"Em 2005, com o furacão Wilma, levamos 18 dias para restabelecer a energia na Flórida. Em 2022, após o furacão Ian, que foi muito mais forte, foram necessários oito dias, sendo que 66% dos consumidores já tiveram o fornecimento restabelecido em 24 horas. Mas foram quase duas décadas de um forte investimento", contou o consultor e ex-VP da distribuidora de energia Florida Power, Michael Spoor. Ele foi um dos participantes do seminário ‘Eventos Climáticos Extremos: Experiência Internacional e Impactos nas Redes de Energia Elétrica’, realizado em Brasília pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
De acordo com o especialista norte-americano, entre um fenômeno e outro, a companhia investiu em melhoria da infraestrutura, além de tecnologias mais avançadas para automação das redes, reduzindo o tempo de desligamento. Spoor também deu especial destaque à importância da cooperação entre as distribuidoras americanas para o restabelecimento da energia aos consumidores.
Caminho similar vem sendo trilhado no Brasil, aponta o presidente da Abradee, Marcos Madureira, que destaca o investimento das distribuidoras em iniciativas para buscar soluções diante da recorrência dos episódios de chuvas torrenciais, secas severas e vendavais que ultrapassam os 100 km/h. "Além dos R$ 130 bilhões de investimento para os próximos quatro anos, já tivemos duas missões internacionais para troca de experiências (Estados Unidos e Reino Unido), trabalhamos em desenvolvimento de tecnologias e fomentamos o compartilhamento de equipes entre distribuidoras no Brasil, o que já ocorreu neste ano durante os eventos climáticos do Rio Grande do Sul e de São Paulo", afirmou Madureira. "Estamos enfrentando um desafio de adequação das infraestruturas dos centros urbanos e este evento é mais uma ação para buscar soluções inovadoras", complementou.
Regulação baseada em incentivos
Outros países têm buscado soluções regulatórias para viabilizar redes mais resilientes sem impactar significativamente a tarifa de energia. Uma das estratégias é criar regras específicas para o reconhecimento de investimentos em resiliência, permitindo sua incorporação de forma mais ágil e efetiva. "Eventos grandes não podem ser previstos, então é importante que as empresas tenham um financiamento adicional quando é preciso responder. Tem que existir uma combinação do financiamento anterior, para o investimento em resiliência, e, quando necessário, outro financiamento para apoiar os esforços extras das concessionárias depois dos eventos", afirmou o diretor de Assuntos Regulatórios da S&C Electric Company, do Reino Unido, e ex-integrante do Ofgem, departamento britânico para assuntos regulatórios de energia, Grant McEachran. Ele ainda defende que essas ações regulatórias devem se expandir para incentivar investimentos em projetos de prevenção, não apenas reconhecimento de custos de recomposição.
Mediador do painel sobre impactos, mitigação e recomposição de redes diante de eventos climáticos extremos, o CEO do grupo Energisa, Ricardo Botelho, apontou o caminho a ser seguido pelo setor: "A palavra de ordem é adaptação. E vale para sociedade, reguladores, poder público e empresas. Esse é um assunto que exige uma colaboração ampla de toda a cadeia de valor do setor de energia elétrica. As concessionárias de distribuição de energia são parte da resposta e um elo para a solução", destacou.
O painel contou ainda com os professores Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel/UFRJ), e Walmir Freitas, doutor em Engenharia Elétrica e professor titular da Unicamp. Nivalde lembrou que a agência reguladora do Brasil estabelece a revisão tarifária periódica como o momento de incorporação dos investimentos em plano de resiliência climática e citou o modelo europeu como referência de reconhecimento de custos, especialmente diante dos novos desafios. "As redes não foram construídas para esse novo paradigma climático", explicou o especialista.
Já Walmir destacou que a abordagem regulatória mais apropriada e efetiva para melhorar o tempo de recomposição após eventos extremos deve ser com base em incentivos, e não unicamente punitiva. "Eu não vejo a solução via regulação de penalidades. Temos que ter incentivos e nos comunicar melhor. O brasileiro ainda não entende como é difícil resolver esses problemas e o quanto de investimento que precisa ser feito", argumenta o professor.
Manejo arbóreo impacta nas redes elétricas
No segundo painel do evento o tema foi a importância do planejamento urbano e da arborização perante os eventos extremos. O biólogo e pesquisador do Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo Sergio Brazolin foi taxativo: "Árvore é responsabilidade da prefeitura. Não deve e não pode ser uma função da concessionária. O Plano Diretor de Arborização Urbana é o documento que regulamenta isso". Rose Hofmann, sócia da Delta Infra e consultora legislativa, complementou dizendo que "a manutenção de árvores localizadas em centros urbanos deve ser considerada como um serviço recorrente".
Pedro Regoto, meteorologista do Climatempo, defendeu que os dados meteorológicos são a grande fonte para melhorar a resposta para eventos extremos e reforçou a necessidade de investimentos de maior cobertura de estações e radares. "Faltam dados no Brasil. Os Estados Unidos, por exemplo, são inteiramente cobertos por radares, que, junto com as estações meteorológicas, são as principais ferramentas para termos melhores previsões", explicou o especialista.
Mediadora do debate, a vice-presidente de Regulação, Institucional e Sustentabilidade da Neoenergia, Solange Ribeiro, destacou que as soluções vão além dos R$ 130 bilhões que as distribuidoras vão investir nos próximos quatro anos. "A questão climática é um grande desafio global e um dos riscos mais relevantes para as empresas do setor elétrico. Por isso, é preciso pensar em soluções para aumentar a resiliência climática. E essa estratégia vai muito além do investimento, é uma forma de fazer diferente", afirmou Solange.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha