Expedição localiza a maior árvore do Amapá e a segunda maior da Amazônia, de 85,4 metros
A terceira expedição do projeto que mapeia as gigantes na Amazônia encontrou a árvore mais alta do Amapá, que é a segunda maior da região a ser registrada cientificamente. A notável é da espécie angelim-vermelho, tendo 85,44 metros de altura, 9,45 metros de circunferência 3 metros de diâmetro. O achado é um marco e empolgou pesquisadores que a localizaram (assista no vídeo acima).
Em 2019 foi descoberta a árvore mais alta da Amazônia, de 88 metros, na divisa entre o Amapá e o Pará. Com a ajuda dela, os pesquisadores deram início a uma saga para descobrir outras "gigantes" na região a partir de um projeto do Instituto Federal do Amapá (Ifap). Em janeiro, foi descoberto um novo santuário no Sul do estado.
Antes dessa, as maiores árvores registradas no Amapá eram uma castanheira de 66 metros e um angelim-vermelho de 79,19 metros, mapeados no início do ano. Só para ter uma comparação, a média de altura das árvores da Amazônia fica entre 40 e 50 metros.
Árvore mais alta já mapeada no Amapá tem 85,44 metros de altura — Foto: Ifap/Divulgação
O grupo saiu da sede de Porto Grande, município a 102 quilômetros de Macapá, no dia 24 de setembro. Com ajuda de satélites e outros equipamentos, os pesquisadores chegaram à gigante após 3 dias de caminhada, na região do Rio Cupixi, nos limites da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru.
“Após 3 dias de expedição, a equipe encontrou a maior árvore gigante do Amapá. Trata-se do Angelim Vermelho, o que consolida a espécie como a maior em altura da Amazônia”, explica o coordenador do projeto Árvores Gigantes e professor do Ifap, Diego Armando.
Árvore mapeada como a maior do Amapá até agora tem mais de 9 metros de diâmetro — Foto: Ifap/Divulgação
Conforme o professor, é comum achar os angelins em florestas primárias, com pouco ou nenhum contato humano e com relevo bastante acidentado.
“Esses angelins crescem entre os vales, o que impede que a ação do vento incida sobre eles e provavelmente favorece o seu crescimento em altura”, explicou.
Com a descoberta, o grupo vai se debruçar em entender como ocorre esse crescimento acima da média e por que há predominância de árvores de grande porte na espécie angelim-vermelho nessa região.
Expedição em janeiro chegou a castanheiras de 66 metros (uma delas à esq.) e angelim vermelho de quase 80 metros (à dir.) em reserva sustentável no Amapá — Foto: Rafael Aleixo/Setec/Divulgação
O projeto usa dados encaminhados pelo professor Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), que, ao processar informações do sistema Lidar, identificou a projeção de árvores de grande porte na Amazônia. Entre elas, são apontadas cinco árvores com alturas superiores a 80 metros no Amapá.
“Nossa expedição confirma as descobertas do professor Eric Gorgens sobre a ocorrência dessas grandes árvores na Amazônia, e fomos premiados, após um intenso e cansativo trabalho de campo, com essa que é a segunda maior árvore da Amazônia até o momento”, comentou o professor doutor Robson Borges, da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), que colabora com o trabalho.
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Como iniciou o projeto?
A pesquisa sobre árvores gigantes no Amapá começou em 2019 e envolve diversas universidades brasileiras e parceiros que atuam juntos no mapeamento das espécies. O trabalho tem como objetivo potencializar a capacidade turística das unidades de conservação e das regiões de incidência dessas árvores no Amapá.
Além do monitoramento, os pesquisadores querem entender os principais processos ecológicos que incidem nas características únicas das árvores gigantes.
A expedição é patrocinada por projeto de financiamento da Universidade Estadual do Amapá (Ueap), em cooperação com o Ifap e Fundo Iratapuru. O projeto chegou a ser suspenso em março de 2020, devido à pandemia da Covid-19, mas foi retomado em outubro de 2020 com um trabalho voltado para moradores da região.
Áreas de 'árvores gigantes'
Tudo partiu de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que identificou árvores com alturas muito acima do normal nesta região do estado.
Antes de encarar a viagem pelo rio Jari, pesquisadores de universidades do Brasil, Finlândia e Reino Unido já tinham analisado dados de 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira. A busca por terra validou o que já havia sido identificado por satélites.
O estudo, realizado por diversas instituições de ensino e pesquisa do Brasil e exterior, começou em 2016, foi financiado pelo Fundo da Amazônia, e resultou na expedição Jari-Paru: em busca da árvore gigante.
Usando uma espécie de "radar laser" que faz sensoriamento remoto, os pesquisadores identificaram regiões com árvores gigantes, todas com altura superior a 80 metros. Pelo menos seis dessas coleções estavam na região do Rio Jari, entre os estados do Amapá e Pará, incluindo a gigante mor de 88 metros.
Para se ter uma ideia da dimensão da descoberta, as maiores árvores do mundo são as sequoias-gigantes, que podem medir de 85 a 110 metros e são naturais do hemisfério norte.