Você
Rio de Janeiro, maio de 2013.
Olá. Meu nome é Dodô Azevedo. Você não me conhece. Já eu te conheço muito bem. Sim, você. Que está aí, nesse exato momento, lendo isso aqui. Eu conheço você e provavelmente melhor do que você mesmo. Você duvida. Tudo bem. Vamos lá. Pra começar, você nasceu no século passado, acertei? Claro. E aí, que tal ser uma pessoa do século passado? Te faz sentir mais velho? Deixa que eu respondo: depende da informação que você consome. Às vezes você lê uma notícia que te faz sentir-se jovem. Aí lê outra notícia que te faz sentir-se com 200 anos de idade.
Você é homem. E é mulher. Porque às vezes você fica sabendo de uma coisa que desperta algo masculino em ti. Outras vezes você lê uma notícia fala ao teu lado feminino. Outra coisa que sei sobre ti e que talvez você mesmo não saiba: Você é alérgico. A alergia é uma resposta exagerada do teu sistema imunológico a uma substância estranha ao teu organismo. Mas você lê uma notícia que te faz concluir que todos nós vivemos respondendo exageradamente a tudo a que nos é estranho. E não é de hoje.
Às vezes você acha que tá tudo bem. Mas aí você lê uma noticia que te deixa meio que com saco cheio de tudo. Você não é de ferro. Você é contráditório. Há as notícias que te fazem chorar e outras que te fazem chorar de rir. Há notícias que fazem você querer ter um filho, e há outras que fazem você querer matar a primeira pessoa que aparecer pela frente. Tem notícia que te faz achar a vida é curta. Tem notícia que faz você achar que a vida é longa demais. Quando faz calor, você reclama do calor. Quando faz frio, você reclama do frio. Tem dias em que, anestesiado, você não reclama de nada.
O medo orienta tua vida. E medo que desperta tua agressividade. Que te faz xingar no trânsito, na internet, que faz você votar nesse candidato e não naquele. Que te faz querer o fim da maioridade penal. Que te faz achar que tua cidade está melhor porque ela está ocupada por policiais e não por professores e médicos.
Eu entendo você. Há notícias que fazem você não querer saber de política. Há outras que te dão a certeza de que você é de esquerda, embora às vezes defenda ideias de direita – o que te faz, no fundo, ser um sujeito de direita que às vezes defende ideias de esquerda. E vice-versa. Há notícias que renovam tua fé em Deus. Outras, fazem você desconfiar de sua existência. Outras fazem você ter convicção de que não existe esse negócio de Deus, deuses, religião. Até porque você é, além de um pouco homem e um pouco mulher, algo não muito simpático a religiões, um dependente químico. Endorfina, flúor, cocaína, potássio, oxitocina. Sem um deles você não vive sem.
Você gostaria de mudar alguma coisa no teu corpo. Você gostaria de ser menos ansioso. Você gostaria que não existissem fome e guerras no mundo. Você se acha, enfim, uma pessoa de bem. Embora ache que o mundo, do jeito que está, não va lá muito bem . Às vezes você lê uma notícia e tem certeza de que pode mudar o mundo. Às vezes você lê uma notícia recente, compara com uma notícia de anos atrás, e tem certeza de que, não importa o que você faça, o mundo nunca vai mudar.
Você tem um segredo que não conta pra ninguém, nem pra você mesmo, mas eu sei: você está com os dias contados. Você vai morrer. Amanhã ou em 2123. Só que você lê uma notícia que te deixa com a impressão de que os dias são infinitos e que você vai viver pra sempre. E ignora as notícias que expõem de modo cristalino a natureza precária da vida. As notícias que fariam você não desperdiçar nem um minuto das horas que lhe são dadas, e tiradas, irreversivelmente, de hora em hora.
A notícia, a informação, a observação, define o que você é nesse mundo. Sim, você; meio homem, meio mulher, dependente químico, contraditório, alérgico, precário. Sem notícia, notus, você seria apenas uma pessoa, ao invés das muitas pessoas que você no fundo é. “Eu sou contraditório, eu sou vasto. Há multidões dentro de mim.”, disse Walt Whitman, poeta americano e um dos nomes mais importantes da história do jornalismo, ao ter seus artigos de opinião questionados pelos leitores do Brooklyn Daily Eagle, no século XIX.
Você é isso, descrito até aqui. Tudo o mais que você é além do descrito até aqui não passa de ficção. Invenção sua. Você se inventa, se desconstrói, se reiventa e, quer saber?, é isso o que te torna único. É por isso que você me interessa. É para ir para além da notícia que estou aqui, e você aí. Comentarmos, juntos, as notícias. Todas elas, de todas as editorias. Estando eu sob a editoria de cultura, é obrigação minha falar então de política, economia, futebol, do vídeo da desinibida da praia de Rio das Ostras, da novela das 9, da obra literária do vencedor do Pulitzer deste ano, da série Game of Thrones, do preço do tomate, do quiproquó entre Lobão e Mano Brown, da exposição Cantos Cuentos Colombianos na Casa Daros, do quadradinho de oito. A novidade, em termos de colunas do G1, é que aqui, neste espaço, não nos comunicaremos exclusivamente com palavras. Algumas colunas virão no formato videolog. Combinado? Isto não é uma pergunta: é um convite.
“Vamos” é a minha palavra favorita.
Numa madrugada de verão do ano passado eu corria meus 10 km diários no bairro Akihabara, a Electric City, centro de Tóquio, e observava os letreiros luminosos, meio hipnotizado, iPod tocando música brasileira antiga: Ernesto Nazareth. Quando virei a esquina da rua Kuramaebashi, dei de cara uma instalação em neon, se não me engano do Takashi Murakami, com um ideograma gigante, uns 15 metros de altura. Fiquei tão encantado com aquilo que parei de correr e fiquei ali, uns dez minutos, admirado.
Dias depois, descobri que o ideograma que havia me hipnotizado por sua beleza dizia:
Eu posso esperar, porque eu sou o tempo.
Ao interromper o meu treino para admirar o letreiro de, acho, Murakami, olhei para baixo e topei com uma carteira estufada de dinheiro ali, na calçada. Peguei-a. Levei-a até o posto policial mais próximo. Tomei uma bronca. O Sr. por favor coloque a carteira de volta onde o senhor achou até que o dono perceba que perdeu e volte para buscar seus pertences! – ordenou o policial japonês. Mas as pessoas vão roubar o dinheiro e os cartões de crédito que estão na carteira! – argumentei.
O policial perguntou, sinceramente intrigado: E por que alguém se sentiria bem com um dinheiro que não trabalhou para merecê-lo?
Eu ouvi aquilo e decidi: fazia oito anos que eu não exercia o jornalismo. Ouvi aquilo, pensei na minha cidade, pensei em você e resolvi. Eu não sou o tempo. Eu não posso esperar. Era hora de voltar a esta função danada que é ser jornalista no Brasil. E na infantaria: página de opinião na internet, disposto a assimilar toda a artilharia que caracteriza o vietnã que são as sessões de comentários de um site.
Isso me fez parar aqui, na tua frente. Vamos?
Para também, como você, ser as pessoas que sou, inseri o episodio verídico daquela madrugada em Tóquio em uma… ficção: meu 2oº curta-metragem, “Eva no Verão”, estará no Short Film Corner do Festival de Cannes 2013. Vou junto. Semana que vem filmo, em Londres, mais um curta. É de lá que continuo essa conversa sobre:
1) O mundo.
2) Você.
3) As notícias que o tempo traz.
É só… esperar.
Ou inventar que está esperando.
Taí… gostei! Normalmente eu não leio com frequência os blogs do G1, mas me esforçarei para lembrar de voltar aqui. Texto que flui tão bem assim, divertido, informativo, não se encontra com facilidade nessa seara virtual.
Olá mestre em letras… Seja muuuuito bem vindo!
Adorei o “você” de hoje, vou inventar a espera do próximo rs.
até logo ;D
Gostei desse texto, muito inspirador, me identifiquei e me fez pensar em quem eu sou realmente. Confesso que você sabe mais de mim do que eu mesma…
Boa sorte!
MeuDeus – que texto merda!!! Espero que não tenha perdido muito tempo escrevendo.
E aí: você não me conhece mesmo, não me descreveu mesmo. Desfaz aí e faz de novo. Ou não faz.
Abs.
Até agora só acompanhava a coluna da Lia, mas por esse texto maravilhoso que acabei de ler tenho certeza que irei virar sua leitora assídua…Vou esperar por a próxima. Entretenimento de qualidade.
Dodô, Vc é ótimo cara!
Geralmente, só em ver o tamanho do texto, nosso lado desafiador diz: vc consegue …
Já outro lado diz: Não! É muito cansativo, passa p/ outra informação.
E esse fio da meada vc tem! Vai com tudo moço,DEUS abençoe
Só uma palavra: EXCELENTE!!!
Convite aceito. Reinventemo-nos tu daí eu daqui. Juntos e muitos.
Avante, mestre!
Cara, Parabésn!!!! Eu que amo ler e sou fã dos melhores escritores mundiais e brasileiros, Sou sua fã de carteirinha agora. Vc é muito Bom..
Já estou te amando,(tente adivinhar minha idade)rs,rs. Seja bem vindo.
Amei a estreia!!! Será um prazer ler você por aqui!
Que bobagem! Que bobagem!
Negão,
como sempre, é um suspiro te ler e te ouvir (porque eu te escuto conforme assimilo cada letra), vem se fazer tempo aqui pra todo mundo te escutar também!
Mil beijos
Por algum motivo que não consigo explicar, chorei a ler isso. Uma emoção estranha de satisfação.
Obrigado.
Gostei muito. Parabéns!
Vamos!
A gente pensa que vai ver algo novo, inteligente, bem escrito… e se depara com isso. Bem, as moças parecem ter adorado. Que façam bom proveito…
Vamos!!
Adorei, parabéns!
O texto é muito bom, muito bem escrito, mas não precisa escrever um livro deste tamanho senão fica cansativo.
Voce vai sozinho, prefiro uma mulher !!!!!
Gostei demais. Vou ler você Dodô Azevedo, Muito prazer, Luca.
Gostei, não tenho costume de ler colunas ,mas hoje o tema me chamou atenção e começei a ler e gostei do que vi é bom ter profissionais como vc aqui em nosso Brasil.Obs..: Ah! As palavras daquele policial me tocou muito quem dera todo mundo pensasse como ele.
Dodô parabéns por este brilhante inicio, já ganhastes um leitor assíduo. Tenho 16 anos e sou um futuro estudante de jornalismo, sou fã da coluna do Zeca e já notei que, serei fã de carteirinha da tua também. Espero mais noticias, grande abraço.
Prefiro você na discotecagem. Texto chatinho…
Adorável! Ler esse texto foi como uma forte injeção de motivação. Me esforçarei pra acompanhar o teu trabalho, pois me identifiquei muito com teu estilo. Vivente de terras japonesas e jornalista… taí!
Só uma coisa a dizer:
Já era absurdamente sua fã, agora, não sei se há algo mais, mas se houver, serei…
Grande bj e muita muita coisa boa pra vc hj e sempre
Adorei! Conquistou uma leitora!
Oi, Dodô!
Fiquei surpresa, já admirava seu trabalho com DJ…Parabéns!
Vamos.
bj
Acho extremamente dificil que leias isto, mas se ler tenta entrar em contato comigo. (por e-mail)
Achei incrivel a forma como escrevestes… acho um belo desafio a sua missão e tens aqui um apoio contundente.
Primeiro lhe digo para não desanimar, escreva muito, bastante, o necessario para transmitir aquilo a que se propos.
Você me descreveu, assim como a si e a todos… pois somos iguais em tese, unicos em essencia!
Um breve comentário quanto a história do policial. Nós brasileiros somos tão acostumados com a desonestidade que achamos estranho uma atitude como a dele, porém atitude errada é a nossa de achar normal surrupiar as coisas dos outros.
Quanto ao fato de coisas que nos despertam, ler sua matéria foi algo ilusitado, pois estava vendo o twitter da Preta Gil quando ela mencionou sua pagina.
Então desde já desejo sorte na sua caminhada! A frente e avante!
Gostei muito do que li. Aceito o convite. Então, Vamos!!!
Vamos!