Vacina

Por G1


Foto tirada no dia 17 de novembro mostra seringa e frasco com etiqueta 'vacina Covid-19' escrita em inglês. — Foto: Joel Saget/AFP

Pesquisadores de todo o mundo buscam por uma candidata segura e eficaz para vacina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Até a última atualização desta reportagem, em 19 de novembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrava 212 pesquisas em desenvolvimento, com 48 delas sendo testadas em humanos. Destas, 11 estão na terceira e última fase.

A China é o país com mais candidatas em fase 3 na corrida por uma imunização, com 4 vacinas experimentais (leia mais sobre as etapas mais abaixo nesta reportagem). Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Rússia também têm pesquisas avançadas. A candidata da Índia foi a última a entrar nos testes de fase 3, no dia 16 de novembro.

Veja quais são as 11 vacinas nesta etapa:

Vacinas em fase 3 dos testes em humanos

Laboratório Nome da vacina Tipo de vacina (plataforma) País
Janssen Pharmaceutical Companies (Johnson) Ad26 SARS-CoV-2 Vetor Viral EUA
Moderna/Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas mRNA 1273 Genética EUA
BioNTech/Fosun Pharma/Pfizer BNT162 Genética EUA, Alemanha
Universidade de Oxford/AstraZeneca AZD1222 Vetor Viral Reino Unido
Sinovac CoronaVac Inativada China
Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan/Sinopharm Não informado Inativada China
Instituto de Produtos Biológicos de Pequim/Sinopharm Não informado Inativada China
CanSino Biological Inc./Instituto de Biotecnologia de Pequim AD5-nCov Vetor Viral China
Novavax NVX-CoV2373 Subunidade de proteína EUA
Instituto de Pesquisa Gamaleya Sputnik V Vetor Viral Rússia
Bharat Biotech Covaxin Inativada Índia

Covaxin (Índia)

A única candidata da Índia na lista de fase 3, a Covaxin é desenvolvida pela empresa de biotecnologia Bharat Biotech. Entrou nessa etapa de testes no dia 16 de novembro, com 26 mil voluntários em território indiano. Nas fases 1 e 2, foi testada em mil pessoas, de acordo com a empresa.

É uma vacina de vírus inativado, o que quer dizer que é feita a partir do vírus "morto" ou por partes dele – incapazes de se replicar.

Sputnik V (Rússia)

No dia 11 de novembro, a Rússia anunciou que a Sputnik V teve 92% de eficácia em uma análise preliminar dos estudos de fase 3. Os resultados ainda não foram revisados por outros cientistas, etapa que é necessária para que sejam publicados em revista científica.

'Precisa um pouquinho mais de transparência com os dados da Sputnik V', diz Natália Pasternak

'Precisa um pouquinho mais de transparência com os dados da Sputnik V', diz Natália Pasternak

A eficácia foi calculada com base em 20 casos confirmados de Covid, que ocorreram tanto em voluntários que tomaram a primeira dose da vacina quanto naqueles que receberam o placebo (substância inativa). Os estudos, conduzidos na Rússia, têm 40 mil voluntários.

Na prática, se uma vacina tem 92% de eficácia, isso significa dizer que 92% das pessoas que tomam a vacina ficam protegidas contra aquela doença.

Como as vacinas funcionam?

Como as vacinas funcionam?

Vacina de Oxford (Reino Unido)

A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca é uma das quatro que estão em testes no Brasil (veja vídeo abaixo). Os ensaios de fase 3 começaram em junho em solo brasileiro, e, no resto do mundo, em abril.

Saiba a diferença entre as 4 vacinas contra Covid-19 em testes no Brasil

Saiba a diferença entre as 4 vacinas contra Covid-19 em testes no Brasil

Ela usa a plataforma de vetor viral: nesse tipo de vacina, os cientistas usam outro vírus – nesse caso, um adenovírus – para transportar o material genético do novo coronavírus para dentro do corpo humano.

Cientistas de Oxford relatam vacina segura e com resposta imune

Cientistas de Oxford relatam vacina segura e com resposta imune

A vacina de Oxford será produzida no Brasil pela Fiocruz. No dia 4 de novembro, a fundação anunciou o cronograma de produção, prevista para começar em janeiro de 2021: serão 30 milhões de doses até o fim de fevereiro e outras 70 milhões até julho. A previsão é que mais 110 milhões de doses sejam produzidas no segundo semestre de 2021. O custo estimado é de US$ 3 (cerca de R$ 16) por dose.

No dia 19 de novembro, os resultados dos testes de fase 2 da vacina foram publicados na revista científica "The Lancet", uma das mais importantes do mundo.

Os resultados preliminares dos testes já haviam sido divulgados no final de outubro, mas a publicação na revista significa que eles foram validados por outros cientistas (passaram pela chamada "revisão por pares", ou "peer review", em inglês).

Moderna (EUA)

A candidata da farmacêutica Moderna (mRNA1273), desenvolvida com apoio do governo dos Estados Unidos, introduz um pedaço do código genético do vírus no corpo humano, para que o corpo aprenda a "reconhecer" o vírus. Dessa forma, se entrar em contato com o vírus "de verdade", ele consegue se defender.

O pedaço do código genético usado na vacina é um da proteína S, que o Sars-CoV-2 usa para infectar as células.

A vacina recebeu uma autorização especial da agência de vigilância sanitária dos EUA (FDA, na sigla em inglês) que autorizou a equipe de pesquisadores a avançar, de maneira mais rápida, para as fases finais do estudo.

Laboratório americano começa testes da vacina contra a Covid-19 em 30 mil pessoas

Laboratório americano começa testes da vacina contra a Covid-19 em 30 mil pessoas

CoronaVac (China)

A candidata da chinesa Sinovac é testada no Brasil com o apoio do Instituto Butantan, em São Paulo. O governo do estado tem uma parceria para compra de 46 milhões de doses da vacina e de transferência de tecnologia para o Butantan, para que o imunizante possa ser produzido em solo brasileiro.

Os últimos resultados da vacina, dos testes de fase 1 e 2, apontaram que ela mostrou segurança e resposta imune satisfatória. Os dados foram publicados na revista científica "The Lancet" no dia 17 de novembro.

Assim como a da Bharat Biotech, a CoronaVac é uma vacina de vírus inativado.

No final de agosto, o governo chinês autorizou o uso emergencial desta vacina no país para pacientes expostos ao risco, como trabalhadores da saúde e agentes de fronteira (veja o vídeo abaixo).

China aprova uso emergencial da vacina Coronavac em pacientes de alto risco

China aprova uso emergencial da vacina Coronavac em pacientes de alto risco

Vacina da Pfizer (Estados Unidos e Alemanha)

A farmacêutica americana Pfizer, que desenvolve a vacina BNT162 em parceria com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech, foi a primeira a anunciar, no dia 18 de novembro, o término dos estudos de fase 3.

Segundo as empresas, a vacina teve 95% de eficácia em uma análise preliminar dos dados, que ainda não foram publicados em revista científica.

Vacina da Pfizer e BioNTech contra Covid conclui estudos da fase 3 e anuncia 95% de eficácia

Vacina da Pfizer e BioNTech contra Covid conclui estudos da fase 3 e anuncia 95% de eficácia

O Brasil ainda não fez acordo para adquirir a vacina, mas o governo brasileiro recebeu executivos da Pfizer, na semana do anúncio, para, segundo o Ministério da Saúde, "conhecer os resultados dos testes em andamento e as condições de compra, logística e armazenamento oferecidas pelo laboratório".

Sinopharm (China)

Testada nos Emirados Árabes, a vacina da Sinopharm em parceria com o Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan poderá estar pronta no final de 2020, segundo executivos da farmacêutica. A candidata a vacina chinesa será testada no Brasil em um acordo com o governo do estado do Paraná.

A Sinopharm também testa uma segunda candidata de vírus inativado, feita com o Instituto de Produtos Biológicos de Pequim: 5 mil voluntários nos Emirados Árabes já foram vacinados e outros 5 mil receberam a imunização na capital chinesa.

Paraná faz parceria com empresa chinesa para teste e produção de vacina contra a Covid-19

Paraná faz parceria com empresa chinesa para teste e produção de vacina contra a Covid-19

CanSino (China)

A candidata chinesa da CanSino Biological começou sua prova de segurança em março, com um ensaio controlado com 500 participantes em que provou que induz a criação de anticorpos.

Os resultados das pesquisas devem ser divulgados entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, segundo os cientistas, mas, mesmo antes disso, o governo chinês já concedeu sua primeira patente. Isso significa que a CanSino tem a propriedade sobre a vacina e o direito de vender as doses.

Vacina da chinesa CanSino Biologics é segura e induz resposta imune, apontam testes

Vacina da chinesa CanSino Biologics é segura e induz resposta imune, apontam testes

Johnson (EUA)

A candidata da Janssen Pharmaceutical, farmacêutica do grupo Johnson, foi a última a receber autorização da Anvisa para ser testada no Brasil. A vacina também usa a plataforma de vetor viral.

No fim de setembro, foram anunciados os primeiros resultados, preliminares e parciais, que apontaram que a vacina é segura e induziu resposta imune mesmo após uma única aplicação.

Os testes no Brasil chegaram a ser suspensos no dia 12 de outubro, por causa de uma "doença inexplicada" em um participante nos Estados Unidos, mas, no dia 3 de novembro, foram retomados. A Anvisa autorizou a volta dos ensaios após avaliar os dados do "evento adverso" visto no participante americano e as informações do Comitê Independente de Segurança e Dados da autoridade regulatória dos Estados Unidos, a FDA.

Novavax (EUA)

A candidata norte-americana, cujo nome oficial é NVX-CoV2373, é da empresa de biotecnologia Novavax. De acordo com a companhia, o imunizante tem duas doses que, na primeira fase, apresentaram "resposta robusta" de anticorpos e "foram bem toleradas" pelos 131 voluntários que participaram da pesquisa.

O método testado pela Novavax se chama "vacina recombinante". A empresa usou engenharia genética para cultivar réplicas inofensivas da proteína que o novo coronavírus usa para entrar nas células do corpo em meio a células de insetos, em laboratório. Os cientistas extraíram, purificaram a proteína e a embalaram em nanopartículas do tamanho do vírus.

Etapas para a produção de uma vacina

Leva tempo para se produzir uma vacina: a mais rápida já desenvolvida pela ciência foi a da caxumba, que precisou de cerca de 4 anos até ser licenciada e distribuída para a população.

Entenda cada fase dos testes para vacinas

Entenda cada fase dos testes para vacinas

Antes de começar os testes em voluntários, a imunização passa por diversas fases de experimentação pré-clinica (em laboratório e com cobaias). Só após ser avaliada sua segurança e eficácia é que começam os testes em humanos, a chamada fase clínica – que são três:

  • Fase 1: é uma avaliação preliminar da segurança do imunizante. É feita com um número reduzido de voluntários adultos saudáveis que são monitorados de perto. É neste momento que se entende qual é o tipo de resposta que o imunizante produz no corpo. Ela é aplicada em dezenas de participantes do experimento.
  • Fase 2: na segunda fase, o estudo clínico é ampliado e conta com centenas de voluntários. A vacina é administrada a pessoas com características (como idade e saúde física) semelhantes àquelas para as quais a nova vacina é destinada. Nessa fase é avaliada a segurança da vacina, imunogenicidade (ou a capacidade da proteção), a dosagem e como deve ser administrada.
  • Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da sua eficácia e segurança em maiores populações. Além disso, feita para prever eventos adversos e garantir a durabilidade da proteção. Apenas depois desta fase é que se pode fazer um registro sanitário.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para se fazer um ensaio clínico no Brasil, é preciso da aprovação do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Os voluntários são recrutados pelos centros de pesquisa.

VÍDEOS: Veja novidades sobre as vacinas da Covid-19

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!