Ana Joyce tem 13 anos e toca mais de 15 instrumentos — Foto: Arquivo pessoal
Orgulho: este é o sentimento dos pais James Joyce Bezerra Gomes e Vânia do Carmo Nery pela filha, Ana Joyce do Carmo Gomes, de 13 anos. Com altas habilidades, a adolescente toca pelo menos 15 instrumentos musicais, já foi aprovada em dois cursos de ensino superior, além de um concurso público no Acre.
Ana Joyce é acompanhada pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S), há quatro anos, além de estudar no Centro de Estudos de Línguas (CEL-AC) e em um curso particular de Rio Branco. Além dos instrumentos, ela já fala inglês e espanhol, faltando apenas aulas de conversação das línguas para se tornar fluente em ambos.
LEIA TAMBÉM:
De acordo com o laudo elaborado pelo núcleo, a adolescente apresenta características consistentes com altas habilidades/superdotação na área de música, liderança e leitura, além de apresentar potencialidades nas áreas de comunicação e acadêmica.
No ensino regular, Ana Joyce estuda no 8º ano, no Colégio Militar Tiradentes, e de acordo com os pais, as facilidades da menina foram observadas muito cedo, quando ela começou a andar antes do tempo. Também falou cedo, leu muito antes do que outras crianças e começou o interesse por instrumentos desde muito pequena. Vânia diz que antes de levá-la para investigar a superdotação, não percebeu, pois ela era a primeira filha, então não conseguia ter um parâmetro para comparar.
"Quando ela era bebezinha, ela aprendia as coisas com muita facilidade, mas a gente achava que aquilo era coisa de criança mesmo, que toda criança tem facilidade em aprender. Aos quatro anos a gente já colocou ela para aprender instrumentos, mas foi a vontade dela mesmo, ela via e queria tocar. No começo a gente colocava ela como um ouvinte, e aí ela assimilava bem os conhecimentos e se saía melhor até do que os meninos que eram mais velhos", contou a mãe ao g1.
Os pais de Ana Joyce afirmam que tentam apoiá-la em todas as atividades que ela deseja fazer — Foto: Arquivo pessoal
Para a descoberta, os pais receberam o conselho de uma amiga da família, para que procurassem avaliá-la. Além do parecer do NAAH/S, os pais ainda buscaram um diagnóstico com uma neurologista, que apresentou o mesmo resultado.
"Inicialmente foi a música, mas lá identificaram outras habilidades na parte do conhecimento científico. É um laudo extenso, inclusive, o pessoal do NAAH/S nos chamou pra apresentar. Ela foi diagnosticada com altas habilidades na área de música e de conhecimentos científico-acadêmicos", diz o pai.
Com apenas 13 anos, menina com altas habilidades sonha em ser médica cientista — Foto: Arquivo pessoal
Aprovações
Com apenas 13 anos, Ana Joyce também já foi aprovada em duas universidades e ficou em primeiro lugar no concurso público da prefeitura do município de Porto Acre, interior do estado. A mãe conta que as inscrições foram feitas apenas para que ela testasse o conhecimento na área de redação, porém a menina acabou sendo aprovada, e agora a superdotada deseja continuar aplicando para outros locais.
"Ela fez um vestibular ano passado, particular aqui, para medicina. Aí ela tirou 9,0 de 10 na redação. Ela fez esse vestibular porque ela gosta muito de escrever e eu coloquei ela para fazer o vestibular só para ver se ia bem. Aí ela fez e foi aprovada. Esse ano eu vi que abriu da Universidade Federal do Amazonas, e aí como ela tocava instrumentos, tinha para música, eu fiz a inscrição, ela fez a prova e aí quando saiu o resultado, ela havia sido aprovada também", explica.
Vânia esclarece que já houve épocas em que a filha tinha muitas aulas para desenvolver suas habilidades, porém ela voltou a trabalhar e foi necessário retirar a filha de algumas, já que todos os dias a garota fazia várias atividades.
"Ela tinha aula todo dia de música, tocava vários instrumentos, e aí, quando eu comecei a trabalhar, já fiquei preocupada. Aí eu fui cortando as aulas, e agora que ela está começando a pegar nesse foco do estudo, que foi quando ela fez essas provas e fez o concurso", complementou.
Acreana com altas habilidades de 13 anos toca 15 instrumentos
Instrumentos
A superdotação da jovem é, principalmente, voltada para a área musical. Com apenas 4 anos, a garota começou fazendo aula de teclado próximo de sua escola. Aos 5, começou a fazer aula de violino na Universidade Federal do Acre (Ufac). Aos 6, órgão e piano. Depois veio a flauta, o saxofone e, atualmente, ela possui mais de 20 instrumentos em casa.
"Ela fazia aula todo dia. Aula de órgão, de teclado, acordeom, no outro dia ela fazia saxofone, todo dia ela fazia. Aí eu fui cortando porque comecei a trabalhar e não dava para levar. Quando ela quer fazer alguma música, ela vai no ukulele. Quando ela quer tocar algum hino da igreja, tem um piano lá em casa. Tem alguns que ela toca assistindo vídeos no YouTube também. Agora ela está fazendo só essas duas aulas: violino e sax", afirma.
Com a música, a adolescente faz muitos eventos. No núcleo, ela treina com o professor, com outros alunos e participa de apresentações. Ana Joyce já tocou em escolas, secretarias, hospitais, além de já ter representado o estado em Manaus, na orquestra do Teatro Amazonas.
A mãe ainda salienta que a adolescente também estuda sobre os compositores, músicas e vai avançando no conhecimento. Como nas escolas regulares não há um estudo sobre a música, no NAAH/S ela consegue ver todos estes aspectos. O sentimento, segundo ela, é de felicidade em poder proporcionar tudo o que não conseguiu ter quando tinha a idade da filha.
"Eu queria fazer curso de inglês, mas tinha que trabalhar, estudar, era muito puxado e não tinha condições de pagar. Graças a Deus tudo que ela quer fazer, meu marido paga. Eu consigo levar, então é como se eu tivesse me realizando também. Não é que eu queira que ela faça tudo que eu queria fazer, não. Eu proporciono pra ela fazer o que ela tem vontade, que eu também sempre tive e às vezes não tinha condições.", explicita.
Menina superdotada de 13 anos toca 15 instrumentos e já foi aprovada em 2 universidades
Acompanhamento
O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) está vinculado à Divisão de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE-AC), oferecendo serviços educacionais especializados no que diz respeito à investigação e ao atendimento dos alunos com características de altas habilidades/superdotação (AH/SD) e à formação continuada dos profissionais que atuam na educação básica, ofertando, também, cursos livres à comunidade.
Jeane Lira Jucá, chefe do NAAH/S-AC, esclarece que o local tem como objetivo identificar e atender os alunos com tais características na educação básica. “O objetivo do núcleo é identificar o aluno com AH/SD e atendê-lo de forma pedagógica, ou seja, o aluno adentra o Núcleo para um processo de investigação e, uma vez que são confirmadas as características consistentes de AH/SD, ele passa a receber atendimentos de enriquecimento curricular e/ou extracurricular até o final do ensino básico”, diz.
Crianças são acompanhadas por diversos profissionais para focar em suas habilidades — Foto: Arquivo/NAAH-S
A chefe menciona que Ana Joyce foi indicada para o local em 2020, e mesmo em época de pandemia, já foi iniciada a investigação nas áreas de leitura e música. A averiguação da adolescente atrasou e demorou dois anos.
Jeane esclarece que, normalmente, quando o estudante é indicado para o NAAH/S, há uma área que se sobressai, seja em matemática, linguagens, biologia, química ou artes. O acadêmico é investigado e, então, há uma sondagem geral.
"Quando se fala de alunos superdotados, ele não é bom em todas as áreas, que é o mito que sempre falam. Há uma área, ou duas, geralmente, que ele tem uma potencialidade bem maior que outras. No momento da investigação, mais na frente ele pode até ter outros interesses, desenvolver essa habilidade", afirma.
Sobre o acompanhamento, Ana Joyce fala que sente que o cérebro é desenvolvido quando é estimulada a aprender coisas novas.
"Em relação a quando eu toco os instrumentos, eu sinto também a mesma coisa, só que em diferentes músicas eu sinto a sensação da música. Eu sinto como é que é a música pra mim. É como se fosse uma terapia", diz.
Desde muito pequena, Ana Joyce demonstrou grandes habilidades com instrumentos — Foto: Arquivo pessoal
Futuro
Os pais garantem que querem que ela tenha a oportunidade de fazer tudo o que quiser.
"Tudo com ela resume-se a orgulho. Espero que ela tenha um futuro muito promissor. Ela pensa muito alto (...) e ainda quer ser cientista médica", comenta o pai.
A mãe acrescenta ainda que quer ver ela tendo a oportunidade de estudar o que desejar.
"Se depois, no meio do caminho, ela mudar de ideia e quiser fazer outra coisa, a gente vê pra outra trilha. O que eu quero é que ela tenha oportunidade de testar tudo que ela quer", disse a mãe.
Já Ana Joyce fala que quer ser neuropesquisadora, estudar fora e ajudar entidades e projetos de assistência social. O apoio dos pais, segundo a menina, é fundamental para que ela consiga alcançar os sonhos de vida.
"Os meus pais são o trampolim, os meus objetivos são o céu e eu sou a pessoa que está pulando no trampolim. Então toda vez que eu pulo no trampolim, eu consigo cada vez mais chegar perto do céu e quando eu não pulo no trampolim, eu não consigo alcançar. Ou seja, os meus pais são os que me impulsionam para eu conseguir encontrar as minhas metas, descobrir quais são as minhas metas para a minha vida e assim conseguir realizá-las", finaliza.
Superdotada, Ana Joyce sonha em ser cientista médica — Foto: Arquivo pessoal