Pesquisadores chegam pela 1ª vez à maior árvore da Amazônia brasileira
Foi com imensa alegria e sentimento de dever cumprido que a maior árvore da Amazônia, com 88,5 metros de altura e 9,9 metros de circunferência, foi localizada na divisa entre os estados do Amapá e Pará, durante a 5ª edição do projeto que mapeia as árvores gigantes da Amazônia. A árvore já havia sido identificada em 2019, mas ainda não tinha sido possível chegar até ela.
Nesta nova expedição, os pesquisadores ficaram em campo, no município de Laranjal do Jari, no Sul do Amapá, de 11 a 21 de setembro para chegar até a espécime.
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A medição da circunferência da árvore é de quase 10 metros — Foto: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia/ Divulgação
O professor Eric Bastos Gorgens, pesquisador da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), é um dos coordenadores do projeto e detalhou que foi difícil chegar até a árvore, mas em nenhum momento a equipe pensou em desistir da missão.
“Finalmente conseguimos chegar até a maior árvore, nós já tínhamos documentado. Fizemos uma primeira expedição para chegar até a árvore, mas ficou faltando 3 quilômetros e, dessa vez, a gente fez todo o planejamento, refizemos a expedição e conseguimos chegar, de fato, até ela [árvore] e validar a informação”, disse.
Foi com a descoberta dessa árvore que os pesquisadores deram início a uma saga para descobrir outras "gigantes" na região Sul do estado, a partir de um projeto do Instituto Federal do Amapá (Ifap).
Diego Armando Silva, professor, pesquisador do Ifap e coordenador local do projeto, enfatiza que a espera de 3 anos até chegar a maior árvore da Amazônia consolida o trabalho cansativo, mas satisfatório.
“Houve um planejamento de 11 dias e contou com equipes da comunidade, preparadas para navegar por três dias o Rio Jari e depois percorrer 40 quilômetros, considerando ida e volta pela floresta intocável até concluirmos o trabalho nas árvores gigantes”, lembra o professor.
Equipe formada por pesquisadores e pessoas da comunidade local, conhecedores da floresta — Foto: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia/ Divulgação
Silva fala também que antes dessa, as maiores árvores registradas no Amapá eram uma castanheira de 66 metros e um angelim vermelho de 79,19 metros, mapeados no início de 2021.
O novo recorde continua impressionando, já que a média de altura das árvores da Amazônia fica entre 40 e 50 metros.
“Essa espécie [angelim vermelho] se consolida como uma espécie gigante na Amazônia e representa um grande valor social, econômico e para o meio ambiente, considerando a valorização dessas grandes árvores, a valorização da Amazônia, a valorização da floresta em pé, a valorização pelo uso e desenvolvimento local”, disse Silva.
Local privilegiado
Segundo as pesquisas, a região do Rio Jari é uma área diferenciada dentro da Floresta Amazônica, justamente por ser o único local em que as árvores gigantes foram identificadas.
“Junto com esse novo conhecimento a gente começa a perceber a importância, por exemplo, da captação do estoque de carbono que essas florestas guardam, especialmente nesse momento de mudanças climáticas onde as florestas têm um papel muito importante na regulação do clima do nosso país”, disse o professor Eric Bastos Gorgens.
O projeto focou também na representatividade econômica e na sustentabilidade da exploração florestal, pois, o angelim vermelho é uma das espécies principais do manejo florestal do Amapá e entender um pouco mais sobre as características da espécie pode ajudar na conservação das florestas.
Idade e Altura
Árvore tem 88,5 metros de altura, o que equivale a um prédio de 30 andares — Foto: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia/ Divulgação
A pesquisa para determinar a idade exata da árvore ainda está em andamento, mas de acordo com avaliações preliminares dos pesquisadores, acredita-se que ela tenha em torno de 400 anos. A altura da árvore pode ser comparada a um prédio de 30 andares.
“A gente já está em parceria com a Embrapa Amapá para que consigamos fazer a datação por anéis de crescimento. Com esse método, a gente vai precisamente identificar a idade dessas grandes árvores. Comparando, essa árvore é equivalente a três vezes o Cristo Redentor, é um ser absolutamente fantástico”, explicou Gorgens.
O trabalho de mapear e fazer o inventariado da descoberta foi da Universidade Estadual do Amapá (Ueap) e para o professor Robson Borges de Lima, que participou das expedições, este tipo de pesquisa além de trazer tantos benefícios para o estado pode estimular que futuras gerações embasem novos estudos e saibam da importância da preservação de espécies como a do angelim vermelho.
“O nosso trabalho foi basicamente mapear e tentar inventariar toda aquela região onde ocorre essas grandes árvores, então para o curso de Engenharia Florestal da Universidade do estado do Amapá é um ponto muito importante que acaba atraindo uma visão mais detalhista de ter em nossa região árvores desse porte. Quem sabe em uma futura expedição possamos levar um aluno com bolsa de iniciação científica para também estar coletando esses dados”, explicou o professor.
Participou também da expedição a Royal Society University Research Fellow Swansea do Reino Unido. A instituição ajuda pesquisadores concedendo a cientistas suporte para se tornarem líderes em seu campo de atuação.
Além de ajudar no financiamento da pesquisa, a Royal Society trouxe também equipamentos modernos que ajudaram a equipe no projeto das árvores gigantes. A pesquisadora Jacqueline Rosette, fala da importância de todo o trabalho para o mundo.
“O trabalho evidencia a importância de se pesquisar a Amazônia, pois a gente está a todo momento descobrindo novas coisas e tudo isso tem importância não só para o Brasil, mas globalmente, principalmente essa função de fornecer um controle para as mudanças climáticas no mundo”, disse.
Como iniciou o projeto?
Projeto busca catalogar e proteger árvores com mais de 80 metros de altura no Sul do Amapá — Foto: Divulgação
A pesquisa sobre árvores gigantes no Amapá começou em 2019 e envolve diversas universidades brasileiras e parceiros que atuam juntos no mapeamento das espécies. O trabalho tem como objetivo potencializar a capacidade turística das unidades de conservação e das regiões de incidência dessas árvores no Amapá.
Além do monitoramento, os pesquisadores querem entender os principais processos ecológicos que incidem nas características únicas das árvores gigantes.
A expedição é patrocinada por projeto de financiamento da Universidade Estadual do Amapá (Ueap), em cooperação com o Ifap e Fundo Iratapuru.
O projeto chegou a ser suspenso em março de 2020, devido à pandemia da Covid-19, mas foi retomado em outubro de 2020 com um trabalho voltado para moradores da região.
Áreas de 'árvores gigantes'
Tudo partiu de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que identificou árvores com alturas muito acima do normal nesta região do estado.
Antes de encarar a viagem pelo rio Jari, pesquisadores de universidades do Brasil, Finlândia e Reino Unido já tinham analisado dados de 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira. A busca por terra validou o que já havia sido identificado por satélites.
O estudo, que começou em 2016, foi financiado pelo Fundo da Amazônia, e resultou na expedição "Jari-Paru: em busca da árvore gigante".
Expedição chega a castanheiras de 66 metros e angelim vermelho de quase 80 metros em reserva sustentável no Amapá — Foto: Rafael Aleixo/Setec/Divulgação
Usando uma espécie de "radar laser" que faz sensoriamento remoto, os pesquisadores identificaram regiões com árvores gigantes, todas com altura superior a 80 metros. Pelo menos seis dessas coleções estavam na região do Rio Jari, entre os estados do Amapá e Pará.
Para se ter uma ideia da dimensão da descoberta, as maiores árvores do mundo são as sequoias-gigantes, que podem medir de 85 a 110 metros e são naturais do hemisfério norte.