Amazônia

Por Fabiana Figueiredo, Jéssica Rabelo e Ronaldo Brito, G1 AP — Macapá


Uma das espécies que integram o acervo do Iepa é um poraquê estudado recentemente — Foto: Ronaldo Brito/Rede Amazônica

Quão diversa pode ser a fauna de peixes amapaense? É para tentar mapear o máximo de espécies que os pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa) se debruçam quase todos os dias. Atualmente, a coleção é credenciada pelo Ministério do Meio Ambiente, tem mais de 500 espécies e cerca de 5 mil amostras de animais.

Entre redes de pesca e microscópio, os especialistas seguem estudando amostras coletadas em rios e igarapés de água doce e ainda na região costeira do estado, na água salgada. Cerca de 10% dos peixes que integram o acervo ainda não tiveram as espécies identificadas.

Grupo coletou arraia em estação ecológica na região costeira do Amapá — Foto: Iepa/Divulgação

Pode ser que eles já sejam conhecidos da ciência, ou talvez nunca antes catalogados no mundo científico. Caso seja inédito, um reconhecimento pode levar cerca de 2 anos de um estudo minucioso, como explica a bióloga e pesquisadora do Iepa, doutora Cecile Gama.

“Nós trazemos para laboratório onde procuramos saber qual o nome dessa espécie. Se não conseguimos descobrir, temos um indicativo de que talvez não seja conhecida. Então iniciamos uma pesquisa mais minuciosa, até chegar ao ponto de dizer que nunca foi descrita, nunca foi vista por um cientista. Daí nós começamos o trabalho de descrição, vamos ver a característica de cada espécie, e o que leva ela a ser considerada uma espécie nova”, descreve.

De candiru a poraquê, coleção no Amapá tem mais de 500 peixes diferentes e busca novas espécies — Foto: Ronaldo Brito/Rede Amazônica

O processo exige também recursos financeiros e de pessoal, por isso, uma das saídas encontradas é fazer parcerias com especialistas em outras instituições pelo Brasil e até de fora do país, visto que no Amapá não há cientistas específicos para todos os grupos de peixes.

Uma das espécies mais recentes descrita no estado foi um poraquê de mais de um metro de comprimento, coletado na Floresta Nacional do Amapá (Flona). Outro exemplar é um candiru de pouco mais de um centímetro encontrado no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a maior reserva de floresta tropical do mundo.

“O fato de a gente ter espécies não descritas significa que o nosso estado é pouco amostrado, porque o acesso é difícil, a área é muito grande, e é muito preservada – isso é muito bom porque abriga uma diversidade grande. Mas não temos recurso financeiro nem pessoal para investigarmos todos os ambientes. Mas se nós nos dedicarmos provavelmente esse número vai crescer muito mais”, comentou Cecile, que atua há 20 anos no Iepa.

A especialista ressalta que a coleção é importante para conhecer a biodiversidade que habita o Amapá. Entender como se comporta cada espécie possibilita entender se há riscos na relação entre animais e seres humanos.

Catalogação de espécie pode levar cerca de 2 anos para ser apresentada à comunidade científica — Foto: Ronaldo Brito/Rede Amazônica

Conhecer a variedade de espécies também contribui para analisar os impactos, caso ocorram danos ambientais na região.

“Ao conhecer nossa biodiversidade, amanhã se acontece qualquer dano que seja no nosso estado, nós podemos saber e quantificar o tamanho desse impacto, o que nós perdemos, o que aconteceu, o que as espécies sofreram. Mas, se não sabemos quem são os peixes que habitam cada rio, e acontece algo com esse rio, nós não temos como quantificar esse impacto”, explicou.

Pesquisadores atuam para conhecer a biodiversidade que existe no Amapá — Foto: Phillippe Gomes/Secom/Divulgação

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