O sítio da Quinta da Ribeira foi, aquando da sua descoberta, no virar do século XX, considerado o... more O sítio da Quinta da Ribeira foi, aquando da sua descoberta, no virar do século XX, considerado o mais importante sítio do período romano no Alto Douro. Desde a descoberta e da primeira intervenção de Ricardo Severo, foram muitos os investigadores que se debruçaram sobre o sítio, embora quase sempre com base nas publicações de Severo (1903-1908) e de José Leite de Vasconcellos (1900). O presente artigo constitui uma primeira notícia dos resultados de uma intervenção de diagnóstico realizada na Quinta da Ribeira, em 2022, por parte da empresa Archeo'Estudos, Investigação Arqueológica Lda.
Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os habitante... more Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os habitantes locais possuem sobre um sítio arqueológico que nos dias de hoje encerra, entre a população local, um grande significado. A par de uma intervenção científica que tem como principal objetivo recolher dados históricos capazes de reconstruirem o processo evolutivo desta estação arqueológica, vão sendo recolhidas e descritas vivências e memórias de pessoas que cresceram lado a lado com o Castro S. João das Arribas.
As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Douro. O ri... more As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Douro. O rio, que em Espanha atravessa um amplo território, algo tímido, atravessa montanhas, num caudal reduzido, mas imponente na sua monumentalidade. As falésias das arribas do Douro despoletam-nos um imaginário fabuloso, impresso na escrita de autores como Trindade Coelho, Guerra Junqueiro ou António Mourinho. No entanto, pouco sabemos sobre as gentes que aqui habitaram antes da construção do Castelo de Miranda, algures no século XI. O Projecto de Investigação sobre o Castro S. João das Arribas tem como objectivo principal desvendar algumas das histórias, através de campanhas de escavações arqueológicas e recolhas de depoimentos orais sobre o território de Miranda do Douro e, mais especificamente, de Aldeia Nova.
Arqueologia em Portugal 2020 - Estado da Questão - Textos, 2020
Valpaços is a very recent administrative division in portuguese history. The abandonment that Mon... more Valpaços is a very recent administrative division in portuguese history. The abandonment that Monforte de Rio Livre suffered made it necessary to create a new administrative area, between the Padrela Hills and the Rabaçal, in between Chaves and Mirandela, extinguishing Carrazedo de Montenegro and incorportating adjoining territories. Ever since the agregation, in a single territory, of the so called “terras frias” and “terras quentes, of multiple geological, faunistic and floral realities, but also by archaeological challenges. The current research has the main objective to update the heritage protection mechanisms of the territory, while promoting its fragility. The work being carried out by the Valpaços city hall is centered not only on identifying new sites, but also protecting known ones
The Douro Valley is one of the least studied, though with the most archaeological potencial areas... more The Douro Valley is one of the least studied, though with the most archaeological potencial areas in Norwestern Portugal. Even though some areas have been extensivelly researched, the information that we have for most of the territory comes from older excavations or traditional historiography. The roman presence in the Douro Valley is generally accepted for the period since the II century AD, even though it is more and more accepted the presence of backgound noises, data that allow for older roman instalations. The site, located on the hillside of a small Iron Age castro, is the reflexion of a landscape change, that started with the advent of Rome in the territory, and that will forever change the Douro Valley unto the suspended garden of Miguel Torga
O dolium ou a talha, como e vulgarmente designado nos nossos dias, e muito provavelmente um dos t... more O dolium ou a talha, como e vulgarmente designado nos nossos dias, e muito provavelmente um dos tipos cerâmicos com maior pervivencia ao longo da Historia da cerâmica em Portugal. E tambem um dos tipos de cerâmica menos estudados no nosso territorio. A historia da cerâmica romana em Portugal tem-se centrado, essencialmente, nas cerâmicas de luxo e de importacao, como as sigillattae ou as ânforas, ou em producoes locais representativas de uma determinada zona, como as cerâmicas finas cinzentas. Os dolia tem representado, frequentemente, um caso a parte. Muitas vezes, os vestigios descobertos nao chegam a ser estudados, mesmo quando as escavacoes arqueologicas revelam uma predominância deste tipo de pecas. O seguinte trabalho insere-se num estudo mais global, que temos vindo a desenvolver, das pecas de tipo dolium presentes no Vale do Douro e na Beira Interior, em contextos arqueologicos dataveis dos seculos II a IV. Tomamos, aqui, como ponto de partida o trabalho realizado por Tony S...
A zona em torno da vila de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa) é sobejamente conhecida pela hi... more A zona em torno da vila de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa) é sobejamente conhecida pela historiografia clássica devido à presença de uma série de estabelecimentos rurais no seu entorno. Entre os vários sítios romanos, destaca-se Rumansil I pela variedade de atividades aí realizadas: metalurgia de ferro e chumbo, produção cerâmica, tanto de dolia como de peças finas e comuns, e produção de vinho. Os dados disponíveis não permitem a datação do início da construção deste sítio, mas fornecem indicações de que o seu abandono terá ocorrido a partir da segunda metade do século III da nossa Era, com uma ocupação limitada durante o século IV. Rumansil I situa-se num território dominado pelo granito, a poucos quilómetros a Sul do Rio Douro. O estudo deste sítio foi fundamental para compreender a rede de estabelecimentos rurais romanos em torno de Freixo de Numão, local que, aliás, durante muito tempo, se pensava ter sido a capital de um território indígena e que terá jogado um papel im...
Resumo: Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os h... more Resumo: Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os habitantes locais possuem sobre um sítio arqueológico que nos dias de hoje encerra, entre a popula-ção local, um grande significado. A par de uma intervenção científica que tem como principal objetivo recolher dados históricos capazes de reconstruirem o processo evolutivo desta estação arqueológica, vão sendo recolhidas e descritas vivências e memórias de pessoas que cresceram lado a lado com o Castro S. João das Arribas. As histórias comportadas pelo Castro de São João das Arribas são muitas, desde a Pré-História até aos nossos dias. Este artigo visa continuar um anterior, publicado nesta mesma revista, tendo em conta a ques-tão do território de São João das Arribas como local de vivências e lendas da população de Aldeia Nova. Os territórios e paisagens das Arribas, embora hoje em dia estejam extremamente despovoados, foram intensamente ocupados e explorados: cada pequeno pedaço de terreno era arado, muretes, por vezes com extensões mínimas, eram construídos para aproveitar mais alguns metros quadrados, os rebanhos de cabras e ovelhas eram uma visão constante nesta paisagem vertical. Paralelamente à questão das lendas e histórias partilhadas connosco pelos habitantes de Aldeia Nova sobre o Castro de São João das Arribas, iremos apresentar resultados da última campanha arqueológica realizada neste local paradigmático. A primeira parte deste artigo teve como pano de fundo a intervenção a ser realizada atualmente e a questão do contrabando, ainda muito presente em toda a raia fronteiriça de Portugal. Nesta segunda achega, iremos revelar alguns dos achados no Castro durante a campanha de 2018 e as nossas perspetivas para 2019. Falaremos ainda da memória mais recente, a das pessoas que, com o seu suor e sangue, cultivaram este sítio, cheio de lendas e imaginários. Ao longo das últimas três campanhas temos sido acompanhados por vários habitantes de Aldeia Nova, cujo termo engloba o Castro de São João das Arribas. Os Senhores Esmeraldino, João Luís, as Senhoras Alegria e Armandina, o Tiago e a Felícia, entre tantos outros, sem os quais nunca nos teria sido possível realizar o trabalho que temos vindo a fazer, têm-nos, ao longo dos anos, contado histórias sobre o como era outrora e criado um ambiente familiar em torno do projeto, falando dos trabalhos que faziam, e fazem, 1. Arqueóloga. Câmara Municipal de Miranda do Douro. 2. Arqueólogo. Investigador associado do Centro de Investigação Cultura, Espaço e Memória (FLUP/FCT).
Resumo: As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Dou... more Resumo: As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Douro. O rio, que em Espanha atravessa um amplo território, algo tímido, atravessa montanhas, num caudal reduzido, mas imponente na sua monumentalidade. As falésias das arribas do Douro despoletam-nos um imaginário fabuloso, impresso na escrita de autores como Trindade Coelho, Guerra Junqueiro ou António Mourinho. No entanto, pouco sabemos sobre as gentes que aqui habitaram antes da construção do Castelo de Miranda, algures no século XI. O Projecto de Investigação sobre o Castro S. João das Arribas tem como objectivo principal desvendar algumas das histórias, através de campanhas de escavações arqueológicas e re-colhas de depoimentos orais sobre o território de Miranda do Douro e, mais especificamente, de Aldeia Nova. O Castro S. João das Arribas (Aldeia Nova, Miranda do Douro) é um sítio arqueológico classificado enquanto Monumento Nacional em 1910 3 , na primeira listagem de Monumentos Nacionais, e no decurso de uma política cultural nacionalista mais ampla no decurso da revolução republicana. É um dos primeiros castros transmontanos a ser classificado como monumento nacional, a par e passo com o Castro de Sacoias, em Bragança. A definição de castro (e, por arrastamento, de cultura castreja) tem vindo a ser alterada ao longo dos tempos. As primeiras referências a estes termos para se referirem aos povoados fortificados da Idade do Bronze e Proto-História aparentam provir do final do século XIX. Dezenas de autores e investigadores, como Martins Sarmento, Abel Viana, Mário Cardoso, Afonso do Paço ou Joaquim dos Santos Júnior utilizam o termo cultura castreja para definir uma série de povos que habitam em povoados fortificados e partilham uma série de paralelos culturais.
O sítio da Quinta da Ribeira foi, aquando da sua descoberta, no virar do século XX, considerado o... more O sítio da Quinta da Ribeira foi, aquando da sua descoberta, no virar do século XX, considerado o mais importante sítio do período romano no Alto Douro. Desde a descoberta e da primeira intervenção de Ricardo Severo, foram muitos os investigadores que se debruçaram sobre o sítio, embora quase sempre com base nas publicações de Severo (1903-1908) e de José Leite de Vasconcellos (1900). O presente artigo constitui uma primeira notícia dos resultados de uma intervenção de diagnóstico realizada na Quinta da Ribeira, em 2022, por parte da empresa Archeo'Estudos, Investigação Arqueológica Lda.
Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os habitante... more Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os habitantes locais possuem sobre um sítio arqueológico que nos dias de hoje encerra, entre a população local, um grande significado. A par de uma intervenção científica que tem como principal objetivo recolher dados históricos capazes de reconstruirem o processo evolutivo desta estação arqueológica, vão sendo recolhidas e descritas vivências e memórias de pessoas que cresceram lado a lado com o Castro S. João das Arribas.
As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Douro. O ri... more As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Douro. O rio, que em Espanha atravessa um amplo território, algo tímido, atravessa montanhas, num caudal reduzido, mas imponente na sua monumentalidade. As falésias das arribas do Douro despoletam-nos um imaginário fabuloso, impresso na escrita de autores como Trindade Coelho, Guerra Junqueiro ou António Mourinho. No entanto, pouco sabemos sobre as gentes que aqui habitaram antes da construção do Castelo de Miranda, algures no século XI. O Projecto de Investigação sobre o Castro S. João das Arribas tem como objectivo principal desvendar algumas das histórias, através de campanhas de escavações arqueológicas e recolhas de depoimentos orais sobre o território de Miranda do Douro e, mais especificamente, de Aldeia Nova.
Arqueologia em Portugal 2020 - Estado da Questão - Textos, 2020
Valpaços is a very recent administrative division in portuguese history. The abandonment that Mon... more Valpaços is a very recent administrative division in portuguese history. The abandonment that Monforte de Rio Livre suffered made it necessary to create a new administrative area, between the Padrela Hills and the Rabaçal, in between Chaves and Mirandela, extinguishing Carrazedo de Montenegro and incorportating adjoining territories. Ever since the agregation, in a single territory, of the so called “terras frias” and “terras quentes, of multiple geological, faunistic and floral realities, but also by archaeological challenges. The current research has the main objective to update the heritage protection mechanisms of the territory, while promoting its fragility. The work being carried out by the Valpaços city hall is centered not only on identifying new sites, but also protecting known ones
The Douro Valley is one of the least studied, though with the most archaeological potencial areas... more The Douro Valley is one of the least studied, though with the most archaeological potencial areas in Norwestern Portugal. Even though some areas have been extensivelly researched, the information that we have for most of the territory comes from older excavations or traditional historiography. The roman presence in the Douro Valley is generally accepted for the period since the II century AD, even though it is more and more accepted the presence of backgound noises, data that allow for older roman instalations. The site, located on the hillside of a small Iron Age castro, is the reflexion of a landscape change, that started with the advent of Rome in the territory, and that will forever change the Douro Valley unto the suspended garden of Miguel Torga
O dolium ou a talha, como e vulgarmente designado nos nossos dias, e muito provavelmente um dos t... more O dolium ou a talha, como e vulgarmente designado nos nossos dias, e muito provavelmente um dos tipos cerâmicos com maior pervivencia ao longo da Historia da cerâmica em Portugal. E tambem um dos tipos de cerâmica menos estudados no nosso territorio. A historia da cerâmica romana em Portugal tem-se centrado, essencialmente, nas cerâmicas de luxo e de importacao, como as sigillattae ou as ânforas, ou em producoes locais representativas de uma determinada zona, como as cerâmicas finas cinzentas. Os dolia tem representado, frequentemente, um caso a parte. Muitas vezes, os vestigios descobertos nao chegam a ser estudados, mesmo quando as escavacoes arqueologicas revelam uma predominância deste tipo de pecas. O seguinte trabalho insere-se num estudo mais global, que temos vindo a desenvolver, das pecas de tipo dolium presentes no Vale do Douro e na Beira Interior, em contextos arqueologicos dataveis dos seculos II a IV. Tomamos, aqui, como ponto de partida o trabalho realizado por Tony S...
A zona em torno da vila de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa) é sobejamente conhecida pela hi... more A zona em torno da vila de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa) é sobejamente conhecida pela historiografia clássica devido à presença de uma série de estabelecimentos rurais no seu entorno. Entre os vários sítios romanos, destaca-se Rumansil I pela variedade de atividades aí realizadas: metalurgia de ferro e chumbo, produção cerâmica, tanto de dolia como de peças finas e comuns, e produção de vinho. Os dados disponíveis não permitem a datação do início da construção deste sítio, mas fornecem indicações de que o seu abandono terá ocorrido a partir da segunda metade do século III da nossa Era, com uma ocupação limitada durante o século IV. Rumansil I situa-se num território dominado pelo granito, a poucos quilómetros a Sul do Rio Douro. O estudo deste sítio foi fundamental para compreender a rede de estabelecimentos rurais romanos em torno de Freixo de Numão, local que, aliás, durante muito tempo, se pensava ter sido a capital de um território indígena e que terá jogado um papel im...
Resumo: Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os h... more Resumo: Os autores, neste artigo, dão continuidade à temática da memória ou das memórias que os habitantes locais possuem sobre um sítio arqueológico que nos dias de hoje encerra, entre a popula-ção local, um grande significado. A par de uma intervenção científica que tem como principal objetivo recolher dados históricos capazes de reconstruirem o processo evolutivo desta estação arqueológica, vão sendo recolhidas e descritas vivências e memórias de pessoas que cresceram lado a lado com o Castro S. João das Arribas. As histórias comportadas pelo Castro de São João das Arribas são muitas, desde a Pré-História até aos nossos dias. Este artigo visa continuar um anterior, publicado nesta mesma revista, tendo em conta a ques-tão do território de São João das Arribas como local de vivências e lendas da população de Aldeia Nova. Os territórios e paisagens das Arribas, embora hoje em dia estejam extremamente despovoados, foram intensamente ocupados e explorados: cada pequeno pedaço de terreno era arado, muretes, por vezes com extensões mínimas, eram construídos para aproveitar mais alguns metros quadrados, os rebanhos de cabras e ovelhas eram uma visão constante nesta paisagem vertical. Paralelamente à questão das lendas e histórias partilhadas connosco pelos habitantes de Aldeia Nova sobre o Castro de São João das Arribas, iremos apresentar resultados da última campanha arqueológica realizada neste local paradigmático. A primeira parte deste artigo teve como pano de fundo a intervenção a ser realizada atualmente e a questão do contrabando, ainda muito presente em toda a raia fronteiriça de Portugal. Nesta segunda achega, iremos revelar alguns dos achados no Castro durante a campanha de 2018 e as nossas perspetivas para 2019. Falaremos ainda da memória mais recente, a das pessoas que, com o seu suor e sangue, cultivaram este sítio, cheio de lendas e imaginários. Ao longo das últimas três campanhas temos sido acompanhados por vários habitantes de Aldeia Nova, cujo termo engloba o Castro de São João das Arribas. Os Senhores Esmeraldino, João Luís, as Senhoras Alegria e Armandina, o Tiago e a Felícia, entre tantos outros, sem os quais nunca nos teria sido possível realizar o trabalho que temos vindo a fazer, têm-nos, ao longo dos anos, contado histórias sobre o como era outrora e criado um ambiente familiar em torno do projeto, falando dos trabalhos que faziam, e fazem, 1. Arqueóloga. Câmara Municipal de Miranda do Douro. 2. Arqueólogo. Investigador associado do Centro de Investigação Cultura, Espaço e Memória (FLUP/FCT).
Resumo: As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Dou... more Resumo: As Arribas do Douro é uma das zonas dos mais espetaculares ao nível visual do Vale do Douro. O rio, que em Espanha atravessa um amplo território, algo tímido, atravessa montanhas, num caudal reduzido, mas imponente na sua monumentalidade. As falésias das arribas do Douro despoletam-nos um imaginário fabuloso, impresso na escrita de autores como Trindade Coelho, Guerra Junqueiro ou António Mourinho. No entanto, pouco sabemos sobre as gentes que aqui habitaram antes da construção do Castelo de Miranda, algures no século XI. O Projecto de Investigação sobre o Castro S. João das Arribas tem como objectivo principal desvendar algumas das histórias, através de campanhas de escavações arqueológicas e re-colhas de depoimentos orais sobre o território de Miranda do Douro e, mais especificamente, de Aldeia Nova. O Castro S. João das Arribas (Aldeia Nova, Miranda do Douro) é um sítio arqueológico classificado enquanto Monumento Nacional em 1910 3 , na primeira listagem de Monumentos Nacionais, e no decurso de uma política cultural nacionalista mais ampla no decurso da revolução republicana. É um dos primeiros castros transmontanos a ser classificado como monumento nacional, a par e passo com o Castro de Sacoias, em Bragança. A definição de castro (e, por arrastamento, de cultura castreja) tem vindo a ser alterada ao longo dos tempos. As primeiras referências a estes termos para se referirem aos povoados fortificados da Idade do Bronze e Proto-História aparentam provir do final do século XIX. Dezenas de autores e investigadores, como Martins Sarmento, Abel Viana, Mário Cardoso, Afonso do Paço ou Joaquim dos Santos Júnior utilizam o termo cultura castreja para definir uma série de povos que habitam em povoados fortificados e partilham uma série de paralelos culturais.
No decurso do processo de reabilitação e musealização da Central Hidroeléctrica do Biel e da Quin... more No decurso do processo de reabilitação e musealização da Central Hidroeléctrica do Biel e da Quinta e Fábrica de Curtumes do Granjo, o Município de Vila Real contratualizou um trabalho de consultadoria para avaliar os procedimentos a adoptar e para a sua execução na primeira fase de execução da estrutura de musealização da Central do Biel e Quinta do Granjo. Anteriormente à fase de execução da obra, foi determinado, em conjunto com o Município de Vila Real e a Direcção Regional da Cultura do Norte, que seria necessário realizar uma recolha e inventariação sistemática de todo o espólio existente no conjunto de edifícios que seriam alvo de reabilitação. Paralelamente, foi acompanhada toda uma série de procedimentos, tanto de protecção preventiva como de limpeza e estabilização de elementos presentes nas várias estruturas. A experiência de criar procedimentos de recolha, sistematização e de uma base de dados específica para materiais que normalmente não são associados ao estatuto de objectos arqueológicos, tal como o trabalho, ainda em curso, de identificação e conservação de milhares de peças procedentes de um conjunto patrimonial que esteve em risco durante décadas tem permitido melhor compreender uma História, ainda que recente, mas já em perigo de se perder.
A descoberta de vestígios arqueológicos associados a uma produção vitivinícola do período Moderno... more A descoberta de vestígios arqueológicos associados a uma produção vitivinícola do período Moderno, no âmbito de uma intervenção de salvaguarda, realizada na cidade de Aveiro, permite-nos inscrevê-la na história da viticultura. Estudos em que o discurso arqueológico assume-se insuficiente, sobretudo a partir do período medieval e que com a intervenção realizada em 2021, numa parcela urbana da rua do Gravito, possibilita a exposição de realidades ancestrais associadas ao cultivo da vinha, as quais, neste caso em particular, sobrevêm desde o período medieval. Um espaço atualmente urbano que em tempos correspondeu às terras de lavradio referidas no foral manuelino (1514) como zona de produção de vinho. Uma paisagem marcada pelo parcelário rural disposto ao longo do principal eixo viário de saída para Norte. Palavras-chave: Aveiro; Vitivinicultura; História; Período moderno; Medieval.
O Vale do Douro durante o período Romano é, desde cedo, um tema sobre o qual vários investigadore... more O Vale do Douro durante o período Romano é, desde cedo, um tema sobre o qual vários investigadores têm dedicado uma atenção particular, sobretudo devido à estreita ligação de Roma à viti‑vinicultura na perspectiva da historiografia tradicional, essencial no esquema económico regional desde o Período Moderno até aos nossos dias. O Projecto de Investigação sobre a Ocupação Humana em torno da Aldeia de Pegarinhos, Alijó (PIOHP) iniciou‑se em 2012, terminando a sua primeira fase em 2016. Com uma ocupação clássica faseada em dois momentos, o sítio de Trás do Castelo é, entre os séculos Iº e IIIº, ocupado por uma estrutura de cariz económico, com vários tipos de estruturas de produção e transformação de matérias primas. Num segundo momento, durante o século IVº, o sítio voltará a ser ocupado, mas num contexto sobretudo habitacional. Os objectivos iniciais do projecto eram extremamente específicos, ligados sobretudo ao processo de romanização. No entanto, os dados proporcionados permitem‑nos ir além dos lugares comuns e recoleções de artefactos em que a historiografia tradicional se tem suportado para escrever a história do Douro Romano.
RESUMO O vinho, desde o período romano, ocupa uma posição preponderante enquanto alimento de pres... more RESUMO O vinho, desde o período romano, ocupa uma posição preponderante enquanto alimento de prestígio, produto místico e elemento civilizacional e será, até aos nossos dias, a principal fonte de rendimento das populações locais. A vinha, o cereal e a oliveira constituem a triologia da alimentação básica romana, uma das bases do processo de aculturação de novos territórios, que irá subsistir até aos nossos dias como triologia mediterrânica. A sobrevivência destes produtos é fruto tanto do seu enraizamento na psique socio-cultural local e eco-nómica como da sua associação à religião e litugia cristãs. Quando falamos de romanização é impossível não referirmos a vertente eco-nómica deste processo: um dos propósitos de conquistar novos territórios era, também, o dominar dos seus mercados e produções. O Douro não será a ex-cepção à regra.
A intervenção em Trás do Castelo (Vale de Mir, Pegarinhos, Alijó) permitiu a descoberta do elemen... more A intervenção em Trás do Castelo (Vale de Mir, Pegarinhos, Alijó) permitiu a descoberta do elemento económico de um estabelecimento rural, cujo estatuto continua como indeterminado (villa, aglomeração secundária?). A construção inicial data do final do século I da nossa Era, com um primeiro abandono no final do século III. Durante o século IV, o sítio foi re-ocupado, com a construção de novas estruturas, mas também com uma reocupação de espaços do Alto Império. As atividades desenvolvidas estão ligadas à exploração de recursos naturais, como a viti-vinicultura, a cerealicultura, pastorícia, etc. A ocupação tardo-antiga, que dura até ao início do século V, é também marcada pela existência de, pelo menos, cinco depósitos numismáticos. Em 2022, a intervenção realizada permitiu descobrir um conjunto de 1354 peças numismáticas, tanto em níveis de demolição como em níveis de solo. Este conjunto, localizado em três espaços contíguos, estava acompanhado por uma quantidade impressionante de materiais (objetos metálicos, de adorno, cerâmicos, com especial destaque para dolia, elementos em vidro, etc). A intervenção de 2023 permitiu enriquecer este conjunto de materiais. No entanto, as razões para este acumular de materiais, muito distintos, num espaço tão limitado, coloca ainda diversas questões. Palavras-chave: Antiguidade Tardia; Vale do Douro; Moedas; Objetos; Cerâmica.
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Papers by Pedro Pereira
Anteriormente à fase de execução da obra, foi determinado, em conjunto com o Município de Vila Real e a Direcção Regional da Cultura do Norte, que seria necessário realizar uma recolha e inventariação sistemática de todo o espólio existente no conjunto de edifícios que seriam alvo de reabilitação. Paralelamente, foi acompanhada toda uma série de procedimentos, tanto de protecção preventiva como de limpeza e estabilização de elementos presentes nas várias estruturas.
A experiência de criar procedimentos de recolha, sistematização e de uma base de dados específica para materiais que normalmente não são associados ao estatuto de objectos arqueológicos, tal como o trabalho, ainda em curso, de identificação e conservação de milhares de peças procedentes de um conjunto patrimonial que esteve em risco durante décadas tem permitido melhor compreender uma História, ainda que recente, mas já em perigo de se perder.
Palavras-chave: Aveiro; Vitivinicultura; História; Período moderno; Medieval.
dedicado uma atenção particular, sobretudo devido à estreita ligação de Roma à viti‑vinicultura na perspectiva
da historiografia tradicional, essencial no esquema económico regional desde o Período Moderno até aos
nossos dias.
O Projecto de Investigação sobre a Ocupação Humana em torno da Aldeia de Pegarinhos, Alijó (PIOHP) iniciou‑se em 2012, terminando a sua primeira fase em 2016. Com uma ocupação clássica faseada em dois momentos, o sítio de Trás do Castelo é, entre os séculos Iº e IIIº, ocupado por uma estrutura de cariz económico, com vários tipos de estruturas de produção e transformação de matérias primas. Num segundo momento, durante o século IVº, o sítio voltará a ser ocupado, mas num contexto sobretudo habitacional.
Os objectivos iniciais do projecto eram extremamente específicos, ligados sobretudo ao processo de romanização.
No entanto, os dados proporcionados permitem‑nos
ir além dos lugares comuns e recoleções de artefactos
em que a historiografia tradicional se tem suportado para escrever a história do Douro Romano.
A construção inicial data do final do século I da nossa Era, com um primeiro abandono no final do século III.
Durante o século IV, o sítio foi re-ocupado, com a construção de novas estruturas, mas também com uma reocupação de espaços do Alto Império.
As atividades desenvolvidas estão ligadas à exploração de recursos naturais, como a viti-vinicultura, a cerealicultura, pastorícia, etc. A ocupação tardo-antiga, que dura até ao início do século V, é também marcada pela existência de, pelo menos, cinco depósitos numismáticos. Em 2022, a intervenção realizada permitiu descobrir um conjunto de 1354 peças numismáticas, tanto em níveis de demolição como em níveis de solo. Este conjunto, localizado em três espaços contíguos, estava acompanhado por uma quantidade impressionante de materiais
(objetos metálicos, de adorno, cerâmicos, com especial destaque para dolia, elementos em vidro, etc). A intervenção de 2023 permitiu enriquecer este conjunto de materiais. No entanto, as razões para este acumular de
materiais, muito distintos, num espaço tão limitado, coloca ainda diversas questões.
Palavras-chave: Antiguidade Tardia; Vale do Douro; Moedas; Objetos; Cerâmica.