Dezoito leitos de três hospitais de Salvador foram bloqueados pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) apenas para atendimento de pessoas com suspeita da Síndrome de Guillain-Barré. O governo confirmou uma morte dentre 55 casos registrados no estado, sendo que os dois primeiros foram informados no mês de junho. Antes disso, o estado não tinha o controle da doença porque o registro era compulsório para maiores de 15 anos, informou a Sesab.
Um evento na tarde desta quarta-feira (8) reuniu 250 profissionais de saúde no Hospital Geral Roberto Santos para discutir se a doença pode ter relação com três doenças que apresentam registros epidemiológicos no estado: dengue, chikungunya e zika. De acordo com a Sesab, a Bahia vive epidemia dessas três doenças. A dengue tem 45.538 notificações, a chikungunya 11.351 e, além disso, já são 32.873 de doença exantemática indeterminada, tipo a zika.
Segundo o subsecretário de Saúde, Roberto Badaró, o encontro dos profissionais de saúde teve o objetivo de criar um alinhamento na prestação adequada de atendimento. "O paciente deve ser encaminhado para leitos que já bloqueamos. O estado todo tem leitos bloqueados, exclusivos para atenção ao Guillain-Barré. Aqui na capital, nós temos no [Hospital] Roberto Santos oito leitos, temos seis leitos no Hospital Couto Maia e quatro leitos no Hospital das Clínicas. São leitos suficientes no momento para fazer essa atenção", afirmou Badaró.
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A Síndrome Guillain-Barré é uma doença neurológica que não tem causa definida, mas pode ser associada a doenças virais. Ela causa fraquezas ascendentes e paralisias flácidas, que costumam começar pelos membros inferiores. Segundo Roberto Badaró, o grande risco da doença - que exige atenção médica diferenciada-, é sua característica ascendente, podendo atingir as vias respiratórias.
"Primeira coisa, [o paciente com suspeita] tem que ir para um hospital, um hospital que tenha capacidade de oferecer atenção de ventilação respiratória, hospital que tenha neurologista que possa acompanhar a evolução dos sintomas e que a gente tenha a rapidez para a aplicação da imunoglobulina, que é a forma de tratamento. Quando você dá imunoglobulina em doses altas, a doença para e você aborta esses sintomas", informou.
Além da morte relacionada a doença foi confirmada, outros dois casos de óbitos estão sendo investigados. "Uma das pessoas [atendidas], realmente, que foi hospitalizada em um dos hospitais da cidade. Ela evoluiu muito antes da ocorrência dos outros casos [notificados]. Ela está entre os primeiros casos [registrados]. A gente ainda não fez a confirmação sorológica, se realmente tem relação com a terceira epidemia [zika]", disse Badaró.
O subsecretário explicou que a Síndrome de Guillain-Barré pode ser provocada por qualquer vírus e não é uma doença nova. "É uma síndrome descrita há muitos anos. Qualquer vírus pode causar essa síndrome. Ela ocorre mais, na verdade, quando você tem a coincidência de mais de uma epidemia. Então, muito provavelmente, esse aumento no número de casos de Guilian-Barré se deve a essa coincidência de ter três epidemias", disse.
Ainda assim, Badaró alertou que não há confirmação de que a Zika cause Guillain-Barré, mas que ela é uma manifestação do próprio indivíduo na interação com algum tipo de vírus. "Não significa que é o vírus da zika que está causando Guilian-Barré. É preciso que as pessoas tenham isso em mente. Quem está causando a Guilian-Barré é uma manifestação do próprio paciente que experimentou mais de uma doença viral, que pode não ser nenhuma dessas. Pode ser exemplo o vírus da mononucleose. Pode ser a malária, por exemplo, que no nosso caso aqui, graças a Deus, não temos", explicou.
Também no evento, a médica infectologista e diretora do Hospital Couto Maia, Ceuci Nunes, relatou que notificou 12 casos de pacientes com suspeitas das doenças, sendo que um foi descartado. Além disso, relatou que outras três pessoas estão prestes a serem internadas com a suspeita.
"Temos um caso grave. Um paciente que precisou ir para a UTI, mas a maioria dos nossos pacientes estão evoluindo bem. Tiveram alta grande parte e os que continuam internados tiveram boa evolução até o momento", relatou. Segundo Ceuci, um caso é considerado grave quando a paralisia provocada pela síndrome atinge as vias respiratórias. "Aí, esse paciente vai precisar de um auxílio para respirar", relatou.