Por Rafael Aleixo, g1 AP — Macapá


Locais onde existiam casas na Vila Macedônia, no Arquipélago do Bailique — Foto: Edian Vieira/Arquivo pessoal

Com a chegada do "inverno amazônico", o fenômeno das “terras caídas”, que causa o desbarrancamento das margens do Rio Amazonas provocado pela força violenta da maré, volta a atingir várias ilhas no Arquipélago do Bailique, no litoral do Amapá. Moradores tiveram que reconstruir casas em locais ainda não atingidos pelo problema que afeta residências, escolas e passarelas de madeira.

Na Vila Macedônia, que faz parte do conjunto de ilhas a 12 horas de barco da capital, a servente Edian Vieira, de 38 anos, precisou reconstruir a casa em outro local do terreno onde mora após a destruição da antiga pelo fenômeno.

“Tá muito complicado a nossa situação. Eu já perdi a minha casa e consegui fazer uma outra mais pra trás, mas tem gente que não consegue fazer outra casa. A parte do terreno onde eu morava nem existe mais, agora faz parte do rio”, contou a moradora.

Não é só no "inverno amazônico" que fenômenos naturais ganham proporções que dificultam o dia a dia dos ribeirinhos do Bailique.

O arquipélago também sofre com a salinização do Rio Amazonas, resultado da pouca presença de chuvas, o que diminui o volume do rio e, assim, possibilita que a água salgada do mar invada o continente.

A presidente da Associação de Moradores, Lídia Barbosa Vilhena, de 37 anos, e que também é técnica de enfermagem na vila, informou que a comunidade chegou a ter 201 famílias, com 1050 habitantes. Com o avanço do fenômeno das "terras caídas" e a salinização das águas, várias famílias se mudaram, restando apenas cerca de 500 habitantes.

“Com esse fenômeno de água salgada, agora que tá complicado a nossa situação. Tem muitas crianças adoecendo porque tomam banho com água salgada, o corpo fica cheio de feridas. A metade dos moradores já se mudaram por perderem as casas e pelo problemas ocasionados, como a falta constante de energia elétrica" explicou a presidente da Associação de Moradores.

LEIA MAIS:

Problemas atingem a educação

Erosão atingiu estrutura da Escola Bosque no Bailique — Foto: Helton Sarges/Arquivo pessoal

A Escola Bosque, um dos símbolos da educação socioambiental do arquipélago do Bailique, na costa do Amapá, é mais uma das estruturas da região a sofrer e correr o risco de desaparecer com os impactos do fenômeno das "terras caídas".

A instituição é uma das maiores escolas públicas da região e atende alunos do ensino fundamental 2 e ensino médio.

Erosão se aproxima de outra estrutura da Escola Bosque — Foto: Helton Sarges/Arquivo pessoal

Em dezembro, moradores de outra vila, a Progresso, denunciaram o desabastecimento de água em 23 escolas do arquipélago. A salinização atinge boa parte da área da Foz do Rio Amazonas, afetando cerca de 11 mil ribeirinhos.

Terras caídas

O geólogo e pesquisador Admilson Torres, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), explicou que o fenômeno pode causar no arquipélago mudanças bruscas e indicou que construções devem ser feitas longe das margens dos rios.

"As mudanças vão ser extremamente bruscas nessa região. Para se ter ideia, têm pontos que cada ano há uma perda do terreno de 10 metros. Isso significa que em 5 anos será uma perda de 60 metros. Essa é uma informação extremamente importante para o poder público quando for instalar uma escola na região, por exemplo", argumentou.

Torres disse ainda que o fenômeno é provocado pela dinâmica das marés e ocorre principalmente em rios de águas turvas, que têm bastante concentração de sedimentos, a exemplo do Rio Amazonas.

Ainda segundo o geólogo, a retirada da mata das margens dos rios e a ocupação desordenada também são fatores que provocam o aumento da erosão das terras.

Erosão nas margens do Bailique, no Amapá — Foto: Divulgação/Defesa Civil

VÍDEOS com as notícias do Amapá:

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!