Projeto busca catalogar e proteger árvores com mais de 80 metros de altura no Sul do Amapá — Foto: Divulgação
O projeto que realizará uma nova expedição científica, arriscada entre rios e corredeiras, que pretende mapear e estudar mais árvores gigantes na Amazônia de quase 90 metros, no Sul do Amapá, será retomado neste mês de outubro. A pesquisa foi suspensa em março, devido à pandemia da Covid-19.
Em 2019, pesquisadores brasileiros e britânicos conheceram de perto a maior árvore da Amazônia, com 88 metros de altura, dentro uma reserva de conservação de uso sustentável, na divisa do Amapá com o Pará. Com o achado, os pesquisadores apostam na identificação de outras gigantes.
O novo trabalho quer catalogar até 2021 mais 4 árvores gigantes. Elas foram identificadas no interior da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, região conhecida como Médio Jari.
O que se sabe é que elas são exemplares de Dinizia excelsa ducke, espécie mais conhecida como Angelim-Vermelho.
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A retomada
O estudo é coordenado pelo doutor em ciências florestais e professor do Instituto Federal do Amapá (Ifap) em Laranjal do Jari, Diego Armando Silva, com colaboração de outros pesquisadores amapaenses.
O projeto também contempla qualificar moradores próximos às grandes árvores para que possam se tornar guias e realizar outros trabalhos não madeireiros para a geração de renda das comunidades onde habitam.
Professor Diego Silva é um dos pesquisadores do projeto — Foto: Divulgação
Antes de ser suspensa, a pesquisa havia previsto iniciar em março uma capacitação com os moradores, para que no período de junho a agosto acontecessem as expedições em busca das 4 árvores gigantes.
Mas o cronograma precisou ser modificado e a próxima etapa acontece no dia 17 de outubro. De acordo o coordenador, o minicurso integrará a 17ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, com mais de 100 atividades gratuitas promovidas pelo instituto.
“Esse projeto foi aprovado em fevereiro de 2020, no entanto, devido à pandemia, os pesquisadores e o Ifap fizeram um novo planejamento para a execução desse projeto em agosto de 2020. A capacitação vai acontecer por meio de minicursos com as comunidades, no dia 17 de outubro, com o objetivo de habilitá-los a lidar com novas expedições na região”, detalhou.
As comunidades que devem receber o curso são as do entorno do Rio Iratapuru e São Francisco do Iratapuru, diretamente envolvidas nas expedições na região.
O projeto recebeu R$ 60 mil do Fundo Natura para Desenvolvimento Sustentável das Comunidades (Fundo Iratapuru). O professor destacou que o Ifap e mais de 30 pesquisadores buscam receber também outro financiamento, desta vez do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) que visa o monitoramento dessas árvores nos próximos quatro anos.
Equipe de amapaenses no pé da maior árvore da Amazônia, em 2019 — Foto: Rafael Aleixo/Setec
Áreas de 'árvores gigantes'
Tudo partiu de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que identificou árvores com alturas muito acima do normal nesta região do estado.
Antes de encarar a viagem pelo rio Jari, pesquisadores de universidades do Brasil, Finlândia e Reino Unido já tinham analisado dados de 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira. A busca por terra validou o que já havia sido identificado por satélites.
O estudo, realizado por diversas instituições de ensino e pesquisa do Brasil e exterior, começou em 2016, foi financiado pelo Fundo da Amazônia, e resultou na expedição Jari-Paru: em busca da árvore gigante.
Usando uma espécie de "radar laser" que faz sensoriamento remoto, os pesquisadores identificaram 7 regiões com árvores gigantes, todas com altura superior a 80 metros.
Seis dessas coleções estavam na região do Rio Jari, entre os estados do Amapá e Pará, incluindo a gigante mor.
Para se ter uma ideia da dimensão da descoberta, as maiores árvores do mundo são as sequoias-gigantes, que podem medir de 85 a 110 metros e são naturais do hemisfério norte.