‘Da Terra ao Clima’ mostra como as lições do passado inspiram a construir presente e futuro mais justos
Produzido pela Gueto Hub, de Belém (PA), o curta-metragem 'Da Terra ao Clima' mostra a organização coletiva em favor das periferias.
Uma casa no bairro Jurunas, em Belém (PA), foi sede de inúmeras histórias e da luta de um povo para ser visto, ouvido e respeitado. Essa mesma casa, agora em uma nova fase, reflete os anseios e a mobilização das juventude em favor da construção de uma sociedade mais justa e na qual as suas demandas tenham vez. E, é claro, que elas e eles tenham protagonismo e influência nos rumos de políticas públicas. Esse é o mote do minidocumentário Da Terra ao Clima.
O segundo episódio da temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, que tem produção da Gueto Hub, organização atuante nesse mesmo bairro, reforça, então, como os ensinamentos que as gerações anteriores podem mostrar caminhos para as seguintes intensificarem e inovarem suas lutas.
Esse ponto está presente, inclusive, em momentos diversos depoimentos em Da Terra ao Clima. Isso é emblemático a ponto de ter sido verbalizado que, em resumo, o espaço Gueto Hub tem a ancestralidade e o futuro em sua essência, Se o espaço abrigou uma escola pela qual passaram diversas crianças do bairro Jurunas, hoje sedia uma biblioteca comunitária e uma galeria de arte.
Em paralelo, ainda que a abordagem ocorra por meio de dinâmicas diferentes, o debate ambiental esteve presente desde sempre na atuação comunitária local. “O documentário reflete a trajetória da comunidade até a geração atual, que aborda questões climáticas e defende o território frente ao agravamento da injustiça climática nas baixadas”, explica Jean Ferreira, da Gueto Hub (PA), que participou da produção do curta-metragem.
Desse modo, Da Terra ao Clima tem também como objetivo mostrar, então, como a memória e a cultura se relacionam. “A memória é um exercício e uma musculatura: não é algo para pendurarmos”, reflete.
Do clima ao território
Um dos pontos emblemáticos de Da Terra ao Clima diz respeito à noção segundo a qual a incidência em escala global precisa partir do – e ser para o – território. Nesse sentido, tal lógica ganha ainda mais veemência ao considerar-se que Belém será, em 2025, a sede da COP30 (Conferência das Partes).
A trigésima edição da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para discussão sobre mudanças climáticas consiste em encontro com líderes mundiais, cientistas, ONGs e OSCs para discussões com esse teor. Desse modo, a Gueto Hub e movimentos como a COP das Baixadas colocam em pauta a urgência de se debater tais temas a partir de demandas e experiências de quem vive nas periferias.
Assim sendo, trata-se também de um chamado para considerar os impactos das mudanças climáticas e os reflexos das desigualdades nesses territórios e em escala global. Isso vale, é claro, para o protagonismo das periferias. “Considero que nesse mundo globalizado onde vivemos, tendemos a achar que o planeta todo está ao nosso serviço. E perdemos, desse modo, a noção e a nossa responsabilidade com o nosso território e onde vivemos”, reforça Jean.
Finalmente, a lição que fica do curta-metragem documental é, então, a necessidade de todas as pessoas pautarem-se pela coletividade a partir de onde estão. “Quem não se sente pertencente a nenhum lugar territorial físico, geográfico, talvez encontrem em suas comunidades que as abracem. É nesse lugar coletivo em que elas contribuem nesse lugar de coletivo”, finaliza Jean Ferreira.
Sobre a temporada
Proteger o meio ambiente, lutar pela vida em comunidade e pelo bem-viver coletivo. Ao ter como mote Iniciativas para adiar o fim do mundo, a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, projeto da Fundação Tide Setubal, evidencia o protagonismo jovens de regiões diversas do Brasil, que se mobilizam para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. É sobre o hoje. É sobre o ontem. É sobre o amanhã.
Esta temporada conta, então, com curtas-metragens produzidos pelos seguintes coletivos:
- Nossos Sonhos pela Janela – Bora Fazer Filmes (MT);
- Da Terra ao Clima – Gueto Hub (PA);
- No Tempo do Sonho – Coquevídeo (PE);
- De Bará a Oxalá – Cine Kafuné (RS);
- Onde a Terra Ferve – Núcleo AOTA (SP).
Desse modo, assista a seguir ao minidocumentário Da Terra ao Clima. Por fim, confira também a participação especial na cena pós-créditos.
Texto: Amauri Eugênio Jr.