Primeiro toque, o público começa a entrar. O Chão é de mármore, mas logo muda para o carpete bege que preenche todo o espaço da arena de espetáculos. Segundo toque, todos se acomodam. A grande cortina vermelha esconde o movimento, ansiedade e a concentração daqueles que são os transmissores da comédia e da tragédia. Terceiro toque, o silêncio toma conta. As luzes da casa se apagam, a cortina se abre e a magia começa.
Essa é uma tradição que se repete há mais de um século em um dos teatros mais conhecidos de Alagoas, o Deodoro, que comemora seus 105 anos de espetáculos neste domingo (15).
Projetado pelo arquiteto Luiz Lucariny, também responsável pelo Theatro 7 de Setembro, em Penedo, o primeiro teatro da capital alagoana, soberano até o final do seculo XX, foi inaugurado em 1910. A estrutura de estilo neoclássica, que recebeu o nome do primeiro presidente do Brasil, é rosada, chama atenção e encanta quem passa pelo Centro.
Teatro Deodoro completa 105 anos de espetáculos (Foto: Jonathan Lins/G1)O Deodoro é, literalmente, um palco para as histórias e emoções do tempo. E quem faz essa história da cultura alagoana, além dos atores, músicos, comediantes e dançarinos que por ali passam, são aqueles que estão diariamente lá, deixando tudo pronto para os artistas e para o público.
Sonoplasta destaca a importância do teatro(Foto: Jonathan Lins/G1)
“Todos que passam por aqui são muito importantes. Não seria justo destacar apenas um para representar esses meus 29 anos de casa”, contou o sonoplasta João Erisson, ao ressaltar o prazer imenso que sente ao trabalhar no teatro.
“O Deodoro ensina muito, tanto para a gente que trabalha aqui, como para os que comparecem aos espetáculos. Essa casa é, sem dúvida, um berço para a cultura local”, completa Erisson.
Camareira exibe fotografia com Dercy Golçalves(Foto: Jonathan Lins/G1)
E esse espaço já recebeu milhares de atrações. Uma delas, a camareira com 29 anos de casa, Maria Pereira de Lima, não esquece.
“Nunca vou me esquecer da Dercy Golçalves. Ela não queria tirar foto com ninguém, e eu sempre tiro foto com meus artistas. Acho que ela percebeu isso e deixou, do jeitinho dela, me xingando, mas deixou” contou dando risada.
Em 1972, o palco alagoano cresceu com a inauguração do tímido, porém não menos importante que seu irmão rosa, Teatro de Arena Sérgio Cardoso. Com capacidade menor, seu espaço, anexo ao do Deodoro, foi inspirado nas arenas de dramaturgia da Grécia, e é voltado para produções menores.
Já no século XXI, mais precisamente no ano de 2014, o Complexo Cultural Teatro Deodoro foi inaugurado. Agora, além dos palcos dos dois teatros, a população também conta uma galeria, sala de orquestra e salas de aula para ballet e música.
Complexo cultural tem salas de aula, sala para orquestra e espaço para exposições (Foto: Jonathan Lins/G1)Um espaço democrático
“O Teatro Deodoro é a grande matriz onde foram se incorporando outros espaços. Essa é a casa do artista alagoano, e é com muita alegria e felicidade que todos estão aqui dentro. Da cultura popular ao erudito, dança, música, além dos profissionais que aqui trabalham”, explicou o diretor artístico e cultural do teatro, Alexandre Holanda.
Holanda destaca ainda que a Diretoria de Teatros de Alagoas (Diteal) elabora projetos principalmente para a grande valorização do artista alagoano. “Temos projetos como o Teatro é o Maior Barato e o Quinta no Arena, que buscam formar plateia para produções locais através de preços populares”, explicou
Em comemoração ao 105º aniversário do Teatro Deodoro, a Diteal realizou uma programação durante toda a semana que, neste domingo, às 20h e com preços de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), se encerra com o show do alagoano Eliezer Setton.
Também é possível visitar, no Complexo Cultural, as exposições simultâneas ‘Andeja’, da artista visual Myrian Almeida, e 'Poesia em Foco', que presta uma homenagem aos 200 anos de Maceió na visão dos fotógrafos Ana Cristina Francisco dos Santos, Arthur Celso e Luna Gavazza.