Amazonas volta a bater recorde de queimadas em apenas um dia no mês de julho
O Amazonas registrou um recorde no número de queimadas para o mês julho. Segundo dados do Programa de BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram contabilizados 4.241 focos de incêndio, o maior número desde 1998, quando o órgão começou a monitorar as queimadas na Amazônia.
Com isso, o Amazonas registrou um aumento de quase 118% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
- 🔥 1.947 focos de calor registrados no mês de julho de 2023;
- 🔥 4.241 focos de calor registrados no mês de julho de 2024
O número é tão alto que somando o total de focos de calor registrados em julho de 2022 (1.428) e 2023 (1.947), ainda assim o registrado neste ano é superior.
Para o ambientalista e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Erivaldo Cavalcanti, a falta de fiscalização e o aumento das temperaturas a cada ano, aliados às práticas criminosas de desmatamento e queimadas, tem contribuído para esse desastre.
"Essa combinação de fatores, aliada às mudanças climáticas, possibilita a tragédia anunciada todos os anos. O desmatamento ilegal, muitas vezes seguido por queimadas para limpeza de áreas, contribui significativamente para o aumento dos focos de incêndio. Além disso, as pressões econômicas para expandir áreas de cultivo e pastagem incentivam o uso de queimadas como um método barato e rápido de desmatamento", afirmou Cavalcanti em entrevista ao g1.
Na terça-feira (30), o Amazonas voltou a bater recorde no número de queimadas em um único dia, contabilizando 783 focos de calor.
O avanço do fogo ocorre em meio à seca que atinge o estado e que, segundo o governo, deve ser mais severa do que aquela registrada no ano anterior, sendo a maior da história do Amazonas. Na segunda-feira (29), a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou situação de escassez hídrica nos rios Madeira e Purus, que banham municípios amazonenses.
Amazonas volta a bater recorde no número de queimadas e registra quase de 800 em um único dia. — Foto: Divulgação/Ibama-AM
Apuí lidera 'ranking' do fogo
O município de Apuí, no interior do Amazonas, lidera o ranking das cidades que mais queimam no país. Dados do BDQueimadas também apontam que até o dia 31, o município registrou 1.451 queimadas. Em segundo lugar, aparece Lábrea, também no Amazonas, com 983.
As duas cidades amazonenses desbancaram Corumbá, no Pantanal de Mato Grosso do Sul que, até mais da metade do mês, liderou o ranking do fogo.
- 1️⃣ Apuí (AM): 1.451
- 2️⃣ Lábrea (AM): 983
- 3️⃣ Corumbá (MS): 771
- 4️⃣ Itaituba (PA): 719
- 5️⃣ Porto Velho (RO): 647
O superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, disse que o órgão deslocou três brigadas para combater os incêndios na região, que é conhecida no estado como "arco do fogo", devido a forte presença da pecuária.
"É importante ressaltar que o sul do estado é a região com a maior incidência de incêndios florestais, portanto, o Ibama atua naquela região com três brigadas em Humaitá, Manicoré e Apuí. Também criamos uma quarta brigada em Autazes, na terra indígena Recreio São Feliz. Ao todo, 110 brigadistas em todo o estado", explicou.
Municípios do sul do Amazonas lideram ranking do fogo. — Foto: Divulgação/Ibama-AM
Ainda de acordo com Joel, o Ibama tem desenvolvido, além do combate aos incêndios florestais, atividades de educação ambiental nos municípios: "As atividades desenvolvidas são de educação ambiental, de instrução de escolas, comunitários e produtores rurais sobre o uso do fogo e sobre os incêndios".
O superintendente também colocou o órgão à disposição para ajudar o estado e os municípios no combate aos incêndios florestais.
Em nota, o Governo do Amazonas disse que tem atuado com rigor no combate às queimadas, especialmente no Sul do Estado, com a Operação Tamoiotatá. As ações integradas envolvem órgãos estaduais e federais e, além de sanções administrativas, resultam em prisões e apreensões de materiais ilícitos. A operação resultou, até junho, na aplicação de R$ 14 milhões em multas (Veja a nota na íntegra ao final da matéria).
Emergência ambiental
O Amazonas está em emergência ambiental devido aos focos de calor. Ao todo, são 22 dos 62 municípios do estado nessa situação. Segundo o estado, durante o período de 180 dias está proibido a prática de fogo, com o sem uso de técnicas de queima controlada.
O cenário que se avizinha parece repetir 2023, quando o Amazonas registrou mais de 20 mil queimadas ambientais, sendo o segundo pior ano desde 1998, quando o Inpe começou a fazer o monitoramento do bioma.
Nota do Governo do Amazonas
O Governo do Amazonas informa que nos últimos anos tem atuado com rigor no combate às queimadas, especialmente no Sul do Estado, com a Operação Tamoiotatá. As ações integradas envolvem órgãos estaduais e federais e, além de sanções administrativas, resultam em prisões e apreensões de materiais ilícitos. A operação resultou, até junho, na aplicação de R$ 14 milhões em multas.
O Estado conta também com as Operações Aceiro, a maior força-tarefa integrada já realizada no Amazonas na repressão de crimes ambientais, e Céu Limpo, com foco na capital. Até 19 de julho, as missões já combateram 1.454 focos de calor. Deste total, 1.381 foram por meio da Operação Aceiro 2024, no interior, e 73 com a Operação Céu Limpo.
Paralelo às operações, o Governo do Amazonas vem fortalecendo as estruturas de fiscalização e combate aos crimes ambientais. Em 2021, o governador inaugurou o Centro de Monitoramento Ambiental e Áreas Protegidas (CMAAP) do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).
As ações de campo seguem dados de monitoramento via satélite, que são analisados e disponibilizados diariamente por técnicos do Ipaam e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). Equipes de diversos órgãos ambientais e de segurança fortalecem a força-tarefa em campo.
Em junho, 10 sensores de monitoramento da Qualidade do Ar foram entregues pela Sema à Defesa Civil do Amazonas. A entrega é fruto de um termo de cooperação entre o Governo do Amazonas e a Embaixada da Coreia do Sul. Até o momento, Nhamundá, Autazes, Careiro Castanho, Manaquiri, Itapiranga, Silves, Maraã, Codajás, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, São Sebastião do Uatumã e Urucará estão com monitoramento ativo.
Todas as operações foram lançadas de forma antecipada neste ano, em virtude da severa estiagem prevista, que impacta no aumento das ocorrências de incêndios. A maior parte do território do Amazonas sofre com o período seco atual, intensificando, assim, a ocorrência de queimadas.