ação em Brasília na abertura das Copas das Confederações e no último domingo (16), durante o jogo Itália x México, quando finalmente a imprensa testemunhou os abusos que são cometidos conosco. Os anarcopunks, por serem anarquistas, claro, não participam de votações. Decidem arbitrariamente e sozinhos pelo confronto e antes mesmo das manifestações. É a ideologia deles. Condenável quando a polícia não ataca primeiro, normal quando se é agredido antes.

É verdade. Os que foram barbaramente vandalizados pela polícia ao redor do Maracanã eram jovens desencapuzados, que colocaram sua cara a tapa. Eram outra turma. Já passou pela cabeça de vocês pensar em separar-se dos anarcopunks?

Nós conversamos previamente com eles, explicamos que confronto com a polícia sem ter sido atacado antes e vandalismo prejudicam o movimento. Mas não podemos proibir a adesão de qualquer grupo, porque simplesmente não somos os donos do movimento. O movimento é de todos. Os que são contra a minoria de anarcopunks estão convidadíssimos para engrossar o movimento contra. Se no dia seguinte esta maioria resolve dar o seu recado ajudando a recuperar o que foi depredado, este tipo de posição política se fortalece. O que não pode é ficar torcendo contra ou desconfiando de tudo sentado no sofá de casa.

Manter o movimento aberto não abre uma brecha para grupos oportunistas tomarem conta, modificando sua agenda?

Certamente sim. Mas democracia é isso. E não somos ingênuos, sabemos quem aderiu ao movimento para pegar carona e conseguir executar uma agenda que, sozinha, não levou ninguém pra rua até agora.

Você está falando da movimentação “fora Dilma”?

É um dos exemplos. Quando gritamos “fora Dilma”, “fora Cabral”, é no sentido de expressar nosso descontentamento com o modo como vem conduzindo suas políticas, não de induzir impeachment. O ideal seria o movimento, o som da rua perpetuar-se, e passar a deixar os governantes em estado de alerta, com medo do povo que o elegeu, como um mau funcionário teme por seu emprego. Nós somos os patrões deles, e não o contrário. Os elegemos e pagamos seus salários. Generalizo sem medo: não há políticos no poder, hoje no Brasil, que estejam governando bem. E essa é uma percepção geral da sociedade, sentida no sertão e nas cidades e que cria uma tensão entre camadas sociais – a classe alta, em sua relutância para aceitar socialmente a nova classe C é, também, responsável. É o “Som ao Redor” do qual avisou o filme do Kléber Mendonça Filho: um som que não foi percebido pelos políticos, pela imprensa, e que quando berrou, foi maltratado também pelos políticos e pela imprensa. Agora, finalmente, todos parecem ouvir. Um som que parece estar em todo lugar, em cada canto de cada cidade; e, embora, eu  não tenha muito contato com a Zona Sul do Rio de Janeiro por exemplo, posso falar do que ocorre periferia, na baixada: em Duque de Caxias, está todo mundo, nas praças e nos bares, no limite da paciência com a política que é feita no Brasil. Vivemos em um país democrático, coisa que foi conquistada a duras penas por gerações anteriores. Estes políticos, agindo do modo que vem agindo há décadas, estão desmoralizando a democracia. E é aí que mora o perigo.

Hoje é dia de mais uma manifestação no Rio de Janeiro. A primeira após a conquista dos “0,20 centavos”. O que você diria ao cidadão que está indeciso em participar?

Eu diria que as manifestações são nossas, de todos os cidadãos. De todas as bandeiras. De todas as reividicações. Se você acha que uma minoria de vândalos estraga o movimento, compareça, seja uma maioria de não-vândalos ainda mais numerosa do que já é. Diria para vir porque aqui tem um movimento que é seu e que está te esperando na rua que é sua, não apenas dos governantes que elegemos. Não deixem outros ocuparem o seu lugar na rua.  A rua é nossa, e a hora não é só agora. Nos países onde a democracia é mais madura que a nossa, as pessoas vão às ruas protestar quase uma vez por mês. E isso não atrapalha nem as instituições, nem a estabilidade das instituições desses países. Já deveríamos ter, no Brasil, uma marcha mensal de 500 mil pessoas desde que acabou a ditadura. Nós também, o povo, não soubemos aproveitá-la. Agora não. Vamos tornar a ida à rua um hábito. Não temam isso. Não nos temam. Não temam nada. Pelo contrário, comemorem. Lembra da música “se essa rua fosse minha?”. Pois então, agora é. Venha exercer o seu direito de ocupá-la.

 

 

Crédito das fotos: Mayara Duarte.

 

 

 

A revolução dos cartazes

ter, 18/06/13
por Dodô Azevedo |

O que disseram os cartazes exibidos no que já se chama de Nova Passeata dos 100 mil, ocorrida ontem, no centro do Rio de Janeiro:

Clique para visualizá-las.

Créditos das fotos: Dodô Azevedo

 



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade