Por g1 AC — Rio Branco


Vacina contra HPV poderá ser aplicada em usuários de PrEP — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Com a inclusão de usurários da Profilaxia Pré-Exposição, mais conhecida pela sigla PrEP, na imunização contra o HPV, ou Papilomavírus Humano, pelo menos 157 pessoas serão beneficiadas no Acre, segundo o Ministério da Saúde.

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A pasta publicou uma nota técnica nessa quarta-feira (3) com a ampliação do público-alvo da vacinação, e incluiu usuários da medicação que tenham entre 15 e 45 anos. Para a Saúde, a ampliação vai permitir maior prevenção e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e cânceres causados pela doença.

A vacina contra o HPV existe há 10 anos. Ela é distribuída de forma gratuita pelo SUS para os seguintes grupos:

  • Meninas e meninos de 9 a 14 anos
  • Pessoas de 9 a 45 anos em condições clínicas especiais, como as que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos (imunossuprimidos)
  • Vítimas de abuso sexual
  • Pessoas portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PPR)

A rede privada já tem disponível a vacina nonavalente, que protege contra mais cinco tipos de vírus: 31, 33, 45, 52 e 58.

Já a PrEP é uma das principais formas de prevenção do HIV. Comprimidos são tomados (PrEP diária e sob demanda) antes da relação sexual, o que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.

Segundo o ministério, a medida foi implementada porque usuários da PrEP apresentam risco aumentado de aquisição da infecção pelo HPV.

“Esse é um público do ponto de vista da possibilidade de adquirir o vírus pela via sexual, é um grupo que está em maior risco, então a possibilidade de ele ser vacinado foi discutida no nosso comitê técnico assessor de imunização, a nossa CETAI, que reúne pesquisadores, sociedades científicas do Brasil”, disse Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.

Novo protocolo do Ministério da Saúde recomenda 1 dose de vacina contra HPV

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O que é a PrEP?

PrEP começou a ser oferecida pelo SUS em dezembro de 2017 — Foto: Fábio Silva/Secretaria de Saúde de Contagem/Arquivo

É um comprimido que combina dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina). Dentro do corpo, eles trabalham para fazer uma espécie de bloqueio nos caminhos que o HIV usa para infectar o organismo.

Assim, o corpo se prepara para enfrentar um possível contato com o HIV, como em uma relação sexual, por exemplo.

  • Em dezembro de 2017, a PrEP foi distribuída para 325 pessoas em 11 estados;
  • Em dezembro de 2021, já eram quase 30 mil usuários de PrEP nos 26 estados e Distrito Federal;

Quem pode tomar?

Quem não está infectado pelo HIV e possuir maior risco de entrar em contato com o vírus, como quem tem vários parceiros ou não consegue usar camisinha.

"A PrEP é tomada diariamente por quem tem um risco aumentado de infeção por HIV, como pessoas que não conseguem usar o preservativo, quem sempre tem quadros de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) ou quando você está vivendo um relacionamento sorodiferente, que é aquele que uma pessoa tem HIV e a outra não", explica o médico infectologista Vinícius Borges, especialista em ISTs.

Ela também é indicada para homens gays, transexuais, trabalhadores do sexo e para quem faz uso repetido da PEP, a Profilaxia Pós-Exposição (siga lendo para entender a diferença).

Como tomar a PrEP?

Caso você esteja nos grupos indicados, é importante consultar um médico para iniciar o uso do medicamento. Isso porque há dois jeitos de tomá-lo.

No SUS, a PrEP geralmente é receitada para ser tomada uma vez por dia - e a retirada do medicamento, de graça, deve ser feita a cada três meses. O efeito protetor começa a partir do sétimo dia.

"Você toma um comprimido por dia e faz exames a cada quatro meses", afirma o médico Vinícius Borges. "A PrEP só age no HIV, ela não previne outras ISTs", ressalta.

Segundo o Ministério da Saúde, a PrEP não precisa necessariamente ser usada até o final da vida de maneira ininterrupta. A pessoa pode interromper ou parar o uso do medicamento, caso haja mudanças no seu contexto de vida. Também pode retomar o uso da profilaxia.

Dos mais de 29,9 mil usuários de PrEP no Brasil em dezembro de 2021, 41% pararam de tomar o medicamento em algum momento, mas depois recomeçaram.

Liberada recentemente pelo SUS, mas já receitada por médicos particulares, há também a chamada PrEP sob demanda: é o mesmo comprido, só muda a forma de tomar, no esquema "2+1+1".

"São dois comprimidos de 2 a 24 horas antes do sexo, um comprimido 24 horas após a dose dupla e um comprimido 48 horas após a dose dupla. É indicada apenas para homens gays e bissexuais cisgênero, de acordo com o protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS)", explica o infectologista.

O esquema sob demanda é mais usado, segundo o médico, por quem tem menos exposições sexuais semanais e consiga planejar seus horários.

E a eficácia?

De acordo com o infectologista, o uso diário da PrEP pode gerar uma proteção de até 99% contra o HIV no sexo anal. No sexo vaginal, a eficácia do medicamento é de cerca de 90%. Já no esquema sob demanda, a eficácia é de até 97%.

"É muito eficaz. Os poucos casos de infecção por HIV acontecem em pessoas que não tomam o medicamento de forma correta e acabam se tornando mais vulneráveis", diz Vinícius Borges.

A PrEP exclui a camisinha?

Não. A PrEP faz parte da prevenção combinada, uma estratégia adotada pelo Ministério da Saúde que junta vários métodos de prevenção ao HIV, de acordo com as necessidades de cada pessoa.

Para o infectologista, as medidas de proteção não se excluem, mas se somam. Ele defende que a prevenção vai muito além da camisinha.

"Se camisinha fosse resolver a epidemia de AIDS, ela já teria resolvido. Hoje, a gente tem que entender que existem outras opções para pessoas mais vulneráveis, para quem não consegue usar a camisinha sempre, e a PrEP tem mostrado um impacto gigante", diz Borges.

A PrEP faz parte da estratégia de prevenção combinada do Ministério da Saúde. — Foto: Divulgação/Semsa

Segundo o médico infectologista, a PreP trouxe uma nova forma de prevenção que também ajudou a acabar com um certo temor em volta do HIV, principalmente nas comunidades gay e trans.

"O HIV pode acontecer com todo mundo, mas alguns grupos ficaram marcados por isso até hoje. [...] Estamos nos tornando a primeira geração que está transando com menos medo ou até sem medo por conta dessas tecnologias que temos à disposição", diz Vinícius Borges, que também é especialista em saúde LGBT+.

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